
10.1.09
António Pinto Ribeiro [ministro nome trocado]
- A Casa da Música recebe muito dinheiro, eles que façam a ópera!
E questionado sobre a inexistência do fosso e teia na complexo de salas de concerto que constitui a Casa da Música Pinto Ribeiro [ministro nome trocado] acrescentou: eles que façam no Coliseu!
Suponho que a massa deva ir para pareceres jurídicos ou qualquer outra coisa importante, como uns automóveis melhores para o Ministério da Cultura [ministério nome trocado].
Mas será que eles não percebem que uma coisa são salas de concerto e programadores e produtores de concertos e outra são salas de ópera e produção de ópera? Não percebem que existem estes dois conceitos? De onde saiu este Pinto Ribeiro [ministro nome trocado]?
E depois disto tudo ainda somos informados que Pinto Ribeiro [ministro nome trocado] ainda tentou demover Ricardo Pais de se reformar!
Etiquetas: António Pinto Ribeiro, Calinadas, Casa da Música, Classe Política, Ironias, Irritações, Ministro Nome Trocado
29.12.08
Ainda a encenação de "Um outro Fim" de Pinho Vargas
Sublinho que ter chamado medianíssimo ao texto de José Maria Vieira Mendes é um rasgado elogio.
Passo a explicar o que queria dizer com "garotos com pretensões post modernas" e que julgo ser apenas uma constatação de facto.
Post moderno, no sentido quase indefinível do termo, de oposto ou reacção ao modernismo, aquilo onde "quase tudo é possível e quase nada é certo", uma espécie de pan confusionismo barroco post estruturalista, ou mesmo anti-estruturalista. No sentido em que um texto base, de José Maria Vieira Mendes, marcado com transições claras – e não analiso o texto, note-se, sobre o qual muito haveria a dizer – é depois transgredido, desconstruído, esfumado, vincado por elementos de géstica absurda ou fora de contexto: apontar enfaticamente e repetidamente o céu ou o público ou a teia, usar máscaras de recortes sem sentido, desmaterializando, acabar com as marcações, entradas e saídas, esbater qualquer relação entre o vazio e o cheio, mobilar confusamente toda a estrutura cénica criando uma "possível" desconstrução, esbatimento, dissolução do texto através de barroquismos visuais prolixos. Usar elementos de “série B” que desligam a acção da verosimilhança, quase uma distância brechtiana mas sem a força dramática e o despojamento moderno da mesma. Tudo elementos post modernos avulsos, sem um verdadeiro propósito desconstrutivista no sentido revelador do termo oculto, da leitura profunda, sem uma desleitura (e como fazê-lo a partir de um texto claramente não hermético, primário no sentido do sentido): Derrida sem Derrida e sem a crítica de Focault? Como realizar uma hermenêutica de algo que não é hermético? Como criticar uma massa esbatida, nevoenta, sem cisura, sem fluxo? Onde está o Homem na sua ausência? Em palco, claro está, para se perceber que volta no fim e se perder a construção/evolução dramática? Mas isso faz sentido? E uma grande e negra pistola apenas desenhada em folhas brancas de um album mas desconstruída, verdadeitramente, pelos estrondos na orquestra! Nesta encenação falta um enorme revólver preto, ele mesmo saído de um “Falcão de Malta” ou, no paradigma das armas inúteis, de “O Dia em que a Terra Parou” de 1951... Jogos de espelhos óbvios do Irmão-Homem, ciclos de identidades, faces sem corpo, silhuetas que se trocam umas pelas outras, jogos inúteis, indicações desnecessárias, estações sem fim sem um outro fim.
Afinal o encenador é colaborador do dramaturgo? É um desconstrutor descarado (pela máscara que esconde a face) e afirmativo ou é um desconstrutor confuso com o que está a fazer? Abomina o texto e quer eliminá-lo, desfazê-lo, estilhaçá-lo? Sublinha o texto pela prolixidade, pelos referentes, pela rama e não pelo âmago, antíteses eles mesmos do modernismo? Ficam as questões.
Ser o crítico agressivo? Por chamar "garotos post modernos" ao jovem grupo de encenação? Não me parece, pela explicação e pelas questões deixadas. Quando o crítico se debruça sobre uma obra, qualquer observação que faça já é um motivo de regozijo para o criticado. Merece o crítico levar com o sapato voador do criticado? Claro que merece! Agradeço por isso. Só o sapato post moderno pode suscitar a polémica, a diversão da discussão, formas de uma arte superior chamada crítica, superior – claramente – "à desconstrução" de um texto. Um sapato post moderno pode ser sempre desconstruído; foi construído para isso, aliás. E para acabar por desconstruir o sapato recordo que o texto de "Um Outro Fim" é servido por uma música (concebida para o texto e não para a encenação que ainda não se vislumbrava) claramente construtivista, moderna, estruturalista, de uma claridade e de uma força desconcertantes no seu propósito moderno. É uma arte com siso, a de Pinho Vargas. Será a antítese, ela mesma, da encenação "post moderna"?... Sem a sapatada do criticado o crítico nunca viria a terreno esclarecer o motivo da sua observação.
Escrevo o texto acima, e dá-me bem menos trabalho escrevê-lo do que fazer uma tradução para o senso comum. Infelizmente o serviço público obriga-me a publicar a tal tradução: Garoto com pretensões post modernas = ser humano, ainda jovem, auto proclamado detentor de uma grande intelectualidade, e que dá a entender que leu uma série de livros, mas que anda confuso com o destino da sua arte, gostaria de ser um "desconstrutor" (será "desconstrutivista"? estes palavrões post modernos deixam-se sempre confuso), um "post estruturalista" ou mesmo um "anti estruturalista" mas não passa de um "neo-confusionista à espera de Augusto”.
Nota final sobre a posição do jovem artista face à crítica:
É confortável para o criticado, num único acto com sentido construtivo, nas sua demanda da desconstrução, paradoxo ele mesmo enquanto construção que se quer desconstruída, colocar-se na posição de vítima: “desgraçado do jovem”, vítima dos velhos críticos com Hanslick à frente mas apoiado no velho amigo que até trata por “Augusto”, o primeiro e amigável nome. Será o “jovem artista” o génio Wagner incompreendido e batido pelo velho sátrapa? Mas se nem Wagner era jovem, nem incompreendido, nem o sátrapa lhe conseguia bater. Será o “Augusto” o César da crítica? O pater familias? O grande homem africano que protege? O amuleto salvador no momento Augusto da Angústia, invocado para (ex)conjurar os críticos malévolos, e decrépitos, que o insultam sem propósito? O deus ex machina? Augusto salvador salva o jovem artista vítima dos Velhos do Restelo que não perceberam a desconstrução! Será que alguém percebeu excepto o próprio? Questões? Interrogações? Derisões? O jovem artista Teodósio diz-se insultado e tratado com agressividade, incompreendido. Mas isso não é o objectivo último do “jovem artista”? Caro Teodósio, pela parte que me toca, creio que estou a fazer-lhe um favor à sua excelsa e admirada figura de jovem artista post moderno, esta minha incompreensão da sua belíssima e incompreendida obra. Este texto é o meu ordálio de serviço público, é a minha redenção anual de 2008. Incompreendê-lo é um grande favor que lhe poderia fazer. Será que consigo?
Finalmente: júris de concursos só mesmo em Praga! De facto fui avaliador num concurso em Praga, neste ano que acaba, mas não era de artes. Não lhe posso desconstruir (nem quero) o subsídio que acho bem merecido.
Texto original de E. Teodósio:
Errata
Bom, pelos vistos o jornal Público talvez publique o meu D.R. (é bastante provável que não editem o texto na sua totalidade, mas isso depois logo se vê) pelo que achei mais educado tirar o texto do blog até à sua eventual publicação.
P.s. Sílvia, não existe nenhum "jogo de ofendido/ofensor". Simplesmente respondi (cinicamente) no mesmo tom verbal em que a crítica abordou o meu trabalho. É que nós, em Arte, podemos errar no objecto. Agora os críticos (que, by the way não sejamos ingénuos, alguns são júris em concursos públicos + são formadoras de trends + e possíveis futuros gatekeepers como diria Augusto) não devem insultar. É que isto abre uma lógica perigosa (exactamente a contrária de um 'famoso' encenador que agrediu um 'famoso' crítico): pedir a cabeça de um encenador e impedir que os 'novos' entrem nos Museus sem desconto.
