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1.2.07

A teia dos argumentos 

Relativamente ao sim (e ao não) à liberalização do Aborto toda a espécie de argumentos são usados. O problema profundo e filosófico é escamoteado.

Carlos Manuel Castro, no Tugir diz, implicitamente, que ninguém pode criticar a lei espanhola porque, pasme-se, na Catalunha as mulheres com mais de trinta e cinco anos apresentam uma maior taxa de gravidez, e são mães cada vez mais tarde. Segundo ele essa é uma idade "que muitos não consideram desejável". Tudo serve, mesmo os maiores disparates lógicos que, neste caso, são um perfeito atentado à inteligência do leitor.

Explico a falácia de tal argumento, a natalidade tem subido devido a alguns factores:

1. Maior qualidade de vida e desenvolvimento económico, levam a uma maior natalidade que se relaciona com a confiança no futuro. A natalidade em Portugal é baixa e será cada vez mais baixa, porque Portugal é um país triste, de gente triste, sem cultura, sem horizontes, em crise permanente, governado por corruptos e mentirosos que são iguais aos governados. Para romper uma baixa de natalidade é preciso em primeiro lugar uma profunda revolução, uma revolução cultural e de mentalidades, nada tem a ver com a lei do aborto. A Catalunha, ao contrário de todo o Portugal, é um território de alegria, de crescimento e de esperança.

2. As mulheres mais velhas podem agora ter mais filhos, isso tem a ver com as suas carreiras, e com uma entrada muito competitiva no mercado de trabalho que lhes dá poucas hipóteses de terem a maternidade na idade de maior fertilidade.
A lei espanhola do aborto facilita precisamente esta situação, as mulheres recusam a maternidade se isso prejudica as suas carreiras, quando se diz que: apesar da lei há mais natalidade, está-se a cometer um erro de julgamento e uma manipulação da realidade, essa lei contribui apenas para uma natalidade mais tardia.

3. A eficácia da medicina na resolução do problema da infertilidade que atinge mais de dez por cento da população e que numa sociedade onde existe maior poder de compra e apoio do sistema nacional de saúde vai também pesando no aumento da natalidade junto de mulheres mais velhas que engravidam pela primeira vez, ao contrário de Portugal.


Isto leva-me à questão do aborto e à sua premência política em Portugal. O aborto em situações sócio-económicas graves ocorre apenas num número reduzidíssimo de situações, tendo entrado em hospitais devido a complicações com aborto clandestino em 2006 menos de uma dezena de mulheres; ao contrário dos milhares de "desgraçadinhas" que se propalam por aí nas campanhas. A infertilidade afecta mais de dez por cento dos casais e ninguém se peocupa em defender as situações em que casais desfavorecidos tentam desesperadamente engravidar. O sistema nacional de saúde não tem contemplacões para essas situações trágicas e de grande sofrimento para muitas jovens mulheres e homens portugueses.

O aborto clandestino vai continuar a realizar-se porque as mesmas mulheres que abortam hoje, continuarão a abortar nas mesmas condições, não terão dinheiro para ir às clínicas para a classe média e alta. Em situações de problemas psicológicos, físicos, violações, riscos para o feto, o aborto já é permitido e mesmo assim o sistema nacional de saúde não responde muito bem, como será no caso de receber mil e oitocentos casos (ou mais) de pedidos de aborto indiscrimado?
Despenalizar não será solução para nada disto. Entretanto será que os casos de aborto a pedido terão prioridade sobre todos os outros casos do sistema nacional de saúde? Para mim seria um escândalo e uma vergonha para este país.
O pai não tem uma palavra a dizer nesta liberalização, o pedido é da mulher consagrando a total desresponsabilização do pai nestas circunstâncias. Que confortável para o Estado esta demissão, menos processos de paternidade, menos casos de Torres Novas.

Entretanto as mulheres com dez semanas e um dia de gravidez e que abortem, irão parar à cadeia? Com que critério?

No meu entender é tudo uma grande hipocrisia. Enquanto não se defender a maternidade e se apoiar essa mesma maternidade, a que se dá naturalmente e a que não consegue ocorrer, que afecta um número esmagadoramente superior de pessoas em Portugal, não se pode mudar uma lei que já defende a mulher e o feto, mesmo em situações extremas.
O que é mesmo necessário não é a liberalização, é essa revolução das mentalidades, a começar pelos defensores do aborto liberalizado e a pedido que, de acordo com as suas ideias modernas, deveriam ter as prioridades mais estruturadas nas suas esclarecidas e libertárias cabeças.

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