28.2.05
O Perigo Santana
Sampaio perdeu eleições legislativas e deu maior maioria de sempre a Cavaco. Santana perdeu as eleições dando a maior vitória à esquerda. Sampaio foi presidente de câmara em Lisboa, Santana também.
Dois derrotados, dois presidentes de câmara em Lisboa. Advogados, um com mais experiência e merecedor de algum respeito. No entanto políticos derrotados. Ambos muito maus como dirigentes partidários.
Santana provou que é um péssimo primeiro ministro.
Será que tal como Sampaio ainda vai ter a hipótese de provar ser um péssimo presidente?
É que as carreiras não são assim tão díspares e o princípio de Peters em Portugal deve ser entendido como: "se provaste que és incompetente és promovido!"
Afinal nem sequer é uma novidade, Peters no seu livro já explicou que isso acontece com frequência. Claro que nos países normais o promovido sobe para um lugar onde faz menos estragos. Isso também acontece em Portugal: dou o exemplo de João Paulo Santos, provou que era um péssimo maestro de coro em S. Carlos, foi promovido ao lugar de "director dos estudos musicais". O coro agora canta muito melhor. O anterior titular talvez tenha uma oportunidade para provar a sua incompetência no novo cargo (ou não). O estrago que pode provocar agora está limitado, percebe-se a estratégia da direcção do Teatro. O director do mesmo é italiano e percebe destas coisas... Normalmente em Portugal um maestro de coro tão mau (e agora falo em geral) poderia até correr o risco de chegar a director de um teatro, com as cunhas certas e estando em determinadas esferas de influência, aqui tudo é possível. Mas estou a afastar-me. Sampaio provou que é um político incompetente, que não conseguiu liderar e mobilizar a esquerda, perdeu eleições, perdeu o congresso a seguir e, depois disto tudo, foi eleito presidente.
Santana Lopes depois dos estragos que fez ainda não está afastado. Não só é possível como, com o nosso princípio de Peters, até é provável.
Dois derrotados, dois presidentes de câmara em Lisboa. Advogados, um com mais experiência e merecedor de algum respeito. No entanto políticos derrotados. Ambos muito maus como dirigentes partidários.
Santana provou que é um péssimo primeiro ministro.
Será que tal como Sampaio ainda vai ter a hipótese de provar ser um péssimo presidente?
É que as carreiras não são assim tão díspares e o princípio de Peters em Portugal deve ser entendido como: "se provaste que és incompetente és promovido!"
Afinal nem sequer é uma novidade, Peters no seu livro já explicou que isso acontece com frequência. Claro que nos países normais o promovido sobe para um lugar onde faz menos estragos. Isso também acontece em Portugal: dou o exemplo de João Paulo Santos, provou que era um péssimo maestro de coro em S. Carlos, foi promovido ao lugar de "director dos estudos musicais". O coro agora canta muito melhor. O anterior titular talvez tenha uma oportunidade para provar a sua incompetência no novo cargo (ou não). O estrago que pode provocar agora está limitado, percebe-se a estratégia da direcção do Teatro. O director do mesmo é italiano e percebe destas coisas... Normalmente em Portugal um maestro de coro tão mau (e agora falo em geral) poderia até correr o risco de chegar a director de um teatro, com as cunhas certas e estando em determinadas esferas de influência, aqui tudo é possível. Mas estou a afastar-me. Sampaio provou que é um político incompetente, que não conseguiu liderar e mobilizar a esquerda, perdeu eleições, perdeu o congresso a seguir e, depois disto tudo, foi eleito presidente.
Santana Lopes depois dos estragos que fez ainda não está afastado. Não só é possível como, com o nosso princípio de Peters, até é provável.
26.2.05
Alô, Alô
O que é feito do nosso correspondente africano S. Saraiva? Serão dificuldades derivadas do subdesenvolvimento comunicacional?
A casaca de Foster
Ontem o maestro americano Lawrence Foster surgiu de casaca, colete branco e sapatos a condizer para dirigir a Orquestra, Coro Gulbenkian e solistas. Não sabemos se este facto teve influência, mas a interpretação do Fidelio de Beethoven foi muitíssimo bem conseguida e resultou de uma vivacidade notável.
Com Foster as óperas em versão de concerto resultam numa leitura em que parece que estamos em cena, o que não é dizer pouco. Afinal basta a simplicidade da música e umas entradas e saídas em cena no ponto certo.
O que é certo é que a música fez-se sentir com paixão e ânimo. Havia ainda alguns lugares vazios, não se compreende, a música de Beethoven é extraordinária e os solistas muitíssimo bons. Domingo repete, quem não assistiu deve correr a comprar bilhete. Depois do cancelamento das últimas óperas no S. Carlos a oportunidade é única. Segue uma crítica mais detalhada, talvez amanhã.
Em termos de vestuário a trapalhada continua a reinar na orquestra: um dos violinos estava de ponto em branco, colete branco (caso raro), casaca engomada, laço bem apertado, camisa apropriada, calça no ponto, peúga preta e sapato, sapato, hummm deixa lá ver: Sapato de camurça preta com fivela dourada!!! Que choque! Em traje de cerimónia com casaca!?... Dos outros nem falo, parece a banda dos desfraldados com as camisas a sair das calças, quase todos sem o colete, uns de cinta branca, outros de preta...
Em termos de sapatos parece que acabámos de chegar às bancas da feira de Azeitão tal são as possibilidades, palas, palitas, berloques, sapatos de vela pretos (!), engraxados e sem graxa, etc, etc, etc... Das senhoras desisto de falar, senão precisava dos vinte milhões de caracteres que o Seabra, todas as semanas, usa no Mil Folhas para falar duns discos...
Com Foster as óperas em versão de concerto resultam numa leitura em que parece que estamos em cena, o que não é dizer pouco. Afinal basta a simplicidade da música e umas entradas e saídas em cena no ponto certo.
O que é certo é que a música fez-se sentir com paixão e ânimo. Havia ainda alguns lugares vazios, não se compreende, a música de Beethoven é extraordinária e os solistas muitíssimo bons. Domingo repete, quem não assistiu deve correr a comprar bilhete. Depois do cancelamento das últimas óperas no S. Carlos a oportunidade é única. Segue uma crítica mais detalhada, talvez amanhã.
Em termos de vestuário a trapalhada continua a reinar na orquestra: um dos violinos estava de ponto em branco, colete branco (caso raro), casaca engomada, laço bem apertado, camisa apropriada, calça no ponto, peúga preta e sapato, sapato, hummm deixa lá ver: Sapato de camurça preta com fivela dourada!!! Que choque! Em traje de cerimónia com casaca!?... Dos outros nem falo, parece a banda dos desfraldados com as camisas a sair das calças, quase todos sem o colete, uns de cinta branca, outros de preta...
Em termos de sapatos parece que acabámos de chegar às bancas da feira de Azeitão tal são as possibilidades, palas, palitas, berloques, sapatos de vela pretos (!), engraxados e sem graxa, etc, etc, etc... Das senhoras desisto de falar, senão precisava dos vinte milhões de caracteres que o Seabra, todas as semanas, usa no Mil Folhas para falar duns discos...
A encenação do Dionisio de Handel - Breves notas
Na ópera barroca como o Dionisio Re di Portogallo a acção dramática é um pretexto para explorar conflitos, para gerar emoções, para expor uma moralidade. A verdade histórica, o local da acção, o próprio tempo, são conceitos muito relativos. O importante é gerar estados de alma, criar o belo através da música.
O encenador, no século XXI, propõe a história da decadência d(um)a família. Começa, ainda na abertura, por nos mostrar em palco o clã de D. Dinis, numa pose de um retrato dos anos vinte do século XX com uma moldura enorme que enquadra os cantores/actores.
O encenador Jakob Peters-Messer conhece certamente a partitura a fundo, uma vez que toda a encenação é marcada pela música. Vejamos as árias da capo, do tipo A-B-A, todas sem excepção foram encenadas em três partes: durante a exposição da secção A, o cantor parava frente aos espectadores. Na secção B, surgia uma alteração de cenário, entrava ou saía alguém de cena ou então aparecia uma cena paralela, evocativa, de género cinematográfico. Estes efeitos foram sublinhados pela estrutura cenográfica central, enquadrada pela moldura de uma fotografia gigante que gerava vários contextos: desde o beco urbano à janela para o mundo, passando pela sala laboratório-observatório de Fernando de Castela na entrada do último acto.
Sempre que se passava à relativa menor lá entravam uns figurantes, sempre que Handel modulava, já o espectador sabia que alguma coisa iria acontecer. Veja-se o exemplo da ária dos passarinhos: A cantora começa a expor a secção "A" sentada na cadeira rotativa, quando passa à dominante reclina-se na cadeira ficando quase deitada e dando voltas sobre si própria, na secção "B" levanta-se e canta virada para o público, volta à secção "A", entra D. Fernando e vai escutando a sua amada a cantar. A cadência, de uma série de cadências muito bem escritas por Alan Curtis, é cantada quase a cair nos braços de D. Fernando que a segura por detrás sem esta se aperceber. D. Isabel, nas suas árias, a do primeiro acto por exemplo, tem uma cena paralela no campo de batalha. No dueto mais belo da ópera D. Fernando e Elvida cantam um para o outro na secção A, na secção B abrem a janela para os jardins, aliás muitíssimo feios, diria mesmo pirosos, e cantam para fora. No regresso à secção A cantam virados para o público cada um a segurar a sua portada da janela. Que estranho amor este tão distante...
A ária mais comovente de Isabel, quase no final, é pautada no início da secção B pela presença do marido e do filho em lados opostos da cena, quase como se estivéssemos num filme (o Padrinho por exemplo), preparando-se para o duelo que se pressupõe fatal.
Uma encenação totalmente simétrica, linear, em termos de marcações ditadas pela música.
Por outro lado estou em crer que o encenador vai longe demais ao tentar levar a história para a decadência da família, ao tentar entrar em todas as épocas, desde a idade média, passando pelo século XVIII até hoje. É uma tentação óbvia a questão do complexo de Édipo numa luta entre pai e filho com a mãe pelo meio. O beijo na boca de D. Afonso a sua mãe, Isabel, é demasiado grosseiro para não deixar de parecer uma piscadela de olho, fácil, à suposta capacidade de reconhecimento dos símbolos pelo público. Quem percebe a história não precisa do bordão desse beijo. Por outro lado Isabel é personagem demasiado positiva para ser vista como uma neurótica dependente de medicamentos, drogas, que a sua filha lhe retira das mãos de vez em quando...
O encenador observa bem a dicotomia entre o par Fernando/Elvida e o resto dos personagens. O par amoroso veste de branco, contrastando com as outras indumentárias. Realmente a música separa bem este par, chegando a ser incongruente a felicidade do casal enquanto o drama da sua família se aproxima de uma decisão fatal. Em vez de disfarçar e assobiar para o lado, o encenador optou por mostrar essa mesma diferença, chegando ao ponto, quase irreal, mas mágico, de, no final, colocar todos os personagens em estado de encantamento enquanto o par canta o seu último dueto de amor, acordando precisamente todos os membros da família, incluindo Altomaro o vilão que já estaria morto, quando faz o regresso final à secção "A" da estrutura A-B-A.
O encenador optou pela fábula, uma fábula cheia de referentes, prolixa na simbologia. A decadência da família: no tempo? Entre o tempo de Dinis e hoje? A coroa e a lata? A morte dos deuses? Isabel (a Santa) neurótica e deprimida, a morte da religião? Um amor à primeira vista puro, mas onde está o drama da homossexualidade não assumida de Fernando? A fábula da hipocrisia?
Enfim, uma encenação cheia de pistas para pensar. No meu entender tem o defeito de ser previsível em demasia, o que atingiu o cúmulo de se tornar irritante. Mudou de tom: acontece algo em palco, quem virá a entrar ou a sair? Uma encenação totalmente subordinada à partitura de Handel.
Afinal quem pode censurar Jakob Peters-Messer? Afinal o génio aqui é mesmo Handel, com a música deslumbrante que compôs para esta ópera... Outros aspectos menos conseguidos são, no meu entender, as cenas à filme de gansgster de série B ou de série televisiva americana, com o gang atrás de D. Afonso, ou o capo mafioso que D. Dinis parece ser; inútil na economia da obra. Como desajustado é o conceito de uma pistola poder ser "ferro" ou "aço que trespassa" ficando no cérebro a ressonância amarga e persistente da contradição entre o visual e a palavra.
No final a mesma fotografia que abriu a ópera, uma fotografia congelada no tempo, no meio uma fábula e a música de Handel, parece que tudo está igual. É falso, nas breves horas que se passaram, nós mudámos, envelhecemos, estamos mais ricos.
Não gostei de tudo na encenação mas tem um grande mérito: obriga a pensar e deixa-se conduzir pela música, mesmo que às vezes o que aparece em palco esteja distante daquilo que a música nos diz.
O encenador, no século XXI, propõe a história da decadência d(um)a família. Começa, ainda na abertura, por nos mostrar em palco o clã de D. Dinis, numa pose de um retrato dos anos vinte do século XX com uma moldura enorme que enquadra os cantores/actores.
O encenador Jakob Peters-Messer conhece certamente a partitura a fundo, uma vez que toda a encenação é marcada pela música. Vejamos as árias da capo, do tipo A-B-A, todas sem excepção foram encenadas em três partes: durante a exposição da secção A, o cantor parava frente aos espectadores. Na secção B, surgia uma alteração de cenário, entrava ou saía alguém de cena ou então aparecia uma cena paralela, evocativa, de género cinematográfico. Estes efeitos foram sublinhados pela estrutura cenográfica central, enquadrada pela moldura de uma fotografia gigante que gerava vários contextos: desde o beco urbano à janela para o mundo, passando pela sala laboratório-observatório de Fernando de Castela na entrada do último acto.
Sempre que se passava à relativa menor lá entravam uns figurantes, sempre que Handel modulava, já o espectador sabia que alguma coisa iria acontecer. Veja-se o exemplo da ária dos passarinhos: A cantora começa a expor a secção "A" sentada na cadeira rotativa, quando passa à dominante reclina-se na cadeira ficando quase deitada e dando voltas sobre si própria, na secção "B" levanta-se e canta virada para o público, volta à secção "A", entra D. Fernando e vai escutando a sua amada a cantar. A cadência, de uma série de cadências muito bem escritas por Alan Curtis, é cantada quase a cair nos braços de D. Fernando que a segura por detrás sem esta se aperceber. D. Isabel, nas suas árias, a do primeiro acto por exemplo, tem uma cena paralela no campo de batalha. No dueto mais belo da ópera D. Fernando e Elvida cantam um para o outro na secção A, na secção B abrem a janela para os jardins, aliás muitíssimo feios, diria mesmo pirosos, e cantam para fora. No regresso à secção A cantam virados para o público cada um a segurar a sua portada da janela. Que estranho amor este tão distante...
A ária mais comovente de Isabel, quase no final, é pautada no início da secção B pela presença do marido e do filho em lados opostos da cena, quase como se estivéssemos num filme (o Padrinho por exemplo), preparando-se para o duelo que se pressupõe fatal.
Uma encenação totalmente simétrica, linear, em termos de marcações ditadas pela música.
Por outro lado estou em crer que o encenador vai longe demais ao tentar levar a história para a decadência da família, ao tentar entrar em todas as épocas, desde a idade média, passando pelo século XVIII até hoje. É uma tentação óbvia a questão do complexo de Édipo numa luta entre pai e filho com a mãe pelo meio. O beijo na boca de D. Afonso a sua mãe, Isabel, é demasiado grosseiro para não deixar de parecer uma piscadela de olho, fácil, à suposta capacidade de reconhecimento dos símbolos pelo público. Quem percebe a história não precisa do bordão desse beijo. Por outro lado Isabel é personagem demasiado positiva para ser vista como uma neurótica dependente de medicamentos, drogas, que a sua filha lhe retira das mãos de vez em quando...
O encenador observa bem a dicotomia entre o par Fernando/Elvida e o resto dos personagens. O par amoroso veste de branco, contrastando com as outras indumentárias. Realmente a música separa bem este par, chegando a ser incongruente a felicidade do casal enquanto o drama da sua família se aproxima de uma decisão fatal. Em vez de disfarçar e assobiar para o lado, o encenador optou por mostrar essa mesma diferença, chegando ao ponto, quase irreal, mas mágico, de, no final, colocar todos os personagens em estado de encantamento enquanto o par canta o seu último dueto de amor, acordando precisamente todos os membros da família, incluindo Altomaro o vilão que já estaria morto, quando faz o regresso final à secção "A" da estrutura A-B-A.
O encenador optou pela fábula, uma fábula cheia de referentes, prolixa na simbologia. A decadência da família: no tempo? Entre o tempo de Dinis e hoje? A coroa e a lata? A morte dos deuses? Isabel (a Santa) neurótica e deprimida, a morte da religião? Um amor à primeira vista puro, mas onde está o drama da homossexualidade não assumida de Fernando? A fábula da hipocrisia?
Enfim, uma encenação cheia de pistas para pensar. No meu entender tem o defeito de ser previsível em demasia, o que atingiu o cúmulo de se tornar irritante. Mudou de tom: acontece algo em palco, quem virá a entrar ou a sair? Uma encenação totalmente subordinada à partitura de Handel.
Afinal quem pode censurar Jakob Peters-Messer? Afinal o génio aqui é mesmo Handel, com a música deslumbrante que compôs para esta ópera... Outros aspectos menos conseguidos são, no meu entender, as cenas à filme de gansgster de série B ou de série televisiva americana, com o gang atrás de D. Afonso, ou o capo mafioso que D. Dinis parece ser; inútil na economia da obra. Como desajustado é o conceito de uma pistola poder ser "ferro" ou "aço que trespassa" ficando no cérebro a ressonância amarga e persistente da contradição entre o visual e a palavra.
No final a mesma fotografia que abriu a ópera, uma fotografia congelada no tempo, no meio uma fábula e a música de Handel, parece que tudo está igual. É falso, nas breves horas que se passaram, nós mudámos, envelhecemos, estamos mais ricos.
Não gostei de tudo na encenação mas tem um grande mérito: obriga a pensar e deixa-se conduzir pela música, mesmo que às vezes o que aparece em palco esteja distante daquilo que a música nos diz.
25.2.05
O sotaque
A existência de sotaque pode destruir completamente a beleza musical?
Veja-se um exemplo: a antífona Salve Regina, da idade média. Peço aos leitores que escutem e adivinhem a nacionalidade dos cantores...
Salve Regina.
Veja-se um exemplo: a antífona Salve Regina, da idade média. Peço aos leitores que escutem e adivinhem a nacionalidade dos cantores...
Salve Regina.
24.2.05
Florez não vem
Juan Diego Florez não faz a Dama do Lago de Rossini em versão de concerto. Está doente, o substituto será Rockwell Blake, tenor nascido em 1951. Um cantor experiente mas muitos furos abaixo do previsto.
Assim vai a temporada do S. Carlos, entre os imprevistos da fortuna e os caprichos de políticos de má fé.
O que é certo é que 2005 será mesmo um ano para esquecer em termos de ópera em Portugal.
Agora vai sobrando o Teatro Aberto.
Assim vai a temporada do S. Carlos, entre os imprevistos da fortuna e os caprichos de políticos de má fé.
O que é certo é que 2005 será mesmo um ano para esquecer em termos de ópera em Portugal.
Agora vai sobrando o Teatro Aberto.
23.2.05
A última récita
Hoje foi a última récita do "Dionísio Re di Portogallo" de Handel que foi muito superior à da estreia. Um encantamento a música de Handel. Suprema a arte dos sons que tem Handel como arauto.
Pela música sublime de Handel, pela sucessão extraordinária de beleza e encanto musical, numa lógica dramática e musical de uma intuição e génio eternos, valeria a pena escutar Handel pela segunda vez e pela terceira e quarta... O que resulta mais interessante é que à segunda leitura se notam com mais evidência os detalhes, os pensamentos do encenador, os tiques dos cantores/actores, a filigrana musical.
Descobrimos ainda que a braguilha aberta do contratenor Zazzo no início do último acto não é uma ideia de encenação radical e chocante ou uma alusão ao dia de pagamento. Repare-se que no dia em que a obra foi estreada a direcção do S. Carlos estava ainda à espera que a tutela pagasse qualquer coisa. Um acto falhado? Depois do beijo na boca do filho Afonso à mãe Isabel... Onde estão as rosas senhora? Beijo que revela a tentativa do encenador de situar o contexto no complexo de Édipo. Isto depois da tentativa de choque e confronto com a homofobia de algum público, em jeito provocatório, com as carícias homossexuais trocadas entre Fernando e Sancho logo de início. Uma braguilha aberta, que numa simbólica e retórica de encenação toda ela pensada poderia ter significados ocultos e profundos. A entrada no último acto toda cheia alusões ao século em que a ciência se torna a rainha do mundo. Lentes, telescópios, sólidos perfeitos, razões douradas, pentagramas divinos. Será a braguilha o símbolo da virilidade e fecundidade? A exibição de espadas desembainhadas, punhais, pistolas e outros objectos de contemplação dá precisamente a ideia do símbolo fálico, da masculinidade presente e obsessiva no próprio espírito do autor da encenação. Essa presença é, aliás, manifesta na penetração que o acto homicida de Afonso relativamente a Fernando encerra, já presente no libreto original, a ferida pelo aço em duelo é um acto de penetração não fecundo, tal como a relação homossexual entre dois homens. No libreto original funcionava como "susto" pregado ao espectador barroco e que despertava emoções que seriam exploradas pela música: uma ferida superficial, tal como as carícias entre Fernando e Sancho e que não mais serão exploradas pelo encenador.
