29.4.05
O Blogue
Quando reparo que tenho previstos mais sete ou oito posts sobre concertos da "Festa da Música" e ainda uma conclusão sobre as Conferências da Caixa do António Pinho Vargas, conferências no meu entender bem importantes para uma reflexão sobre a nossa cultura e o nosso tempo. Quando me lembro quão agradável foi conhecer o Francisco José Viegas no lançamento do seu último livro, Longe de Manaus, e ainda nem uma palavra lhe dirigi, nem sequer comecei a ler o livro. Quando reparo que a série "Crítica a uma voz por parte" ainda está com Bach em Weimar, e foi deixada a meio há largos meses. Quando reparo que a prometida comparação de interpretações de Lições das Trevas de Couperin e Charpentier, prometida nos primeiros tempos do Blogue, ainda está por fazer, e já novas edições se juntaram às que eu tinha prometido comentar. Quando reparo que o Hitler já passou mais dias no cinema do que os dez dias de que fala o filme e eu ainda não o vi... Quando reparo nisso tudo decido passar o fim de semana fora!
Santarém para começar, ainda hoje uma jantarada bem regada, cartas dadas no bridge ou no poker, charutos a condizer... Depois, amanhã, logo se vê onde ficamos!
E agora arrumar a loja e fechar a mala que se faz tarde, domingo ou segunda há tempo para blogar...
P.S. Ah! E não esquecer o Livro do Francisco José Viegas fora da mala.
Santarém para começar, ainda hoje uma jantarada bem regada, cartas dadas no bridge ou no poker, charutos a condizer... Depois, amanhã, logo se vê onde ficamos!
E agora arrumar a loja e fechar a mala que se faz tarde, domingo ou segunda há tempo para blogar...
P.S. Ah! E não esquecer o Livro do Francisco José Viegas fora da mala.
Quarteto Prazak e um clarinetista - Dois concertos no sábado - Notas de audição 5
O quarteto Prazak é quase sui generis hoje, interpreta música de câmara na sua expressão mais viva e clássica (no sentido histórico do termo), como se estivessem em casa, num dia à noite.
Um quarteto em que temos a soma de personalidades sem que estas se apaguem, uma espécie de quarteto dos primeiros tempos deste tipo de música: quatro amigos reunidos, neste caso bons músicos, e fazem música por prazer. Não estamos em presença de visões uniformes, de análises demasiado intelectualizadas. No caso do quarteto Prazak pode-se até dizer que são rústicos, a sonoridade é rude, angulosa. Onde os Ysaÿe são elegantes e refinados, uniformes, pensados, redondos, os Prazak são rústicos e bárbaros, pouco homogéneos, intuitivos, angulosos. Significa isso que é um quarteto menor? A resposta é um rotundo não!
Nada nos diz que a música feita com entusiasmo, prazer puro, intuição, retorno às origens, é má música, antes pelo contrário. Acontecimentos como a Festa da Música são ocasiões de poder comparar diferentes visões num período de tempo curto, apesar das críticas que se podem fazer a este tipo de eventos e que serão analisadas com calma no futuro. Esta possibilidade é única, poder ouvir grandes quartetos de cordas (ou outras formações) em repertórios semelhantes é um valor inestimável.
Falemos então dos Prazak: como foi dito a sua concepção de música de câmara é muito intuitiva e livre, o seu maior valor é o entusiasmo e felicidade com que fazem música, parecem realmente quatro amigos a tocar juntos sem obliterar as suas personalidades de origem. Um violoncelo sonoro e cheio de carácter, um viola com sonoridade densa e aveludada, um segundo violino que não se apaga perante o primeiro e um primeiro violino com uma sonoridade rude mas, ao mesmo tempo, forte e expressiva.
No quarteto opus 127, sábado à tarde (15h15m na sala Holz), tivemos uma vigorosa leitura de um dos cinco últimos quartetos de Beethoven. Uma introdução com erros, notas erradas, desafinações, mas o resto quase perfeito na linha de que falei acima. Torna-se evidente que os andamentos rápidos são muito empolgantes e o scherzo foi brindado por uma tremenda salva de palmas, por parte de um público menos sabedor mas generoso. Não sei se fiz bem em ter ficado de nariz empinado olhando com desdém para quem batia palmas entre andamentos, afinal a celebração natural da música por este quarteto coaduna-se bem com as palmas entre andamentos. Como teria sido há duzentos anos? Certamente que teríamos palmas e comentários não só entre andamentos como durante a execução...
Um final brilhante e apaixonado culminou um belo concerto.
Pelas 18h15m o mesmo quarteto na mesma sala com duas interpretações radicalmente distintas, Roman Guyot clarinete juntou-se ao quarteto Prazak para o belíssimo quinteto de Weber, o opus 34 em si bemol maior, um quarteto de cordas com uma parte solística e virtuosística para clarinete. Infelizmente a interpretação de Guyot foi confrangedora, sonoridade excessiva, pouca subtileza, frases por terminar, falta de sentido de respiração, articulação trapalhona. O Scherzo foi um desastre, a fluidez que se requer essencial para uma leitura que tem de parecer fácil (e não o é) foi nula, notas erradas, desespero no fraseado em que se notou grande dificuldade. Uma escolha de palheta demasiado forte? O último andamento, rondo, voltou a ter esses mesmos erros. O quarteto de cordas esteve ao seu nível habitual. O programa não incluiu os nomes completos dos andamentos:
(As notas dizem respeito ao clarinete.)