Resumindo: isto nada tem a ver com gostar ou não. O Augusto (que ainda não me disse nada) presumo que não tenha gostado, imensas pessoas não gostaram. Não gostar do que eu faço está na ordem do dia (E AINDA BEM i.e. SIGNIFICA QUE ESTOU NO CAMINHO CERTO i.e. AS PARTAGES DU SENSIBLE ESTÃO ON THE WAY). Mas nenhum reagiu agressivamente como a sr. Cristina. É que nem o seu amigo Henrique. E isso eu não posso permitir.
ABOMINO O MAL.
P.s.s. AMO-TE=AMET=André de Mendonça Escoto Teodósio
Publicada por Amet em 20:07 2 comentários Hiperligações para esta mensagem
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19.12.08
Estupidez
Vá ler e tenha o seu vómito, não é preciso dizer nada, aquilo fala por si.
A peça termina com:
"Comentário: A celebração de Natal – um acto de proselitismo religioso através do Presidente do Instituto Superior Técnico."
Fim de citação.
Próximo passo: queimar em auto de fé ateísta toda a música religiosa.
P.S. Este post marca o regresso deste blogue à actividade.
Etiquetas: Estupidez, Irritações
31.10.08
Banha da cobra
Simplesmente deplorável...
Etiquetas: Irritações, José Sócrates, Magalhães
27.11.07
Indignação
No recital de Prégardien e Gees, S. Carlos, 24 de Novembro de 2007, estava muito pouco público. Eu nunca vejo nestes recitais as chamadas figuras da "intelligentsia" do russso, ou melhor "intelligentia" do latim. Não vejo os Sousa Tavares, as Claras Ferreira Qualquer Coisa, não vejo sequer os Pachecos Pereiras ou via os Prados Coelhos, nunca vi o Mário Soares num concerto, nem a sua dilecta descendência, mais ou menos ribombante, nunca vi o Pulido Valente num concerto, já o António Barreto e o prof. Marcelo são melómanos e estimo-os por isso. Um Graça Moura ainda o vi uma ou duas vezes, mas é figura também arredada. Nunca vi as figuras dos chamados "opinion makers", Carlos Magno (em Lisboa ou no Porto), ou de políticos como Marques Mendes ou António Vitorino e figuras quejandas (talvez porque eu esteja a precisar de óculos e estas figuras são, além de transparente e baças, muito pequeninas), nem aqui ou em londres, Paris, Bayreuth, Munique, Salzburg ou noutro lado qualquer, onde encontro muitos portugueses com frequência. De José Sousa e da sua entourage nem falo, o Meneses vejo às vezes... mas no futebol; nem vale a pena citá-los, vêm de meios absolutamente alheios à cultura musical. E já nem sequer escrevo sobre esta suposta "intelligentia" que nunca aparece, para quem o Goehte, o Heine ou o Petrarca escritos têm imenso valor (para alguns) e depois de musicados por Schubert passam à categoria de outra realidade à qual não têm acesso.
Portugal é um país onde a cultura musical é miserável e onde os tais opinion makers não dedicam o menor interesse à música. É natural assim que um recital de Schubert com dois dos mais excelsos intérpretes fique às moscas enquanto numa recôndita aldeia da Aústria (1800 habitantes) encha sistematicamente uma sala (Angelika Kauffmann Hall) com mais de seiscentos lugares, que se situa a mais de três horas de carro de Viena e de Salzburg, para a Schubertiade.
Façam um esforço, vá, é que primeiro "estranha-se e depois entranha-se".
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19.6.07
Ota e Alcochete II - O aldrabão
Entretanto leio em todos os estudos e argumentos contra Portela+1, Alcochete faseado + Portela, Portela + Montijo, mas sempre favoráveis à Ota, que seria impossível manter a Portela porque uma das partes atractivas do negócio são os terrenos a privatizar e urbanizar na Portela. Os estudo não o dizem assim directamente, usam palavras do género, "a viabilidade do novo aeroporto passa pela rentabilização dos terrenos que ficarão disponíveis, e blá, blá blá".
Costa sabe que a promessa que anda a fazer não pode ser cumprida, é impossível o novo aeroporto, diz o governo e dizem os que andam atrás destes negócios, sem a "rentabilização" dos terrenos da Portela. Quem promete sabendo que não pode cumprir, nem tem intenção de o fazer, é um aldrabão.
Em política à portuguesa pode-se ser descaradamente aldrabão, uma promessa é apenas mais uma palavra vã, algo que se esquece, algo que se diz numa campanha e não tem valor, "algo que se alterará com o avaliar de novas circunstâncias que não se conheciam". Um bom político português sabe perfeitamente que existem sempre circunstâncias que se vão alterar e que pode prometer o que quiser que depois não é necessário cumprir. Até quando?
E Costa diz a coisa candidamente, perante jornalistas e opinião pública, sem ninguém lhe dizer que o que está a dizer é uma aldrabice que contraria tudo o que o PS e o governo andaram a prometer e a fazer nos últimos dois anos com a tal tentativa de lavagem ao cérebro da Ota.
Já agora, a quem interessa a Ota? Ao lobby do betão, são pelo menos 300 milhões de contos a mais para o lobby do betão relativamente a Alcochete. Só em movimentos de terras e obras de preparação de terrenos. São mais umas larguíssimas centenas de milhões de contos, contos digo eu, em negócios imobiliários nas centenas de hectares a ficarem devolutos na Portela. São 125 milhões de contos em ajudas comunitárias que se deixam de receber.
Já agora, quem são os maior financiadores dos partidos do centrão? A nível central e através dos autarcas... Eu não acredito que o governo mude na questão da Ota precisamente por causa do lobby do betão. E o discurso de Costa é perfeitamente enquadrável dentro do espírito da coisa, umas aldrabices para empatar, uns estudos sobre Alcochete para deixar o caminho livre ao senhor ex-ministro de José Sócrates.
No fundo uma enorme monobra para limpar mais uns 300 milhões de contos dos bolsos dos portugueses em negócios tipo siciliano. E quando falo de limpar aos bolsos dos portugueses, é literal, porque mesmo que seja a iniciativa privada a pagar, serão sempre os portugueses os destinatários últimos da factura.
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20.3.07
Prémio Verde e Preto
Não acho que E. Pitta seja pateta, como ele me chama a mim, naquilo que, vindo de quem vem, não passa de um bom elogio, mas tenho a certeza que é mentiroso, que distorce os factos e que não conhece aquilo sobre o que discute: a demissão de Pinamonti do TNSC. Nunca um assunto de natureza objectiva será transformado numa vulgar troca de insultos, como E. Pitta faz. É inútil esconder a ignorância do assunto e as suas falácias com o manto roto da arrogância despeitada de freira púdica, caro E. Pitta, os factos falam por si.
Pitta entrelaça-se em contradições: apesar de dizer que não defende a tutela com unhas e dentes afirma que fala assim porque o assunto é político e não técnico! De facto a soez intriga contra Pinamonti é política mas o cargo dele é artístico, sublime contradição, obrigado E. Pitta pela confirmação. Onde deveria surgir a avaliação pura de competência técnica, passa a valer a traulitada e a mixórdia da política. Não se trata do preço fixo dos livros que se discute, trata-se da avaliação técnica de alguém que dá provas públicas num domínio complexo e artístico, que poderia até ser muito controverso. Acontece, porém, que toda a crítica musical, sem excepção, avalia, incontroversamente, Pinamonti entre o muito bom e o excelente. E. Pitta pensa que estamos todos no lobby do Pinamonti, mesmo aqueles que desde a primeira hora o criticaram fortemente, como eu, e que se foram rendendo à sua capacidade de realização e à sua inteligência. Como seria possível Jorge Calado, Alexandre Delgado, Augusto Seabra, João Paes, Rui Vieira Nery a fazer lobby por Pinamonti? E. Pitta será o único inteligente cá do burgo que nos quer fazer a todos de patetas? Ele, E. Pitta, parece ter ido a Glyndbourne, será que o Seabra também não terá ido? E o Nery? E eu terei andado por onde quando E. Pitta escrevia livros para muito menos pessoas do que aquelas para as quais interessa a tal demissão de Pinamonti? "Talvez" 200 ou serão afinal "600", números mágicos que parecem ser a sua bitola, porque não 531 ou 141, para números inventados quaisquer serviriam, será que 600 é o maior número para Pitta? Uma tiragem recorde de um microlivro a preço fixo?