Alguns críticos terão ficado a nadar em oceanos de perplexidades com tanto choque e mensagem. Uma problema quase escatológico: a decifração semiótica desta encenação, também ela barroca de significantes.
A braguilha afinal parece que se tratou de um descuido do cantor, a suprema angústia semiótica acaba em banal gesto de distracção: hoje, no mesmo lugar, no mesmo tempo simbólico, Fernando de Castela estava mais composto. Um descuido que, na estreia, deixou algum sector do público, onde eu me encontrava, à beira de um ataque de riso. Ataque que poderia ter arruinado toda e qualquer hipótese de uma recepção atenta da obra...
Mas temos panos para mangas, e voltaremos a esta questão. Se a estreia tinha sido positiva a última récita foi a caminho do excelente.
Pela música sublime de Handel, pela sucessão extraordinária de beleza e encanto musical, numa lógica dramática e musical de uma intuição e génio eternos, valeria a pena escutar Handel pela segunda vez e pela terceira e quarta... O que resulta mais interessante é que à segunda leitura se notam com mais evidência os detalhes, os pensamentos do encenador, os tiques dos cantores/actores, a filigrana musical.
Descobrimos ainda que a braguilha aberta do contratenor Zazzo no início do último acto não é uma ideia de encenação radical e chocante ou uma alusão ao dia de pagamento. Repare-se que no dia em que a obra foi estreada a direcção do S. Carlos estava ainda à espera que a tutela pagasse qualquer coisa. Um acto falhado? Depois do beijo na boca do filho Afonso à mãe Isabel... Onde estão as rosas senhora? Beijo que revela a tentativa do encenador de situar o contexto no complexo de Édipo. Isto depois da tentativa de choque e confronto com a homofobia de algum público, em jeito provocatório, com as carícias homossexuais trocadas entre Fernando e Sancho logo de início. Uma braguilha aberta, que numa simbólica e retórica de encenação toda ela pensada poderia ter significados ocultos e profundos. A entrada no último acto toda cheia alusões ao século em que a ciência se torna a rainha do mundo. Lentes, telescópios, sólidos perfeitos, razões douradas, pentagramas divinos. Será a braguilha o símbolo da virilidade e fecundidade? A exibição de espadas desembainhadas, punhais, pistolas e outros objectos de contemplação dá precisamente a ideia do símbolo fálico, da masculinidade presente e obsessiva no próprio espírito do autor da encenação. Essa presença é, aliás, manifesta na penetração que o acto homicida de Afonso relativamente a Fernando encerra, já presente no libreto original, a ferida pelo aço em duelo é um acto de penetração não fecundo, tal como a relação homossexual entre dois homens. No libreto original funcionava como "susto" pregado ao espectador barroco e que despertava emoções que seriam exploradas pela música: uma ferida superficial, tal como as carícias entre Fernando e Sancho e que não mais serão exploradas pelo encenador.
Alguns críticos terão ficado a nadar em oceanos de perplexidades com tanto choque e mensagem. Uma problema quase escatológico: a decifração semiótica desta encenação, também ela barroca de significantes.
A braguilha afinal parece que se tratou de um descuido do cantor, a suprema angústia semiótica acaba em banal gesto de distracção: hoje, no mesmo lugar, no mesmo tempo simbólico, Fernando de Castela estava mais composto. Um descuido que, na estreia, deixou algum sector do público, onde eu me encontrava, à beira de um ataque de riso. Ataque que poderia ter arruinado toda e qualquer hipótese de uma recepção atenta da obra...
Mas temos panos para mangas, e voltaremos a esta questão. Se a estreia tinha sido positiva a última récita foi a caminho do excelente.
O Dionisio de Handel
Reproduzo a crítica publicada no jornal "O Público" da autoria de Cristina Fernandes. Ver: crítica.
Faço-o porque o Público tem como política deixar de disponibilizar os textos ao fim de um certo tempo, o que levará o link acima a deixar de funcionar mais tarde ou mais cedo. A reflexão de Cristina Fernandes é breve. Vou apenas escrever sobre este assunto depois de ter a oportunidade de escutar de novo o "Dionisio Re Di Portogallo", que farei hoje. Como já disse anteriormente a minha impressão é também positiva.
A ópera barroca, e a sua reconstrução hoje, um assunto inesgotável...
O pretexto de D. Dinis...
Por Cristina Fernandes
Écompreensível que na primeira apresentação em Lisboa de uma ópera de Haendel que teve a sua génese num libreto inspirado na história de Portugal (situado no final do reinado de D. Dinis) se procurasse recuperar essa dimensão. Mas também não podemos perder de vista que as diferenças entre "Dionisio, Re di Portogallo" (que se estreou na sexta-feira no São Carlos) e "Sosarme, Re di Media", o título que consta do catálogo de Haendel, não são substanciais e que o processo é até musicologicamente questionável. Haendel simplificou o libreto de Salvi, o nome das personagens foi modificado e a acção transferida para a Ásia menor, a meio da composição, possivelmente por razões políticas. Não se trata pois da estreia de uma versão original de "Dionisio" (que não chegou a existir enquanto tal), mas de uma tentativa de reconstituição do que poderia ter sido a obra se Haendel tivesse mantido o projecto inicial. É certo que o enredo resulta ligeiramente mais consistente quando associado à história europeia, que se recuperaram passagens em recitativo da versão inicial e corrigiram pequenos aspectos da simplificação atabalhoada do libreto, mas não há nenhuma ária que não fizesse já parte de "Sosarme". Como não existem referências musicais explícitas ao contexto ibérico - na prática não é muito diferente ter em palco D. Dinis ou Aliate (rei da Lídia), Sosarme ou Fernando de Castela.
Poderia ter sido a encenação a tornar visível a ligação com Portugal, mas isso não acontece, já que Jakob Peters-Messer preferiu centrar-se na decadência de uma família, "que poderia ser uma família moderna"... Não quero dizer que tivesse de ser assim (nem se pode invocar a questão da "autenticidade" já que no século XVIII os cantores se apresentavam com trajes da sua própria época...), mas reforçar a ideia de que a recuperação de "Dionísio" não tem consequências tão significativas como se poderia pensar na realização concreta do espectáculo, sendo mais um pretexto publicitário.
O que converte esta produção num acontecimento importante desta temporada (que a direcção do São Carlos se viu obrigada a cancelar a partir de 31 de Março por não ter garantias do Ministério da Cultura) é o facto raro de podermos assistir a ópera barroca no São Carlos com instrumentos da época e intérpretes especializados. Não sendo uma das óperas de Haendel dramaticamente mais coerentes, a música é belíssima e o espectáculo funciona bem em linhas gerais, não obstante algumas reservas.
A encenação de Peters-Messer tem algumas ideias práticas hábeis (o dispositivo rotativo alterna interior e exterior) e momentos pontuais conseguidos (o enquadramento da maravilhosa ária "Cuor di madre e cuor de moglie" admiravelmente cantada por Mariana Pizzolato), mas também muitos aspectos inconsequentes e de gosto duvidoso como a cena em que Elvida e Fernando cantam o dueto "Per le porte del tormento". Pode-se invocar que se pretendia ridicularizar um mundo decadente, mas denota grande falta de sensibilidade musical. Esta é uma das páginas mais geniais de Haendel e os timbres e nuances expressivas de Simone Kermes e Lawrence Zazzo ajustaram-se como uma luva, mas escutar música tão sublime mergulhada num pesadelo "kitsch" é um perfeito contrasenso.
No plano vocal, a prestação mais impressionante (a mais genuinamente "Haendeliana") foi a de Pizzolato (com a voz e a sensibilidade ideal para o papel de Isabella), sendo secundada pelo contratenor Lawrence Zazzo (belíssimo timbre e óptima plasticidade vocal) e pela ágil soprano Simone Kermes, se bem que mais superficiais do ponto de vista dramático. Destaca-se também o Sancio do contratenor Max Emanuel Cencic. Dionísio merecia uma voz menos baça e uma interpretação mais imponente que a do tenor Stefan Rankl, Michelle Andalò (Alfonso) esteve num plano intermédio e Vladimir Baykov (Altomaro) revelou-se uma escolha infeliz devido ao excessivo vibrato e a problemas de afinação e agilidade. Quanto à prestação do Complesso Barocco e à direcção de Alan Curtis, não sendo tão imaginativa ou arrojada como a de outros agrupamentos vocacionados para este repertório e tendo até algumas falhas (afinação nos "soli" de violino, deslizes nos oboés e trompas), funcionou em geral bem e evidenciou uma compreensão estilítica competente da música de Haendel.
Faço-o porque o Público tem como política deixar de disponibilizar os textos ao fim de um certo tempo, o que levará o link acima a deixar de funcionar mais tarde ou mais cedo. A reflexão de Cristina Fernandes é breve. Vou apenas escrever sobre este assunto depois de ter a oportunidade de escutar de novo o "Dionisio Re Di Portogallo", que farei hoje. Como já disse anteriormente a minha impressão é também positiva.
A ópera barroca, e a sua reconstrução hoje, um assunto inesgotável...
O pretexto de D. Dinis...
Por Cristina Fernandes
Écompreensível que na primeira apresentação em Lisboa de uma ópera de Haendel que teve a sua génese num libreto inspirado na história de Portugal (situado no final do reinado de D. Dinis) se procurasse recuperar essa dimensão. Mas também não podemos perder de vista que as diferenças entre "Dionisio, Re di Portogallo" (que se estreou na sexta-feira no São Carlos) e "Sosarme, Re di Media", o título que consta do catálogo de Haendel, não são substanciais e que o processo é até musicologicamente questionável. Haendel simplificou o libreto de Salvi, o nome das personagens foi modificado e a acção transferida para a Ásia menor, a meio da composição, possivelmente por razões políticas. Não se trata pois da estreia de uma versão original de "Dionisio" (que não chegou a existir enquanto tal), mas de uma tentativa de reconstituição do que poderia ter sido a obra se Haendel tivesse mantido o projecto inicial. É certo que o enredo resulta ligeiramente mais consistente quando associado à história europeia, que se recuperaram passagens em recitativo da versão inicial e corrigiram pequenos aspectos da simplificação atabalhoada do libreto, mas não há nenhuma ária que não fizesse já parte de "Sosarme". Como não existem referências musicais explícitas ao contexto ibérico - na prática não é muito diferente ter em palco D. Dinis ou Aliate (rei da Lídia), Sosarme ou Fernando de Castela.
Poderia ter sido a encenação a tornar visível a ligação com Portugal, mas isso não acontece, já que Jakob Peters-Messer preferiu centrar-se na decadência de uma família, "que poderia ser uma família moderna"... Não quero dizer que tivesse de ser assim (nem se pode invocar a questão da "autenticidade" já que no século XVIII os cantores se apresentavam com trajes da sua própria época...), mas reforçar a ideia de que a recuperação de "Dionísio" não tem consequências tão significativas como se poderia pensar na realização concreta do espectáculo, sendo mais um pretexto publicitário.
O que converte esta produção num acontecimento importante desta temporada (que a direcção do São Carlos se viu obrigada a cancelar a partir de 31 de Março por não ter garantias do Ministério da Cultura) é o facto raro de podermos assistir a ópera barroca no São Carlos com instrumentos da época e intérpretes especializados. Não sendo uma das óperas de Haendel dramaticamente mais coerentes, a música é belíssima e o espectáculo funciona bem em linhas gerais, não obstante algumas reservas.
A encenação de Peters-Messer tem algumas ideias práticas hábeis (o dispositivo rotativo alterna interior e exterior) e momentos pontuais conseguidos (o enquadramento da maravilhosa ária "Cuor di madre e cuor de moglie" admiravelmente cantada por Mariana Pizzolato), mas também muitos aspectos inconsequentes e de gosto duvidoso como a cena em que Elvida e Fernando cantam o dueto "Per le porte del tormento". Pode-se invocar que se pretendia ridicularizar um mundo decadente, mas denota grande falta de sensibilidade musical. Esta é uma das páginas mais geniais de Haendel e os timbres e nuances expressivas de Simone Kermes e Lawrence Zazzo ajustaram-se como uma luva, mas escutar música tão sublime mergulhada num pesadelo "kitsch" é um perfeito contrasenso.
No plano vocal, a prestação mais impressionante (a mais genuinamente "Haendeliana") foi a de Pizzolato (com a voz e a sensibilidade ideal para o papel de Isabella), sendo secundada pelo contratenor Lawrence Zazzo (belíssimo timbre e óptima plasticidade vocal) e pela ágil soprano Simone Kermes, se bem que mais superficiais do ponto de vista dramático. Destaca-se também o Sancio do contratenor Max Emanuel Cencic. Dionísio merecia uma voz menos baça e uma interpretação mais imponente que a do tenor Stefan Rankl, Michelle Andalò (Alfonso) esteve num plano intermédio e Vladimir Baykov (Altomaro) revelou-se uma escolha infeliz devido ao excessivo vibrato e a problemas de afinação e agilidade. Quanto à prestação do Complesso Barocco e à direcção de Alan Curtis, não sendo tão imaginativa ou arrojada como a de outros agrupamentos vocacionados para este repertório e tendo até algumas falhas (afinação nos "soli" de violino, deslizes nos oboés e trompas), funcionou em geral bem e evidenciou uma compreensão estilítica competente da música de Haendel.
22.2.05
Memórias e paralelismos
Sampaio perdeu as eleições de 91 com uma maioria absoluta enorme (50,6%) de Cavaco Silva, a maior de toda a democracia portuguesa. Sampaio não se demitiu. Concorreu contra Guterres, no congresso de 1992, e foi derrotado.
Sampaio nunca foi primeiro ministro (felizmente), se tivesse sido o paralelo entre Sampaio e Santana seria favorável a este último, Santana demitiu-se um dia tarde demais. Sampaio ainda teve a lata de ir a congresso.
Mesmo assim foi eleito presidente da república (com minúsculas) contra um Cavaco que o tinha derrotado de forma tremenda.
Guterres foi dos piores primeiros ministros da democracia portuguesa, incluindo os primeiros ministros dos tempos da monarquia constitucional e da primeira república, foi apenas superado por Santana Lopes, como um dos piores governantes de todos os tempos em Portugal, num país que teve D. Sebastião e D. João VI...
Guterres está hoje bem posicionado na esquerda como possível candidato à presidência.
Será que o pesadelo Santana ainda não acabou? Volta para a câmara de Lisboa? Aposto que sim...
Um duelo presidencial Santana-Guterres no futuro não é impossível, um paradigma da total decadência da classe política em Portugal e a prova de que a falta de vergonha não tem limites, tal como a estupidez.
Sampaio nunca foi primeiro ministro (felizmente), se tivesse sido o paralelo entre Sampaio e Santana seria favorável a este último, Santana demitiu-se um dia tarde demais. Sampaio ainda teve a lata de ir a congresso.
Mesmo assim foi eleito presidente da república (com minúsculas) contra um Cavaco que o tinha derrotado de forma tremenda.
Guterres foi dos piores primeiros ministros da democracia portuguesa, incluindo os primeiros ministros dos tempos da monarquia constitucional e da primeira república, foi apenas superado por Santana Lopes, como um dos piores governantes de todos os tempos em Portugal, num país que teve D. Sebastião e D. João VI...
Guterres está hoje bem posicionado na esquerda como possível candidato à presidência.
Será que o pesadelo Santana ainda não acabou? Volta para a câmara de Lisboa? Aposto que sim...
Um duelo presidencial Santana-Guterres no futuro não é impossível, um paradigma da total decadência da classe política em Portugal e a prova de que a falta de vergonha não tem limites, tal como a estupidez.
Um novo Blog Musical!
A Cristina Fernandes recomendou-me o blogue do João Pedro Alvarenga, que está agora a dar os primeiros passos na blogosfera.
Fui ler, a recomendação é plena de sentido, João Pedro Alvarenga é investigador e docente da Universidade de Évora onde termina o doutoramente. Fez um trabalho precioso na Biblioteca Nacional enquanto responsável pela antiga área de música. Hoje centro de estudos musicológicos... No novo blogue descobrem-se afinidades, o musicólogo Alvarenga discorre sobre música, os problemas e dificuldades dos musicólogos portugueses e de política, sem se esquecer do parasita!
É ler http://musicoblogo.blogspot.com
O blogue está mesmo muito bom, é de excelente qualidade de escrita e tem grande conteúdo. É fortemente recomendado.
Fui ler, a recomendação é plena de sentido, João Pedro Alvarenga é investigador e docente da Universidade de Évora onde termina o doutoramente. Fez um trabalho precioso na Biblioteca Nacional enquanto responsável pela antiga área de música. Hoje centro de estudos musicológicos... No novo blogue descobrem-se afinidades, o musicólogo Alvarenga discorre sobre música, os problemas e dificuldades dos musicólogos portugueses e de política, sem se esquecer do parasita!
É ler http://musicoblogo.blogspot.com
O blogue está mesmo muito bom, é de excelente qualidade de escrita e tem grande conteúdo. É fortemente recomendado.
O paradoxo
É muito curioso analisar alguns resultados eleitoral. Vejamos o que se passa com os votos apurados, sem os círculos da emigração:
Eleitores: 8750029 (dados do Stape)
8750026 (dados da CNE)
Abstenção: 3073201
Votos nulos: 63765
Votos brancos: 103555
PS: 2573311
PSD: 1639020
CDU: 432130
CDS: 418813
BE: 364296
Percentagem de abstencão face a eleitores: 35.12%.
Percentagem de brancos e nulos face a votantes: 2,95%.
Percentagens do PS face aos votantes e face aos inscritos: 45,3% e 29,4%.
Percentagens do PSD face aos votantes e face aos inscritos: 28,9% e 18,7%.
Percentagens da CDU face aos votantes e face aos inscritos: 7,61% e 4,94%.
Percentagens do CDS face aos votantes e face aos inscritos: 7,03% e 4,74%.
Percentagens do BE face aos votantes e face aos inscritos: 6,62% e 4,16%.
Os números que devem ser comparados são: abstenção 35,12% e os 29,4% do PS.
O paradoxo é que um partido com menos de 30% de confiança do eleitorado português tem maioria absoluta. Ou seja, o governo terá sempre uma margem de descontentes, e de não votantes à partida, do que a sua base de apoio eleitoral.
É um facto notável do sistema português, e de muitos outros, a reserva de descontentes, abúlicos, cépticos que se recusam a participar mas não se coibem de criticar abertamente os partidos e o sistema. Sem participar.
Por isso não é estranho em conversas encontrar muito mais gente que diga: "eu não votei neles" do que gente a dizer "eu votei e fui enganado", ou "eu votei e estou satisfeito". Quaquer partido, neste sistema, terá sempre pela frente, na legislatura, muito mais gente descontente e desconfiada do que apoiantes convictos. Um tema que se repete em cada acto eleitoral e que revela um verdadeiro défice democrático. Esse é o verdadeiro défice que urge combater, de que forma?...
Eleitores: 8750029 (dados do Stape)
8750026 (dados da CNE)
Abstenção: 3073201
Votos nulos: 63765
Votos brancos: 103555
PS: 2573311
PSD: 1639020
CDU: 432130
CDS: 418813
BE: 364296
Percentagem de abstencão face a eleitores: 35.12%.
Percentagem de brancos e nulos face a votantes: 2,95%.
Percentagens do PS face aos votantes e face aos inscritos: 45,3% e 29,4%.
Percentagens do PSD face aos votantes e face aos inscritos: 28,9% e 18,7%.
Percentagens da CDU face aos votantes e face aos inscritos: 7,61% e 4,94%.
Percentagens do CDS face aos votantes e face aos inscritos: 7,03% e 4,74%.
Percentagens do BE face aos votantes e face aos inscritos: 6,62% e 4,16%.
Os números que devem ser comparados são: abstenção 35,12% e os 29,4% do PS.
O paradoxo é que um partido com menos de 30% de confiança do eleitorado português tem maioria absoluta. Ou seja, o governo terá sempre uma margem de descontentes, e de não votantes à partida, do que a sua base de apoio eleitoral.
É um facto notável do sistema português, e de muitos outros, a reserva de descontentes, abúlicos, cépticos que se recusam a participar mas não se coibem de criticar abertamente os partidos e o sistema. Sem participar.
Por isso não é estranho em conversas encontrar muito mais gente que diga: "eu não votei neles" do que gente a dizer "eu votei e fui enganado", ou "eu votei e estou satisfeito". Quaquer partido, neste sistema, terá sempre pela frente, na legislatura, muito mais gente descontente e desconfiada do que apoiantes convictos. Um tema que se repete em cada acto eleitoral e que revela um verdadeiro défice democrático. Esse é o verdadeiro défice que urge combater, de que forma?...
