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10.9.12

A grande fancaria de Verão ou um chorudo subsídio de férias I 


A grande fancaria de Verão ou um chorudo subsídio de férias I

Henrique Silveira
Crítico

A cultura parece que está em crise em Portugal, não há dinheiro para agentes culturais, grupos de teatro em risco de extinção, os pintores morrem à fome, os festivais decaem, os públicos de concertos pagos desaparecem. A Cornucópia ameaça tornar-se numa companhia amadora, mas na Amadora houve agitação, foi a “Grande Orquestra de Verão” (GOV) na Cova da Moura, uma iniciativa directa da Secretaria de Estado da Cultura e uma ideia com direcção artística de António Victorino de Almeida.
Tendo sido anunciada com um orçamento de cerca de meio milhão de euros, não sei ainda se cumprido, corresponde este Festival a realizar 21 concertos espalhados por todo o país. Reúne diversas orquestras: Orquestra do Norte, Metropolitana, Filarmonia das Beiras e do Algarve e ainda bandas da Guarda e da Armada entre outros agrupamentos, todas elas com o mesmo chapéu da GOV. Se as contas não me falham são cerca de vinte e três mil euros por concerto.
Em primeira análise devo dizer que a soma me parece exorbitante, um concerto de orquestra sem solistas, como é o caso, com transportes incluídos para qualquer parte do país não fica mais caro que doze mil euros e se pensarmos que as bandas militares geralmente não cobram pelos concertos, mais espantosa é a conclusão da exorbitância e, ou as orquestras estão principescamente bem pagas, o que não seria mau para essas orquestras, ou a organização do festival se pagou principescamente bem a si mesma, o que seria excelente para o compositor Victorino de Almeida.
Peço desculpa ao Augusto Manuel Seabra, crítico do “O Público”, um homem de perplexidades permanentes, por estar a ficar como ele próprio! A perplexidade resulta do facto do director artístico da GOV utilzar o festival para fazer tocar a sua 5ª Sinfonia op. 167, em todos os concertos com as orquestra referidas com excepção das militares, honra lhes seja feita, e ainda outras obras suas nos concertos de câmara. A juntar ao ramalhete junta-se a repetição à náusea da sinfonia 40 de Mozart, com a evidente conclusão: enfim, estão juntos os dois grandes génios compositores da humanidade. Este festival é um exercício de imaginação na programação, um exercício de direcção de orquestra e de comunicação, um exercício de narcisismo merecido e justificado com a sábias palavras do próprio Almeida, porque quem não pensa como o génio, ele e o Camilo e já agora o Mozart, pois Victorino gosta de boas companhias, deve ser estúpido; cito as palavras do ilustre programador:
...Como já dizia Camilo de Castelo Branco, «a estupidez tem intuitos impenetráveis», pelo que não valerá muito a pena ocupar-nos com as verdadeiras intenções dos distribuidores de fancaria intelectual, bastando talvez ter-se a certeza de que não é a generosidade aquilo que os move. Nem a generosidade, nem a solidariedade…
A estupidez talvez até possa ser lúcida – e, deste modo, consciente ou mesmo astuciosa – pois há tipos de astúcia que são uma forma de velhacaria… – nas opções que faz e leva a fazer pelo erro, pela banalidade, rotina e sobretudo pela indigência das ideias, da estética e dos sentimentos.
Em Portugal, muitos dos maiores vultos da música têm sido ignorados e omitidos, nos acessos – efetivamente bloqueados – ao seu conhecimento...”
Que demiúrgo! A minha perplexidade deriva do facto de as palavras “banalidade, rotina, e indigência” e “generosidade e solidariedade” (para com o grande Victorino) se aplicarem como uma luva a um conceito em que todos os concertos são iguais e não se vislumbra uma ideia que não seja a auto-promoção de Victorino de Almeida, esse grande vulto esquecido, a par de outro... o Mozart. Estou perplexo pela clarividência e pelas pistas de autocrítica que Victorino de Almeida faz no texto motivador do Festival. Acto falhado ou suprema ironia do mestre que acaba por estar a rir-se de todos nós, pagantes desta grande fancaria de Verão enquanto o sisudo Luís Miguel Cintra passa fome? Sempre admirei Victorino de Almeida, como cineasta, escritor, autor de bocas bombásticas, promissor jovem pianista, autor de programas televisivos; admiro-o ainda mais por se afirmar como o grande artista destes tempos de crise, isto com a boa vontade singela do Secretário de Estado da Cultura. Junte-se a isto um valente subsídio de férias, pago por mim, e quase chego à idolatria. Ah! Bravo Victorino!
Continua com análise crítica dos efeitos deste Festival