Mas será que Glyndbourne interessa aqui nesta questão? E porque não discutir o uso pijamas de seda como o Wagner? Será que interessa a pedantice de E. Pitta a gabar-se de ir a Glyndbourne a propósito do S. Carlos? O que interessa nesta questão é o S. Carlos, onde o E. Pitta não pisa, e não o desprezo que E. Pitta vota ao teatro nacional de ópera. É claro que eu também não vi o Sr. E. Pitta em muitos lados, como Munique, Viena, Praga, Aix, Bayreuth, nos Proms, Paris, Innsbruck, Salzburg ou Frankfurt numa lista interminável e inesgotável de lugares onde encontro amigos portugueses com frequência. Não levo a minha proverbial patetice, caro E. Pitta, a andar de máquina fotográfica em punho fotografando os teatros por onde passo. Também não me interessa fazer alarde disso, o provincianismo de exibir as viagens a Glyndbourne é típico de alguns personagens do Eça que não tinham passado muito para além da Porcalhota, fica o assunto ao cuidado de Isabel Pires de Lima.
Apenas o E. Pitta, da literatura, acha bem que o Vieira hermeneuta despeça Pinamonti. O que é certo é que E. Pitta agora "crítico político" não põe os pés no S. Carlos, como o próprio alardeia com alacridade e uma ponta daquele orgulho luso de ser ignorante e ter "raiva a quem sabe", ele que até conhece o nome de Glyndebourne pode dar-se ao luxo de ignorar o "San Carlos". Mas alguém que fale do preço fixo dos livros tem de saber o que é um livro! E. Pitta nem sabe o que é o teatro de S. Carlos de hoje. Os porteiros do S. Carlos estão bem mais à vontade para dissertar sobre o assunto do que alguém que voluntariamente põe antolhos na sua visão já de si estreita e nos presenteia com esses antolhos como se fossem a oitava maravilha do mundo. O que o E. Pitta diz vale o que vale. Para mim o que ele diz não vale nada e afirmei-o frontalmente. Escrevi isso mesmo para não deixar impune a distorção dos factos sem um reparo, e um registo, neste espaço público. Pelo contrário o E. Pitta acha que sabe muito do assunto e pode mandar umas postas de pescada. Acho bem e respeito as postas do Pitta, estamos num país livre, eu comento apenas as incorrecções e as falsidades; os Pittas deste mundo não me intimidam. Como o país é livre também tenho o direito de chamar mentiroso a quem quiser, se provar o que digo. O E. Pitta prefere chamar-me de pateta. É assim que funciona o mundo. Acho imensa graça e dou uma boa gargalhada. O E. Pitta irrita-se e chama pateta a quem tem a ousadia de contrariar o seu pedantismo ignorante; eu volto a dar uma gargalhada, ainda maior.
O leitor que julgue, mas julgue sabendo que E. Pitta afirma uma série de mentiras com que pretende confundir e manipular os factos da demissão de Pinamonti para desvalorizar objectivamente o que este tem feito de brilhante no S. Carlos.
É claro que, tentando colocar o assunto na esfera política, para E. Pitta deixam de valer argumentos críticos, ponderações de factos, análises. A aldrabice, a manipulação da realidade e a ficção mesquinha do quotidiano passam a ter lugar de excelência neste universo supostamente político, e o Sr. E. Pitta usa a ferramenta abundantemente. O facto é político, logo pode-se atacar o resto do mundo usando a grosseria e chamar pateta aos outros. Felizmente o Sr. E. Pitta responde a quente mostrando a face política do assunto e o verdadeiro lobby a que pertence.
Mentiras objectivas de E. Pitta
O Teatro não abre "talvez" vinte vezes por ano, abre mais de 120 vezes. As récitas de ópera são 43 no último ano, segundo Pinamonti afirmou em entrevista que me concedeu e pelos números oficiais do teatro. A história das 43 récitas não é assunto de discussão, é um facto. Não estou para discutir isso, se o E. Pitta estivesse informado, em vez de andar a pavonear-se de máquina fotográfica em punho para depois exibir as fotos, em Glyndbourne ou noutro lugar qualquer, nem precisaria de perguntar. O tal livreco do preço fixo tem páginas? Pitta que se documente e verifique quantas foram as récitas e os espectáculos realmente efectuados e desampare a loja depois de pintar a cara de preto.
Não há talvez "600" pessoas no público de ópera, o teatro tem cerca de 950 lugares e tem uma ocupação superior a 90 por cento. No caso da Valquíria esgotou as sete récitas e mobilizou milhares de pessoas no largo de S. Carlos que seguiram a ópera em ecrã gigante.
O assunto da demissão de Pinamonti não interessa apenas a 200 pessoas, como é público e notório.
Os bilhetes da ópera não custam 400 euros por espectador ao Estado. É falso: se juntarmos todas as colaborações e os concertos da OSP, os recitais e os concertos de outros agrupamentos, como a Orquestra do Século XVIII, o Divino Sospiro entre tantos outros, um espectáculo custa ao Estado 120 euros por espectador. Isto se não contarmos com as receitas dos bilhetes que não entram directamente nos cofres do S. Carlos mas sim nos das Finanças! Se retirarmos a OSP, orquestra sinfónica do Estado português e que existiria com ou sem ópera, o preço desce para 60 euros por evento, um dos valores mais baixos da Europa.
Pinamonti não podia aceitar um convite não feito formalmente.
Ficam os reparos e posso afirmar ainda que o Sr. Pitta pode ser mentiroso e mal informado mas não é pateta. Pitta, no entanto, tem razão ao chamar-me pateta: sou mesmo pateta por "gastar cera com tão vis defuntos".
Etiquetas: Crítica aos críticos, Eduardo Pitta, Estupidez, Humor, Irritações, ópera, Pinamonti, Pires de Lima, S. Carlos, Valquíria
19.3.07
O Lobby dos Hermeneutas
Tenho visto o Eduardo Pitta, crítico literário, a confraternizar em inúmeros lançamentos de livros e em diversos saraus. Nunca vi o E. Pitta no S. Carlos, não é manifestamente um conhecedor do fenómeno musical e do que o rodeia.
Ao ler os textos de E. Pitta, e são já vários, sobre Pinamonti e a recente dispensa do italiano de director do TNSC, apesar deste ter manifestado disponibilidade para ficar, fica a impressão que E. Pitta acha Pinamonti um a espécie de incapaz, um troca tintas que escreve uma coisa e faz outra, ou alguém que não conseguiu endireitar os vícios do Teatro Nacional de S. Carlos. E. Pitta não entende o essencial: as qualidades profundas do ainda director do S. Carlos que deveriam ser aproveitadas em vez de desbaratadas, num gravíssimo malbaratar de um património colectivo que os senhores da tutela da cultura deveriam preservar e valorizar em vez de procurem pretextos para destruir. É este o cerne da questão e não questiúnculas formais do diz que disse, afinal o que parece ser o ponto mais importante na hermenêutica da treta de alguém habituado à crítica literária para públicos ínfimos.
Defende E. Pitta com unhas e dentes uma tutela titubeante e incapaz, que utiliza truques de baixa política, sem peso dentro do governo, incapaz de obter receitas no orçamento de Estado e incapaz de ter imaginação para as criar graças a esforço próprio aproveitando mecenato e parcerias com os privados. Uma tutela que o próprio E. Pitta já em tempos achou desnecessária. No mínimo estranho este lobby hermenêutico na área da cultura, ou será que E. Pitta da sua olímpica cegueira queira apenas criar polémica com os faits divers das suas bocas sobre o assunto? De qualquer modo é grave: E. Pitta tem ainda alguns leitores que o levam a sério e falar sem saber é, no mínimo, irresponsável.
Acha E. Pitta que o assunto diz apenas respeito a um grupo muito restrito "talvez duzentas pessoas", se pensarmos que E. Pitta, justa ou injustamente, poderá ter um número de leitores "talvez" da mesma ordem de grandeza, "talvez" possamos dar um maior significado a este número. O que eu não percebo é o interesse do crítico literário E. Pitta sobre este assunto, talvez seja um problema de hermenêutica pós-compreensão, por oposição à "hermenêutica pré-compreensão", que Vieira hermeneuta aplicou a Paolo Pinamonti.
