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28.12.07

Portugal, miséria cultural 

Há quanto tempo não se escuta em Portugal uma cantata de Bach por um bom coro, por uma boa orquestra, com uma direcção capaz e solistas decentes?

Há quantos anos não se escuta Monteverdi?

Há quantos anos não se escuta um Schütz que nunca se ouviu por estas bandas?

Em 2008 teremos o Emmanuel Nunes. Falta tudo o resto.

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13.3.07

O Camarada Hermenêutica 

Segundo Vieira, o Hermeneuta, o Teatro de S. Carlos deve servir para os cantores portugueses rodarem e para os turistas terem ópera à disposição em Lisboa. Julgava que a ópera era para o consumo do povo local, agora além da bica, dos banhos de sol e dos serviços do Zézé Camarinha, vamos também ter ópera para os "camones".
Entretanto deve manter-se o projecto da Tetralogia. Paradoxalmente a ópera do Nunes, a tal que "o génio" Emanuel (não confundir com o cantor pimba Emmannuel) não consegue acabar apesar de ter sido já acabada mas à qual faltam as partes vocais, num dos maiores e sublimes paradoxos pós-modernos, uma desconstrução que nem Derrida nem o falecido Baudrillard conseguiriam explicar senão pela ôntica pré-compreensão, afinal Deleuse puro, mas num universo aparente! Algo que poderia até justificar a hermenêutica pré-compreensão, se este último conceito não fosse claramente ôntico e não ontológico e claramente antagónico ao primeiro, o que nos deixa num beco sem saída hermenêutico; a não ser que um Boaventura Sousa Santos ou um qualquer catedrático Sr. Hermenêutica nos ajudem a perceber a nossa ignorância hermenêutico-ontológica-ante-compreensiva-ôntica-dualmente-ontológica.
Um Nunnnes que reinventa a ópera, apenas música instrumental e para-instrumental, orquestra e parafernália com dezenas de cantores em cena, cantores esses que não cantam(!). Reinvenção da ópera que poderá até ser representada e cantada por sopranos surdos, altos brigantinos, tenores ciciosos, mezzos sopinhas de massa e baixos mudos.

Voltando ao tema: o novel director artístico é um tal Dammann (assim mesmo com dois mm e dois nn), um senhor académico que dirige a ópera de Colónia, e que tem um currículo curto, apesar do que se afirma por aí em comunicados oficiais: "fabuloso" é o adjectivo e o meu adjectivo para tal adjectivo é "parolo". Parece que o tal senhor vem de Lübeck (da parte da DDR ou RDA), nasceu em 1964, tendo estudado na bem socialista Rostock. Parece que foi barítono e trabalhou em marketing artístico. Mais um doutorado na velha Alemanha de Leste, onde é que eu já vi isto antes?... Um camarada hermenêutico em perspectiva. É casado e tem duas filhas. Espera-se que seja simpático e que goste de Wagner, talvez sobreviva aos políticos que o colocaram no S. Carlos.
Deve ser fácil sobreviver porque parece que vai continuar em Colónia como director da ópera da cidade. Segundo julgo saber o cargo de Lisboa será em part-time! Ai as nossas poucas dezenas de milhares de euros. E se o Sr. Hermenêutica cumulasse os lugares como sugeriu o proverbial Marcelo? Não se poupavam uns cobres? Part-time por part-time... Será que a Guta Moura Guedes não poderia também fazer um bom lugar? Parece que a perninha que o camarada Dammann virá fazer a Lisboa será excelente para manter o Teatro de S. Carlos no mapa internacional. Estamos a ver o director de Colónia a abandonar o seu belo teatrinho sempre que lhe apetecerem uns banhos de Sol ao Estoril e, já agora, passar pelo S. Carlos... E enquanto o senhor sorridente das fotos não andar a estorvar, sempre fica cá em Lisboa o grupo dos aparatchniks da Ajuda.


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26.1.07

Hermenêutica da pré-compreensão 

Vieira de Carvalho dá uma entrevista ao Diário de Notícias.
As palavras chaves descoficadoras são: "hermenêutica da pré-compreensão", notável o poder clarificador de sua Excelência o Secretário de Estado.

Espero mesmo que seja o próprio a traduzir os libretos das óperas de "estrangeiro" para português. Com esta hermenêutica linguística teríamos o povo a aderir à ópera em massa, em massa, em massa, senhores ouvintes. Tudo, claro está, numa hermenêutica pré-compreensão que nunca passaria daí.