20.2.05
Santana Lopes consegue maior vitória de sempre para a esquerda
A maior vitória de sempre à esquerda em Portugal é culpa deste homem. Lega um parlamento desequilibrado, um partido destruído, um grupo parlamentar miserável. Uma maioria que vai abrir todas as portas aos excessos do PS.
Palpita-me que agora será um fartar vilanagem, mas o povo escolheu, o futuro dirá se tenho razão.
Um dos piores políticos de todos os tempos em Portugal, o que é um record muito difícil de ultrapassar. Passa ao balde do lixo da história, de onde nunca deveria ter saído.
Palpita-me que agora será um fartar vilanagem, mas o povo escolheu, o futuro dirá se tenho razão.
Um dos piores políticos de todos os tempos em Portugal, o que é um record muito difícil de ultrapassar. Passa ao balde do lixo da história, de onde nunca deveria ter saído.
Teatro de S. Carlos - Mais notícias
Notícia do JN.
Está para breve a crítica à ópera "Dionisio Re di Portogallo" de Handel, no Teatro Nacional de S. Carlos. Devo dizer, em nota de aperitivo, que no meu entender a produção foi francamente conseguida, resultando numa trabalho sério e muito raro em Portugal. Com alguns defeitos, alguns que podem ser corrigidos, outros mais intrínsecos, mas com os aspectos positivos a pesar mais na balança.
Recomendamos uma ida ao S. Carlos para assistir às récitas que faltam.
Marcello Viotti
Deus chama demasiadamente cedo aqueles que mais ama, aos cinquenta anos Mascello Viotti foi chamado. O Parsifal do próximo Abril pode esperar, Marcello não esperou.
Actualmente Viotti era director musical do La Fenice de Veneza e da orquestra da Radiodifusão da Baviera, a que será extinta em 2006, para grande desgosto do maestro, músicos e amantes da música...
Viotti nasceu na Suiça Francesa, tinha pais italianos e a nacionalidade francesa.
Ver:
Notícia 1 com biografia e fotos.
Notícia 2.
Site do maestro, clicar em "Latest News"
Para se perceber melhor os golpes que Viotti sofreu e o amor que em Munique se tinha pelo maestro ler notícia mais pessoal em inglês.
As Cerimónias fúnebres serão no dia 23 em Vallorbe na Suiça, onde Viotti nasceu.
Actualmente Viotti era director musical do La Fenice de Veneza e da orquestra da Radiodifusão da Baviera, a que será extinta em 2006, para grande desgosto do maestro, músicos e amantes da música...
Viotti nasceu na Suiça Francesa, tinha pais italianos e a nacionalidade francesa.
Ver:
Notícia 1 com biografia e fotos.
Notícia 2.
Site do maestro, clicar em "Latest News"
Para se perceber melhor os golpes que Viotti sofreu e o amor que em Munique se tinha pelo maestro ler notícia mais pessoal em inglês.
As Cerimónias fúnebres serão no dia 23 em Vallorbe na Suiça, onde Viotti nasceu.
19.2.05
Concerto na Gulbenkian - Nelson Freire
Não sei se os nossos leitores repararam, mas no post Os melhores mostramos fotografias de alguns dos maiores músicos de todos os tempos, neste caso tenores e maestros. À excepção de Vickers, em traje cénico, a tónica é a correcção e a elegância no vestuário. Carlos Kleiber, mesmo sem a casaca e o laço branco, é de um refinamento e elegância extraordinários.
Não se passa o mesmo com a orquestra Gulbenkian e nunca esperei vir a escrever isto sobre esta instituição. A casaca, traje de cerimónia não é uma espécie de fato de macaco para ser usado por uma tropa fandanga de maltrapilhos. O uso do vestuário de cerimónia tem regras próprias. O colete branco é quase indispensável, a cinta que deve ser usada por todos ou por nenhum de acordo com o colete e a cor própria, o sapato que deve ser de verniz (ou pelo menos com polimento uniforme) e com atacadores, as peúgas pretas e finas. A camisa com os colarinhos próprios e os punhos engomados e os botões brancos (e não a incrível variedade de modelos). A camisa deve estar bem presa e não com a fralda de fora (como vimos na quinta feira em muitos violinistas). A barriga de certos músicos fora das calças, sem cinta nem colete é uma visão altamente desagradável. O aprumo é essencial e marca de estilo. A banalização da casaca é um triste paradigma em muitas orquestras, em que os músicos a utilizam sem brio. O mesmo se aplica às senhoras que têm penteados do tempo da Maria Cachucha ou então vão à cabeleira da Maria Armanda, ou não vão de todo e, em grande parte, vestem sem o menor gosto. A Gulbenkian tem de estudar a hipótese de contratar um consultor para a área do estilo das senhoras da orquestra.
Grandes orquestras do mundo, lembro a Filarmónica de Berlim, quando não tocam em noites de gala, têm como padrão de vestuário um fato escuro e gravata para os senhores e um vestido escuro para as senhoras. A utilização deste traje tem a vantagem de não transformar a casaca numa espécie de fato de macaco para toda a obra, acabando os músicos por se apresentarem com ar amarrotado e pouco engomado.
A mesma falta de brio que tem forçosamente de se reflectir na execução.
Sendo assim apenas comento a interpretação por parte de dois músicos: o contrabaixo Alejandro Erlich-Oliva, que se destaca pela forma impecável como os seus sapatos brilham e Carlos Voss nos tímpanos pelo uso apropriado do colete branco da ordem. Provavelmente outros estariam também em condições, mas do local onde estávamos apenas conseguimos descobrir estes dois elementos masculinos vestidos com aprumo. Estes músicos tocaram com aprumo, ritmo e empenho, Voss foi enérgico e muito inspirado na execução dos seus tímpanos, sempre a compasso e concentrado. O mesmo se poderá dizer do excelente contrabaixista: sempre a tempo, concentrado. Gostámos. Sobre o resto da orquestra: recusamos qualquer crítica positiva a maltrapilhos, passe o aparente excesso do termo. Do maestro Foster e do seu bibe preto já falámos por diversas vezes, um mau exemplo que persiste.
Uma primeira parte em que o concertino Rowlands nos deu dois romances op. 40 e 50 de Beethoven, numa interpretação francamente melhor no segundo romance, o mais conhecido, em que esteve muito poético e com uma bela sonoridade.
O exercício de três Leonoras de Beethoven foi maçador, bom para um programa de rádio, ou para três concertos, nunca para o mesmo e longuíssimo programa de concerto público. A orquestra nesse ponto foi um pouco melhor, mais empolgada do que no Brahms que se seguiu, mas ressaltou uma interpretação trapalhona. Urge dar algum brio a esta orquestra...
Nelson Freire não foi tão perfeito como se esperava em Brahms, concerto nº 2. Uma leitura que a certa altura nos pareceu algo mecânica e que chegou a atingir uma situação complicada quando se ouviu um toque de bip ou telemóvel que não parava de tocar, o pianista visivelmente desconcentrado pelo ruído entrou em total desacerto e falhou uma passagem inteira do primeiro andamento. Nota: parece que se ligam os telemóveis no intervalo e se esquecem na segunda parte. O aviso deve ser emitido também na segunda parte do concerto: "Se ligou o telemóvel no intervalo aproveite agora para o desligar..." Nota-se que os toques ocorrem sempre depois do intervalo.
O segundo andamento foi muito bom, o allegro apassionato, que eu não diria inquietante, mas sim "mesmo apassionato", tocado de forma muito subtil, com um toque de veludo e com um ritmo pujante, mas controlado.
Um terceiro andamento, andante, tocado com serenidade e intimismo, com algum rubato excessivo nas passagens totalmente a solo. As madeira foram muito rústicas, sonoridades algo agrestes e mesmo desafinadas. Clarinetes, sobretudo o segundo mas também o primeiro, em baixo de forma, o que aliás se notou no resto do concerto de Brahms. Flauta anémica, com sonoridade escolar. Vibrato demasiadamente marcado no violoncelo, o que para mim é excessivo e irritante. Outro aspecto foi a ausência de um número apropriado de violoncelos, sete apenas, um número demasiadamente pequeno para emprestar pathos, tensão, vibração interior e sonoridade espessa e densa aos graves da orquestra. Notou-se essa mesma falta de vibração e tensão em toda a obra de Brahms. Este compositor é de abordagem complexa em termos sonoros e na coesão orquestral, os pizzicatos foram também irregulares e desacertados, a visão de Foster (e do seu bibe preto) não nos pareceu apropriada à idiomática do compositor. Demasiado directa e pouco subtil, pouco dramática.
Um belo allegretto grazioso, mais allegro do que allegretto, terminou um dos concerto mais importantes, e belos, da literatura concertante de todos os tempos. Nelson Freire aqui conseguiu redimir de forma convincente o relativo apagamento do primeiro andamento. A orquestra tocou como vestiu, rústica e trapalhona, uma nota elevada para Nelson Freire, uma nota muito mediana para a orquestra.
Os extras foram Gluck, da ópera Orfeo ed Euridice, uma transcrição... E uma obra de Heitor Villa-Lobos (obrigado a quem nos confirmou esta teoria). Excelente em Gluck, com um toque muito poético, não tão bem em Villa-Lobos com algumas notas ao lado.
P.S.: Os funcionários da segurança continuam a não se mostrar, também eles, dignos da casa e da tradição da Gulbenkian. Um senhor com ar pesadão e fato escuro, de intercomunicador afivelado sobre a orelha, conspícuo como o botão que falta na estátua do D. Pedro V em Castelo de Vide, no final do concerto lá estava encostado ao palco, "vigilante". Casaco desabotoado e aberto, mãos nos bolsos, vasta barriga saliente por fora das calças, um pé no chão, outro encostado à madeira do palco, faltava apenas um palito nos dentes e uma casca de tremoço a ser cuspida para o chão.
Os outros cavalheiros da segurança continuam com fardas obscenamente gritantes numa casa com as tradições da Gulbenkian. Será a lei que impõe que os gorilas que patrulham os perigosos intervalos dos concertos sejam obrigados a ter estas fardas?
Impõem-se umas lições de boas maneiras e boa conduta a estes senhores, de certo modo castiços...
Não se passa o mesmo com a orquestra Gulbenkian e nunca esperei vir a escrever isto sobre esta instituição. A casaca, traje de cerimónia não é uma espécie de fato de macaco para ser usado por uma tropa fandanga de maltrapilhos. O uso do vestuário de cerimónia tem regras próprias. O colete branco é quase indispensável, a cinta que deve ser usada por todos ou por nenhum de acordo com o colete e a cor própria, o sapato que deve ser de verniz (ou pelo menos com polimento uniforme) e com atacadores, as peúgas pretas e finas. A camisa com os colarinhos próprios e os punhos engomados e os botões brancos (e não a incrível variedade de modelos). A camisa deve estar bem presa e não com a fralda de fora (como vimos na quinta feira em muitos violinistas). A barriga de certos músicos fora das calças, sem cinta nem colete é uma visão altamente desagradável. O aprumo é essencial e marca de estilo. A banalização da casaca é um triste paradigma em muitas orquestras, em que os músicos a utilizam sem brio. O mesmo se aplica às senhoras que têm penteados do tempo da Maria Cachucha ou então vão à cabeleira da Maria Armanda, ou não vão de todo e, em grande parte, vestem sem o menor gosto. A Gulbenkian tem de estudar a hipótese de contratar um consultor para a área do estilo das senhoras da orquestra.
Grandes orquestras do mundo, lembro a Filarmónica de Berlim, quando não tocam em noites de gala, têm como padrão de vestuário um fato escuro e gravata para os senhores e um vestido escuro para as senhoras. A utilização deste traje tem a vantagem de não transformar a casaca numa espécie de fato de macaco para toda a obra, acabando os músicos por se apresentarem com ar amarrotado e pouco engomado.
A mesma falta de brio que tem forçosamente de se reflectir na execução.
Sendo assim apenas comento a interpretação por parte de dois músicos: o contrabaixo Alejandro Erlich-Oliva, que se destaca pela forma impecável como os seus sapatos brilham e Carlos Voss nos tímpanos pelo uso apropriado do colete branco da ordem. Provavelmente outros estariam também em condições, mas do local onde estávamos apenas conseguimos descobrir estes dois elementos masculinos vestidos com aprumo. Estes músicos tocaram com aprumo, ritmo e empenho, Voss foi enérgico e muito inspirado na execução dos seus tímpanos, sempre a compasso e concentrado. O mesmo se poderá dizer do excelente contrabaixista: sempre a tempo, concentrado. Gostámos. Sobre o resto da orquestra: recusamos qualquer crítica positiva a maltrapilhos, passe o aparente excesso do termo. Do maestro Foster e do seu bibe preto já falámos por diversas vezes, um mau exemplo que persiste.
Uma primeira parte em que o concertino Rowlands nos deu dois romances op. 40 e 50 de Beethoven, numa interpretação francamente melhor no segundo romance, o mais conhecido, em que esteve muito poético e com uma bela sonoridade.
O exercício de três Leonoras de Beethoven foi maçador, bom para um programa de rádio, ou para três concertos, nunca para o mesmo e longuíssimo programa de concerto público. A orquestra nesse ponto foi um pouco melhor, mais empolgada do que no Brahms que se seguiu, mas ressaltou uma interpretação trapalhona. Urge dar algum brio a esta orquestra...
Nelson Freire não foi tão perfeito como se esperava em Brahms, concerto nº 2. Uma leitura que a certa altura nos pareceu algo mecânica e que chegou a atingir uma situação complicada quando se ouviu um toque de bip ou telemóvel que não parava de tocar, o pianista visivelmente desconcentrado pelo ruído entrou em total desacerto e falhou uma passagem inteira do primeiro andamento. Nota: parece que se ligam os telemóveis no intervalo e se esquecem na segunda parte. O aviso deve ser emitido também na segunda parte do concerto: "Se ligou o telemóvel no intervalo aproveite agora para o desligar..." Nota-se que os toques ocorrem sempre depois do intervalo.
O segundo andamento foi muito bom, o allegro apassionato, que eu não diria inquietante, mas sim "mesmo apassionato", tocado de forma muito subtil, com um toque de veludo e com um ritmo pujante, mas controlado.
Um terceiro andamento, andante, tocado com serenidade e intimismo, com algum rubato excessivo nas passagens totalmente a solo. As madeira foram muito rústicas, sonoridades algo agrestes e mesmo desafinadas. Clarinetes, sobretudo o segundo mas também o primeiro, em baixo de forma, o que aliás se notou no resto do concerto de Brahms. Flauta anémica, com sonoridade escolar. Vibrato demasiadamente marcado no violoncelo, o que para mim é excessivo e irritante. Outro aspecto foi a ausência de um número apropriado de violoncelos, sete apenas, um número demasiadamente pequeno para emprestar pathos, tensão, vibração interior e sonoridade espessa e densa aos graves da orquestra. Notou-se essa mesma falta de vibração e tensão em toda a obra de Brahms. Este compositor é de abordagem complexa em termos sonoros e na coesão orquestral, os pizzicatos foram também irregulares e desacertados, a visão de Foster (e do seu bibe preto) não nos pareceu apropriada à idiomática do compositor. Demasiado directa e pouco subtil, pouco dramática.
Um belo allegretto grazioso, mais allegro do que allegretto, terminou um dos concerto mais importantes, e belos, da literatura concertante de todos os tempos. Nelson Freire aqui conseguiu redimir de forma convincente o relativo apagamento do primeiro andamento. A orquestra tocou como vestiu, rústica e trapalhona, uma nota elevada para Nelson Freire, uma nota muito mediana para a orquestra.
Os extras foram Gluck, da ópera Orfeo ed Euridice, uma transcrição... E uma obra de Heitor Villa-Lobos (obrigado a quem nos confirmou esta teoria). Excelente em Gluck, com um toque muito poético, não tão bem em Villa-Lobos com algumas notas ao lado.
P.S.: Os funcionários da segurança continuam a não se mostrar, também eles, dignos da casa e da tradição da Gulbenkian. Um senhor com ar pesadão e fato escuro, de intercomunicador afivelado sobre a orelha, conspícuo como o botão que falta na estátua do D. Pedro V em Castelo de Vide, no final do concerto lá estava encostado ao palco, "vigilante". Casaco desabotoado e aberto, mãos nos bolsos, vasta barriga saliente por fora das calças, um pé no chão, outro encostado à madeira do palco, faltava apenas um palito nos dentes e uma casca de tremoço a ser cuspida para o chão.
Os outros cavalheiros da segurança continuam com fardas obscenamente gritantes numa casa com as tradições da Gulbenkian. Será a lei que impõe que os gorilas que patrulham os perigosos intervalos dos concertos sejam obrigados a ter estas fardas?
Impõem-se umas lições de boas maneiras e boa conduta a estes senhores, de certo modo castiços...
18.2.05
O voo dos flamingos
Campanha. Depois desta campanha eleitoral que perpassou sussurrante nevoenta e errante, cá estamos para uma avaliação final.
A cultura não existe para os líderes dos partidos concorrentes, a educação é um chavão que se usa sem se concretizar e sem se investir, o inglês é muito bonito, mas o português? A matemática? E o resto? A justiça e a sua crise? Nada, bem diz o bastonário no Expresso, que saiu hoje por causa das sondagens.
Ideologia? Já não se vislumbra, apenas um resquício. Em Louçã continua o moralismo habitual, crispado e intolerante, em Jerónimo o monolitismo simpático do homem honesto e simples, mas apesar de tudo ancorado numa visão filosófica do mundo que parece perdida num tempo distante e ainda menos sussurrante nos meus ouvidos que esta campanha de figurões sem história, sem ideias e sem currículos. De gente de aparelhos e de esquemas. Enfim uma campanha que parece um desfile de cabeçudos de feira que, infelizmente, nos vão (des)governar nos próximos anos. O povo que escolha o cabeçudo mais airoso. O gigantone que vai ganhar é pessoa que apesar do figurino italiano não consigo descolar da imagem pinóquia e provinciana de um boneco articulado de madeira e de nariz sempre em risco de crescer... Ao seu lado, como imagem desta campanha, figurará Paulo Portas, um grande actor, ajoelhado num velório de uma freira triste, morta demasiado tarde num país da qual não é, nem nunca será, Alma, como tão bem disse o D. Januário. Lúcia morreu demasiado tarde, duzentos anos tarde...
Enfim, a escolha já não recai sobre as ideologias, os blocos centrais disfarçam e escondem as suas origens. A escolha recai sobre quem parece mais honesto. Recai não sobre quem tem melhores ideias e capacidade mas sobre quem merece mais confiança na compra de um automóvel usado. E com isto fica quase tudo dito.
Outra questão de campanha é o Freeport ser ou não ser crime. Para mim é apenas um aspecto formal que se esconde por detrás de uma teia de nevoeiro legal que obscurece a mais crua realidade: o Freeport no local onde está construído é pior que um crime, é uma bomba atómica ambiental. Quem o deixou construir não merece a minha confiança para nada. O crime do ponto de vista formal não me interessa, o crime é ecológico, é político. Uma grande empresa consegue sempre o que quer, neste caso do PS, no local que quer. Uma câmara PS e um ministério PS autorizaram, provavelmente ao abrigo de leis e regulamentos convenientes para todos e na maior legalidade formal. A margem do rio fica talhada e poluída, os flamingos que vão para outro lado... E o mundo mais pequeno.
Eu espero que o PS não consiga a maioria absoluta. O único absoluto que desejo ao PS, já existe... é Sócrates: um absoluto vazio. por outro lado o PS já demonstrou ser um partido que cultiva a absoluta cobardia política. Como se provou com Guterres e nesta campanha. Sempre sem se comprometer e sem ideias o poder interessa, apenas, pelo poder. Para partilhar com os amigos e construir um país de Freeports em margens de rios, junto dos flamingos que na maior legalidade vão para longe, sem hipótese de poderem interpor uma providência cautelar, em regime absoluto de legalidade e na maioria mais silenciosa, mais silenciosa que a do Spínola.
De Santana Lopes e desta coligação já foi tudo dito, não vale a pena bater mais no ceguinho.
A bem de Portugal no próximo dia 20 vou votar em Marc-Antoine Charpentier, consciente, pelo Voo dos Flamingos...
A cultura não existe para os líderes dos partidos concorrentes, a educação é um chavão que se usa sem se concretizar e sem se investir, o inglês é muito bonito, mas o português? A matemática? E o resto? A justiça e a sua crise? Nada, bem diz o bastonário no Expresso, que saiu hoje por causa das sondagens.
Ideologia? Já não se vislumbra, apenas um resquício. Em Louçã continua o moralismo habitual, crispado e intolerante, em Jerónimo o monolitismo simpático do homem honesto e simples, mas apesar de tudo ancorado numa visão filosófica do mundo que parece perdida num tempo distante e ainda menos sussurrante nos meus ouvidos que esta campanha de figurões sem história, sem ideias e sem currículos. De gente de aparelhos e de esquemas. Enfim uma campanha que parece um desfile de cabeçudos de feira que, infelizmente, nos vão (des)governar nos próximos anos. O povo que escolha o cabeçudo mais airoso. O gigantone que vai ganhar é pessoa que apesar do figurino italiano não consigo descolar da imagem pinóquia e provinciana de um boneco articulado de madeira e de nariz sempre em risco de crescer... Ao seu lado, como imagem desta campanha, figurará Paulo Portas, um grande actor, ajoelhado num velório de uma freira triste, morta demasiado tarde num país da qual não é, nem nunca será, Alma, como tão bem disse o D. Januário. Lúcia morreu demasiado tarde, duzentos anos tarde...