Embora graves, e podendo levar leitores a um erro que importa desmontar, acho as reflexões de E. Pitta inúteis. Primeiro, porque o conhecimento dele sobre o assunto é praticamente nulo: é falso que sete récitas esgotadas da Walküre sejam as 600 pessoas que refere como público do S. Carlos, é falso que os milhares que encheram o largo do S. Carlos nos dias em que a ópera foi transmitida para o exterior sejam as tais 600 pessoas pessoas que E. Pitta refere, o que reflecte logo à partida a credibilidade que quem faz essas afirmações. É mentira que cada récita de ópera custe 400 euros, serão 350 se dividirmos todos os custos pelas récitas, mas se retirarmos a orquestra sinfónica portuguesa que faz concertos o número reduz-se drasticamente, mais hermenêutica da treta directamente vinda da Ajuda, se dotássemos o S. Carlos de mais um milhão de euros para produções (somados aos actuais 13 milhões) o preço por récita passaria a ser um dos mais baixos da Europa, é que os tais 350 por récita resultam de custos fixos e não das produções propriamente ditas. Por outro lado a execução orçamental de Pinamonti é de um rigor extremo, nunca gastou um cêntimo a mais do que o orçamentado, nunca contraiu uma dívida. Parece impossível para Portugal, era bom demais. Era mas acabou-se por causa de mesquinhas embirrações e conflitos de personalidade.
Em segundo lugar o que E. Pitta refere é inútil porque não passa de um ignorante sobre o assunto: é consensual entre toda a crítica musical, à qual E. Pitta não pertence, o excelente trabalho de Pinamonti. Todos os especialistas do assunto concordam sobre Paolo Pinamonti, mas isso deve ser indiferente ao E. Pitta, que sendo crítico literário julga poder opinar sobre tudo. Para mim o que o E. Pitta diz sobre o Pinamonti é igual às barbaridades que um taxista do Porto me disse sobre o Pedro Burmester. Eu perguntei ao tal taxista se tinha entrado alguma vez na Casa da Música e ele disse-me que não. A umas perguntas básicas o que dirá E. Pitta: qual a tonalidade que abre a Valquíria? Quantos actos tem o Orfeo de Monteverdi? Qual a ópera ou óperas que Teresa Stich Randall fez no S. Carlos em 1970? Pitta parece que passou nos anos setenta pelo S. Carlos. Muita coisa mudou entretanto, a ópera está esgotada, a ópera vai ao CCB, e não foi mais por causa do prof. Fraústo. O Wozzeck, uma das melhores produções de todos os tempos do S. Carlos foi ao CCB para três récitas. Vá lá ler uns livritos para responder e documente-se melhor E. Pitta, é fácil cair-se na asneira e na mentira, mesmo involuntária, quando se ignora o assunto.
É necessário reforçar que apesar das observações do E. Pitta, toda a crítica musical portuguesa (que trilha os mais diversos universos, escolas e metodologias) reconhece que Pinamonti foi um dos melhores directores do Teatro de S. Carlos, posso prová-lo de forma muito fácil citando textos de Augusto Seabra, Bernardo Mariano, Cristina Fernandes, Jorge Calado, Ana Rocha, Luciana Leiderfarb, Rui Vieira Nery, Teresa Cascudo, através de manifestações de solidariedade de João Paes ou de Alexandre Delgado, e de outras personalidades do mundo da cultura e da música que não ficaram pela estagnação desfasada da realidade dos universos oníricos da literatura para meia dúzia de leitores. Pinamonti foi muito bom sob condicionalismos terríveis em termos orçamentais. É verdade que Pinamonti não resolveu tudo mas Pinamonti pacificou, integrou-se, foi resolvendo de forma muito pragmática usando todos os sábios recursos de diplomacia da cultura mediterrânica. Foi-se livrando do joio de um maestro titular (Peskó) e promoveu João Paulo Santos, impossível de jogar borda fora por motivos contratuais, para um lugar inócuo. Eliminou um inenarrável concertino da orquestra. Tentou o impossível ao programar concertos sinfónicos com alguns dos melhores maestros do mundo, especialistas desde o classicismo ao contemporâneo. Contratou um maestro de coro e um assistente que resolveram parcialmente um dos maiores cancros do teatro: a péssima qualidade do Coro do TNSC. Algumas das vezes teve os maiores sucessos artísticos, como com Inbal, outras vezes com resultados entre o positivo e o desastroso, como com Letonja. Mas como o Pitta sabe melhor do que ninguém, na arte nada é seguro, é no balanço final que Pinamonti foi um valor muito seguro, foi mesmo um director excelente em face das dificuldades. O S. Carlos é hoje um teatro muito melhor do que era há seis anos, e Pinamonti conseguiu-o sem dinheiro.
O período de adaptação foi ultrapassado, após seis anos de trabalho Pinamonti conhecia a cultura portuguesa e integrado conseguia extrair o melhor que nós conseguimos dar com as nossas estranhas peculiaridades e os nossos maus e bons hábitos. O TNSC afirmava-se como motivo de orgulho internacional para Portugal, algo que só um bronco sem a menor noção do que está a comentar pode desvalorizar. Shirley Althorp, crítica do Financial Times (e de todo o grupo Blomberg), vem sempre a Lisboa para ver as produções do nosso teatro de ópera fazendo críticas que ecoam por todo o mundo, nunca cá teria vindo sem Pinamonti. Todos os grandes órgãos de comunicação deslocam os seus críticos ao nosso teatro, o El Pais, o Le Monde, O The Times, a BBC, a lista é interminável. A ópera de Corghi e Saramago, no meu entender péssima, foi referenciada por toda a imprensa mundial com apreciações muito diversas, desde o entusiasmo ao cepticismo. Dei uma entrevista à Deutsche Welle sobre o assunto, onde apesar de criticar duramente a obra de arte, elogiei o trabalho do director como notável. Pinamonti deu entrevistas a todas as estações que importam a nível internacional. A encenação do Ring de Vick, goste-se ou não, é um marco a nível internacional. O Wozzeck de Braunschweig e Inbal foi um acontecimento notável, uma das melhores encenações, um dos melhores naipes de cantores a nível mundial e uma orquestra a superar-se de forma quase impossível para quem conhece a Sinfónica Portuguesa.
Com um orçamento de 13 milhões de euros, um número ridículo em termos europeus, mesmo para um teatro de província, Pinamonti consegue produzir mais de 120 espectáculos onde figuram 43 récitas de ópera por ano e não, outra das mentiras do Sr. E. Pitta, as "talvez" vinte vezes por ano. Christoph Dammann, que vem em part-time de Colónia, tem 36 milhões de euros para gerir o seu teatrinho local, Mannheim (uma cidade de 200.000 habitantes) tem 25 milhões de euros.
É precisamente este capital de experiência, de realização e de adaptação à nossa realidade que o sr. hermenêutica e a sra. ministra desvalorizam e o Sr. E. Pitta, agora também membro do lobby hermenêutico e, além do mais, mentiroso, também desvaloriza. No caso de Pitta a grosseria das suas incorrecções, ou manipulações, é tão evidente que qualquer observação sua sobre o assunto está imediatamente descredibilizada. Quem precisa de manipular os factos para argumentar não merece crédito, é a desilusão de ver um "exemplar" crítico literário usando argumentos à taxista.
É o prestígio de um país que se mede por estas coisas mas nunca para um "portuga" mediano. É evidente que para o E. Pitta o assunto tem pouco interesse, é um "fait divers": Ópera, o que é isso? Só tenho a lamentar a santa ignorância de certos "intelectuais" que se fecham na sua área e se esquecem que a cultura é universo e não é medida pelos antolhos de miséria em que se formataram os filhos de um país de analfabetos e de aldrabões.
Ler ainda o João Gonçalves no Ponto Final do Portugal dos Pequeninos, o Carlos Araújo Alves em un fait divers e a Teresa Cascudo em Mais do Mesmo
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14.3.07
Não queremos os bilhetes esgotados!
Outra frase a reter: "Temos a ópera mais cara per capita da Europa", como se o "governante" se propusesse a mudar o estado das coisas! Mas é claro que a ópera em Portugal sai cara, por culpa dos incompetentes, hermeneutas incluídos, que passam e passaram pela cultura e pelas finanças. Será que Vieira de Carvalho é tão estúpido ou tão cínico, que não perceba que isso acontece precisamente por causa de o parco orçamento ir para os custos fixos do Teatro Nacional de S. Carlos? Resta muito pouco dinheiro para as produções, isto implica ter uma estrutura imensa com custos fixos elevados, onde o hermeneuta inclui ainda a orquestra sinfónica portuguesa, que não deveria fazer apenas ópera, e funcionários altamente bem pagos como João Paulo Santos, que nada produzem, restando um pequeníssimo orçamento para a produção operática, um número ridículo de seis títulos por ano quando João de Freitas Branco fazia mais de trinta por ano antes ainda da revolução de 1974! A propósito: João de Freitas Branco é outro dos candidatos a melhor director do S. Carlos dos últimos cem anos.