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A grande fancaria de Verão ou um chorudo subsídio de férias II 


A grande fancaria de Verão ou um chorudo subsídio de férias II
Henrique Silveira
Crítico

Reflectimos na semana passada nas motivações de António Victorino de Almeida (AVA) nesta sua iniciativa que constitui o festival “A Grande Orquestra de Verão”. Continuamos hoje reflectindo nos efeitos deste programa.
Estamos a falar de meio milhão de euros gastos pela secretaria de Estado da cultura em vinte e um concertos espalhados por todo o país, a programação é directa e governamental (inspiração de José Estaline?) em tempos de miséria cultural e de crise global. Será que a cultura pega por osmose? Será que o povo desse Portugal profundo ao escutar as espantosas melodias e originais harmonias da quinta sinfonia do mestre AVA, uma e uma única vez, passará a amar indelevelmente a cultura clássica? Será que a casaca do “maestro” Victorino funciona como chamariz musical para a juventude excluída da Cova da Moura? Ou será que a coisa vai lá à bengalada? É que não vejo mais nenhum motivo para atrair o “povo” à causa sonora: ouvi dizer directamente bastas vezes ao próprio génio que ele próprio não tinha os menores dotes de maestro, facto que confirmei por audição e observação directa, juntamente com a opinião de muitos músicos que afirmam categoricamente que o “mestre” tem aptidão muito reduzida para a direcção de orquestra.
O efeito efémero de uma festa popular nunca repetida terá algum efeito? Estará à espera que os desempregados e os pobres desgraçados que vivem do rendimento social de inserção passem a ir ao S. Carlos depois da meteórica aparição do arcanjo revelação da arte dos sons ter tirado a casaca na estrada de Sintra? Espera o mestre que a senhora reformada de Trás-os-Montes, que não tem dinheiro para o táxi para ir ao centro de Saúde, passe a ir todos os fins-de-semana à Casa da Música ouvir o Sokolov e passe a amar o Mozart e, porque não, o Emmannuell Nunnes? Espera isso depois desse mesmo povo o ter visto e ouvido AVA a dirigir-se a si próprio e ao Mozart?
Devo dizer que se fosse eu a ter esse privilégio passaria imediatamente a ser devoto do Quim Barreiros e do Tony Carreira, mesmo que os abominasse antes da epifania Victorínica.
A conclusão é que este é um projecto voluntarista, ingénuo e dirigista do Secretário de Estado da cultura: é apenas dinheiro esbanjado aos quatro ventos em tempo de crise grave, o que aumenta a seriedade da medida, contando com a colaboração de orquestras que não se podem recusar a participar nesta fancaria intelectual, porque dependem dos miseráveis subsídios do Estado e precisam de comer as migalhas que caem do prato do grande artista Victorino de Almeida para continuarem a vegetar adiando a morte. Orquestras que fazem um trabalho invisível, mas consistente, de divulgação da arte musical junto das populações ao longo de todo o ano, Invernos gelados incluídos. Meio milhão de euros que poderiam aproveitar a programas junto dos jovens desfavorecidos que gostariam de estudar música, junto de escolas, orquestra e academias locais e que seriam, por exemplo, bem gastos numa programação consistente, variada e imaginativa e, certamente, com o dobro dos concertos.
Victorino de Almeida fez bem e não o condeno: qual cigarra cantadora utilizou-se do seu prestígio junto da formiga, o secretário Francisco José Viegas que, ao contrário da outra, lhe abriu as portas da despensa e que se mostra absolutamente ignorante e completamente alheado da realidade. Seria a “Grande Anedota de Verão” se não fosse tão triste...

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19.12.08

Estupidez 

Chamo a atenção para o post não assinado falta de ética republicana escrito no blogue "Diário Ateísta".
Vá ler e tenha o seu vómito, não é preciso dizer nada, aquilo fala por si.

A peça termina com:
"Comentário: A celebração de Natal – um acto de proselitismo religioso através do Presidente do Instituto Superior Técnico."
Fim de citação.

Próximo passo: queimar em auto de fé ateísta toda a música religiosa.