Enfim, a escolha já não recai sobre as ideologias, os blocos centrais disfarçam e escondem as suas origens. A escolha recai sobre quem parece mais honesto. Recai não sobre quem tem melhores ideias e capacidade mas sobre quem merece mais confiança na compra de um automóvel usado. E com isto fica quase tudo dito.
Outra questão de campanha é o Freeport ser ou não ser crime. Para mim é apenas um aspecto formal que se esconde por detrás de uma teia de nevoeiro legal que obscurece a mais crua realidade: o Freeport no local onde está construído é pior que um crime, é uma bomba atómica ambiental. Quem o deixou construir não merece a minha confiança para nada. O crime do ponto de vista formal não me interessa, o crime é ecológico, é político. Uma grande empresa consegue sempre o que quer, neste caso do PS, no local que quer. Uma câmara PS e um ministério PS autorizaram, provavelmente ao abrigo de leis e regulamentos convenientes para todos e na maior legalidade formal. A margem do rio fica talhada e poluída, os flamingos que vão para outro lado... E o mundo mais pequeno.
Eu espero que o PS não consiga a maioria absoluta. O único absoluto que desejo ao PS, já existe... é Sócrates: um absoluto vazio. por outro lado o PS já demonstrou ser um partido que cultiva a absoluta cobardia política. Como se provou com Guterres e nesta campanha. Sempre sem se comprometer e sem ideias o poder interessa, apenas, pelo poder. Para partilhar com os amigos e construir um país de Freeports em margens de rios, junto dos flamingos que na maior legalidade vão para longe, sem hipótese de poderem interpor uma providência cautelar, em regime absoluto de legalidade e na maioria mais silenciosa, mais silenciosa que a do Spínola.
De Santana Lopes e desta coligação já foi tudo dito, não vale a pena bater mais no ceguinho.
A bem de Portugal no próximo dia 20 vou votar em Marc-Antoine Charpentier, consciente, pelo Voo dos Flamingos...
Há dinheiro ou não há para o S. Carlos?
A Direcção do S. Carlos informa, em novo comunicado, (já datado de ontem) que se a Ministra arranjar o financiamento para pagar as produções que faltam, a temporada ainda está a tempo de salvar as duas últimas óperas a partir de 31 de Março. Até agora, 16h35m nada saiu da Ajuda e a campanha eleitoral fecha à meia noite.
São as informações que existem até agora.
A 72h do governo ser varrido, Pinamonti e a Direcção do Teatro Nacional de Ópera lançaram esta bomba. Parece apropriadamente tarde, parece demasiadamente em cima das eleições. É uma coragem tardia mas mais vale tarde do que nunca e elogia-se.
A última informação do Teatro é desnecessária, uma vez que estava tudo dito e percebido
Alguns são como S. Tomé, que é bem aventurado por acreditar vendo, outros não precisam de ver para acreditar e por isso ainda mais beatos são... Todos são bem vindos. Mesmo depois das divulgações das últimas sondagens. Espera-se é que a coragem demonstrada agora pela actual Direcção continue no futuro a dar frutos. Que exija ao novo governo uma auditoria total ao Teatro e a uma avaliação global do desempenho dentro da casa por uma entidade auditora competente, isenta e, de preferência, de nível internacional.
Até ao Fim
Acordar mal disposto
É ligar a Antena 2 e ouvir Thaïs de Massenet, o final com o tema lamechas da meditação que também lá aparece, e logo a seguir o início da ária "dis moi que je suis belle...", é demais, não basta uma? A histeria enjoativa e comercial de Massenet com acorde na tónica nos trombones que coroa invariavelmente qualquer trecho. E ainda por cima deve ser a Flemming...
Desliga-se ou passa-se para a Antena 1?
Desliga-se ou passa-se para a Antena 1?
Carlos
Os melhores
17.2.05
S. Carlos Cancela Ópera
O Teatro de S. Carlos cancelou duas óperas porque o governo de Santana Lopes é incapaz de assumir compromissos. É ler a notícia e ficar a perceber a pouca vergonha.
Eu sei que no oceano de problemas que o país atravessa, com desemprego, caos na saúde, na educação, sub-desenvolvimento científico e tecnológico, falta de qualificação da mão-de-obra, incompetência de políticos, impreparação dos empresários, no meio tacanho do espírito nacional a cultura não ocupa muito espaço. A ópera é vista como coisa de elites. Mas é precisamente nestas pequenas coisas, no respeito pela palavra dada, na honra, na verdade da promessa, que se destacam os grandes homens, é com honra que os países se formam. Os políticos que nos desgovernam apenas corroboram junto das pessoas a imagens de aldrabões e corruptos que, infelizmente, o povo tem. Não é uma questão de duas óperas a menos ou a mais, é uma questão de política.
Infelizmente sou levado ao concluir que um Carrilho, um Santos Silva, mesmo um Sasportes e um Pedro Roseta, são muito melhores que esta gente sem categoria que serve apenas para andar a mostrar a despudorada face fingindo uma política cultural que, simplesmente, não existe. Já nem sequer se pedem políticas, apenas se pede gente séria, gente que volte a fazer do Estado uma pessoa de bem.
É preciso correr com esta gente da mesa do orçamento...
Adenda I Entretanto o Ministério da Cultura publica um comunicado (que pode ser consultado aqui e se transcreve no final deste post) em que se estranha o facto do Director do S. Carlos ter lançado agora este problema. Conversa de caloteiro. De caloteiro tão enfraquecido que sem coragem e força para levar às últimas consequências as palavras ocas do comunicado: se o dr. Paolo Pinamonti desrespeitou a tutela e o público porque não demiti-lo?
O que é certo é que o Director do S. Carlos deve ser louvado por múltiplas razões e está muitos furos acima de uma tutela que não existe enquanto tal. Felizmente o governo está para ser lavado com benzina daqui a três dias, como diria o Eça. Não tenha o Director e a Direcção do Teatro a tentação da demissão. Seria um erro, as palavras do comunicado da tutela, vindas de quem vêm, acabam por ser um elogio à actual Direcção do Teatro Nacional de S. Carlos. A única posição honesta para com o público e os artistas é a de Paolo Pinamonti e da sua direcção. Provavelmente a tutela está habituada a não pagar as contas e deixar as pessoas a quem deve à porta e de chapéu na mão? Ou será que a direcção deveria deixar de pagar as contribuições e impostos para pagar aos artistas e fornecedores?
A tentação de uma guerra de comunicados também deve ser evitada. O único comunicado válido da tutela será um cheque (visado)...
Adenda II Leio mais uma vez que o João Gonçalves depois de andar a culpar o dr. Paolo Pinamonti pelos males da cultura portuguesa nos últimos quinhentos aons resolve agora deitar as culpas para a "simpática, agradável e cultural" Teresa Caeiro. Completamente errado, Teresa Caeiro apenas sofre do pecado de servir de fachada a uma total ausência de política e de ideias da "ministra da cultura" e, sobretudo, da absoluta incompetência e desprezo pelos assuntos da cultura por parte de Santana Lopes e de um ministro das finanças sem qualquer margem de manobra política por pertencer a um partido pequeno na coligação. Teresa Caeiro até pode gostar de música, ou não, o que no caso é indiferente, a sua posição é única e exclusivamente decorativa. Serve para o frete de mostrar a cara...
Eu sei que no oceano de problemas que o país atravessa, com desemprego, caos na saúde, na educação, sub-desenvolvimento científico e tecnológico, falta de qualificação da mão-de-obra, incompetência de políticos, impreparação dos empresários, no meio tacanho do espírito nacional a cultura não ocupa muito espaço. A ópera é vista como coisa de elites. Mas é precisamente nestas pequenas coisas, no respeito pela palavra dada, na honra, na verdade da promessa, que se destacam os grandes homens, é com honra que os países se formam. Os políticos que nos desgovernam apenas corroboram junto das pessoas a imagens de aldrabões e corruptos que, infelizmente, o povo tem. Não é uma questão de duas óperas a menos ou a mais, é uma questão de política.
Infelizmente sou levado ao concluir que um Carrilho, um Santos Silva, mesmo um Sasportes e um Pedro Roseta, são muito melhores que esta gente sem categoria que serve apenas para andar a mostrar a despudorada face fingindo uma política cultural que, simplesmente, não existe. Já nem sequer se pedem políticas, apenas se pede gente séria, gente que volte a fazer do Estado uma pessoa de bem.
É preciso correr com esta gente da mesa do orçamento...
Adenda I Entretanto o Ministério da Cultura publica um comunicado (que pode ser consultado aqui e se transcreve no final deste post) em que se estranha o facto do Director do S. Carlos ter lançado agora este problema. Conversa de caloteiro. De caloteiro tão enfraquecido que sem coragem e força para levar às últimas consequências as palavras ocas do comunicado: se o dr. Paolo Pinamonti desrespeitou a tutela e o público porque não demiti-lo?
O que é certo é que o Director do S. Carlos deve ser louvado por múltiplas razões e está muitos furos acima de uma tutela que não existe enquanto tal. Felizmente o governo está para ser lavado com benzina daqui a três dias, como diria o Eça. Não tenha o Director e a Direcção do Teatro a tentação da demissão. Seria um erro, as palavras do comunicado da tutela, vindas de quem vêm, acabam por ser um elogio à actual Direcção do Teatro Nacional de S. Carlos. A única posição honesta para com o público e os artistas é a de Paolo Pinamonti e da sua direcção. Provavelmente a tutela está habituada a não pagar as contas e deixar as pessoas a quem deve à porta e de chapéu na mão? Ou será que a direcção deveria deixar de pagar as contribuições e impostos para pagar aos artistas e fornecedores?
A tentação de uma guerra de comunicados também deve ser evitada. O único comunicado válido da tutela será um cheque (visado)...
Adenda II Leio mais uma vez que o João Gonçalves depois de andar a culpar o dr. Paolo Pinamonti pelos males da cultura portuguesa nos últimos quinhentos aons resolve agora deitar as culpas para a "simpática, agradável e cultural" Teresa Caeiro. Completamente errado, Teresa Caeiro apenas sofre do pecado de servir de fachada a uma total ausência de política e de ideias da "ministra da cultura" e, sobretudo, da absoluta incompetência e desprezo pelos assuntos da cultura por parte de Santana Lopes e de um ministro das finanças sem qualquer margem de manobra política por pertencer a um partido pequeno na coligação. Teresa Caeiro até pode gostar de música, ou não, o que no caso é indiferente, a sua posição é única e exclusivamente decorativa. Serve para o frete de mostrar a cara...
Comunicado sobre alteração da programação do Teatro São Carlos
Muito estranha a Ministra da Cultura que o Director do Teatro Nacional de S.Carlos tenha anunciado a reformulação da temporada lírica. As razões que fundamentam a sua decisão não só não são verdadeiras, como revelam uma inqualificável conduta perante o público que, antecipadamente, adquiriu o direito de assistir à temporada apresentada, assim como perante os apoios mecenáticos concedidos, cuja continuidade se encontra garantida (um milhão de euros por ano, durante 5 anos), pelo Millenium BCP.
O público lesado não deixará de avaliar a decisão unilateral do Dr. Pinamonti, sendo certo que tal posição só contribui para uma degradação da imagem de um Teatro Nacional por iniciativa do seu primeiro responsável, em plena contradição com os objectivos e directrizes da tutela (Ministério da Cultura) e com total desrespeito pelo dinheiro de todos os contribuintes.
A reformulação anunciada constitui um acto irresponsável visto não existirem quaisquer razões de ordem orçamental que condicionem a realização da programação.
O gabinete da Ministra da Cultura tem vindo a acompanhar, atenta e pormenorizadamente a situação do TNSC, tendo encontrado, em tempo útil as soluções orçamentais por forma a garantir o integral cumprimento da temporada 2004/2005.
Salienta-se ainda que o Governo se encontra em gestão desde meados de Dezembro de 2004. Sucessivas reuniões e troca de correspondência entre a tutela e o Teatro são bem demonstrativas do apoio do Ministério da Cultura ao TNSC.
O compromisso assumido concretiza-se “em sede de execução orçamental” (todo o ano de 2005), conforme teor do despacho de S.Exa a Secretária de Estado das Artes e Espectáculos de 16 de Novembro de 2004 e não durante um mês e meio (até 17 de Fevereiro de 2005), como por razões incompreensíveis alega o Director do Teatro Nacional de S.Carlos.
Lisboa
17 de Fevereiro de 2005
Charpentier
Apenas para limpar este blog das imagens dos políticos, recordo hoje a única imagem conhecida de Marc-Antoine Charpentier.
16.2.05
Mais um eliminado
ELE MENTE, ELE PERDE
Louçã mentiu descaradamente e de má fé no caso dos benefícios fiscais a um banco. Já tinha mostrado a verdadeira face, por sinal bem feia, no debate com Paulo Portas.
Quem resta?
Divino Sospiro
Ficámos mesmo a "sospirar" por mais, parabéns ao Divino e a Enrico Onofri, publica-se em seguida a crítica saída no Público.
Crítica Música
Quarta-feira, 16 de Fevereiro de 2005
Suspiro por mais...
Por: Manuel Pedro Ferreira
Coro de Câmara de Lisboa
Ensemble Barroco do Chiado
Dir. Ricardo Kanji
LISBOA Academia das Ciências
11 de Fevereiro, 21h00
Sala a 3/4
Orquestra Barroca Divino Sospiro
Dir. Enrico Onofri
LISBOA Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém
13 de Fevereiro, 18h00
Sala cheia
Dois concertos com dois dias de intervalo permitiram-nos apreciar o trabalho de três agrupamentos portugueses que se movem na área da música antiga, sendo que dois deles são nela especializados: o Ensemble Barroco do Chiado e a Orquestra Divino Sospiro. Embora com dimensões e características diferentes, ambos integram um grupo importante de artistas estrangeiros, a par de intérpretes nacionais, e ambos se apresentaram sob a direcção de um músico convidado.
Os repertórios foram como os resultados: díspares. O Ensemble Barroco do Chiado e o Coro de Câmara de Lisboa deram-nos a ouvir música sacra brasileira do período colonial, dirigida pelo também brasileiro Ricardo Kanji. Muita desta música, só recentemente disponível em edição moderna, tem grande qualidade. É o caso da "Missa abreviada", de Manoel Dias de Oliveira, de "Vidi aquam" e da "Missa e Vésperas do Sábado Santo", de autores anónimos. Já as "Lições da Vigília Pascal" e a "Bênção da Fonte Baptismal", também anónimas, correspondem não só a um estilo diferente, mas a uma inferior capacidade artística. Acima da trivialidade, mas demasiado repetitivo, é o chamado "Gradual do Espírito Santo", de João de Araújo Silva, em que os violinos tiveram alguma dificuldade em lidar com as passagens mais rápidas. Problemas no desenho das frases e na fusão harmónica afectaram o interessante "Libera me", do padre José Maurício; talvez isso se tenha devido a condições acústicas deficientes no palco (comunicação entre os cantores e o baixo contínuo), ou ainda à relativa modernidade do estilo musical, que requer matizes dinâmicas e um corpo sonoro mais amplo do que aquele aparentemente disponível.
Os "pianos" requeridos pelo maestro ao coro voltaram a causar alguma dificuldade nas "Matinas do Sábado Santo", de Lobo de Mesquita; no terceiro responsório, foram as trompas naturais a trair os instrumentistas. A obra, como um todo, tem imenso interesse; o quarto responsório, na sua vivacidade e expressividade, é mais representativo da qualidade geral do que o seguinte, em que se usa e abusa das repetições modulantes, sendo ténue a relação com o texto.
Só três das obras programadas dispensavam a participação de cantores solistas. A bonita voz, sensibilidade estilística e segurança técnica da soprano Joana Seara encontraram um exacto reflexo nas qualidades evidenciadas pelo baixo Rui Baeta. A escolha de Ricardo Ceitil (contratenor) e Mário Alves (tenor) foi menos feliz, não por lhes faltarem qualidades tímbricas e musicais, mas devido às suas abissais diferenças na potência e no estilo, do que resultaram duetos desequilibrados e alguma instabilidade tonal.
A direcção de Ricardo Kanji foi clara e musicalmente sensível, mas não doseou as pausas de forma a respeitar a natureza das peças: nos "Tractos", o ataque dos versículos devia ter sido mais expedito, e mais amplas as esperas entre momentos litúrgicos diversos; e não deviam ter sido introduzidos silêncios antes das "presas" dos responsórios. Em geral, porém, os intérpretes estão de parabéns pelo seu bem sucedido empenho na revelação de obras de grande valor patrimonial e artístico.
Não era esse o objectivo da Orquestra Divino Sospiro, que se abalançou a exigentes, mas conhecidas, partituras de Telemann, Vivaldi, J. S. Bach e Haendel. Sob a direcção do italiano Enrico Onofri, que também se apresentou como solista em violino, mostrou-se ao mais alto nível técnico e interpretativo. Onofri explorou, com grande vivacidade e imaginação, e com total adesão dos músicos, dinâmicas fortemente contrastadas e articulações explosivas, sem deixar nenhuma frase por esculpir. Um "rallentando" ligeiramente forçado no termo da "Abertura" de Telemann foi o maior defeito que notámos à sua direcção. Como solista no Concerto "Grosso Mogul", de Vivaldi, mostrou-se virtuosístico e inspirado; as raras imperfeições foram redimidas por uma impressionante "cadenza" final.
Excelente esteve também Pedro Castro, como solista no Concerto para oboé "d'amore", de Bach. Todos os membros do Divino Sospiro se mostraram à altura do desafio: soar como os melhores. Tal como o público, verdadeiramente entusiasmado, ficámos a suspirar por mais.
Crítica Música
Quarta-feira, 16 de Fevereiro de 2005
Suspiro por mais...
Por: Manuel Pedro Ferreira
Coro de Câmara de Lisboa
Ensemble Barroco do Chiado
Dir. Ricardo Kanji
LISBOA Academia das Ciências
11 de Fevereiro, 21h00
Sala a 3/4
Orquestra Barroca Divino Sospiro
Dir. Enrico Onofri
LISBOA Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém
13 de Fevereiro, 18h00
Sala cheia
Dois concertos com dois dias de intervalo permitiram-nos apreciar o trabalho de três agrupamentos portugueses que se movem na área da música antiga, sendo que dois deles são nela especializados: o Ensemble Barroco do Chiado e a Orquestra Divino Sospiro. Embora com dimensões e características diferentes, ambos integram um grupo importante de artistas estrangeiros, a par de intérpretes nacionais, e ambos se apresentaram sob a direcção de um músico convidado.
Os repertórios foram como os resultados: díspares. O Ensemble Barroco do Chiado e o Coro de Câmara de Lisboa deram-nos a ouvir música sacra brasileira do período colonial, dirigida pelo também brasileiro Ricardo Kanji. Muita desta música, só recentemente disponível em edição moderna, tem grande qualidade. É o caso da "Missa abreviada", de Manoel Dias de Oliveira, de "Vidi aquam" e da "Missa e Vésperas do Sábado Santo", de autores anónimos. Já as "Lições da Vigília Pascal" e a "Bênção da Fonte Baptismal", também anónimas, correspondem não só a um estilo diferente, mas a uma inferior capacidade artística. Acima da trivialidade, mas demasiado repetitivo, é o chamado "Gradual do Espírito Santo", de João de Araújo Silva, em que os violinos tiveram alguma dificuldade em lidar com as passagens mais rápidas. Problemas no desenho das frases e na fusão harmónica afectaram o interessante "Libera me", do padre José Maurício; talvez isso se tenha devido a condições acústicas deficientes no palco (comunicação entre os cantores e o baixo contínuo), ou ainda à relativa modernidade do estilo musical, que requer matizes dinâmicas e um corpo sonoro mais amplo do que aquele aparentemente disponível.
Os "pianos" requeridos pelo maestro ao coro voltaram a causar alguma dificuldade nas "Matinas do Sábado Santo", de Lobo de Mesquita; no terceiro responsório, foram as trompas naturais a trair os instrumentistas. A obra, como um todo, tem imenso interesse; o quarto responsório, na sua vivacidade e expressividade, é mais representativo da qualidade geral do que o seguinte, em que se usa e abusa das repetições modulantes, sendo ténue a relação com o texto.
Só três das obras programadas dispensavam a participação de cantores solistas. A bonita voz, sensibilidade estilística e segurança técnica da soprano Joana Seara encontraram um exacto reflexo nas qualidades evidenciadas pelo baixo Rui Baeta. A escolha de Ricardo Ceitil (contratenor) e Mário Alves (tenor) foi menos feliz, não por lhes faltarem qualidades tímbricas e musicais, mas devido às suas abissais diferenças na potência e no estilo, do que resultaram duetos desequilibrados e alguma instabilidade tonal.