Evidentemente fica caro, a Alemanha gasta dez vezes mais do que nós face ao seu muitíssimo maior PIB per capita e a ópera fica mais barata, muito mais barata. Os políticos portugueses devem ser uns génios, conseguem ter a ópera mais cara do mundo gastando trinta vezes menos por cada português!
Explique agora o Sr. Hermenêutica como isto vai mudar com o director artístico Dammann em part time, a ganhar o mesmo que Paolo Pinamonti a tempo inteiro, o que é escandaloso, e sem aumentar o orçamento da cultura. Não sei se a hermenêutica de Mário Vieira de Carvalho chega para isso, ou se sofre de problemas pré-compreensão, mas o orçamento da cultura não depende da Ajuda e dos aparachniks ex-comunistas com peso político zero, depende dos primários Teixeira dos Santos e José Sócrates.
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13.3.07
O Camarada Hermenêutica

Um Nunnnes que reinventa a ópera, apenas música instrumental e para-instrumental, orquestra e parafernália com dezenas de cantores em cena, cantores esses que não cantam(!). Reinvenção da ópera que poderá até ser representada e cantada por sopranos surdos, altos brigantinos, tenores ciciosos, mezzos sopinhas de massa e baixos mudos.
Voltando ao tema: o novel director artístico é um tal Dammann (assim mesmo com dois mm e dois nn), um senhor académico que dirige a ópera de Colónia, e que tem um currículo curto, apesar do que se afirma por aí em comunicados oficiais: "fabuloso" é o adjectivo e o meu adjectivo para tal adjectivo é "parolo". Parece que o tal senhor vem de Lübeck (da parte da DDR ou RDA), nasceu em 1964, tendo estudado na bem socialista Rostock. Parece que foi barítono e trabalhou em marketing artístico. Mais um doutorado na velha Alemanha de Leste, onde é que eu já vi isto antes?... Um camarada hermenêutico em perspectiva. É casado e tem duas filhas. Espera-se que seja simpático e que goste de Wagner, talvez sobreviva aos políticos que o colocaram no S. Carlos.
Deve ser fácil sobreviver porque parece que vai continuar em Colónia como director da ópera da cidade. Segundo julgo saber o cargo de Lisboa será em part-time! Ai as nossas poucas dezenas de milhares de euros. E se o Sr. Hermenêutica cumulasse os lugares como sugeriu o proverbial Marcelo? Não se poupavam uns cobres? Part-time por part-time... Será que a Guta Moura Guedes não poderia também fazer um bom lugar? Parece que a perninha que o camarada Dammann virá fazer a Lisboa será excelente para manter o Teatro de S. Carlos no mapa internacional. Estamos a ver o director de Colónia a abandonar o seu belo teatrinho sempre que lhe apetecerem uns banhos de Sol ao Estoril e, já agora, passar pelo S. Carlos... E enquanto o senhor sorridente das fotos não andar a estorvar, sempre fica cá em Lisboa o grupo dos aparatchniks da Ajuda.

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1.3.07
Asneiras Wagnerianas III
Na "crítica" que saiu no jornal "O Público" sobre a Walküre, lá vem o habitual comentário imbecil de que Wagner é misógino e trata mal os personagens femininos. Não há pachorra para tanto disparate junto. Wagner nunca detestou as mulheres, Wagner amava profundamente as mulheres, ao contrário de Schopenhauer; talvez odiasse um pouco os maridos dessas mesmas mulheres, apesar de ser amigo da maioria deles e de lhes pedir dinheiro empretado, mas daí a ser misógino...
Os personagens são o que são, Senta e Isolde são diferentes de Brünnhilde ou de Sieglinde, Brünnhilde é capaz de ódio e de amor, de cólera e de despeito e ao mesmo tempo de uma dignidade triunfante na sua tragédia final, é um personagem de uma densidade e riqueza incríveis, uma representação do Homem.
Os personagens masculinos também são tratados de igual modo: Wotan é claramente um espelho de Wagner.
Alberich é um dual negativo e velhaco de Wotan. Para o crítico de trazer por casa isso deve ser porque Wagner era anti-semita e Alberich deve ser uma espécie de judeu (bem como Mime). Obviamente que Siegfried, um cretino jovem que não conhece o medo, e Parsifal, um perfeito e puro idiota, devem ser assim porque Wagner gostava de representar críticos primários, e Beckmesser, esse sabe-se bem, seria um crítico secundário.
Como se pode afirmar que Wagner trata melhor os homens do que as mulheres?
Não há pachora para tanto disparate junto.
Segue a redacção da terceira classe (e estou a ser muito generoso), para quem não leu, mas eu nem sequer tenho paciência para dissecar mais o assunto.
O título poderia e deveria ser:
A Valquíria frágil e resistente - blurp
A Valquíria frágil e resistente
26.02.2007
Wagner é um osso duro de roer. Não tanto pela longa duração dos seus dramas, mas sobretudo pelas contradições que as suas obras encerram e pelas diferentes leituras que possibilitam. A encenação de Graham Vick, estreada neste sábado no Teatro de São Carlos, mostra bem isso. Vick fez uma leitura não linear e plural de A Valquíria, mas escolheu o seu campo de acção, urdindo uma espécie de tragédia grega contemporânea a partir de uma interpretação profundamente humanista deste episódio da Tetralogia. É um facto que Wagner tem nesta parte da sua obra monumental uma relação especialmente ambígua com o que é humano. Por um lado, todos são corruptos e vendidos, as famílias são decadentes, as convenções não prestam, os seus contratos são sujos e impedem a liberdade. Mas por outro lado só no humano está uma hipótese de redenção. A valquíria Brünhilde, a filha de Wotan, o maior dos deuses (ela é metade dele, da sua consciência e da sua vontade), é a personagem que carrega essa possibilidade. Torna--se humana por ter desobedecido ao seu pai e descobre a compaixão e o amor, o seu e o dos outros. Susan Bullock, soprano, construiu o papel mais difícil, mais dinâmico e mais ambíguo da ópera de Wagner: e foi uma Brünhilde que, a pouco e pouco, cresceu no palco, revelando uma verdadeira actriz. Bullock teve grandes momentos, quando a sua voz e os seus gestos passam, com muita sobriedade, da rispidez de deusa para a sensibilidade humana. Graham Vick puxou por isso, evidentemente. Porque lhe interessava descobrir nos mitos o homem comum - a mulher comum, nesse caso - e as suas obsessões, mais do que passar ideais grandiosos em doses cavalares (também há muito disso em Wagner).
A orquestra sinfónica portuguesa teve força nos momentos essenciais, mas Marko Letonja podia ter ido mais longe na "visão" musical de Wagner - pôr realmente a música na cena e estar ainda mais atento aos cantores, que têm difíceis partes vocais e complicadas movimentações, em vez de exigir apenas que eles sigam a orquestra.
O elenco, no conjunto, é de qualidade elevada. As valquírias tiveram uma grande energia e um empenho enorme. E são excelentes vozes. Mikhail Kit foi um Wotan apenas muito bom - cumpriu bem o papel, mas não foi o deus dos deuses que poderia ser. Anna-
-Katharina Behnke (Sieglinde) tem uma grande voz. Foi mais dramática quando não teve medo do excessivo (no terceiro acto, por exemplo) do que nas partes mais contidas e líricas. Ronald Samm esteve muito bem na generalidade, mas foi-se um pouco abaixo vocalmente na parte final. É que este Siegmund exige algum esforço. Maxim Mikhailov foi um bom mau da fita (Hunding), com o seu lado de motard rufião. Fricka foi uma mulher de Wotan bastante convincente, graças a Judith Németh que levou a água ao seu moinho, tal como Fricka o faz na discussão conjugal dos deuses no segundo acto.
As mulheres em Wagner - deusas incluídas - não se pode dizer que sejam muito bem tratadas. Mulher é quase um insulto. A encenação de Vick, freudiana, psicanalítica, mas aberta e até com algum sentido de humor, deu a volta à misoginia de Wagner de uma forma bastante interessante. Mas foi acima de tudo Susan Bullock, com garra de actriz, que mostrou uma personagem feminina dinâmica e complexa. Frágil e resistente ao mesmo tempo.