Um texto de grande clareza, em que diz imensa coisa que ainda não se sabia, como essa da hermenêutica e de se afirmar que a cultura pode ser "um factor de desenvolvimento regional". O resto está um bocado batido mas é sempre interessante ver a hermenêutica pré-decisão post-ontológica do político molestado, quase ofendido, pelas opiniões alheias à sua cogniscência e ao seu delírio de omnipotência, gerindo 0.4% do orçamento de Estado e pouco mais de 0.1% do PIB...

Isso passa-lhes, ou numa remodelação ou numas eleições futuras.

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23.1.07

Depoimento de Paolo Pinamonti 

Foi divulgado o seguinte depoimento de Paolo Pinamonti que, tendo sido tornado público, transcrevo aqui na íntegra. É um depoimento sobre as afirmações recentes de Em(m)anuel Nunes sobre a tal ópera que não acabou.

Depoimento

Eu, Paolo Pinamonti, na qualidade de Director do Teatro Nacional de São Carlos, encomendei a Emmanuel Nunes uma ópera em Fevereiro de 2002. A encomenda foi aceite pelo compositor.

Posteriormente, contactei a Fundação Calouste Gulbenkian e a Casa da Música para parceiros da encomenda e para co-produtores. É com satisfação que registo que este projecto, por minha iniciativa e do São Carlos, se realiza com o apoio de duas importantes instituições musicais portuguesas e do IRCAM de Paris.

Na qualidade de Director do Teatro Nacional de São Carlos tenho a responsabilidade de programar a actividade do Teatro e de avaliar as condições técnicas e artísticas de realização de cada projecto. Sempre foi assim e assim será de futuro, de resto, no âmbito do exercício normal das minhas competências. Entre Janeiro de 2003 e Setembro de 2004, a estreia da ópera foi adiada três vezes sucessivas a pedido do próprio compositor. Depois de ter sido concordada a nova data de 22 de Novembro de 2006, enviei ao compositor uma proposta de contrato, a 1 de Fevereiro de 2006, na qual, naturalmente, se encontravam definidas as datas para entrega dos materiais musicais. O compositor não assinou o contrato – até à data este permanece por assinar – e, mais uma vez, foi adiada a data de estreia. Depois de tantos adiamentos, foi meu entendimento que a estreia da ópera de Emmanuel Nunes teria de reunir todas as condições para se estrear no nosso Teatro, no final de Janeiro de 2008.

Lamento profundamente as afirmações proferidas pelo compositor Emmanuel Nunes ao jornal Público, nas quais transparece ter informações privilegiadas quanto a futuras mudanças na política do São Carlos.

Paolo Pinamonti


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20.1.07

Emanuel o Aldrabão! 

Afinal estava terminada a Ópera de Emanuel Nunes? Se lermos bem a entrevista que deu ao jornal "O Público", naquilo que eu chamaria de um servicinho jornalístico subserviente e acéfalo (na terminologia típica de redacção a palavra usada é bem mais jocunda), percebemos que de facto a ópera não estava terminada, a menos que uma ópera sem partes vocais esteja mesmo acabadíssima, mas o homem é tão trapalhão que consegue dizer que alguém decidiu, por ele, que a ópera não estava terminada quando, de facto, não estava mesmo terminada (!) e isto porque ele ainda não a tinha acabado uma vez que ficou triste porque essa decisão de que a ópera não estava terminada foi tomada, não por ele, mas por outro, isto é, pelo velhaco do Pinamonti, "ainda director" de um Teatro de S. Carlos que segundo ele, Emanuel Nunes, mudará de política daqui a pouco tempo! Mas fará audições ainda em Janeiro, bem dentro do mandato do actual director Pinamonti, apesar da tal "mudança de política". E queixa-se que não tinha cantores: Pinamonti não tinha contratado ninguém, mas afinal soube por um agente londrino (seria o Allen, Emanuel não cita nomes) que um cantor, que afinal estaria convidado para fazer um papel, a sete meses da estreia disse que afinal não poderia cantar porque a ópera não estava terminada, isto quando o nosso "grande músico" afirma preto no branco que Pinamonti não tinha planeado nada. Como se Pinamonti pudesse fazer contratos a sete meses da estreia sem as partes vocais... Para Nunes sete meses deve ser um prazo muito grande para terminar uma ópera que não acabou em muitos anos e sobretudo quando os contratos são pagos com dinheiros públicos. Percebe-se que deve estar tudo ao serviço do "todo reluzente Nunes". Confuso? É o rei Nunes em pose de génio do regime vindo de Paris para mandar nisto tudo e afastar o director do S. Carlos num servicinho ao poder político (sem peso nenhum no governo) que neste momento faz a intendência das migalhas da cultura com a miséria que sobrou do orçamento de estado para 2007.