P.S. Este post marca o regresso deste blogue à actividade.

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20.3.07

Prémio Verde e Preto 

O Sr. Eduardo Pitta além de mentiroso é mal educado. Fica aqui neste texto o meu obrigado pela confirmação do próprio e o respectivo prémio ao "crítico literário". Sobre a "acrimónia", acho a palavra desajustada, será mais um "justo correctivo" pela utilização da mentira e da manipulação dos factos. É um justo correctivo que resulta da indignação de ver alguém com responsabilidades a ser irresponsável e mentiroso e não se informar devidadamente sobre o que escreve, fazendo-o sem o menor pudor.

Não acho que E. Pitta seja pateta, como ele me chama a mim, naquilo que, vindo de quem vem, não passa de um bom elogio, mas tenho a certeza que é mentiroso, que distorce os factos e que não conhece aquilo sobre o que discute: a demissão de Pinamonti do TNSC. Nunca um assunto de natureza objectiva será transformado numa vulgar troca de insultos, como E. Pitta faz. É inútil esconder a ignorância do assunto e as suas falácias com o manto roto da arrogância despeitada de freira púdica, caro E. Pitta, os factos falam por si.

Pitta entrelaça-se em contradições: apesar de dizer que não defende a tutela com unhas e dentes afirma que fala assim porque o assunto é político e não técnico! De facto a soez intriga contra Pinamonti é política mas o cargo dele é artístico, sublime contradição, obrigado E. Pitta pela confirmação. Onde deveria surgir a avaliação pura de competência técnica, passa a valer a traulitada e a mixórdia da política. Não se trata do preço fixo dos livros que se discute, trata-se da avaliação técnica de alguém que dá provas públicas num domínio complexo e artístico, que poderia até ser muito controverso. Acontece, porém, que toda a crítica musical, sem excepção, avalia, incontroversamente, Pinamonti entre o muito bom e o excelente. E. Pitta pensa que estamos todos no lobby do Pinamonti, mesmo aqueles que desde a primeira hora o criticaram fortemente, como eu, e que se foram rendendo à sua capacidade de realização e à sua inteligência. Como seria possível Jorge Calado, Alexandre Delgado, Augusto Seabra, João Paes, Rui Vieira Nery a fazer lobby por Pinamonti? E. Pitta será o único inteligente cá do burgo que nos quer fazer a todos de patetas? Ele, E. Pitta, parece ter ido a Glyndbourne, será que o Seabra também não terá ido? E o Nery? E eu terei andado por onde quando E. Pitta escrevia livros para muito menos pessoas do que aquelas para as quais interessa a tal demissão de Pinamonti? "Talvez" 200 ou serão afinal "600", números mágicos que parecem ser a sua bitola, porque não 531 ou 141, para números inventados quaisquer serviriam, será que 600 é o maior número para Pitta? Uma tiragem recorde de um microlivro a preço fixo?
Mas será que Glyndbourne interessa aqui nesta questão? E porque não discutir o uso pijamas de seda como o Wagner? Será que interessa a pedantice de E. Pitta a gabar-se de ir a Glyndbourne a propósito do S. Carlos? O que interessa nesta questão é o S. Carlos, onde o E. Pitta não pisa, e não o desprezo que E. Pitta vota ao teatro nacional de ópera. É claro que eu também não vi o Sr. E. Pitta em muitos lados, como Munique, Viena, Praga, Aix, Bayreuth, nos Proms, Paris, Innsbruck, Salzburg ou Frankfurt numa lista interminável e inesgotável de lugares onde encontro amigos portugueses com frequência. Não levo a minha proverbial patetice, caro E. Pitta, a andar de máquina fotográfica em punho fotografando os teatros por onde passo. Também não me interessa fazer alarde disso, o provincianismo de exibir as viagens a Glyndbourne é típico de alguns personagens do Eça que não tinham passado muito para além da Porcalhota, fica o assunto ao cuidado de Isabel Pires de Lima.