Pedro Boléo
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26.2.07
Walküre a negação wagneriana
O pior que soube através da entrevista, a par da lamechice e banalidade de Letonja ao dizer que a obra é patética e emotiva e o mais a quatro, é mesmo o sacrifício irresponsável da música por uma cenografia e encenação que desprezam a partitura wagneriana em toda a sua dimensão. Diz Letonja que segue o Felix Mottl e a edição da Dover, logo a que eu tenho. Se segue essa edição deveria ter constatado que as indicações que lá vêm, e assim se faz em Bayreuth (como Letonja não se cansa de repetir parece que é o seu modelo), são precisamente de 16 primeiros violinos e não de 14, de 16 segundos e não de 12, de 12 violas e violoncelos cada e não de 10 e, finalmente e o pior de tudo, de 8 contrabaixos e não de 5! O número de cordas a menos, relativamente ao indicado, é de 13 instrumentos, uma orquestra de câmara!
Sendo os naipes graves severamente sacrificados, nos divisi a quatro o desequilíbrio é manifesto e, pior, o desequilíbrio global entre sopros e cordas é tremendo. Na plateia, onde me sentei, os desgraçados dos 5 contrabaixos já nem sequer se ouvem.
A construção, de que Letonja fala, a partir dos graves é uma treta, perdoe-se a palavra: é caso para dizer que é apenas quando as tubas entram que se ouvem graves. Quando os sopros reforçam as cordas, como por exemplo os fagotes e clarinete baixo se juntam aos violoncelos, a coisa compõe-se mas não é ideal. Entretanto diz o maestro que as cordas se ouvem muito bem com três ppp. Talvez Letonja as ouça bem no pódio, mas cá atrás ouvem-se os walkie-talkies da produção e um ruído de fundo das máquinas que abafa completamente qualquer hipótese de se ouvirem os tais três ppp.
Pensar que a primeira razão desta reviravolta no palco do S. Carlos era operacional: a orquestra wagneriana não cabia no fosso do teatro!
Finalmente Letonja diz que "Depois - isto pode parecer provocação, até - mas há vários locais na partitura onde a instrumentação se assemelha muito à música de câmara." Não é provocação nenhuma, é uma verdade óbvia e uma banalidade para quem conhece a obra de Wagner. A maior parte da textura é claramente de câmara, e mais, mesmo nos grandes momentos sinfónicos a presença de estruturas camerísticas transparece. Wagner cria tensões e distensões contínuas, sendo que quase todas as distensões são obtidas por efeitos de redução instrumental e de diálogos instrumentais concisos, geralmente surpreendentes nas combinações e cores, na extraordinária simplicidade e engenho em que emprega todo o espectro orquestral ao mesmo tempo que também sabe utilizar as grandes massas e domina com maestria as grandes complexidades orquestrais, sempre doseando os grandes momentos evitando cair no monolitismo que se encontra num compositor menos dotado do que Wagner, como por exemplo Schönberg na sua fase inicial; v.g. Gurrelieder. A criação de tensão em Wagner também não escapa a estas combinações sonoras. Um dos exemplos mais notáveis é a cena da revelação da espada, em que tímbales a solo, cordas graves, trompete baixo e, finalmente, o primeiro trompete constroem um diálogo notável de revelação e descoberta que se distende a meio com uma evocação meditativa de Siegmund e que, de novo, se reacende para culminar com a entrada em anticlímax de Sieglinde que explica tudo e reduz o momento, o que já era óbvio pela música, ao universo das palavras, antes de entrar num novo ponto de grande dramatismo.
Centenas de outros exemplos podem ser apontados, o monólogo de Wotan, que tanto está "contra" toda a orquestra como em pungentes frases completamente a descoberto ou em diálogo com alguns instrumentos, sublinhado aqui e ali por pizzicati ou notas curtas dos sopros, em que a voz, o elemento da orquestra ao qual é permitido falar, estabelece um princípio condutor que transporta o ouvinte espectador a um mundo mágico de evocações, como por exemplo quando surge o tema de Erda, se anuncia o Crepúsculo, se evocam os tratados, ou se prenuncia o fim, entre tantos motivos entrelaçados ou em sucessão. Não é provocação falar de um Wagner de câmara, é uma evidência.
Creio que a direcção peca por não ser arrebatada ou mesmo excessiva, o excesso de paixão nunca é excessivo! Nota-se que Letonja está a jogar à defesa nesta sua primeira Walküre. A orquestra não dá grande segurança, o espaço é muito desconfortável para uma direcção precisa dos cantores, é justificável, mas esta visão também é redutora e empobrecedora. Resta pesar os muitos lados e saber no final se valeu a pena. Ainda é cedo para esse balanço, nem o projecto avançou ainda muito, nem esta Walküre atingiu a sua maturidade musical e teatral.
Letonja afirma, como se de um grande desiderato se tratasse, que não reduziu madeiras e metais! Como se o pudesse fazer, as partes são únicas, cortar nos sopros seria cortar música escrita por Wagner. Pode cortar nas cordas porque na maioria dos casos estão muitos instrumentos a tocar a mesma coisa, não acontece isso nos sopros.
Foi por isso que tivémos seis harpas no Ouro do Reno, é porque nesse drama específico a música de cada harpa está escrita, em linhas individuais, por Wagner. Cortar uma harpa seria destruir o texto musical na sua completude. Na Walküre as harpas dividem-se em dois conjuntos de três harpas, ou em conjuntos menores, mas nunca há mais de duas linhas paralelas, logo vá de cortar um par de harpas. Quando Wagner pretendia as seis, que vêm indicadas na partitura, Letonja põe quatro, apesar do Mottl, apesar de em Bayreuth se fazer com seis, e em Berlim e em Aix e em todo o lado onde se respeita a obra de Wagner. Queixa-se que teve de as mandar tocar mais piano porque estão muito próximas do local de onde dirige, mas aqui também não interessa muito o que o maestro ouve no pódio apenas porque as harpas estão muito próximo das suas orelhas, o que se pretende é um efeito sonoro junto de quem ouve, o público. Se Wagner quer seis harpas devem estar seis. Acrescento que se Letonja as ouviu bem eu não consegui ouvir bem esses instrumentos, nomeadamente na maravilhosa cena da Primavera no primeiro acto.
Fica uma certeza: fazer Wagner com uma orquestra que já não é grande coisa e ainda por cima violentamente amputada do seu efectivo ideal é negar descaradamente o compositor e a sua obra, é destruir o seu ideal sonoro. Há que ser frontal: nestas questões não pode haver compromissos, uma Walküre com uma orquestra desfalcada é uma fraude, é vender gato por lebre.
Outro lado que para mim é revoltante é o facto de em Portugal nunca se fazerem as coisas pela íntegra, há sempre certas razões, há sempre uns burocratas que acham que não se pode fazer como está escrito, por isto e mais aquilo e rebéu-béu-béu, e o espaço é pequeno, e era desconfortável, e era demasiado para as orelhas do maestro ter de ouvir tanto barulho. E não se pode contrariar o Vick que ele é que é o autor do projecto e é o encenador e mais uma série de coisas todas cinzentas e medíocres que se afirmam para justificar o injustificável. E vem um esloveno que nunca dirigiu a Walküre para nos ensinar como deve ser uma orquestra wagneriana e que assim fica muito equilibrado... o mesmo Letonja que assassinou a partitura de Medeia. Ter aspectos de câmara não significa que se faça Wagner com uma orquestra de câmara e a ouvir-se a meio gás.
Que raio de país este de miseráveis meias tintas que nem sequer um Wagner inteiro podemos escutar. Soubesse a maioria do público a que soa um Wagner inteiro e verdadeiro...
P.S. Como poderá o maestro Letonja seguir as indicações da partitura que indica "quatro primeiros contrabaixos" no início do prelúdio e uns compassos mais à frente faz entrar mais quatro, escrevendo "todos os oito contrabaixos" para voltar a retirar quatro contrabaixos mais à frente. Como pode haver uma graduação do peso dos graves se não existe qualquer hipótese de o fazer com apenas cinco instrumentos? Será que primeiro entram os quatro primeiros e depois entra o quinto? Será que ficam todos a tocar, será que entram 3 e depois mais dois? As partes de grande densidade, pathos e energia com os violoncelos e contrabaixos saem desgraçadamente pífias, lembro o tema da rebelião de Siegmund contra Wotan no final do segundo acto sobre o tema da morte: como emprestar força telúrica, drama, angústia? Com um peso orquestral nas cordas graves absolutamente ridículo. Embora tenha ficado num local de acústica muito fraca, parece-me que falta muita massa a esta orquestra enfezada e diminuída nas cordas.