O que é certo é que Stockhausen em 2006 bem disse que não fazia a menor ideia de quem era Emanuel Nunes e que quem conhecia era Jorge Peixinho, que infelizmente tinha morrido. Não consta que Stockhausen seja infeliz no seu desconhecimento de Nunes ou que seja pior músico e intelectual por essa gravíssima lacuna. Eu concordo, eu não daria um chavo para assistir a uma ópera de Emanuel Nunes que não sei quem é, e se ópera não estivesse acabadinha com as partes vocais completas ainda menos pagaria um tostão ao senhor Emanuel. Acho essa história da ópera do Nunes uma rábula mal contada por parte do "grande compositor". Parece-me que o Stockhausen também não conhece o secretário Vieira de Carvalho que, pelos vistos, é amigo do peito de Nunes e que deve achar que a ópera está terminadíssima, agora que passaram mais um meses e estamos a entrar em 2007.
É realmente uma grande perda a morte de Jorge Peixinho. Segue texto da parte da entrevista sobre o assunto para memória futura.

O director [do Teatro Nacional de São Carlos] decidiu que a [minha] ópera não estaria terminada

Prevista para Novembro passado, a estreia da ópera que Emmanuel Nunes compôs a partir da obra de Goethe Das Mädchen foi adiada para 2008. O compositor explica porquê.
A que se deveu o facto de a estreia da ópera não ter acontecido?
Deveu-se pura e simplesmente à maneira de trabalhar do ainda director da Ópera de Lisboa [Teatro Nacional de São Carlos], Paolo Pinamonti. Mais concretamente, à sua falta de deontologia. Por razões de ordem política e contratual, de cantores, encenador, etc., sem o meu conhecimento, o director da Ópera de Lisboa decidiu que a ópera não estaria terminada. E em Março de 2006, i.e., sete meses antes da data prevista para a estreia, o mesmo director não tinha um único contrato de cantores, nem tinha encenador, e dizia, como podia, que o compositor não poderia acabar a obra. O compositor soube disto através de um agente.
De um agente de um músico?
De um agente de espectáculos de Londres, a quem um cantor que devia cantar a minha ópera perguntou se era verdade que a ópera de Emmanuel Nunes não podia ser terminada. Eu soube, portanto, por um método aplicado. Sem entrar em detalhe, tenho só duas coisas a dizer - primeiro: a maneira como fui tratado pelo director da Ópera de Lisboa chega para que eu exija condições mínimas de deontologia; segundo: como eu não pertenço nem apoio nenhum partido político, sinto-me muito mais à vontade para dizer o seguinte: a única pessoa oficial que considerou o problema da minha ópera, e que apoiou como pôde a questão de que ela deverá ser feita, foi o Mário Vieira de Carvalho, secretário de Estado. E digo isto porque, da minha parte, não é, de modo nenhum, um aspecto partidário; é simplesmente uma constatação. Foi ele que permitiu que a ópera não fosse definitivamente abandonada. Portanto, permito-me considerar esse ponto como importante. À parte isso, como é óbvio, manteve-se o apoio incondicional, a mim, da Fundação Gulbenkian e do Remix Ensemble/Casa da Música. A ópera é uma encomenda tripartida do Teatro Nacional de São Carlos, Gulbenkian e Remix/Casa da Música, em que o Remix tem uma parte importante na realização da ópera, como ensemble.
E a ópera já estava concluída na altura?
A ópera não estava concluída. À parte o material dos cantores, estava tudo pronto e acordado com o maestro Peter Rundel, com o Remix e com a Gulbenkian, com as pessoas que tocam directamente, portanto. Não havia material de cantores, porque o senhor director se recusa a fazer audições.
Prefere fazer convites?
Faz. E como quem escreveu a ópera fui eu, e quem a dirige é o Peter Rundel, e ambos precisamos de audições... Seis meses antes da estreia, não havia um único contrato de cantores.
Acordou-se uma nova data, depois da intervenção do secretário de Estado.
Das intervenções!
E já foram feitas as audições?
Não!
Mas estão previstas?
Penso que sim, na medida em que penso que o São Carlos mudará de política brevemente. As datas são 25, 27 e 29 de Janeiro de 2008.

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