A direcção de Ricardo Kanji foi clara e musicalmente sensível, mas não doseou as pausas de forma a respeitar a natureza das peças: nos "Tractos", o ataque dos versículos devia ter sido mais expedito, e mais amplas as esperas entre momentos litúrgicos diversos; e não deviam ter sido introduzidos silêncios antes das "presas" dos responsórios. Em geral, porém, os intérpretes estão de parabéns pelo seu bem sucedido empenho na revelação de obras de grande valor patrimonial e artístico.
Não era esse o objectivo da Orquestra Divino Sospiro, que se abalançou a exigentes, mas conhecidas, partituras de Telemann, Vivaldi, J. S. Bach e Haendel. Sob a direcção do italiano Enrico Onofri, que também se apresentou como solista em violino, mostrou-se ao mais alto nível técnico e interpretativo. Onofri explorou, com grande vivacidade e imaginação, e com total adesão dos músicos, dinâmicas fortemente contrastadas e articulações explosivas, sem deixar nenhuma frase por esculpir. Um "rallentando" ligeiramente forçado no termo da "Abertura" de Telemann foi o maior defeito que notámos à sua direcção. Como solista no Concerto "Grosso Mogul", de Vivaldi, mostrou-se virtuosístico e inspirado; as raras imperfeições foram redimidas por uma impressionante "cadenza" final.
Excelente esteve também Pedro Castro, como solista no Concerto para oboé "d'amore", de Bach. Todos os membros do Divino Sospiro se mostraram à altura do desafio: soar como os melhores. Tal como o público, verdadeiramente entusiasmado, ficámos a suspirar por mais.
OSP - Concerto no CCB e ainda a crítica a Medeia
Concerto no CCB
Emilio Pomàrico é um bom maestro, hoje teremos oportunidade de escutar a OSP sob a sua direcção. Teremos:
Wolfgang Rihm: In-schrift' para orquestra, Estreia em Portugal.
Anton Bruckner, Sinfonia n.º 7 em Mi Maior.
Duas obras de grande qualidade, a obra de Rihm, sobretudo para cordas graves e sopros, promete ser muito interessante. A sinfonia de Bruckner é uma peça de resistência. O último concerto no CCB por esta orquestra já foi bom. Recomenda-se uma deslocação a Belém.
Ainda Medeia
A crítica à ópera Medeia de Cherubini foi sobre a terceira récita, aquela a que assiti. Fui informado que os ensaios foram muito reduzidos, com Orquestra Sinfónica Portuguesa, porque o departamento responsável no S. Carlos pela edição do material, nomeadamente a realização dos cortes enviados antecipadamente pelo maestro, não trabalhou em condições, tendo-se perdido inúmeras horas de ensaio com o maestro a ditar cortes para todos os naipes da orquestra e a apagar cortes anteriores, quando deveria estar a trabalhar a obra. É um caso gravíssimo numa produção que se pretendia um caso paradigmático de uma estreia moderna em Portugal e de uma produção nova, uma bandeira do Teatro para 2005. A abertura foi apenas lida e não foi trabalhada. Com o decorrer das récitas a coisa melhorou, os ensaios foram as récitas! Parece que se chegou à última com muito melhor performance do que nas primeiras. Deve-se julgar o que se ouve, o público paga bilhete e não tem nada a ver com as falhas de um ou outro, no dia a que assisti o resultado foi péssimo, parece que existe um sindroma da terceira récita, e até o maestro que eu aprecio, falhou em toda a linha, incluindo entradas erradas e falhadas.
O resultado de um trabalho mau da equipa a montante da orquestra comprometeu, vergonhosamente, todo o trabalho de um Teatro Nacional de Ópera. Uma situação que urge apurar e responsabilizar severamente.
O que foi agora sabido, não tira nada à validade de uma necessária avaliação de desempenho de toda uma equipa artística. Antes a reforça. É algo natural, que serve para melhorar a produtividade e a qualidade e não deve meter medo a ninguém, faz-se em todo o lado, e numa orquestra em formação e crescimento é quase obrigatória. A par com a dotação de meios e condições de trabalho dignas.
Emilio Pomàrico é um bom maestro, hoje teremos oportunidade de escutar a OSP sob a sua direcção. Teremos:
Wolfgang Rihm: In-schrift' para orquestra, Estreia em Portugal.
Anton Bruckner, Sinfonia n.º 7 em Mi Maior.
Duas obras de grande qualidade, a obra de Rihm, sobretudo para cordas graves e sopros, promete ser muito interessante. A sinfonia de Bruckner é uma peça de resistência. O último concerto no CCB por esta orquestra já foi bom. Recomenda-se uma deslocação a Belém.
Ainda Medeia
A crítica à ópera Medeia de Cherubini foi sobre a terceira récita, aquela a que assiti. Fui informado que os ensaios foram muito reduzidos, com Orquestra Sinfónica Portuguesa, porque o departamento responsável no S. Carlos pela edição do material, nomeadamente a realização dos cortes enviados antecipadamente pelo maestro, não trabalhou em condições, tendo-se perdido inúmeras horas de ensaio com o maestro a ditar cortes para todos os naipes da orquestra e a apagar cortes anteriores, quando deveria estar a trabalhar a obra. É um caso gravíssimo numa produção que se pretendia um caso paradigmático de uma estreia moderna em Portugal e de uma produção nova, uma bandeira do Teatro para 2005. A abertura foi apenas lida e não foi trabalhada. Com o decorrer das récitas a coisa melhorou, os ensaios foram as récitas! Parece que se chegou à última com muito melhor performance do que nas primeiras. Deve-se julgar o que se ouve, o público paga bilhete e não tem nada a ver com as falhas de um ou outro, no dia a que assisti o resultado foi péssimo, parece que existe um sindroma da terceira récita, e até o maestro que eu aprecio, falhou em toda a linha, incluindo entradas erradas e falhadas.
O resultado de um trabalho mau da equipa a montante da orquestra comprometeu, vergonhosamente, todo o trabalho de um Teatro Nacional de Ópera. Uma situação que urge apurar e responsabilizar severamente.
O que foi agora sabido, não tira nada à validade de uma necessária avaliação de desempenho de toda uma equipa artística. Antes a reforça. É algo natural, que serve para melhorar a produtividade e a qualidade e não deve meter medo a ninguém, faz-se em todo o lado, e numa orquestra em formação e crescimento é quase obrigatória. A par com a dotação de meios e condições de trabalho dignas.
Santana Lopes Crítico de Música
Lê-se na press release sobre a nova Metropolitana, com direcção de Álvaro Cassuto, uma orquestra que tentará crescer até à formação sinfónica:
O reconhecimento do então Presidente da Câmara Municipal de Lisboa (Pedro Santana Lopes) da falta de uma grande orquestra sinfónica em Lisboa deu a oportunidade à OML de assumir essa missão através de um gradual e progressivo crescimento do formato clássico para a dimensão sinfónica durante os próximos cinco anos.
Será que Santana se esqueceu da Orquestra Sinfónica Portuguesa? Será que o musicólogo Santana, que é um dos raros privilegiados do mundo a conhecer os concertos para violino de Chopin, sabe o que é uma orquestra sinfónica? Como se faz? Como se chega lá? Quantos anos são necessários?
O ponto fundamental nesta questão não é a falta de uma orquestra sinfónica em Lisboa. Talvez faça falta mais uma. O problema é a qualidade, e sem investir no que já existe a qualidade nunca aparecerá. Será sempre necessário destruir ou menorizar o que já existe para recomeçar sempre tudo de novo? Criar outra orquestra sinfónica a partir da Metropolitana é uma fuga para a frente, com uma base errada. Mais uma orquestra à Cassuto, a ensair em locais miseráveis, sem condições de trabalho, com meios muito reduzidos, com a incorporação de músicos sem concurso, de despedimentos sumários. Nunca será uma orquestra sinfónica coesa e de qualidade. Os ensaios da OSP no início da sua formação, em teatros esburacados no Parque Mayer, debaixo dos pombos ao frio e à chuva são bom exemplo do que Cassuto consegue suportar e fazer suportar aos seus músicos... para chegar onde?
Vejamos a OSP: falta edificar uma sede digna para albergar uma Orquestra Sinfónica Nacional que já existe no Porto. A Orquestra Nacional desta cidade tem uma sede digna e um director estável, tem subido paulatinamente e atingido uma estabilidade artística de realce, sem os altos e baixos da OSP. Uma sede para uma orquestra é o que primeiro se faria em qualquer país civilizado. Um primeiríssimo passo que deveria ter sido dado com a fundação da mesma. Cassuto conseguiu ter a sua orquestra quando o amigo Santana Lopes era secretário de Estado, mas atingido este objectivo pessoal não conseguiu mais nada da, e para, a OSP. Tantos anos depois a OSP continua a ensaiar em muito más condições...
Porquê falar ainda e sempre deste assunto? A OSP poderia, e deveria, ser um dos centros da vida musical no país e não é, apesar do esforço e da qualidade de muitos dos seus membros. É uma questão de investimento e de filosofia. Pelos custos enormes que tem para o país sem o retorno mínimo exigível. Porque custou, e vai custar no futuro, milhões de contos (dezenas de milhões de euros) aos cidadãos, sendo de todos nós. A OSP é uma peça fundamental para uma política cultural coerente, totalmente negligenciada pelo poder político. Lisboa não tem um auditório grande para concertos sinfónicos (o Coliseu é péssimo para concertos) salas que existem em países como a Holanda e a Áustria há mais de cem anos...
A Aula Magna da Reitoria da Universidade Clássica poderia ser essa sala, a título provisório, mas é desconfortavel, está decadente e não pertence ao Ministério da Cultura.
Cassuto tem qualidades, é talvez o único com meios e conhecimentos, consensos, para suster a crise da Metropolitana. Musicalmente tem altos e baixos. Numa situação de emergência é útil, mas os seus defeitos revelam-se a longo prazo...
Santana vai voltar para Presidente da Câmara de Lisboa, o cancro continua aí, o tão propalado final da carreira política de Santana Lopes é apenas um sonho de gente idealista e bem intencionada. Santana vai arrastar-se ao sabor do populismo e vai continuar a fazer estragos, tal como Alberto João Jardim, mas sem uma ilha... Santana Lopes será mais um, continuará a ir à televisão e a escrever na "A Bola" ou noutro jornal desportivo...
O reconhecimento do então Presidente da Câmara Municipal de Lisboa (Pedro Santana Lopes) da falta de uma grande orquestra sinfónica em Lisboa deu a oportunidade à OML de assumir essa missão através de um gradual e progressivo crescimento do formato clássico para a dimensão sinfónica durante os próximos cinco anos.
Será que Santana se esqueceu da Orquestra Sinfónica Portuguesa? Será que o musicólogo Santana, que é um dos raros privilegiados do mundo a conhecer os concertos para violino de Chopin, sabe o que é uma orquestra sinfónica? Como se faz? Como se chega lá? Quantos anos são necessários?
O ponto fundamental nesta questão não é a falta de uma orquestra sinfónica em Lisboa. Talvez faça falta mais uma. O problema é a qualidade, e sem investir no que já existe a qualidade nunca aparecerá. Será sempre necessário destruir ou menorizar o que já existe para recomeçar sempre tudo de novo? Criar outra orquestra sinfónica a partir da Metropolitana é uma fuga para a frente, com uma base errada. Mais uma orquestra à Cassuto, a ensair em locais miseráveis, sem condições de trabalho, com meios muito reduzidos, com a incorporação de músicos sem concurso, de despedimentos sumários. Nunca será uma orquestra sinfónica coesa e de qualidade. Os ensaios da OSP no início da sua formação, em teatros esburacados no Parque Mayer, debaixo dos pombos ao frio e à chuva são bom exemplo do que Cassuto consegue suportar e fazer suportar aos seus músicos... para chegar onde?
Vejamos a OSP: falta edificar uma sede digna para albergar uma Orquestra Sinfónica Nacional que já existe no Porto. A Orquestra Nacional desta cidade tem uma sede digna e um director estável, tem subido paulatinamente e atingido uma estabilidade artística de realce, sem os altos e baixos da OSP. Uma sede para uma orquestra é o que primeiro se faria em qualquer país civilizado. Um primeiríssimo passo que deveria ter sido dado com a fundação da mesma. Cassuto conseguiu ter a sua orquestra quando o amigo Santana Lopes era secretário de Estado, mas atingido este objectivo pessoal não conseguiu mais nada da, e para, a OSP. Tantos anos depois a OSP continua a ensaiar em muito más condições...
Porquê falar ainda e sempre deste assunto? A OSP poderia, e deveria, ser um dos centros da vida musical no país e não é, apesar do esforço e da qualidade de muitos dos seus membros. É uma questão de investimento e de filosofia. Pelos custos enormes que tem para o país sem o retorno mínimo exigível. Porque custou, e vai custar no futuro, milhões de contos (dezenas de milhões de euros) aos cidadãos, sendo de todos nós. A OSP é uma peça fundamental para uma política cultural coerente, totalmente negligenciada pelo poder político. Lisboa não tem um auditório grande para concertos sinfónicos (o Coliseu é péssimo para concertos) salas que existem em países como a Holanda e a Áustria há mais de cem anos...
A Aula Magna da Reitoria da Universidade Clássica poderia ser essa sala, a título provisório, mas é desconfortavel, está decadente e não pertence ao Ministério da Cultura.
Cassuto tem qualidades, é talvez o único com meios e conhecimentos, consensos, para suster a crise da Metropolitana. Musicalmente tem altos e baixos. Numa situação de emergência é útil, mas os seus defeitos revelam-se a longo prazo...
Santana vai voltar para Presidente da Câmara de Lisboa, o cancro continua aí, o tão propalado final da carreira política de Santana Lopes é apenas um sonho de gente idealista e bem intencionada. Santana vai arrastar-se ao sabor do populismo e vai continuar a fazer estragos, tal como Alberto João Jardim, mas sem uma ilha... Santana Lopes será mais um, continuará a ir à televisão e a escrever na "A Bola" ou noutro jornal desportivo...
14.2.05
A vidente e a superstição
Morreu Lúcia, uma notícia totalmente irrelevante para mim e provavelmente para muito católicos.
Fátima nunca foi um dogma, Fátima nada tem a ver com a crença em Deus, em Cristo ou qualquer outra crença. É apenas uma questão de convicção pessoal.
Para mim Fátima é apenas superstição e crendice. O pior de Portugal, analfabetismo, atraso endémico, superstição clerical da qual ainda são representantes inúmeros padres incultos, tacanhos e dogmáticos. Longe da erudição dos Jesuítas de hoje ou de outros pensadores católicos.
A morte de Lúcia é a morte de uma mulher vítima de um país pobre, vítima da ignorância, da fome e do analfabetismo que chega ao Papa. Afinal o polaco é ele próprio oriundo de um meio parecido que deixa marcas, independemente dos cursos de filosofia e teologia.
A morte de Lúcia faz-me sentir dor, não propriamente pela pobre senhora, que parece ter sido feliz e que morre com 97 anos depois de uma longa vida, mas pelo país. Morreu na sua própria paz. Na paz de Cristo? O mesmo que privava com gente pouco recomendável como prostituas e cobradores de impostos e fez o Sermão da Montanha...
O meu Cristo e a sua mensagem não são nem Lúcia nem Fátima, e assim é para muitos católicos.
O luto nacional por Lúcia é tão só ridículo como uma marca do atraso deste país hoje, hipotecado à fradalhada que (chegou a mais de 20% da população no século XVIII) ainda perdura ainda dentro de nós. A hipocrisia é tal que até o Bloco de Esquerda lamenta a morte da vidente...
H.S.
Fátima nunca foi um dogma, Fátima nada tem a ver com a crença em Deus, em Cristo ou qualquer outra crença. É apenas uma questão de convicção pessoal.
Para mim Fátima é apenas superstição e crendice. O pior de Portugal, analfabetismo, atraso endémico, superstição clerical da qual ainda são representantes inúmeros padres incultos, tacanhos e dogmáticos. Longe da erudição dos Jesuítas de hoje ou de outros pensadores católicos.
A morte de Lúcia é a morte de uma mulher vítima de um país pobre, vítima da ignorância, da fome e do analfabetismo que chega ao Papa. Afinal o polaco é ele próprio oriundo de um meio parecido que deixa marcas, independemente dos cursos de filosofia e teologia.
A morte de Lúcia faz-me sentir dor, não propriamente pela pobre senhora, que parece ter sido feliz e que morre com 97 anos depois de uma longa vida, mas pelo país. Morreu na sua própria paz. Na paz de Cristo? O mesmo que privava com gente pouco recomendável como prostituas e cobradores de impostos e fez o Sermão da Montanha...
O meu Cristo e a sua mensagem não são nem Lúcia nem Fátima, e assim é para muitos católicos.
O luto nacional por Lúcia é tão só ridículo como uma marca do atraso deste país hoje, hipotecado à fradalhada que (chegou a mais de 20% da população no século XVIII) ainda perdura ainda dentro de nós. A hipocrisia é tal que até o Bloco de Esquerda lamenta a morte da vidente...
H.S.
13.2.05
Ele há com cada uma... Uma marca com pouca penetração em Portugal
Sokolov IV - Considerações finais
A segunda parte do recital de Grigory Sokolov foi dedicada a Chopin:
Fantasia-Impromptu em Dó sustenido menor (Versão manuscrita, 1835)
Impromptu em Lá bemol Maior, op. 29 (1837)
Impromptu em Fá sustenido Maior, op. 36 (1839)
Impromptu em Sol bemol Maior, op. 51 (1842)
Dois Nocturnos, op. 62 (1845/46) (Si e Mi maior)
Polaca-Fantasia, em Lá bemol Maior, op. 61 (1845/46)
Em Chopin não conseguimos encontrar a mesma transcendência da interpretação dessa obra maior da música de todos os tempos que é a sonata em lá de Schubert. Digamos que Chopin nestas obras é mais acessível, sem querer dizer que seja mais simples ou menor em termos musicais.
Tivemos uma interpretação vigorosa, de um recorte de articulação excepcional, o rubato já foi utilizado de forma mais livre, ou não se tratasse de um programa votado à fantasia e ao improviso, fantasia e improviso que também povoam os nocturnos.
Tivemos um Sokolov sonhador, inspirado, denso, descobrindo atmosferas pouco exploradas em Chopin, como por exemplo o sublinhado muito articulado da voz de acompanhamento que deixa de ser subalterna mas que entra num diálogo subtil com a voz "principal", mercê talvez do uso que Sokolov dá às duas mãos. Dir-se-ia que em Sokolov a frase feita (e com defeitos óbvios) "tem duas mãos direitas" é apropriada num abuso de linguagem que descreve a técnica e interpretação do pianista.
Outra coisa notável é a utilização totalmente diversa do pedal em Schubert e em Chopin. Em Schubert serve para criar ressonâncias e deixa a harmonia passear-se e transfigurar-se em múltiplas modulações; em Chopin, Sokolov utiliza-o como recurso estético criador e motivador da expressividade. Dir-se-ia que em Chopin o pedal serve sobretudo a expressividade e em Schubert serve a arquitectura. Factos que têm a ver com o fôlego das obras em presença e as indicações dos próprios compositores. Se Sokolov tivesse tocado mais uma das últimas sonatas de Schubert (na segunda parte) teríamos um recital violentíssimo do ponto de vista estético, emocional e de esforço para o pianista e público. Percebe-se assim a opção de Sokolov ao recriar os dois compositores, afinal não tão distantes como se poderá crer numa observação prévia e descuidada.
Creio que Sokolov entrou um pouco a frio e menos concentrado na fantasia opus 35, em que depois de um início extraordinário se desconcentrou e se desligou um pouco da obra. Mas sempre a um nível elevadíssimo regressou imediatamente ao nível da primeira parte para nos dar três improvisos construídos por secções, em camadas sucessivas, em recortes parciais, como as obras pedem. Um improviso não é, ad inicio, uma obra de arquitectura (mesmo que em Chopin exista uma grande coerência formal, estruturas circulares, cíclicas, ou mesmo que o improviso sirva para experimentação da forma) e Sokolov explorou a criação destes recortes nestas obras, uma interpretação muito construída, mais uma vez fruto de maturação intelectual evidente.
Os nocturnos foram marcados por uma atmosfera muito lírica. Depois de termos ouvido Sokolov a passear a sua tremenda capacidade analítica em Schubert e a sua tremenda capacidade técnica na articulação, criação de timbres particulares e sonoridades oscilando entre o pianíssissimo e o fortíssimo, sem nunca ferir ou martelar o instrumento, nas obras de Chopin que iniciaram a primeira parte, deixámo-nos repousar na calma falsamente simples dos nocturnos. Um momento quase de repouso antes da tremenda polaca final, uma obra da última maturidade do compositor composta três anos antes da morte pela doença que o debilitaria fatalmente (talvez a fibrose quística, nunca a tão falada tuberculose). Sokolov é para mim melhor em obras de grande fôlego, de dificuldade analítica, em obras com carga dramática. A sua inteligência e capacidade de transmitir o que quer e o que está enterrado nestas obras é quase prodigiosa, ver Sokolov a tocar uma pequena pérola de virtuosismo é quase um desperdício artístico, embora seja um prazer para os sentidos, hedonismo puro...
