9.2.05
Schubert III - Sokolov e o Infinito
O allegretto final é, na aparência, um rondo em que existe um tema principal que aparece periodicamente intercalado por secções contrastantes, neste caso construídas sempre com o mesmo material temático, um segundo tema que será desenvolvido sucessivamente em cada aparição. A melodia do primeiro tema é muito simples e muito bela, uma melodia típica do génio schubertiano. Logo na exposição do primeiro tema o sentido da frase, do canto, o legato e o cantabile de Sokolov vieram ao de cima. Um enunciado perfeito para o que se seguiria. Uma articulação muito precisa e o sentido rítmico do pianista deram a motricidade necessária ao rondo da sonata em lá.
O segundo tema é um gesto, e aqui confirma-se na maior plenitude a ideia de Hatten já aqui enunciada nesta série de textos, um gesto pianístico, um motivo ascendente de quatro notas, repetido, de uma simplicidade notável e de uma plasticidade e elasticidade capazes de levar a tonalidade para os destinos mais longínquos.
Schubert explora todas as potencialidades dos temas em presença, num equilíbrio tenso, aparentemente caótico, em que a tonalidade vai variando incessantemente. A tonalidade menor surge frequentemente, sendo a presença do dó sustenido menor um factor trágico aparente dissipado pelo dó maior que irrompe radiosamente antes do regresso ao Fá sustenido maior que abre o andamento.
A eloquência do pianista aparece aqui em toda a sua força, as frases que se sucedem são tratadas preparando o ouvido e espírito para o momento de beleza, e tristeza infinita, que coroa a sonata. A subtileza com que Sokolov faz introduzir cada harmonia, a forma como se deleita nas passagens mais gestuais em que o piano e o pianista acabam por ser um só, a forma como as passagens de transição harmónica são tratadas, sublinhando imperceptivelmente cada ressonância cada ponto mágico transformam a audição em concerto público desta sonata de Schubert num exercício quase esgotante de lógica e de sensibilidade. De retorno ao passado, de reencontro do compositor connosco, de meditação nas raízes mais profundas da nossa cultura e de nós próprios. Para além do infinito Schubert renasce a cada acorde de Sokolov. Deslumbrante.
É no regresso ao fá sustenido que, após o enunciado do primeiro tema, uma sucessão de pausas e repetições do tema, pausas cada vez mais insistentes, marca um dos aspectos mais trágicos da mensagem de Schubert em toda a sua música, sob o disfarce de um belo tema esconde-se o infinito. O canto interrompido do poeta, silêncio após silêncio, interrupção após interrupção. “Adeus, parto para uma viagem solitária” tal como o poeta da Viagem de Inverno, e cada vez mais o silêncio, obsessivo.
E surge deste silêncio uma tremenda coda numa raiva tempestuosa que acaba no lá maior inicial.
Sokolov e o infinito.
O segundo tema é um gesto, e aqui confirma-se na maior plenitude a ideia de Hatten já aqui enunciada nesta série de textos, um gesto pianístico, um motivo ascendente de quatro notas, repetido, de uma simplicidade notável e de uma plasticidade e elasticidade capazes de levar a tonalidade para os destinos mais longínquos.
Schubert explora todas as potencialidades dos temas em presença, num equilíbrio tenso, aparentemente caótico, em que a tonalidade vai variando incessantemente. A tonalidade menor surge frequentemente, sendo a presença do dó sustenido menor um factor trágico aparente dissipado pelo dó maior que irrompe radiosamente antes do regresso ao Fá sustenido maior que abre o andamento.
A eloquência do pianista aparece aqui em toda a sua força, as frases que se sucedem são tratadas preparando o ouvido e espírito para o momento de beleza, e tristeza infinita, que coroa a sonata. A subtileza com que Sokolov faz introduzir cada harmonia, a forma como se deleita nas passagens mais gestuais em que o piano e o pianista acabam por ser um só, a forma como as passagens de transição harmónica são tratadas, sublinhando imperceptivelmente cada ressonância cada ponto mágico transformam a audição em concerto público desta sonata de Schubert num exercício quase esgotante de lógica e de sensibilidade. De retorno ao passado, de reencontro do compositor connosco, de meditação nas raízes mais profundas da nossa cultura e de nós próprios. Para além do infinito Schubert renasce a cada acorde de Sokolov. Deslumbrante.
É no regresso ao fá sustenido que, após o enunciado do primeiro tema, uma sucessão de pausas e repetições do tema, pausas cada vez mais insistentes, marca um dos aspectos mais trágicos da mensagem de Schubert em toda a sua música, sob o disfarce de um belo tema esconde-se o infinito. O canto interrompido do poeta, silêncio após silêncio, interrupção após interrupção. “Adeus, parto para uma viagem solitária” tal como o poeta da Viagem de Inverno, e cada vez mais o silêncio, obsessivo.
E surge deste silêncio uma tremenda coda numa raiva tempestuosa que acaba no lá maior inicial.
Sokolov e o infinito.
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