Apenas o E. Pitta, da literatura, acha bem que o Vieira hermeneuta despeça Pinamonti. O que é certo é que E. Pitta agora "crítico político" não põe os pés no S. Carlos, como o próprio alardeia com alacridade e uma ponta daquele orgulho luso de ser ignorante e ter "raiva a quem sabe", ele que até conhece o nome de Glyndebourne pode dar-se ao luxo de ignorar o "San Carlos". Mas alguém que fale do preço fixo dos livros tem de saber o que é um livro! E. Pitta nem sabe o que é o teatro de S. Carlos de hoje. Os porteiros do S. Carlos estão bem mais à vontade para dissertar sobre o assunto do que alguém que voluntariamente põe antolhos na sua visão já de si estreita e nos presenteia com esses antolhos como se fossem a oitava maravilha do mundo. O que o E. Pitta diz vale o que vale. Para mim o que ele diz não vale nada e afirmei-o frontalmente. Escrevi isso mesmo para não deixar impune a distorção dos factos sem um reparo, e um registo, neste espaço público. Pelo contrário o E. Pitta acha que sabe muito do assunto e pode mandar umas postas de pescada. Acho bem e respeito as postas do Pitta, estamos num país livre, eu comento apenas as incorrecções e as falsidades; os Pittas deste mundo não me intimidam. Como o país é livre também tenho o direito de chamar mentiroso a quem quiser, se provar o que digo. O E. Pitta prefere chamar-me de pateta. É assim que funciona o mundo. Acho imensa graça e dou uma boa gargalhada. O E. Pitta irrita-se e chama pateta a quem tem a ousadia de contrariar o seu pedantismo ignorante; eu volto a dar uma gargalhada, ainda maior.

O leitor que julgue, mas julgue sabendo que E. Pitta afirma uma série de mentiras com que pretende confundir e manipular os factos da demissão de Pinamonti para desvalorizar objectivamente o que este tem feito de brilhante no S. Carlos.
É claro que, tentando colocar o assunto na esfera política, para E. Pitta deixam de valer argumentos críticos, ponderações de factos, análises. A aldrabice, a manipulação da realidade e a ficção mesquinha do quotidiano passam a ter lugar de excelência neste universo supostamente político, e o Sr. E. Pitta usa a ferramenta abundantemente. O facto é político, logo pode-se atacar o resto do mundo usando a grosseria e chamar pateta aos outros. Felizmente o Sr. E. Pitta responde a quente mostrando a face política do assunto e o verdadeiro lobby a que pertence.

Mentiras objectivas de E. Pitta

O Teatro não abre "talvez" vinte vezes por ano, abre mais de 120 vezes. As récitas de ópera são 43 no último ano, segundo Pinamonti afirmou em entrevista que me concedeu e pelos números oficiais do teatro. A história das 43 récitas não é assunto de discussão, é um facto. Não estou para discutir isso, se o E. Pitta estivesse informado, em vez de andar a pavonear-se de máquina fotográfica em punho para depois exibir as fotos, em Glyndbourne ou noutro lugar qualquer, nem precisaria de perguntar. O tal livreco do preço fixo tem páginas? Pitta que se documente e verifique quantas foram as récitas e os espectáculos realmente efectuados e desampare a loja depois de pintar a cara de preto.

Não há talvez "600" pessoas no público de ópera, o teatro tem cerca de 950 lugares e tem uma ocupação superior a 90 por cento. No caso da Valquíria esgotou as sete récitas e mobilizou milhares de pessoas no largo de S. Carlos que seguiram a ópera em ecrã gigante.

O assunto da demissão de Pinamonti não interessa apenas a 200 pessoas, como é público e notório.

Os bilhetes da ópera não custam 400 euros por espectador ao Estado. É falso: se juntarmos todas as colaborações e os concertos da OSP, os recitais e os concertos de outros agrupamentos, como a Orquestra do Século XVIII, o Divino Sospiro entre tantos outros, um espectáculo custa ao Estado 120 euros por espectador. Isto se não contarmos com as receitas dos bilhetes que não entram directamente nos cofres do S. Carlos mas sim nos das Finanças! Se retirarmos a OSP, orquestra sinfónica do Estado português e que existiria com ou sem ópera, o preço desce para 60 euros por evento, um dos valores mais baixos da Europa.

Pinamonti não podia aceitar um convite não feito formalmente.

Ficam os reparos e posso afirmar ainda que o Sr. Pitta pode ser mentiroso e mal informado mas não é pateta. Pitta, no entanto, tem razão ao chamar-me pateta: sou mesmo pateta por "gastar cera com tão vis defuntos".