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19.2.07
A renúncia
O espectro de Wagner assombrará o Sr. hermenêutica, esse e mais o de todos os que amam a cultura e a música em Portugal. O Carvalho que será lembrado, nestes dias dos mais negros que a cultura viveu em Portugal, por ter fundido o ouro do Reno e o ter transformado em pechisbeque.
Seguem dois sonetos, cuja hermenêutica decifradora, agora na sua vertente pós-compreensão, deixo ao leitor que, sempre benévolo, não há-de entender malícia na citação do grande Bocage. Apenas um sorriso para aliviar da putrefacção destes miasmas políticos que nem um soneto do Bocage hoje mereceriam. Ficam para alívio e descarga dos humores.
Turba esfaimada, multidão canina,
Corja, que tem por deus ou Momo, ou Baco,
Reina, e decreta nos covis de Caco
Ignorância daqui, dali rapina:
Colhe de alto sistema e lei divina
Imaginário jus, com que encha o saco;
Textos gagueja em vão Doutor macaco
Por ouro, que promete alma sovina:
Círculo umbroso de venais pedantes,
Com torpe astúcia de maligna zorra
Usurpa nome excelso, e graus flamantes:
Ora mijei na súcia, inda que eu morra
Corno, arrocho, bambu nos elefantes,
Cujo vulto é de anões, a tromba é porra!
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Nojenta prole da rainha Ginga,
Sabujo ladrador, cara de nico,
Loquaz saguim, burlesco Teodorico,
Osga torrada, estúpido rezinga;
E não te acuso de poeta pinga;
Tens lido o mestre Inácio, e o bom Supico;
De ocas idéias tens o casco rico,
Mas teus versos tresandam a catinga:
Se a tua musa nos outeiros campa,
Se ao Miranda fizeste ode demente,
E o mais, que ao mundo estólido se incampa:
É porque sendo, oh! Caldas, tão somente
Um cafre, um gozo, um néscio, um parvo, um trampa,
Queres meter nariz em cu de gente.
Manuel Maria Barbosa du Bocage
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Poder Autárquico Democrático
É facto que o português típico, inculto, sem sentido estético, espertalhão, invejoso, ganacioso e egoísta passou a dominar o poder local, uma democratização sem dúvida.
Um poder corrupto de gente que é o espelho de um país de gente corrupta, atrasada e analfabeta.
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17.2.07
O belo e o possível
Manuel Ferrer tem de controlar a tendência de cantar balanceando o corpo como se tratasse de um pêndulo, é um erro que se torna num vício difícil de corrigir, por outro lado o registo de peito do rapaz é algo desafinado, trata-se de um jovem de 12 anos, correspondeu de forma notável, o que não impede que fiquem estes apontamentos para correcção futura. O Coro esteve bem, apesar de alguma gritaria desnecessária.
O melhor foi mesmo a concepção de Zilm, coerente, de acordo com a natureza algo escessiva de uma partitura de um jovem compositor, Mahler, à procura do seu caminho, numa cantata dramática e cheia de elementos ultra românticos. Zilm foi enérgico sem perder o pé, corrigindo defeitos de forma subtil, sempre em cima do acontecimento, dando entradas com certeza, ligando a música e as diferentes secções sempre com sabedoria. A impressão geral foi de coerência, de exploração da música de Mahler com aproveitamento perfeito do rubato na vizinhança dos pontos axiais de maior tensão, sendo moderadamente atormentado nas secções mais líricas, o que evitou a queda no mau gosto estilístico. Apenas se lhe pedia uma maior moderação nos excessos sonoros de metais e coro.
Sem construir um belo impossível, a sua arte trouxe o bom sem se torturar na busca do óptimo, sabendo bem onde encontrar o compromisso. À frente de uma grande orquestra Zilm será fantástico, à frente da Gulbenkian foi bom. Um bom concerto, bem melhor do que o das "Grandes orquestras Mundiais" de terça feira última.
O que ouvimos da banda fora da sala, bem longe, pareceu-nos também em bom plano.
Uma nota para Andreas Schimdt, foi um cantor com currículo razoável há muitos anos, agora arrasta-se pelos teatros de ópera, incapaz de afinar no registo grave e médio, foi simplesmente desastroso. Contratar por currículo tem destes inconvenientes, os fiascos, como os últimos festivais de Bayreuth não se incluem no currículo... Tive o desprazer de escutar o cantor nas últimas aparições em Bayreuth, v.g. no Tristan de há dois anos, e ouvi Schmidt ladrar desafinado, acabando por ser substituído depois das primeiras récitas. No ano passado, 2006, já foi outro cantor a ser chamado para o papel de Kurwenal. Na crítica publicada na época, há dois anos, escrevi sobre Schmidt:
Kurwenal – Andreas Schmidt – 00. Péssimo.
"E somos chegados a Kurwenal, um currículo invejável, um nome como Andreas Schmidt numa decadência incrível, nunca pensei que fosse possível em Bayreuth encontrar uma situação tão penosa, seria caricato se não fosse destrutivo para a música de Wagner. Nem uma nota afinada, agudos penosos, geralmente meio-tom a um tom abaixo no ataque das notas, depois glissandos (portamento seria favor) a tentar chegar ao tom certo, depois voltar a descer sem capacidade de sustentar a nota. Respiração penosa, interrupção da frase para respirar ofegantemente, voz feia no todo, horrível nos graves, um barítono a rosnar nos graves, sem linha melódica. Gritou, uivou, mas cantar não cantou. Indigno de Bayreuth, lamentável. Penoso na estreia também, isto segundo a crítica italiana e inglesa. Foi tremendamente vaiado no final do terceiro acto, como não podia deixar de ser."
Que os senhores da Gulbenkian não leiam as minhas críticas ou não lhes prestem atenção, ainda aceito. Mas o Guardian? O Times? O Le Monde de La Musique? Todos os jornais da Bloomberg? Todos os italianos? o Le Temps de Genève? Não interessa que Schmidt seja vaiado em todos os teatros do mundo? Como se pode aceitar que este pobre cantor possa aparecer num palco português. Refugo e mais refugo em termos de solistas é o que temos tido nos concertos regulares da orquestra Gulbenkian. Pede-se mais atenção aos programadores na aceitação de toda a porcaria que os agentes apresentam. Qualquer Luís Rodrigues está milhares de furos acima de um Schmidt sem voz, incapaz de afinar, e em decadência total. É muito bonito dar segundas oportunidades a esta gente, mas o público paga bilhete para ouvir alguém com o mínimo de dignidade e de respeito pela música. Bola preta para esta contratação.
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1.2.07
A teia dos argumentos
Carlos Manuel Castro, no Tugir diz, implicitamente, que ninguém pode criticar a lei espanhola porque, pasme-se, na Catalunha as mulheres com mais de trinta e cinco anos apresentam uma maior taxa de gravidez, e são mães cada vez mais tarde. Segundo ele essa é uma idade "que muitos não consideram desejável". Tudo serve, mesmo os maiores disparates lógicos que, neste caso, são um perfeito atentado à inteligência do leitor.
Explico a falácia de tal argumento, a natalidade tem subido devido a alguns factores:
1. Maior qualidade de vida e desenvolvimento económico, levam a uma maior natalidade que se relaciona com a confiança no futuro. A natalidade em Portugal é baixa e será cada vez mais baixa, porque Portugal é um país triste, de gente triste, sem cultura, sem horizontes, em crise permanente, governado por corruptos e mentirosos que são iguais aos governados. Para romper uma baixa de natalidade é preciso em primeiro lugar uma profunda revolução, uma revolução cultural e de mentalidades, nada tem a ver com a lei do aborto. A Catalunha, ao contrário de todo o Portugal, é um território de alegria, de crescimento e de esperança.
2. As mulheres mais velhas podem agora ter mais filhos, isso tem a ver com as suas carreiras, e com uma entrada muito competitiva no mercado de trabalho que lhes dá poucas hipóteses de terem a maternidade na idade de maior fertilidade.
A lei espanhola do aborto facilita precisamente esta situação, as mulheres recusam a maternidade se isso prejudica as suas carreiras, quando se diz que: apesar da lei há mais natalidade, está-se a cometer um erro de julgamento e uma manipulação da realidade, essa lei contribui apenas para uma natalidade mais tardia.