Os acordes iniciais da polaca opus 61 são uma espécie de pórtico de entrada para um tema muito expressivo, a polaca surge e desaparece submersa pela fantasia... Sokolov deu-nos uma interpretação de um vigor extremo e ao mesmo tempo de com uma grande fluidez de discurso e lirismo, que mais exigir a este grande músico? Sokolov atinge o belo e o infinito através das suas concepções.
Sokolov e o Belo.
De notar também a imensa gama tonal desta segunda parte do concerto, Sokolov entre tónicas dominantes e modulações visitou quase todos os tons possíveis num espectro tonal enorme escolhido dentro da obra de Chopin.
O membros do público, cujos telemóveis, bips e relógios com alarme, estiveram imparáveis no concerto, e abrilhantaram a interpretação de Sokolov com um coro afinadíssimo de tosses cavernosas, secas, expectorantes e guturais que rivalizaram com o piano de concerto com uma energia revigorante. Entretanto as senhoras abriam fechos eclairs de carteiras e bolsas, tiravam pastilhas e rebuçados dos invólucros crocantes e chupavam essas mesmas pastilhas com brio maxilar de grande inspiração. O ressonar de alguns membros masculinos do público, mais profundamente adormecidos nos acordes da profunda música de Chopin e de Schubert, foi um suave contraponto para o grande pianista e um fundo delicado para os pianíssimos, sobretudo os pianíssimos, do genial russo. Belo o despertar final do mesmo público para Sokolov acabar com seis extras! Três trechos de Rameau e três obras de Chopin, segundo creio duas mazurcas e um prelúdio. Um erro meu: confundi pelo menos dois trechos de Rameau com sonatas bipartidas de Scarlatti! O próprio Sokolov encarregar-se-ia de desfazer o equívoco junto de alguns amigos que me avisaram da gafe! Um obrigado a J.A. que telefonou. De qualquer forma as peças barrocas foram um autêntico espectáculo de articulação e digitação, mau grado uma passagem totalmente ao lado no último extra, talvez para contrabalançar com um toque polifónico de um telemóvel que até tinha chocalhos de vaca!
Um pouco mais a sério: um recital histórico de um grande pianista. Um homem generoso e dado ao público, independentemente da sua expressão facial pomposa e hirta!
O início da Polaca Fantasia Op. 61
Fantasia-Impromptu em Dó sustenido menor (Versão manuscrita, 1835)
Impromptu em Lá bemol Maior, op. 29 (1837)
Impromptu em Fá sustenido Maior, op. 36 (1839)
Impromptu em Sol bemol Maior, op. 51 (1842)
Dois Nocturnos, op. 62 (1845/46) (Si e Mi maior)
Polaca-Fantasia, em Lá bemol Maior, op. 61 (1845/46)
Em Chopin não conseguimos encontrar a mesma transcendência da interpretação dessa obra maior da música de todos os tempos que é a sonata em lá de Schubert. Digamos que Chopin nestas obras é mais acessível, sem querer dizer que seja mais simples ou menor em termos musicais.
Tivemos uma interpretação vigorosa, de um recorte de articulação excepcional, o rubato já foi utilizado de forma mais livre, ou não se tratasse de um programa votado à fantasia e ao improviso, fantasia e improviso que também povoam os nocturnos.
Tivemos um Sokolov sonhador, inspirado, denso, descobrindo atmosferas pouco exploradas em Chopin, como por exemplo o sublinhado muito articulado da voz de acompanhamento que deixa de ser subalterna mas que entra num diálogo subtil com a voz "principal", mercê talvez do uso que Sokolov dá às duas mãos. Dir-se-ia que em Sokolov a frase feita (e com defeitos óbvios) "tem duas mãos direitas" é apropriada num abuso de linguagem que descreve a técnica e interpretação do pianista.
Outra coisa notável é a utilização totalmente diversa do pedal em Schubert e em Chopin. Em Schubert serve para criar ressonâncias e deixa a harmonia passear-se e transfigurar-se em múltiplas modulações; em Chopin, Sokolov utiliza-o como recurso estético criador e motivador da expressividade. Dir-se-ia que em Chopin o pedal serve sobretudo a expressividade e em Schubert serve a arquitectura. Factos que têm a ver com o fôlego das obras em presença e as indicações dos próprios compositores. Se Sokolov tivesse tocado mais uma das últimas sonatas de Schubert (na segunda parte) teríamos um recital violentíssimo do ponto de vista estético, emocional e de esforço para o pianista e público. Percebe-se assim a opção de Sokolov ao recriar os dois compositores, afinal não tão distantes como se poderá crer numa observação prévia e descuidada.
Creio que Sokolov entrou um pouco a frio e menos concentrado na fantasia opus 35, em que depois de um início extraordinário se desconcentrou e se desligou um pouco da obra. Mas sempre a um nível elevadíssimo regressou imediatamente ao nível da primeira parte para nos dar três improvisos construídos por secções, em camadas sucessivas, em recortes parciais, como as obras pedem. Um improviso não é, ad inicio, uma obra de arquitectura (mesmo que em Chopin exista uma grande coerência formal, estruturas circulares, cíclicas, ou mesmo que o improviso sirva para experimentação da forma) e Sokolov explorou a criação destes recortes nestas obras, uma interpretação muito construída, mais uma vez fruto de maturação intelectual evidente.
Os nocturnos foram marcados por uma atmosfera muito lírica. Depois de termos ouvido Sokolov a passear a sua tremenda capacidade analítica em Schubert e a sua tremenda capacidade técnica na articulação, criação de timbres particulares e sonoridades oscilando entre o pianíssissimo e o fortíssimo, sem nunca ferir ou martelar o instrumento, nas obras de Chopin que iniciaram a primeira parte, deixámo-nos repousar na calma falsamente simples dos nocturnos. Um momento quase de repouso antes da tremenda polaca final, uma obra da última maturidade do compositor composta três anos antes da morte pela doença que o debilitaria fatalmente (talvez a fibrose quística, nunca a tão falada tuberculose). Sokolov é para mim melhor em obras de grande fôlego, de dificuldade analítica, em obras com carga dramática. A sua inteligência e capacidade de transmitir o que quer e o que está enterrado nestas obras é quase prodigiosa, ver Sokolov a tocar uma pequena pérola de virtuosismo é quase um desperdício artístico, embora seja um prazer para os sentidos, hedonismo puro...
Os acordes iniciais da polaca opus 61 são uma espécie de pórtico de entrada para um tema muito expressivo, a polaca surge e desaparece submersa pela fantasia... Sokolov deu-nos uma interpretação de um vigor extremo e ao mesmo tempo de com uma grande fluidez de discurso e lirismo, que mais exigir a este grande músico? Sokolov atinge o belo e o infinito através das suas concepções.
Sokolov e o Belo.
De notar também a imensa gama tonal desta segunda parte do concerto, Sokolov entre tónicas dominantes e modulações visitou quase todos os tons possíveis num espectro tonal enorme escolhido dentro da obra de Chopin.
O membros do público, cujos telemóveis, bips e relógios com alarme, estiveram imparáveis no concerto, e abrilhantaram a interpretação de Sokolov com um coro afinadíssimo de tosses cavernosas, secas, expectorantes e guturais que rivalizaram com o piano de concerto com uma energia revigorante. Entretanto as senhoras abriam fechos eclairs de carteiras e bolsas, tiravam pastilhas e rebuçados dos invólucros crocantes e chupavam essas mesmas pastilhas com brio maxilar de grande inspiração. O ressonar de alguns membros masculinos do público, mais profundamente adormecidos nos acordes da profunda música de Chopin e de Schubert, foi um suave contraponto para o grande pianista e um fundo delicado para os pianíssimos, sobretudo os pianíssimos, do genial russo. Belo o despertar final do mesmo público para Sokolov acabar com seis extras! Três trechos de Rameau e três obras de Chopin, segundo creio duas mazurcas e um prelúdio. Um erro meu: confundi pelo menos dois trechos de Rameau com sonatas bipartidas de Scarlatti! O próprio Sokolov encarregar-se-ia de desfazer o equívoco junto de alguns amigos que me avisaram da gafe! Um obrigado a J.A. que telefonou. De qualquer forma as peças barrocas foram um autêntico espectáculo de articulação e digitação, mau grado uma passagem totalmente ao lado no último extra, talvez para contrabalançar com um toque polifónico de um telemóvel que até tinha chocalhos de vaca!
Um pouco mais a sério: um recital histórico de um grande pianista. Um homem generoso e dado ao público, independentemente da sua expressão facial pomposa e hirta!
O início da Polaca Fantasia Op. 61
12.2.05
Eu também não!
Vejo este cartaz do PSD:
Realmente funciona, é que eu também não quero que eles voltem.
Estes também não:
Deixa-me ver o que sobra.
Realmente funciona, é que eu também não quero que eles voltem.
Estes também não:
Deixa-me ver o que sobra.
11.2.05
Links de blogues culturais
A ler um belo Blogue de Cesar de Oliveira:
http://hauptundneben.blogspot.com/
Um novo Blogue de Sérgio Azevedo, compositor português:
http://www.tonalatonal.blogspot.com/
Outro blogue que começa, e que pretende iniciar uma discussão cultural e musical:
http://cultura-pt.blogspot.com/
Os blogues e páginas musicais que formos descobrindo serão colocados na coluna do lado em destaque, sob a forma de "blogues musicais" (blogues) ou incluídos nos "links musicais" (sites e páginas culturais).
http://hauptundneben.blogspot.com/
Um novo Blogue de Sérgio Azevedo, compositor português:
http://www.tonalatonal.blogspot.com/
Outro blogue que começa, e que pretende iniciar uma discussão cultural e musical:
http://cultura-pt.blogspot.com/
Os blogues e páginas musicais que formos descobrindo serão colocados na coluna do lado em destaque, sob a forma de "blogues musicais" (blogues) ou incluídos nos "links musicais" (sites e páginas culturais).
Um concerto de boa qualidade
Um concerto da OSP ontem no CCB com direcção de Josep Caballé-Domenech com boa qualidade e que merece ser destacado.
O catalão Josep Caballé-Domenech, que desiludiu muito na Figueira da Foz, corrigiu o trabalho anterior e mostrou-se um maestro que pode vir a ter grande futuro, embora seja um pouco inexpressivo.
Valeu a pena ir ao CCB, o programa com obras de Wolfgang Rihm, Vers une symphonie fleuve IV, e de R. Strauss, Also sprach Zarathustra.
Rihm teve a sua sinfonia estreada em Portugal, uma obra muitíssimo bem escrita e bem explicada pela orquestra.
Strauss com altos e baixos. Baixos: entrada e saída!
Altos: o miolo da obra.
Este post será desenvolvido posteriormente.
Um concerto para 15 valores no Rihm e 14 no Strauss.
O público não acorreu, a sala estava muito vazia. Estes concertos têm algum interesse. Recomendamos o próximo, dia 16 pelas 21h no CCB, com direcção de Emilio Pomàrico.
O catalão Josep Caballé-Domenech, que desiludiu muito na Figueira da Foz, corrigiu o trabalho anterior e mostrou-se um maestro que pode vir a ter grande futuro, embora seja um pouco inexpressivo.
Valeu a pena ir ao CCB, o programa com obras de Wolfgang Rihm, Vers une symphonie fleuve IV, e de R. Strauss, Also sprach Zarathustra.
Rihm teve a sua sinfonia estreada em Portugal, uma obra muitíssimo bem escrita e bem explicada pela orquestra.
Strauss com altos e baixos. Baixos: entrada e saída!
Altos: o miolo da obra.
Este post será desenvolvido posteriormente.
Um concerto para 15 valores no Rihm e 14 no Strauss.
O público não acorreu, a sala estava muito vazia. Estes concertos têm algum interesse. Recomendamos o próximo, dia 16 pelas 21h no CCB, com direcção de Emilio Pomàrico.
Mais links úteis
Para músicos, musicólogos, críticos ou melómanos ávidos de conhecimento... Sites para todos os gostos.
Onde?
10.2.05
A Fundação Dolmetsch
Ao responder a um email de um leitor sobre recursos musicais on-line veio-me à memória um site com grande qualidade e disponibilizando uma vasta gama de recursos (em crescimento) que vão de cursos de música a inúmeros links de grande utilidade para músicos e amantes de música:
Fica aqui o link
dolmetsch online
O exemplo de que uma Fundação relacionada com uma casa comercial pode fazer pela música.
Isto leva-me para a questão de organizar neste blogue e noutros, uma verdadeira lista de links musicais para benefício de todos os que se interessam por estes assuntos.
Fica aqui o link
dolmetsch online
O exemplo de que uma Fundação relacionada com uma casa comercial pode fazer pela música.
Isto leva-me para a questão de organizar neste blogue e noutros, uma verdadeira lista de links musicais para benefício de todos os que se interessam por estes assuntos.
A música e considerações críticas
A sexta de Mahler já fez correr alguma tinta desde a morte de Mahler. As versões, as revisões, as edições. As duas pancadas de martelo contra as três pancadas da primeira versão. O próprio instrumento objecto das "pancadas secas, violentas e não metálicas", como construir um instrumento desses? A orquestração pesada e violenta da tremenda derrota do herói autobiográfico da sinfonia (na primeira versão), derrota escamoteada e pressentida apenas (na segunda versão) pelo diminuendo que acaba no vazio que encerra a obra, sem o clímax que Mahler previra na sua primeira escrita (também encerrada pelo mesmo diminuendo final). Uma escrita inicial que era ainda descomprometida, sem a sombra da superstição que o viria a atormentar no futuro próximo de uma estreia anunciada. Permaneceu uma espécie de mundo secreto de discussões entre músicos, maestros e musicólogos. Os ecos não chegam ao melómano menos preocupado com estas questões.
E foi uma oportunidade perdida de esses ecos chegarem ao público, creio eu, por um programa das Orquestras Mundiais que sublinha aspectos óbvios e esconde segredos que, no fundo, dão a dimensão profunda de uma obra cheia de dificuldades.
O porquê de um andamento lento em segundo ou terceiro lugar? A indicação no programa de uma ordem, uma edição crítica com a mesma ordem, e uma execução por ordem diversa. Cedendo neste lado a uma visão convencional e pouco meditada do próprio tecido harmónico da obra. Enfim, escolhas, desafios. São escolhos que, por estarem escondidos, não significam menor dificuldade e a possibilidade de um naufrágio...
Felizmente a música chega bela, independemente das discussões. Uma visão da obra que é coerente mas não é trágica, é uma visão adocicada que se coaduna com a revisão que Mahler fez da partitura para afastar os seus próprios fantasmas. É uma cedência, um compromisso. Por esse mesmo motivo o bucólico e o lírico são os lados mais exaltantes da interpretação de ontem. O fantasmagórico, o atormentado acabaram por não ter o remate lógico da obra... Que resulta plenamente, apesar disto tudo. O som que nos chega é perfeito, a música que se ouve é puro Mahler e a orquestra do Concertgebouw é realmente uma grande orquestra mundial, de primeiríssimo plano, e provou-se ontem.
Aos ouvidos pouco preocupados do melómano médio que tosse durante um concerto inteiro e se esquece do telemóvel ligado chega apenas a música, sem complexos...
Recomenda-se a escuta da primeira versão desta obra por Benjamin Zander. Uma das melhores abordagens que existe da sexta de Mahler.
P.S. Veremos como Imbal dirigirá esta sexta com a OSP no final da temporada.
E foi uma oportunidade perdida de esses ecos chegarem ao público, creio eu, por um programa das Orquestras Mundiais que sublinha aspectos óbvios e esconde segredos que, no fundo, dão a dimensão profunda de uma obra cheia de dificuldades.
O porquê de um andamento lento em segundo ou terceiro lugar? A indicação no programa de uma ordem, uma edição crítica com a mesma ordem, e uma execução por ordem diversa. Cedendo neste lado a uma visão convencional e pouco meditada do próprio tecido harmónico da obra. Enfim, escolhas, desafios. São escolhos que, por estarem escondidos, não significam menor dificuldade e a possibilidade de um naufrágio...
Felizmente a música chega bela, independemente das discussões. Uma visão da obra que é coerente mas não é trágica, é uma visão adocicada que se coaduna com a revisão que Mahler fez da partitura para afastar os seus próprios fantasmas. É uma cedência, um compromisso. Por esse mesmo motivo o bucólico e o lírico são os lados mais exaltantes da interpretação de ontem. O fantasmagórico, o atormentado acabaram por não ter o remate lógico da obra... Que resulta plenamente, apesar disto tudo. O som que nos chega é perfeito, a música que se ouve é puro Mahler e a orquestra do Concertgebouw é realmente uma grande orquestra mundial, de primeiríssimo plano, e provou-se ontem.
Aos ouvidos pouco preocupados do melómano médio que tosse durante um concerto inteiro e se esquece do telemóvel ligado chega apenas a música, sem complexos...
Recomenda-se a escuta da primeira versão desta obra por Benjamin Zander. Uma das melhores abordagens que existe da sexta de Mahler.
P.S. Veremos como Imbal dirigirá esta sexta com a OSP no final da temporada.
9.2.05
Mahler no Coliseu - 6ª Sinfonia
A indizível poesia do andante, os pianíssimos quase inaudíveis. As sonoridades das cordas, a doçura das madeiras, solos de flauta, oboé, clarinete. A suavidade da trompa. Os agudos dos violinos num cristal sem mácula, numa reverberação sem tempo. Suspensos nos Alpes eternos onde Mahler desenhou a sexta sinfonia encontrámos a paz comovente das visões eternas. Com uma entega sem limites que só tem origem num amor sem par Mariss Jansons e os músicos do Concertgebouw entregaram-nos neste andante a Alma chave para a música de Mahler, mesmo no tormento apaixonado das secções mais exaltadas a beleza sem par de uma ternura indizível transmitida pela serena celebração da música...
Mahler
Hoje no Coliseu, a mais trágica das suas sinfonias pela Orquestra da Sala de Concertos, Concertgebouw... (ler a propósito Amsterdam Mahler Festival Report.)
Uma programação de qualidade elevadíssima da Gulbenkian que não pode deixar de ser referenciada como do que melhor que se faz no mundo. Recordo alguns nomes em concertos do mais alto nível: Holliger, Jacobs, Quarteto Borodin, Pollini, S. Petersburg, Sokolov, etc, etc, etc...
Pena a música antiga ter passado um pouco ao lado desta programação que até teve direito a Jordi Savall amplificado.
Realce para programação da Casa da Música: alta qualidade no Porto. Será objecto de maior análise num post futuro.
Interrupção, a crítica musical segue dentro de momentos
Mais uma vez o S. Carlos está em risco de ficar sem dinheiro para realizar uma temporada de ópera, anunciada e caucionada por Teresa Caeiro e pela putativa ministra da cultura. É demais, mesmo no estertor da morte não conseguem parar.
E digo putativa porque apenas presumida e nunca assumida, porque a cultura não existe para esta gente. A cultura é de facto "orientada" por um rapazola sem sentido de estado, acabando despromovida e desorçamentada, a cultura, a par da saúde e do ensino, são para esta gentinha que supostamente nos governa os parentes pobres da governação e a última das últimas prioridades. Se fosse assim ainda nos poderíamos dar por contentes, o problema é que ainda é pior...
Trata-se de gente de má fé, arrivistas sem escrúpulos, gente sem palavra e que, ao não serem pessoas de bem, fazem com que o Estado, que somos todos nós, também não seja pessoa de bem. Um Estado que desonra o país e todos nós. Gente sem respeito pela palavra, pelas passoas, pelos compromissos assumidos. Gente que, em lugar do bem comum, procura o bem próprio quando ocupa lugares públicos.
É altura de varrer com esses miseráveis do poder.
Eu não voto PSD. Eu não voto PP.
E digo putativa porque apenas presumida e nunca assumida, porque a cultura não existe para esta gente. A cultura é de facto "orientada" por um rapazola sem sentido de estado, acabando despromovida e desorçamentada, a cultura, a par da saúde e do ensino, são para esta gentinha que supostamente nos governa os parentes pobres da governação e a última das últimas prioridades. Se fosse assim ainda nos poderíamos dar por contentes, o problema é que ainda é pior...
Trata-se de gente de má fé, arrivistas sem escrúpulos, gente sem palavra e que, ao não serem pessoas de bem, fazem com que o Estado, que somos todos nós, também não seja pessoa de bem. Um Estado que desonra o país e todos nós. Gente sem respeito pela palavra, pelas passoas, pelos compromissos assumidos. Gente que, em lugar do bem comum, procura o bem próprio quando ocupa lugares públicos.
É altura de varrer com esses miseráveis do poder.
Eu não voto PSD. Eu não voto PP.
Schubert III - Sokolov e o Infinito
O allegretto final é, na aparência, um rondo em que existe um tema principal que aparece periodicamente intercalado por secções contrastantes, neste caso construídas sempre com o mesmo material temático, um segundo tema que será desenvolvido sucessivamente em cada aparição. A melodia do primeiro tema é muito simples e muito bela, uma melodia típica do génio schubertiano. Logo na exposição do primeiro tema o sentido da frase, do canto, o legato e o cantabile de Sokolov vieram ao de cima. Um enunciado perfeito para o que se seguiria. Uma articulação muito precisa e o sentido rítmico do pianista deram a motricidade necessária ao rondo da sonata em lá.