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19.3.07

O Lobby dos Hermeneutas 

Eduardo Pitta sai da Literatura e resolve dissertar sobre Pinamonti. Existe neste fenómeno a notória incapacidade de certos críticos de ficarem restringidos ao que julgam que sabem e resolverem dissertar sobre o que, notoriamente, não sabem, E. Pitta nunca reflectiu sobre música, a sua cronologia não refere a música uma única vez e nunca criticou qualquer evento musical.
Tenho visto o Eduardo Pitta, crítico literário, a confraternizar em inúmeros lançamentos de livros e em diversos saraus. Nunca vi o E. Pitta no S. Carlos, não é manifestamente um conhecedor do fenómeno musical e do que o rodeia.
Ao ler os textos de E. Pitta, e são já vários, sobre Pinamonti e a recente dispensa do italiano de director do TNSC, apesar deste ter manifestado disponibilidade para ficar, fica a impressão que E. Pitta acha Pinamonti um a espécie de incapaz, um troca tintas que escreve uma coisa e faz outra, ou alguém que não conseguiu endireitar os vícios do Teatro Nacional de S. Carlos. E. Pitta não entende o essencial: as qualidades profundas do ainda director do S. Carlos que deveriam ser aproveitadas em vez de desbaratadas, num gravíssimo malbaratar de um património colectivo que os senhores da tutela da cultura deveriam preservar e valorizar em vez de procurem pretextos para destruir. É este o cerne da questão e não questiúnculas formais do diz que disse, afinal o que parece ser o ponto mais importante na hermenêutica da treta de alguém habituado à crítica literária para públicos ínfimos.
Defende E. Pitta com unhas e dentes uma tutela titubeante e incapaz, que utiliza truques de baixa política, sem peso dentro do governo, incapaz de obter receitas no orçamento de Estado e incapaz de ter imaginação para as criar graças a esforço próprio aproveitando mecenato e parcerias com os privados. Uma tutela que o próprio E. Pitta já em tempos achou desnecessária. No mínimo estranho este lobby hermenêutico na área da cultura, ou será que E. Pitta da sua olímpica cegueira queira apenas criar polémica com os faits divers das suas bocas sobre o assunto? De qualquer modo é grave: E. Pitta tem ainda alguns leitores que o levam a sério e falar sem saber é, no mínimo, irresponsável.
Acha E. Pitta que o assunto diz apenas respeito a um grupo muito restrito "talvez duzentas pessoas", se pensarmos que E. Pitta, justa ou injustamente, poderá ter um número de leitores "talvez" da mesma ordem de grandeza, "talvez" possamos dar um maior significado a este número. O que eu não percebo é o interesse do crítico literário E. Pitta sobre este assunto, talvez seja um problema de hermenêutica pós-compreensão, por oposição à "hermenêutica pré-compreensão", que Vieira hermeneuta aplicou a Paolo Pinamonti.
Embora graves, e podendo levar leitores a um erro que importa desmontar, acho as reflexões de E. Pitta inúteis. Primeiro, porque o conhecimento dele sobre o assunto é praticamente nulo: é falso que sete récitas esgotadas da Walküre sejam as 600 pessoas que refere como público do S. Carlos, é falso que os milhares que encheram o largo do S. Carlos nos dias em que a ópera foi transmitida para o exterior sejam as tais 600 pessoas pessoas que E. Pitta refere, o que reflecte logo à partida a credibilidade que quem faz essas afirmações. É mentira que cada récita de ópera custe 400 euros, serão 350 se dividirmos todos os custos pelas récitas, mas se retirarmos a orquestra sinfónica portuguesa que faz concertos o número reduz-se drasticamente, mais hermenêutica da treta directamente vinda da Ajuda, se dotássemos o S. Carlos de mais um milhão de euros para produções (somados aos actuais 13 milhões) o preço por récita passaria a ser um dos mais baixos da Europa, é que os tais 350 por récita resultam de custos fixos e não das produções propriamente ditas. Por outro lado a execução orçamental de Pinamonti é de um rigor extremo, nunca gastou um cêntimo a mais do que o orçamentado, nunca contraiu uma dívida. Parece impossível para Portugal, era bom demais. Era mas acabou-se por causa de mesquinhas embirrações e conflitos de personalidade.
Em segundo lugar o que E. Pitta refere é inútil porque não passa de um ignorante sobre o assunto: é consensual entre toda a crítica musical, à qual E. Pitta não pertence, o excelente trabalho de Pinamonti. Todos os especialistas do assunto concordam sobre Paolo Pinamonti, mas isso deve ser indiferente ao E. Pitta, que sendo crítico literário julga poder opinar sobre tudo. Para mim o que o E. Pitta diz sobre o Pinamonti é igual às barbaridades que um taxista do Porto me disse sobre o Pedro Burmester. Eu perguntei ao tal taxista se tinha entrado alguma vez na Casa da Música e ele disse-me que não. A umas perguntas básicas o que dirá E. Pitta: qual a tonalidade que abre a Valquíria? Quantos actos tem o Orfeo de Monteverdi? Qual a ópera ou óperas que Teresa Stich Randall fez no S. Carlos em 1970? Pitta parece que passou nos anos setenta pelo S. Carlos. Muita coisa mudou entretanto, a ópera está esgotada, a ópera vai ao CCB, e não foi mais por causa do prof. Fraústo. O Wozzeck, uma das melhores produções de todos os tempos do S. Carlos foi ao CCB para três récitas. Vá lá ler uns livritos para responder e documente-se melhor E. Pitta, é fácil cair-se na asneira e na mentira, mesmo involuntária, quando se ignora o assunto.
