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10.9.12

A grande fancaria de Verão ou um chorudo subsídio de férias II 


A grande fancaria de Verão ou um chorudo subsídio de férias II
Henrique Silveira
Crítico

Reflectimos na semana passada nas motivações de António Victorino de Almeida (AVA) nesta sua iniciativa que constitui o festival “A Grande Orquestra de Verão”. Continuamos hoje reflectindo nos efeitos deste programa.
Estamos a falar de meio milhão de euros gastos pela secretaria de Estado da cultura em vinte e um concertos espalhados por todo o país, a programação é directa e governamental (inspiração de José Estaline?) em tempos de miséria cultural e de crise global. Será que a cultura pega por osmose? Será que o povo desse Portugal profundo ao escutar as espantosas melodias e originais harmonias da quinta sinfonia do mestre AVA, uma e uma única vez, passará a amar indelevelmente a cultura clássica? Será que a casaca do “maestro” Victorino funciona como chamariz musical para a juventude excluída da Cova da Moura? Ou será que a coisa vai lá à bengalada? É que não vejo mais nenhum motivo para atrair o “povo” à causa sonora: ouvi dizer directamente bastas vezes ao próprio génio que ele próprio não tinha os menores dotes de maestro, facto que confirmei por audição e observação directa, juntamente com a opinião de muitos músicos que afirmam categoricamente que o “mestre” tem aptidão muito reduzida para a direcção de orquestra.
O efeito efémero de uma festa popular nunca repetida terá algum efeito? Estará à espera que os desempregados e os pobres desgraçados que vivem do rendimento social de inserção passem a ir ao S. Carlos depois da meteórica aparição do arcanjo revelação da arte dos sons ter tirado a casaca na estrada de Sintra? Espera o mestre que a senhora reformada de Trás-os-Montes, que não tem dinheiro para o táxi para ir ao centro de Saúde, passe a ir todos os fins-de-semana à Casa da Música ouvir o Sokolov e passe a amar o Mozart e, porque não, o Emmannuell Nunnes? Espera isso depois desse mesmo povo o ter visto e ouvido AVA a dirigir-se a si próprio e ao Mozart?
Devo dizer que se fosse eu a ter esse privilégio passaria imediatamente a ser devoto do Quim Barreiros e do Tony Carreira, mesmo que os abominasse antes da epifania Victorínica.
A conclusão é que este é um projecto voluntarista, ingénuo e dirigista do Secretário de Estado da cultura: é apenas dinheiro esbanjado aos quatro ventos em tempo de crise grave, o que aumenta a seriedade da medida, contando com a colaboração de orquestras que não se podem recusar a participar nesta fancaria intelectual, porque dependem dos miseráveis subsídios do Estado e precisam de comer as migalhas que caem do prato do grande artista Victorino de Almeida para continuarem a vegetar adiando a morte. Orquestras que fazem um trabalho invisível, mas consistente, de divulgação da arte musical junto das populações ao longo de todo o ano, Invernos gelados incluídos. Meio milhão de euros que poderiam aproveitar a programas junto dos jovens desfavorecidos que gostariam de estudar música, junto de escolas, orquestra e academias locais e que seriam, por exemplo, bem gastos numa programação consistente, variada e imaginativa e, certamente, com o dobro dos concertos.
Victorino de Almeida fez bem e não o condeno: qual cigarra cantadora utilizou-se do seu prestígio junto da formiga, o secretário Francisco José Viegas que, ao contrário da outra, lhe abriu as portas da despensa e que se mostra absolutamente ignorante e completamente alheado da realidade. Seria a “Grande Anedota de Verão” se não fosse tão triste...

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