O segundo tema é um gesto, e aqui confirma-se na maior plenitude a ideia de Hatten já aqui enunciada nesta série de textos, um gesto pianístico, um motivo ascendente de quatro notas, repetido, de uma simplicidade notável e de uma plasticidade e elasticidade capazes de levar a tonalidade para os destinos mais longínquos.
Schubert explora todas as potencialidades dos temas em presença, num equilíbrio tenso, aparentemente caótico, em que a tonalidade vai variando incessantemente. A tonalidade menor surge frequentemente, sendo a presença do dó sustenido menor um factor trágico aparente dissipado pelo dó maior que irrompe radiosamente antes do regresso ao Fá sustenido maior que abre o andamento.
A eloquência do pianista aparece aqui em toda a sua força, as frases que se sucedem são tratadas preparando o ouvido e espírito para o momento de beleza, e tristeza infinita, que coroa a sonata. A subtileza com que Sokolov faz introduzir cada harmonia, a forma como se deleita nas passagens mais gestuais em que o piano e o pianista acabam por ser um só, a forma como as passagens de transição harmónica são tratadas, sublinhando imperceptivelmente cada ressonância cada ponto mágico transformam a audição em concerto público desta sonata de Schubert num exercício quase esgotante de lógica e de sensibilidade. De retorno ao passado, de reencontro do compositor connosco, de meditação nas raízes mais profundas da nossa cultura e de nós próprios. Para além do infinito Schubert renasce a cada acorde de Sokolov. Deslumbrante.
É no regresso ao fá sustenido que, após o enunciado do primeiro tema, uma sucessão de pausas e repetições do tema, pausas cada vez mais insistentes, marca um dos aspectos mais trágicos da mensagem de Schubert em toda a sua música, sob o disfarce de um belo tema esconde-se o infinito. O canto interrompido do poeta, silêncio após silêncio, interrupção após interrupção. “Adeus, parto para uma viagem solitária” tal como o poeta da Viagem de Inverno, e cada vez mais o silêncio, obsessivo.
E surge deste silêncio uma tremenda coda numa raiva tempestuosa que acaba no lá maior inicial.
Sokolov e o infinito.
O segundo tema é um gesto, e aqui confirma-se na maior plenitude a ideia de Hatten já aqui enunciada nesta série de textos, um gesto pianístico, um motivo ascendente de quatro notas, repetido, de uma simplicidade notável e de uma plasticidade e elasticidade capazes de levar a tonalidade para os destinos mais longínquos.
Schubert explora todas as potencialidades dos temas em presença, num equilíbrio tenso, aparentemente caótico, em que a tonalidade vai variando incessantemente. A tonalidade menor surge frequentemente, sendo a presença do dó sustenido menor um factor trágico aparente dissipado pelo dó maior que irrompe radiosamente antes do regresso ao Fá sustenido maior que abre o andamento.
A eloquência do pianista aparece aqui em toda a sua força, as frases que se sucedem são tratadas preparando o ouvido e espírito para o momento de beleza, e tristeza infinita, que coroa a sonata. A subtileza com que Sokolov faz introduzir cada harmonia, a forma como se deleita nas passagens mais gestuais em que o piano e o pianista acabam por ser um só, a forma como as passagens de transição harmónica são tratadas, sublinhando imperceptivelmente cada ressonância cada ponto mágico transformam a audição em concerto público desta sonata de Schubert num exercício quase esgotante de lógica e de sensibilidade. De retorno ao passado, de reencontro do compositor connosco, de meditação nas raízes mais profundas da nossa cultura e de nós próprios. Para além do infinito Schubert renasce a cada acorde de Sokolov. Deslumbrante.
É no regresso ao fá sustenido que, após o enunciado do primeiro tema, uma sucessão de pausas e repetições do tema, pausas cada vez mais insistentes, marca um dos aspectos mais trágicos da mensagem de Schubert em toda a sua música, sob o disfarce de um belo tema esconde-se o infinito. O canto interrompido do poeta, silêncio após silêncio, interrupção após interrupção. “Adeus, parto para uma viagem solitária” tal como o poeta da Viagem de Inverno, e cada vez mais o silêncio, obsessivo.
E surge deste silêncio uma tremenda coda numa raiva tempestuosa que acaba no lá maior inicial.
Sokolov e o infinito.
8.2.05
Sokolov - Schubert II - O intermediário
Schubert doente, deprimido, as suas obras são um fracasso. Estamos em 1828, Beethoven está morto, o público burguês, o mesmo que ainda hoje vai a concertos, pede obras fáceis e com belos efeitos, nada do que Schubert quer escrever, o compositor procura o eterno...
Schubert é um poeta, a forma como põe em música os maiores poetas da sua língua é a prova mais intensa da utilização da música como meio de transformação e comunicação relativamente ao mundo. Schubert é o Mundo em música.
Esta perspectiva volta a notar-se na barcarola que inicia o segundo andamento da sonata em lá maior, uma barcarola que a pouco e pouco mostra a sua verdadeira face de marcha fúnebre. De repente, depois de alguns minutos de uma melancolia calma que caminha, surge uma atormentada e revoltada secção com um vigor e uma surpresa que, de modo algum, contrastam com a melancolia da marcha fúnebre anterior, duas formas duas paixões o mesmo estado de alma: a angústia perante a morte. Acordes menores são trovões que, nesta raiva incontida de Schubert perante a morte que se avizinha, fecham este momento para dar lugar, de novo, à marcha fúnebre inicial: A Marcha Fúnebre. O acompanhamento tem, nesta última caminhada, a adição de notas marcadas que conduzem a marcha até ao seu destino final, desolação... Serão os sinos que dobram por Schubert?
Este andamento foi um dos momentos mais marcantes e emocionantes do recital de ontem, pouco mais há a dizer. A essência de Sokolov neste andamento foi contenção e emoção, um jogo de tensão levado ao limite extremo.
Sokolov, o intermediário de Schubert
O terceiro andamento, um scherzo, é um breve momento de alegria, antes de regressar ao tumulto que atormenta Schubert, breve, contrasta com toda a sonata pela sua simplicidade formal. Um trio, com vozes bem diferenciadas e um pouco mais relaxado. Foi tocado por Sokolov com um virtuosismo também tranquilo. As dificuldades técnicas para Sokolov não devem ser mencionadas numa crítica, não existem. O que deve ser realçado é o aspecto musical, estético. Apenas esse lado pode ser estudado num recital deste nível. O que é certo é que o pianista aqui voltou a ser magistral na articulação e no jogo digital que resulta também no aspecto divertido do contraste de sonoridades e ressonâncias do instrumento. Um scherzo em toda a sua plenitude.
Sokolov, o vienense.
(continua)
Schubert é um poeta, a forma como põe em música os maiores poetas da sua língua é a prova mais intensa da utilização da música como meio de transformação e comunicação relativamente ao mundo. Schubert é o Mundo em música.
Esta perspectiva volta a notar-se na barcarola que inicia o segundo andamento da sonata em lá maior, uma barcarola que a pouco e pouco mostra a sua verdadeira face de marcha fúnebre. De repente, depois de alguns minutos de uma melancolia calma que caminha, surge uma atormentada e revoltada secção com um vigor e uma surpresa que, de modo algum, contrastam com a melancolia da marcha fúnebre anterior, duas formas duas paixões o mesmo estado de alma: a angústia perante a morte. Acordes menores são trovões que, nesta raiva incontida de Schubert perante a morte que se avizinha, fecham este momento para dar lugar, de novo, à marcha fúnebre inicial: A Marcha Fúnebre. O acompanhamento tem, nesta última caminhada, a adição de notas marcadas que conduzem a marcha até ao seu destino final, desolação... Serão os sinos que dobram por Schubert?
Este andamento foi um dos momentos mais marcantes e emocionantes do recital de ontem, pouco mais há a dizer. A essência de Sokolov neste andamento foi contenção e emoção, um jogo de tensão levado ao limite extremo.
Sokolov, o intermediário de Schubert
O terceiro andamento, um scherzo, é um breve momento de alegria, antes de regressar ao tumulto que atormenta Schubert, breve, contrasta com toda a sonata pela sua simplicidade formal. Um trio, com vozes bem diferenciadas e um pouco mais relaxado. Foi tocado por Sokolov com um virtuosismo também tranquilo. As dificuldades técnicas para Sokolov não devem ser mencionadas numa crítica, não existem. O que deve ser realçado é o aspecto musical, estético. Apenas esse lado pode ser estudado num recital deste nível. O que é certo é que o pianista aqui voltou a ser magistral na articulação e no jogo digital que resulta também no aspecto divertido do contraste de sonoridades e ressonâncias do instrumento. Um scherzo em toda a sua plenitude.
Sokolov, o vienense.
(continua)
Sokolov - Schubert I: a compreensão total
Um programa na Gulbenkian com a sonata D. 959, em Lá maior.
Uma obra notável cujo primeiro andamento é uma construção com uma arquitectura turbulenta caótica, mas profundamente pensada, segundo julgo e trabalhada ao pianoforte pelo compositor. O herói romântico começa a nascer, é impossível dissociar esta obra da doença de Schubert e de um discurso que se elaborou em centenas de lieder e que bebe a sua influência na fonte geradora de revolução, mas também de ordem, de Beethoven. Segundo Brendel: Schubert escolhe o caos, o Sturm und Drang que se aproxima ou já chegou:
"Mesmo nos seus momentos mais caóticos Beethoven escolhe (ou não o conseguia evitar) a representação da ordem, ao passo que a música composta por Schubert chega notavelmente perto do próprio caos."
O Verão de 1828 é o ano de criação desta sonata a par com a sonata em dó menor e sonata em si bemol.
A própria gestualidade dos temas na ligação do intérprete ao piano é complementar, como o professor Robert Hatten mostrou no seu artigo Hatten, Robert. "Schubert the Progressive: The Role of Resonance and Gesture in the Piano Sonata in A, D. 959," Intégral 7 (1993), 38-81. Mesmo sem pensarmos no contraste típico dos temas de sonata, existe uma complementaridade do gesto que explora aspectos heróicos (próprios do romantismo), estéticos, discursivos e as capacidades harmónicas do instrumento. O uso da mão esquerda produzindo som cujos harmónicos entram em ressonância com as notas produzidas pelas cordas mais agudas é particularmente explorado por Schubert. A utilização de divagações harmónicas, que no primeiro andamento não só vão à dominante (mi), mas que frequentemente, no tumulto discursivo do desenvolvimento dos temas, passam pelo modo menor e por tonalidades distantes como o fá maior. O desenvolvimento inicia-se ainda na fase de exposição! A secção tradicionalmente conotada com o desenvolvimento marca-se por uma mudança de acompanhamento e de ritmo na mão esquerda. No final da exposição, em pianíssimo, surge um novo motivo, uma variação se lhe quisermos chamar assim, um ponto mágico. Quando tudo parece terminado, e a sonata repousa já numa reexposição em lá maior depois de ter ficado estável na dominante no final da secção de desenvolvimento, Schubert, com um fogo criador que lhe é próprio neste final de vida vai buscar o tal fá maior com uma tremenda energia em que a coda final é mais um grito de raiva do que uma reminiscência de Beethoven (como tanto se tem escrito).
Neste recital que escutámos ontem os aspectos que Sokolov realçou foram exactamente o discurso heróico de Schubert, as ressonâncias do piano, um pianíssimo extremo e contido (no sentido em que é usado na economia da obra, reforçando o seu lado mágico), na turbulência do caos temático Sokolov encontrou o fio de Ariana deste andamento, a mão esquerda marcou ambientes, harmonias e temas a par da mão direita. O uso do pedal não empastelou o discurso e a géstica. O fraseado foi articulado, articulação foi exactamente a palavra aqui. O recorte e a articulação do gesto foram de tal forma perfeitos, e na medida em que se adaptam à obra, que se diria que Sokolov estudou tudo o que havia para estudar e meditar nesta interpretação.
Se alguém pensasse que Schubert não se tocava assim passaria a pensar de outra forma depois de escutar Sokolov. O que se passou foi também uma lição de reconstrução artística da interpretação de um compositor, foi uma lição de análise, uma lição de estética e de semiótica. A par de uma tremenda emoção e de um sentimento contido, mas tão profundo e tocante que quaisquer palavras são inúteis. Não se pode falar aqui em rubato, não existe rubato no Schubert de Sokolov, ao contrário do Chopin, existe uma métrica. Uma métrica subtil que propulsiona a obra do princípio ao fim de um só fôlego...
Outro aspecto é a construção do som, o doseamento do momento exacto do ataque com a velocidade e peso dos dedos criam inúmeros efeitos tímbricos que Sokolov explora até à exaustão no momento certo, sempre enquadrados no discurso, sempre reforçando a lógica e na economia da obra, sem excessos. Não sei se a obra foi escrita para ser tocada desta forma mas Sokolov faz-nos acreditar, em todos os momentos, na hipótese afirmativa.
Sokolov, o demiúrgo.
(continua)
Uma obra notável cujo primeiro andamento é uma construção com uma arquitectura turbulenta caótica, mas profundamente pensada, segundo julgo e trabalhada ao pianoforte pelo compositor. O herói romântico começa a nascer, é impossível dissociar esta obra da doença de Schubert e de um discurso que se elaborou em centenas de lieder e que bebe a sua influência na fonte geradora de revolução, mas também de ordem, de Beethoven. Segundo Brendel: Schubert escolhe o caos, o Sturm und Drang que se aproxima ou já chegou:
"Mesmo nos seus momentos mais caóticos Beethoven escolhe (ou não o conseguia evitar) a representação da ordem, ao passo que a música composta por Schubert chega notavelmente perto do próprio caos."
O Verão de 1828 é o ano de criação desta sonata a par com a sonata em dó menor e sonata em si bemol.
A própria gestualidade dos temas na ligação do intérprete ao piano é complementar, como o professor Robert Hatten mostrou no seu artigo Hatten, Robert. "Schubert the Progressive: The Role of Resonance and Gesture in the Piano Sonata in A, D. 959," Intégral 7 (1993), 38-81. Mesmo sem pensarmos no contraste típico dos temas de sonata, existe uma complementaridade do gesto que explora aspectos heróicos (próprios do romantismo), estéticos, discursivos e as capacidades harmónicas do instrumento. O uso da mão esquerda produzindo som cujos harmónicos entram em ressonância com as notas produzidas pelas cordas mais agudas é particularmente explorado por Schubert. A utilização de divagações harmónicas, que no primeiro andamento não só vão à dominante (mi), mas que frequentemente, no tumulto discursivo do desenvolvimento dos temas, passam pelo modo menor e por tonalidades distantes como o fá maior. O desenvolvimento inicia-se ainda na fase de exposição! A secção tradicionalmente conotada com o desenvolvimento marca-se por uma mudança de acompanhamento e de ritmo na mão esquerda. No final da exposição, em pianíssimo, surge um novo motivo, uma variação se lhe quisermos chamar assim, um ponto mágico. Quando tudo parece terminado, e a sonata repousa já numa reexposição em lá maior depois de ter ficado estável na dominante no final da secção de desenvolvimento, Schubert, com um fogo criador que lhe é próprio neste final de vida vai buscar o tal fá maior com uma tremenda energia em que a coda final é mais um grito de raiva do que uma reminiscência de Beethoven (como tanto se tem escrito).
Neste recital que escutámos ontem os aspectos que Sokolov realçou foram exactamente o discurso heróico de Schubert, as ressonâncias do piano, um pianíssimo extremo e contido (no sentido em que é usado na economia da obra, reforçando o seu lado mágico), na turbulência do caos temático Sokolov encontrou o fio de Ariana deste andamento, a mão esquerda marcou ambientes, harmonias e temas a par da mão direita. O uso do pedal não empastelou o discurso e a géstica. O fraseado foi articulado, articulação foi exactamente a palavra aqui. O recorte e a articulação do gesto foram de tal forma perfeitos, e na medida em que se adaptam à obra, que se diria que Sokolov estudou tudo o que havia para estudar e meditar nesta interpretação.
Se alguém pensasse que Schubert não se tocava assim passaria a pensar de outra forma depois de escutar Sokolov. O que se passou foi também uma lição de reconstrução artística da interpretação de um compositor, foi uma lição de análise, uma lição de estética e de semiótica. A par de uma tremenda emoção e de um sentimento contido, mas tão profundo e tocante que quaisquer palavras são inúteis. Não se pode falar aqui em rubato, não existe rubato no Schubert de Sokolov, ao contrário do Chopin, existe uma métrica. Uma métrica subtil que propulsiona a obra do princípio ao fim de um só fôlego...
Outro aspecto é a construção do som, o doseamento do momento exacto do ataque com a velocidade e peso dos dedos criam inúmeros efeitos tímbricos que Sokolov explora até à exaustão no momento certo, sempre enquadrados no discurso, sempre reforçando a lógica e na economia da obra, sem excessos. Não sei se a obra foi escrita para ser tocada desta forma mas Sokolov faz-nos acreditar, em todos os momentos, na hipótese afirmativa.
Sokolov, o demiúrgo.
(continua)
7.2.05
Os Erros do Simplismo
Creio que João Miranda do blasfémias até tem cultura científica, parece-me até que está ligado à investigação científica. Como tal é espantoso que, na sua ânsia de escrever um post breve, uma espécie de apotegma lapidar consiga ser tão impreciso, tão vago, e tão errado, vejamos:
7.2.05
O Ambientalista Liberal I
O ambiente é considerado uma causa de esquerda.
Repare-se no "Considerado", pergunto eu: Por quem? Em que circunstâncias? Se for pela esquerda talvez! Vejamos o meu exemplo: não sou de esquerda e defendo o ambiente, serei, sem o saber, um esquerdista encapotado?
Os ambientalistas atribuem ao capitalismo a origem de todos os males ambientais.
Quais ambientalistas? Qual capitalismo? Não é explicado. O padre da minha paróquia (fora de Lisboa) é ambientalista, leva as crianças ao campo, ensina-lhes as belezas que Deus colocou na terra, e como devem ser conservadas e recuperadas. Tem organizado sessões de limpeza nas matas. Queixa-se nas homilias da destruição que a poluição, produz. Condena as liberais explorações de suinos, que na ânsia do lucro fácil, destroem o ambiente. Não creio que seja comunista, socialista ou do bloco de esquerda. Defende a propriedade privada e livre iniciativa, com ética. Será um perigoso ambientalista comunista sem o saber?
O socialismo, seja lá o que isso é, foi responsável por uma destruição imensa da floresta do Centro da Europa. Por exemplo na Morávia com as chuvas ácidas, é ver as encostas de Praded expostas ao ventos que vêm da Silésia polaca...
O capitalismo é visto como uma força predadora da natureza porque o capitalista destrói o meio ambiente para obter lucro. O ambiente é considerado incompatível com o lucro e mesmo a única forma de se se chegar ao lucro.
O problema não é o capitalismo, nem o lucro, o problema é o capitalista liberal, o capitalista selvagem. Misturando tudo, sem dar definições apropriadas a cada situação consegue-se escrever um disparate em três tempos onde as ausências de postulado e de cadeia de raciocínio pontificam. Sem um "modus ponen", o silogismo toma conta do texto, um nevoeiro peganhento que contamina todo o texto. Sem proposições bem definidas, sem conclusões lógicas dignas desse nome.
Para o ambientalista típico,
O que é o ambientalista típico? Será que refere à média dos ambientalistas? À Quercus? A organizações portuguesas? A internacionais? Quais os pensadores ambientalistas que cita? Não cita, e mesmo que citasse? Seriam típicos? A única coisa típica é o texto descoordenado e vago de Miranda.
as empresas são inimigas do ambiente e por isso as actividades empresariais devem ser limitadas por leis e regulamentos. O ambiente deve estar acima da economia, diz-se.
Quem o diz? Os tais típicos? Ou os suinicultores? O padre ambientalista da minha paróquia? Fica no ar... Eu, que não sou de esquerda, concordo com a regulação dentro do sistema de mercado e livre iniciativa no investimento. O João Miranda vive num país de suinicultores e ainda não deu por isso. Está fechado onde? Na Universidade?
Os ambientalistas mais extremos dizem mesmo que o Homo Sapiens é uma espécie infestante que está a destruir o planeta. Daí às críticas ao consumo, e à defesa de políticas de controlo de natalidade e da pobreza como modo de vida é um pequeno passo.
O que é um ambientalista extremo? Será um louco? E um "mais extremo"? Haverá um extremo e um "mais" extremo? Falaremos de extremos relativos e absolutos? Não se percebe. Porquê associar um ambientalista mais extremo ao discurso anterior de Miranda. Para dar a ideia que são todos assim? O último impacto do texto? Ficamos a saber que S. Francisco, se adoptarmos os raciocínios silogisticos de Miranda, seria provavelmente um ambientalista dos mais extremos: visto que era um homem perigoso que defendia a pobreza como modo de vida! Um espécie de esquerdista radical extremo absoluto de comunista e ambientalista misturado. Um diabo este S. Francisco, até falava aos animais!
E o Miranda promete continuar:
(continua)
7.2.05
O Ambientalista Liberal I
O ambiente é considerado uma causa de esquerda.