É necessário reforçar que apesar das observações do E. Pitta, toda a crítica musical portuguesa (que trilha os mais diversos universos, escolas e metodologias) reconhece que Pinamonti foi um dos melhores directores do Teatro de S. Carlos, posso prová-lo de forma muito fácil citando textos de Augusto Seabra, Bernardo Mariano, Cristina Fernandes, Jorge Calado, Ana Rocha, Luciana Leiderfarb, Rui Vieira Nery, Teresa Cascudo, através de manifestações de solidariedade de João Paes ou de Alexandre Delgado, e de outras personalidades do mundo da cultura e da música que não ficaram pela estagnação desfasada da realidade dos universos oníricos da literatura para meia dúzia de leitores. Pinamonti foi muito bom sob condicionalismos terríveis em termos orçamentais. É verdade que Pinamonti não resolveu tudo mas Pinamonti pacificou, integrou-se, foi resolvendo de forma muito pragmática usando todos os sábios recursos de diplomacia da cultura mediterrânica. Foi-se livrando do joio de um maestro titular (Peskó) e promoveu João Paulo Santos, impossível de jogar borda fora por motivos contratuais, para um lugar inócuo. Eliminou um inenarrável concertino da orquestra. Tentou o impossível ao programar concertos sinfónicos com alguns dos melhores maestros do mundo, especialistas desde o classicismo ao contemporâneo. Contratou um maestro de coro e um assistente que resolveram parcialmente um dos maiores cancros do teatro: a péssima qualidade do Coro do TNSC. Algumas das vezes teve os maiores sucessos artísticos, como com Inbal, outras vezes com resultados entre o positivo e o desastroso, como com Letonja. Mas como o Pitta sabe melhor do que ninguém, na arte nada é seguro, é no balanço final que Pinamonti foi um valor muito seguro, foi mesmo um director excelente em face das dificuldades. O S. Carlos é hoje um teatro muito melhor do que era há seis anos, e Pinamonti conseguiu-o sem dinheiro.
O período de adaptação foi ultrapassado, após seis anos de trabalho Pinamonti conhecia a cultura portuguesa e integrado conseguia extrair o melhor que nós conseguimos dar com as nossas estranhas peculiaridades e os nossos maus e bons hábitos. O TNSC afirmava-se como motivo de orgulho internacional para Portugal, algo que só um bronco sem a menor noção do que está a comentar pode desvalorizar. Shirley Althorp, crítica do Financial Times (e de todo o grupo Blomberg), vem sempre a Lisboa para ver as produções do nosso teatro de ópera fazendo críticas que ecoam por todo o mundo, nunca cá teria vindo sem Pinamonti. Todos os grandes órgãos de comunicação deslocam os seus críticos ao nosso teatro, o El Pais, o Le Monde, O The Times, a BBC, a lista é interminável. A ópera de Corghi e Saramago, no meu entender péssima, foi referenciada por toda a imprensa mundial com apreciações muito diversas, desde o entusiasmo ao cepticismo. Dei uma entrevista à Deutsche Welle sobre o assunto, onde apesar de criticar duramente a obra de arte, elogiei o trabalho do director como notável. Pinamonti deu entrevistas a todas as estações que importam a nível internacional. A encenação do Ring de Vick, goste-se ou não, é um marco a nível internacional. O Wozzeck de Braunschweig e Inbal foi um acontecimento notável, uma das melhores encenações, um dos melhores naipes de cantores a nível mundial e uma orquestra a superar-se de forma quase impossível para quem conhece a Sinfónica Portuguesa.
Com um orçamento de 13 milhões de euros, um número ridículo em termos europeus, mesmo para um teatro de província, Pinamonti consegue produzir mais de 120 espectáculos onde figuram 43 récitas de ópera por ano e não, outra das mentiras do Sr. E. Pitta, as "talvez" vinte vezes por ano. Christoph Dammann, que vem em part-time de Colónia, tem 36 milhões de euros para gerir o seu teatrinho local, Mannheim (uma cidade de 200.000 habitantes) tem 25 milhões de euros.
É precisamente este capital de experiência, de realização e de adaptação à nossa realidade que o sr. hermenêutica e a sra. ministra desvalorizam e o Sr. E. Pitta, agora também membro do lobby hermenêutico e, além do mais, mentiroso, também desvaloriza. No caso de Pitta a grosseria das suas incorrecções, ou manipulações, é tão evidente que qualquer observação sua sobre o assunto está imediatamente descredibilizada. Quem precisa de manipular os factos para argumentar não merece crédito, é a desilusão de ver um "exemplar" crítico literário usando argumentos à taxista.
É o prestígio de um país que se mede por estas coisas mas nunca para um "portuga" mediano. É evidente que para o E. Pitta o assunto tem pouco interesse, é um "fait divers": Ópera, o que é isso? Só tenho a lamentar a santa ignorância de certos "intelectuais" que se fecham na sua área e se esquecem que a cultura é universo e não é medida pelos antolhos de miséria em que se formataram os filhos de um país de analfabetos e de aldrabões.