3. A eficácia da medicina na resolução do problema da infertilidade que atinge mais de dez por cento da população e que numa sociedade onde existe maior poder de compra e apoio do sistema nacional de saúde vai também pesando no aumento da natalidade junto de mulheres mais velhas que engravidam pela primeira vez, ao contrário de Portugal.
Isto leva-me à questão do aborto e à sua premência política em Portugal. O aborto em situações sócio-económicas graves ocorre apenas num número reduzidíssimo de situações, tendo entrado em hospitais devido a complicações com aborto clandestino em 2006 menos de uma dezena de mulheres; ao contrário dos milhares de "desgraçadinhas" que se propalam por aí nas campanhas. A infertilidade afecta mais de dez por cento dos casais e ninguém se peocupa em defender as situações em que casais desfavorecidos tentam desesperadamente engravidar. O sistema nacional de saúde não tem contemplacões para essas situações trágicas e de grande sofrimento para muitas jovens mulheres e homens portugueses.
O aborto clandestino vai continuar a realizar-se porque as mesmas mulheres que abortam hoje, continuarão a abortar nas mesmas condições, não terão dinheiro para ir às clínicas para a classe média e alta. Em situações de problemas psicológicos, físicos, violações, riscos para o feto, o aborto já é permitido e mesmo assim o sistema nacional de saúde não responde muito bem, como será no caso de receber mil e oitocentos casos (ou mais) de pedidos de aborto indiscrimado?
Despenalizar não será solução para nada disto. Entretanto será que os casos de aborto a pedido terão prioridade sobre todos os outros casos do sistema nacional de saúde? Para mim seria um escândalo e uma vergonha para este país.
O pai não tem uma palavra a dizer nesta liberalização, o pedido é da mulher consagrando a total desresponsabilização do pai nestas circunstâncias. Que confortável para o Estado esta demissão, menos processos de paternidade, menos casos de Torres Novas.
Entretanto as mulheres com dez semanas e um dia de gravidez e que abortem, irão parar à cadeia? Com que critério?
No meu entender é tudo uma grande hipocrisia. Enquanto não se defender a maternidade e se apoiar essa mesma maternidade, a que se dá naturalmente e a que não consegue ocorrer, que afecta um número esmagadoramente superior de pessoas em Portugal, não se pode mudar uma lei que já defende a mulher e o feto, mesmo em situações extremas.
O que é mesmo necessário não é a liberalização, é essa revolução das mentalidades, a começar pelos defensores do aborto liberalizado e a pedido que, de acordo com as suas ideias modernas, deveriam ter as prioridades mais estruturadas nas suas esclarecidas e libertárias cabeças.
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30.1.07
Experimente a Guta com o dinheiro dela
Finalmente é bom não haver dinheiro, é que sem dinheiro não há palhaços. Segundo a organização da Experimenta (a tal Guta e a sua empresa) vai haver um grande prejuízo. Qual? Pergunta o leitor, a resposta é simples, informa a "organização": para já o dos 500.000€ com que estávamos a contar! O dinheiro dos cidadãos é mesmo como se fosse deles não é? Não há limites para o descaramento e a falta de vergonha. E porque não fazer a coisa com os 2.1 milhões que sobram e o apoio logístico da câmara?
Entretanto a Casa da Música do Porto contratou a mesma santanete para "renovar a sua imagem", ou qualquer coisa que o valha. Casa da Música, a instituição portuense que viu o seu orçamento reforçado em 7%, ao contrário do S. Carlos e do CCB, que viram os seus orçamentos cortados numa fatia próxima dos 7%. A mesma Casa da Música que classificou o recital de Murray Perhaia nos "outros"a par da Banda Marcial de Fermentelos, e não em "piano", no seu site.
Grande Banda a de Fermentelos, que é a grande novidade deste 2007 na Casa da Música. Pelo menos deve ser muito melhor do que certas orquestras que andam por aí.
A mesma instituição, Casa da Música, que apresentou uma programação miserável, agora da autoria de Burmester, o "gestor querido de Pires de Lima", incomparavelmente inferior à realizada por Anthony Withworth Jones, anterior director artístico, para este início de 2007 e que esbanja mais uns larguíssimos milhares de euros com a tal Guta para, supostamente, animar a coisa em termos de imagem! Esta mulher deve ter algo. Uma espécie de poder oculto que não descortino: é que chamar a Guta para animar o projecto do Rem Koolhaas é obra.
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28.1.07
Então não é anedota!
E a eleição dos 11 melhores compositores? É mesmo verdade?
Mal posso esperar pelo dia do programa, vou já ver no site da RTP... já vi, é à sexta feira! Um programa destes não pode acabar nunca.
Já agora, e muito a sério, que belíssimo blog é o ideais soltas.
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27.1.07
A propósito do Sr. Hermenêutica.
Quando é que a tutela - esta tutela - aprende a deixar os organismos que tutela em paz? A que se deve este esforço controleiro? Não tem mais que fazer? O São Carlos está no topo do prestígio, cá e lá fora. Este Wozzeck foi o que eu digo aqui ao lado. Vem aí a continuação do Ring, de Wagner, encenado por Graham Vick. Paolo Pinamonti é um tesouro nacional que conseguiu alcandorar o teatro a uma posição de prestígio internacional. Faz milagres de multiplicação de música com o orçamento que tem. Pacificou as hostes e restituiu-lhes o orgulho nas grandes causas líricas. É um homem inspirado e cordato, e com uma excelente equipa. Serve de exemplo a outras instituições que se arrastam pelas ruas da medíocre amrgura. Será por isso? É sempre fácil arranjar um Judas, com ou sem 30 dinheiros. Ou espalhar calúnias, à Don Basílio. Se quer ser útil à causa da música em Portugal, o que o secretário de Estado devia fazer era perguntar à actual direcção do teatro em que os pode ajudar. O país não aguenta tanta mexeriquice e incompetência da tutela. Parece que a política é puro terrorismo de Estado: destabilizar e botar a baixo quem é bom e se distingue. Dizem que a má moeda expulsa a boa moeda. Se Paolo Pinamonti sair, bem pode a tutela limpar as mãos à parede. A parede e o país ficam todos borrados. Carago! A ministra que é do Porto talvez perceba.
Jorge Calado no Expresso de Hoje [coloridos meus, H.S.]
Etiquetas: Crítica, Irritações, Jorge Calado, Música, Pinamonti, S. Carlos, Vieira de Carvalho
26.1.07
Hermenêutica
Como pode um catedrático e ainda por cima secretário de Estado da cultura usar esta expressão que quer dizer: "interpretação de textos antes da compreensão" ou se quisermos ser bondosos "interpretação pré-compreensão", será que o senhor secretário de Estado e catedrático sabe do que está a falar? Ou está a atirar palavras caras para cima dos jornalistas e do público que lhe paga o lugar quentinho na Ajuda? Terá lido a palavra "hermenêutica" recentemente nalgum calhamaço e terá gostado do termo que agora o usa a torto e direito, a propósito quando tem sorte e a despropósito quando calha...
O que é certo é que além de um cinzentismo inacreditável, que resulta, por um lado, da debilidade política dentro do governo, sem a menor expressão junto do PS, como ex-comunista desgarrado, por outro lado resultante da própria atitude pessoal perante a coisa pública que devia tutelar, o secretário revela-se em toda a sua nudez pela exposição de um gigantesco vazio de ideias, projectos e reflexões. O uso de expressões como "hermenêutica pré-compreensão" revela uma fraqueza e falta de coragem política que se esconde atrás de artificialismo e de uma cortina de palavras ocas, disparatadas, sem nexo, como escudo ininteligível relativamente ao real.
Infelizmente para o próprio, fica o registo, apesar de boas intenções e de ideias que lhe vislumbrava à priori, o vácuo infeliz de uma cortina de palavras sem nexo.
Fica aqui a minha previsão: os dias de Pinamonti no S. Carlos estão contados. Se nenhum factor exterior ao palácio da Ajuda surgir entretanto, será um aparatchnik que virá a ser o novo director artístico. Tudo isto se depreende do discurso do Sr. Hermenêutica e esta é a minha hermenêutica do que tem vindo a ser dito, escrito e feito, pelos senhores que se julgam poder na área da cultura.
Etiquetas: Aborto, Crítica, Fait divers, Irritações, Morte, Mundo, ópera, Real, Vieira de Carvalho
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