Repare-se no "Considerado", pergunto eu: Por quem? Em que circunstâncias? Se for pela esquerda talvez! Vejamos o meu exemplo: não sou de esquerda e defendo o ambiente, serei, sem o saber, um esquerdista encapotado?
Os ambientalistas atribuem ao capitalismo a origem de todos os males ambientais.
Quais ambientalistas? Qual capitalismo? Não é explicado. O padre da minha paróquia (fora de Lisboa) é ambientalista, leva as crianças ao campo, ensina-lhes as belezas que Deus colocou na terra, e como devem ser conservadas e recuperadas. Tem organizado sessões de limpeza nas matas. Queixa-se nas homilias da destruição que a poluição, produz. Condena as liberais explorações de suinos, que na ânsia do lucro fácil, destroem o ambiente. Não creio que seja comunista, socialista ou do bloco de esquerda. Defende a propriedade privada e livre iniciativa, com ética. Será um perigoso ambientalista comunista sem o saber?
O socialismo, seja lá o que isso é, foi responsável por uma destruição imensa da floresta do Centro da Europa. Por exemplo na Morávia com as chuvas ácidas, é ver as encostas de Praded expostas ao ventos que vêm da Silésia polaca...
O capitalismo é visto como uma força predadora da natureza porque o capitalista destrói o meio ambiente para obter lucro. O ambiente é considerado incompatível com o lucro e mesmo a única forma de se se chegar ao lucro.
O problema não é o capitalismo, nem o lucro, o problema é o capitalista liberal, o capitalista selvagem. Misturando tudo, sem dar definições apropriadas a cada situação consegue-se escrever um disparate em três tempos onde as ausências de postulado e de cadeia de raciocínio pontificam. Sem um "modus ponen", o silogismo toma conta do texto, um nevoeiro peganhento que contamina todo o texto. Sem proposições bem definidas, sem conclusões lógicas dignas desse nome.
Para o ambientalista típico,
O que é o ambientalista típico? Será que refere à média dos ambientalistas? À Quercus? A organizações portuguesas? A internacionais? Quais os pensadores ambientalistas que cita? Não cita, e mesmo que citasse? Seriam típicos? A única coisa típica é o texto descoordenado e vago de Miranda.
as empresas são inimigas do ambiente e por isso as actividades empresariais devem ser limitadas por leis e regulamentos. O ambiente deve estar acima da economia, diz-se.
Quem o diz? Os tais típicos? Ou os suinicultores? O padre ambientalista da minha paróquia? Fica no ar... Eu, que não sou de esquerda, concordo com a regulação dentro do sistema de mercado e livre iniciativa no investimento. O João Miranda vive num país de suinicultores e ainda não deu por isso. Está fechado onde? Na Universidade?
Os ambientalistas mais extremos dizem mesmo que o Homo Sapiens é uma espécie infestante que está a destruir o planeta. Daí às críticas ao consumo, e à defesa de políticas de controlo de natalidade e da pobreza como modo de vida é um pequeno passo.
O que é um ambientalista extremo? Será um louco? E um "mais extremo"? Haverá um extremo e um "mais" extremo? Falaremos de extremos relativos e absolutos? Não se percebe. Porquê associar um ambientalista mais extremo ao discurso anterior de Miranda. Para dar a ideia que são todos assim? O último impacto do texto? Ficamos a saber que S. Francisco, se adoptarmos os raciocínios silogisticos de Miranda, seria provavelmente um ambientalista dos mais extremos: visto que era um homem perigoso que defendia a pobreza como modo de vida! Um espécie de esquerdista radical extremo absoluto de comunista e ambientalista misturado. Um diabo este S. Francisco, até falava aos animais!
E o Miranda promete continuar:
(continua)
6.2.05
Agenda a partir do Abrupto
A evolução que a influência dos blogues tem na política portuguesa, e noutros sectores, é cada vez maior. Independemente de blogues que abrem e fecham pouco depois ou mesmo de blogues "históricos" que fecharam, como a Janela Indiscreta, os blogs mais pesados têm um papel cada vez maior no sociedade portuguesa.
Hoje em dia ter ou não ter blog, ler ou não ler blogs é uma marca. É como quem tinha internet ou não, há uns anos atrás.
Menos do que veículos afirmação pessoal, que são, os blogues são também mecanismos de intervenção política e combate, talvez pouco ideológico (pela fraqueza de substrato filosófico de muitos dos intervenientes), mas muito de combate político e social.
Os blogues não se têm afirmado como mecanismo de pesquisa e de informação.
Isto a propósito da notável capacidade de análise política, do Pacheco Pereira, que no post há vida depois de 20 de Fevereiro, põe a nu as fragilidades de discurso e de carácter de Santana Lopes.
Santano Lopes reaje a este post de Pacheco Pereira, não há a menor sombra de dúvidas e faz uma série de enunciados contraditórios sobre o significado de vitória e derrota e sobre o papel do perder. Mostra uma total ausência de frieza perante um simples post de análise, Santana é bom no improviso, mas não consegue ser consequente e lógico perante um argumento de peso. Infelizmente Sócrates não consegue ser um tão bom adversário, nem tão inteligente como Pacheco Pereira. Pacheco obriga Santana a jogar à defesa coisa que Sócrates não consegue. Santana também teve sempre mais problemas com o PSD do que com o restante arco político, tem de lutar em duas frentes, e já sabemos que quem abre várias frentes perde em toda a linha.
É o destino de Santana, coisa que não me preocupa nada ao contrário do João Gonçalves do Portugal dos Pequeninos, agora rendido aos encantos de Sócrates depois de ter sido um Social Democrata convicto, o estertor de Santana é apenas um espasmo antes da morte política.
Fica uma pergunta: Pacheco Pereira quer mesmo que Santana Lopes e o PSD tenham uma derrota esmagadora, com uma péssima maioria absoluta para o PS?
O que me leva para a próxima questão: Marcelo Rebelo de Sousa ao apoiar o PSD, ao fazer campanha, e ao disponibilizar-se para ser candidato, não aceite, por Braga, estará a ser totalmente convicto? Ou será uma questão de estratégia?
Nota - Outros blogues como o Causa Nossa ou o Bloguítica do Paulo Gorjão ou mesmo, em muito menor medida, um bloge como o Blasfémias, onde pontifica o tecnológico e apotegmático João Miranda, vão marcando a agenda.
Muito mais que os blogues oficiais da campanha que ninguém lê, pois nesses blogues nada se debate e as ideias, poucas, estão mascaradas pela cosmética eleitoral.
Hoje em dia ter ou não ter blog, ler ou não ler blogs é uma marca. É como quem tinha internet ou não, há uns anos atrás.
Menos do que veículos afirmação pessoal, que são, os blogues são também mecanismos de intervenção política e combate, talvez pouco ideológico (pela fraqueza de substrato filosófico de muitos dos intervenientes), mas muito de combate político e social.
Os blogues não se têm afirmado como mecanismo de pesquisa e de informação.
Isto a propósito da notável capacidade de análise política, do Pacheco Pereira, que no post há vida depois de 20 de Fevereiro, põe a nu as fragilidades de discurso e de carácter de Santana Lopes.
Santano Lopes reaje a este post de Pacheco Pereira, não há a menor sombra de dúvidas e faz uma série de enunciados contraditórios sobre o significado de vitória e derrota e sobre o papel do perder. Mostra uma total ausência de frieza perante um simples post de análise, Santana é bom no improviso, mas não consegue ser consequente e lógico perante um argumento de peso. Infelizmente Sócrates não consegue ser um tão bom adversário, nem tão inteligente como Pacheco Pereira. Pacheco obriga Santana a jogar à defesa coisa que Sócrates não consegue. Santana também teve sempre mais problemas com o PSD do que com o restante arco político, tem de lutar em duas frentes, e já sabemos que quem abre várias frentes perde em toda a linha.
É o destino de Santana, coisa que não me preocupa nada ao contrário do João Gonçalves do Portugal dos Pequeninos, agora rendido aos encantos de Sócrates depois de ter sido um Social Democrata convicto, o estertor de Santana é apenas um espasmo antes da morte política.
Fica uma pergunta: Pacheco Pereira quer mesmo que Santana Lopes e o PSD tenham uma derrota esmagadora, com uma péssima maioria absoluta para o PS?
O que me leva para a próxima questão: Marcelo Rebelo de Sousa ao apoiar o PSD, ao fazer campanha, e ao disponibilizar-se para ser candidato, não aceite, por Braga, estará a ser totalmente convicto? Ou será uma questão de estratégia?
Nota - Outros blogues como o Causa Nossa ou o Bloguítica do Paulo Gorjão ou mesmo, em muito menor medida, um bloge como o Blasfémias, onde pontifica o tecnológico e apotegmático João Miranda, vão marcando a agenda.
Muito mais que os blogues oficiais da campanha que ninguém lê, pois nesses blogues nada se debate e as ideias, poucas, estão mascaradas pela cosmética eleitoral.
4.2.05
Crítica a Pollini no D.N.
Leio no Diário de Notícias a crítica de Bernardo Mariano ao concerto de Pollini já aqui falado. Segundo diz: Pollini perde e reencontra Chopin, como não disponho da versão on-line socorro-me das expressões retiradas do artigo:
"A primeira parte do recital foi um tanto ou quanto decepcionante" ... "Pollini despertara uma certa perplexidade pelas suas interpretações dos nocturnos op. 15 e op. 48 denotando pouco à-vontade e uma paleta difusa (ou rígida) de recursos para transpor aqueles ambientes pianisticos." "uma leitura [da balada no 3] um pouco aos repelões que prejudicou a clareza do seu discurso"...
Quem fala assim não é gago, o "malandro" do Pollini leva tareia do valente do Bernardo Mariano! E dou valor ao uso da "perplexidade" palavra em moda na crítica portuguesa!
Embora discorde da apreciação demasiado rigorosa sobre os nocturnos, acabo por ter uma visão parecida mas com a ressalva da qualidade enorme do recital do italiano...
Só estava à espera que quem escreve assim sobre Maurizio Pollini tivesse a mesma bitola, e coragem, para criticar o concerto de S. Roque com obras de Handel em que, segundo Mariano, "Handel chegou tarde".
É como um árbitro da terceira categoria que depois de não mostrar sequer o cartão amarelo aos pontapés nas canelas dados pela equipa do bairro venha a mostrar a cartolina encarnada a uma escorregadela de um jogador campeão do mundo...
"A primeira parte do recital foi um tanto ou quanto decepcionante" ... "Pollini despertara uma certa perplexidade pelas suas interpretações dos nocturnos op. 15 e op. 48 denotando pouco à-vontade e uma paleta difusa (ou rígida) de recursos para transpor aqueles ambientes pianisticos." "uma leitura [da balada no 3] um pouco aos repelões que prejudicou a clareza do seu discurso"...
Quem fala assim não é gago, o "malandro" do Pollini leva tareia do valente do Bernardo Mariano! E dou valor ao uso da "perplexidade" palavra em moda na crítica portuguesa!
Embora discorde da apreciação demasiado rigorosa sobre os nocturnos, acabo por ter uma visão parecida mas com a ressalva da qualidade enorme do recital do italiano...
Só estava à espera que quem escreve assim sobre Maurizio Pollini tivesse a mesma bitola, e coragem, para criticar o concerto de S. Roque com obras de Handel em que, segundo Mariano, "Handel chegou tarde".
É como um árbitro da terceira categoria que depois de não mostrar sequer o cartão amarelo aos pontapés nas canelas dados pela equipa do bairro venha a mostrar a cartolina encarnada a uma escorregadela de um jogador campeão do mundo...
S. Carlos na Penúria
Sabemos que não é feito o menor investimento no Teatro Nacional de S. Carlos, com um palco com muito más condições para produções teatrais, camarins muito fracos, sem salas de estar e de convívio dignas desse nome, sem habitabilidade, com salas de ensaios antigas e mal equipadas, uma sala principal com cadeiras desconfortáveis e más condições para o público, um salão nobre que serve de sala de ensaios da orquestra de forma quase indigna para se praticar a arte dos sons. Um teatro a precisar de urgentes reformas estruturais e de uma modernização total, a precisar de uma necessária e urgente (e tardia) aquisição de espaços de qualidade para albergar a orquestra e os seus serviços.
Passámos a saber, hoje, que o governo também não manda dinheiro para o S. Carlos para assegurar o seu funcionamento corrente.
É a cultura, estúpido!
Enfim, Portugal no seu melhor e o Portugal dos pequeninos a valer. O Portugal em que a palavra dada não interessa a ninguém, onde os direitos legítimos das pessoas são desprezados por políticos incapazes. Por acaso "Portugal dos pequeninos" é também o nome do blogue onde recolhi a informção e que costuma dar como culpado de todos os males da cultura em Portugal o dr. Pinamonti, director do Teatro de S. Carlos. Felizmente tem-se reconciliado nestes últimos tempos com o director e orientado o seu discurso e a sua pontaria para o sr. Lopes, com grande alegria minha e de muita gente que não suporta os concertos para violino do Chopin...
No Lopes é que não voto... Mas comparar Lopes a um Melro e Sócrates a uma Águia como faz o blog do João Gonçalves é de arrepiar. Nem Lopes canta como um Melro, é mais tipo corvo aldrabão, nem Sócrates é uma águia, diria mais que é uma espécie de passarão...
Passámos a saber, hoje, que o governo também não manda dinheiro para o S. Carlos para assegurar o seu funcionamento corrente.
É a cultura, estúpido!
Enfim, Portugal no seu melhor e o Portugal dos pequeninos a valer. O Portugal em que a palavra dada não interessa a ninguém, onde os direitos legítimos das pessoas são desprezados por políticos incapazes. Por acaso "Portugal dos pequeninos" é também o nome do blogue onde recolhi a informção e que costuma dar como culpado de todos os males da cultura em Portugal o dr. Pinamonti, director do Teatro de S. Carlos. Felizmente tem-se reconciliado nestes últimos tempos com o director e orientado o seu discurso e a sua pontaria para o sr. Lopes, com grande alegria minha e de muita gente que não suporta os concertos para violino do Chopin...
No Lopes é que não voto... Mas comparar Lopes a um Melro e Sócrates a uma Águia como faz o blog do João Gonçalves é de arrepiar. Nem Lopes canta como um Melro, é mais tipo corvo aldrabão, nem Sócrates é uma águia, diria mais que é uma espécie de passarão...
Abrupto e Barnabé
Não gosto de afirmações infundadas. Segundo leio no 100 nada da minha amiga Catarina Andrade Campos, os membros do Barnabé arrogam-se como o blog mais lido e com mais visitas, devo dizer que não acredito, não acredito no milhão de visitas que afirmam ter. Sei que o sistema de estatisticas do suporte que usam é completamente errado e dá valores totalmente disparatados.
Usar como referência esse sistema de estatísticas é cometer um acto de cegueira, demagogia ou mesmo de má fé. O combate político não justifica tudo, caros barnabistas e seria interessante e bonito ver uma reposição da verdade nas vossas páginas.
O Abrupto, pela sua qualidade e como espaço de debate inteligente e descomprometido, tem certamente muito mais leituras que o Barnabé, um blogue da esquerda moralista e inquisitorial.
O que afirmo tem a ver com a fiabilidade do sistema da Tecnhorati, público e comparável, que neste momento dá mais de 1700 páginas que citam esse blog contra as 1195 que actualmente citam o Barnabé. Um blog que tem 70% das citações de outro não pode ter mais visitante. É um absurdo estatístico.
Creio que o Abrupto de Pacheco Pereira não está nada preocupado com esta mentirola de chico esperto. Continua impávido e sereno na sua caminhada...
Usar como referência esse sistema de estatísticas é cometer um acto de cegueira, demagogia ou mesmo de má fé. O combate político não justifica tudo, caros barnabistas e seria interessante e bonito ver uma reposição da verdade nas vossas páginas.
O Abrupto, pela sua qualidade e como espaço de debate inteligente e descomprometido, tem certamente muito mais leituras que o Barnabé, um blogue da esquerda moralista e inquisitorial.
O que afirmo tem a ver com a fiabilidade do sistema da Tecnhorati, público e comparável, que neste momento dá mais de 1700 páginas que citam esse blog contra as 1195 que actualmente citam o Barnabé. Um blog que tem 70% das citações de outro não pode ter mais visitante. É um absurdo estatístico.
Creio que o Abrupto de Pacheco Pereira não está nada preocupado com esta mentirola de chico esperto. Continua impávido e sereno na sua caminhada...
Agradecimentos
Quero agradecer os emails de pessoas que me escreveram a elogiar a crítica da Medeia, e curiosamente, de alguns membros da própria orquestra.
Apercebi-me que muitos lugares estavam vagos no último acto, esse facto proporcionou-me até uma mudança de lugar para uma posição mais confortável, até porque tinha uma pequena distensão muscular que me atormentava. Segundo percebi pelos emails recebidos algumas dessas pessoas, devidamente identificadas, abandonaram a sala por desgosto com o que se estava a passar e cito:
"Bravo, sua crítica foi o melhor da ópera. Não fiquei no fim mas já sabia que as crianças morriam. Uma porcaria."
Ou então os comentários de que a tosse e gripe talvez tivessem influenciado o público, realmente a Medeia foi mais um oceano de tosses.
Obrigado a quem me escreveu. É bom saber que a procura da exigência não é apenas um "defeito" meu e de alguns amigos que assistiram à récita de segunda feira. Após a leitura dos emails fiquei mais descansado, a crítica é uma actividade solitária e difícil. Custa-me muito ser rigoroso quando as coisas correm mal, mas é um dever e sofro verdadeiramente. Creio que, no entanto, ser verdadeiro é útil e construtivo, obriga a pensar e a melhorar.
Este blogue surgiu quase como uma brincadeira, nunca pensei que viesse a ter as repercussões que teve, foi anónimo durante muito tempo porque o que me interessava era a ideia e o debate e nunca o protagonismo pessoal. Deixou de ser anónimo porque resolvi assumir publicamente a responsabilidade do que dizia e porque assim me exigiam os criticados. Continuo a dizer a verdade e o que sinto com o maior sentido da justiça como fazia no início e da mesma forma. Nem tudo o que se afirma aqui é consensual ou conformista, e ainda bem, existem muitas visões possíveis e isso é saudável, neste mesmo blogue já tivemos polémica interna. Não devo nada a ninguém, talvez ao banco... não tenho nenhum emprego dependente da música, não procuro lugares ou posições. Sou professor universitário, fora da área musical, e estou muito satisfeito com a independência que isso me dá para poder escrever sem peias e sobre tudo o que me apetece. Muitas vezes tenho pouco tempo e o blogue fica muitos dias sem ser alimentado, mas vamos tentando na medida dos nossos parcos conhecimentos e com os erros que vamos cometendo, que são muitos, melhorar o que aqui é dito com a ajuda de alguns amigos que aqui escrevem.
Obrigado
Henrique Silveira
Apercebi-me que muitos lugares estavam vagos no último acto, esse facto proporcionou-me até uma mudança de lugar para uma posição mais confortável, até porque tinha uma pequena distensão muscular que me atormentava. Segundo percebi pelos emails recebidos algumas dessas pessoas, devidamente identificadas, abandonaram a sala por desgosto com o que se estava a passar e cito:
"Bravo, sua crítica foi o melhor da ópera. Não fiquei no fim mas já sabia que as crianças morriam. Uma porcaria."
Ou então os comentários de que a tosse e gripe talvez tivessem influenciado o público, realmente a Medeia foi mais um oceano de tosses.
Obrigado a quem me escreveu. É bom saber que a procura da exigência não é apenas um "defeito" meu e de alguns amigos que assistiram à récita de segunda feira. Após a leitura dos emails fiquei mais descansado, a crítica é uma actividade solitária e difícil. Custa-me muito ser rigoroso quando as coisas correm mal, mas é um dever e sofro verdadeiramente. Creio que, no entanto, ser verdadeiro é útil e construtivo, obriga a pensar e a melhorar.
Este blogue surgiu quase como uma brincadeira, nunca pensei que viesse a ter as repercussões que teve, foi anónimo durante muito tempo porque o que me interessava era a ideia e o debate e nunca o protagonismo pessoal. Deixou de ser anónimo porque resolvi assumir publicamente a responsabilidade do que dizia e porque assim me exigiam os criticados. Continuo a dizer a verdade e o que sinto com o maior sentido da justiça como fazia no início e da mesma forma. Nem tudo o que se afirma aqui é consensual ou conformista, e ainda bem, existem muitas visões possíveis e isso é saudável, neste mesmo blogue já tivemos polémica interna. Não devo nada a ninguém, talvez ao banco... não tenho nenhum emprego dependente da música, não procuro lugares ou posições. Sou professor universitário, fora da área musical, e estou muito satisfeito com a independência que isso me dá para poder escrever sem peias e sobre tudo o que me apetece. Muitas vezes tenho pouco tempo e o blogue fica muitos dias sem ser alimentado, mas vamos tentando na medida dos nossos parcos conhecimentos e com os erros que vamos cometendo, que são muitos, melhorar o que aqui é dito com a ajuda de alguns amigos que aqui escrevem.
Obrigado
Henrique Silveira
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