Ler ainda o João Gonçalves no Ponto Final do Portugal dos Pequeninos, o Carlos Araújo Alves em un fait divers e a Teresa Cascudo em Mais do Mesmo

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14.3.07

Não queremos os bilhetes esgotados! 

A frase mais inteligente no processo da demissão de Pinamonti e logo vinda de um hermeneuta! Vieira de Carvalho, Sr Hermenêutica, afirmou na conferência de imprensa: "Queremos que o São Carlos seja um forte ponto de atracção turística. Que tenha oferta. Que a ópera não esteja fechada ou os bilhetes esgotados", disse o governante segundo o DN, genial digo eu, esta merece um lugar na antologia da asneira e da estupidez do século XXI em Portugal.

Outra frase a reter: "Temos a ópera mais cara per capita da Europa", como se o "governante" se propusesse a mudar o estado das coisas! Mas é claro que a ópera em Portugal sai cara, por culpa dos incompetentes, hermeneutas incluídos, que passam e passaram pela cultura e pelas finanças. Será que Vieira de Carvalho é tão estúpido ou tão cínico, que não perceba que isso acontece precisamente por causa de o parco orçamento ir para os custos fixos do Teatro Nacional de S. Carlos? Resta muito pouco dinheiro para as produções, isto implica ter uma estrutura imensa com custos fixos elevados, onde o hermeneuta inclui ainda a orquestra sinfónica portuguesa, que não deveria fazer apenas ópera, e funcionários altamente bem pagos como João Paulo Santos, que nada produzem, restando um pequeníssimo orçamento para a produção operática, um número ridículo de seis títulos por ano quando João de Freitas Branco fazia mais de trinta por ano antes ainda da revolução de 1974! A propósito: João de Freitas Branco é outro dos candidatos a melhor director do S. Carlos dos últimos cem anos.

Evidentemente fica caro, a Alemanha gasta dez vezes mais do que nós face ao seu muitíssimo maior PIB per capita e a ópera fica mais barata, muito mais barata. Os políticos portugueses devem ser uns génios, conseguem ter a ópera mais cara do mundo gastando trinta vezes menos por cada português!
Explique agora o Sr. Hermenêutica como isto vai mudar com o director artístico Dammann em part time, a ganhar o mesmo que Paolo Pinamonti a tempo inteiro, o que é escandaloso, e sem aumentar o orçamento da cultura. Não sei se a hermenêutica de Mário Vieira de Carvalho chega para isso, ou se sofre de problemas pré-compreensão, mas o orçamento da cultura não depende da Ajuda e dos aparachniks ex-comunistas com peso político zero, depende dos primários Teixeira dos Santos e José Sócrates.

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