1 Allegro. Médio fraco.
2 Fantasia - adagio ma non troppo. Razoável mas pouco sensível.
3 Menuetto - Capriccio Presto. Muito mau, desastroso
4 Rondo - allegro giocoso. Pouco fluido, lido de forma anódina e com final a retardar nas tercinas de semicolcheia.
O mesmo concerto prosseguiu com uma grande fuga opus 133 de Beethoven em si bemol maior, o final original para o opus 130 e aqui retirada do contexto. Uma obra fora do tempo e fora do mundo, um grande arco musical, o expoente dos expoentes dos últimos quartetos e de toda a obra do mestre de Bona. A visão do Prazak foi atormentada, solística em cada uma das partes, agreste. Ficou quase irrespirável o ar devido à carga da obra e à hipersensibilidade (sem cair no sentimentalismo) com que a obra foi executada. Não sei se foi uma boa interpretação, nem me interessa. Foi uma visão arrasadora, esmagadora. Saí deprimido pela gigantesca carga desta música.
Um concerto com duas partes totalmente distintas.
Um quarteto em que temos a soma de personalidades sem que estas se apaguem, uma espécie de quarteto dos primeiros tempos deste tipo de música: quatro amigos reunidos, neste caso bons músicos, e fazem música por prazer. Não estamos em presença de visões uniformes, de análises demasiado intelectualizadas. No caso do quarteto Prazak pode-se até dizer que são rústicos, a sonoridade é rude, angulosa. Onde os Ysaÿe são elegantes e refinados, uniformes, pensados, redondos, os Prazak são rústicos e bárbaros, pouco homogéneos, intuitivos, angulosos. Significa isso que é um quarteto menor? A resposta é um rotundo não!
Nada nos diz que a música feita com entusiasmo, prazer puro, intuição, retorno às origens, é má música, antes pelo contrário. Acontecimentos como a Festa da Música são ocasiões de poder comparar diferentes visões num período de tempo curto, apesar das críticas que se podem fazer a este tipo de eventos e que serão analisadas com calma no futuro. Esta possibilidade é única, poder ouvir grandes quartetos de cordas (ou outras formações) em repertórios semelhantes é um valor inestimável.
Falemos então dos Prazak: como foi dito a sua concepção de música de câmara é muito intuitiva e livre, o seu maior valor é o entusiasmo e felicidade com que fazem música, parecem realmente quatro amigos a tocar juntos sem obliterar as suas personalidades de origem. Um violoncelo sonoro e cheio de carácter, um viola com sonoridade densa e aveludada, um segundo violino que não se apaga perante o primeiro e um primeiro violino com uma sonoridade rude mas, ao mesmo tempo, forte e expressiva.
No quarteto opus 127, sábado à tarde (15h15m na sala Holz), tivemos uma vigorosa leitura de um dos cinco últimos quartetos de Beethoven. Uma introdução com erros, notas erradas, desafinações, mas o resto quase perfeito na linha de que falei acima. Torna-se evidente que os andamentos rápidos são muito empolgantes e o scherzo foi brindado por uma tremenda salva de palmas, por parte de um público menos sabedor mas generoso. Não sei se fiz bem em ter ficado de nariz empinado olhando com desdém para quem batia palmas entre andamentos, afinal a celebração natural da música por este quarteto coaduna-se bem com as palmas entre andamentos. Como teria sido há duzentos anos? Certamente que teríamos palmas e comentários não só entre andamentos como durante a execução...
Um final brilhante e apaixonado culminou um belo concerto.
Pelas 18h15m o mesmo quarteto na mesma sala com duas interpretações radicalmente distintas, Roman Guyot clarinete juntou-se ao quarteto Prazak para o belíssimo quinteto de Weber, o opus 34 em si bemol maior, um quarteto de cordas com uma parte solística e virtuosística para clarinete. Infelizmente a interpretação de Guyot foi confrangedora, sonoridade excessiva, pouca subtileza, frases por terminar, falta de sentido de respiração, articulação trapalhona. O Scherzo foi um desastre, a fluidez que se requer essencial para uma leitura que tem de parecer fácil (e não o é) foi nula, notas erradas, desespero no fraseado em que se notou grande dificuldade. Uma escolha de palheta demasiado forte? O último andamento, rondo, voltou a ter esses mesmos erros. O quarteto de cordas esteve ao seu nível habitual. O programa não incluiu os nomes completos dos andamentos:
(As notas dizem respeito ao clarinete.)
1 Allegro. Médio fraco.
2 Fantasia - adagio ma non troppo. Razoável mas pouco sensível.
3 Menuetto - Capriccio Presto. Muito mau, desastroso
4 Rondo - allegro giocoso. Pouco fluido, lido de forma anódina e com final a retardar nas tercinas de semicolcheia.
O mesmo concerto prosseguiu com uma grande fuga opus 133 de Beethoven em si bemol maior, o final original para o opus 130 e aqui retirada do contexto. Uma obra fora do tempo e fora do mundo, um grande arco musical, o expoente dos expoentes dos últimos quartetos e de toda a obra do mestre de Bona. A visão do Prazak foi atormentada, solística em cada uma das partes, agreste. Ficou quase irrespirável o ar devido à carga da obra e à hipersensibilidade (sem cair no sentimentalismo) com que a obra foi executada. Não sei se foi uma boa interpretação, nem me interessa. Foi uma visão arrasadora, esmagadora. Saí deprimido pela gigantesca carga desta música.
Um concerto com duas partes totalmente distintas.
Impressões de Bavouzet - Notas de audição 4 - Sábado e domingo
Para conseguir colocar neste espaço todas as notas que fui tirando, terei de ser mais breve nas minhas apreciações, senão vou continuar a escrever sobre esta Festa da Música já depois da próxima ter acabado.
Jean-Efflam Bavouzet é um pianista francês, é pouco referenciado pela crítica oficial, não suscita as paixão de Berezovsky, Lugansky ou mesmo Melnikov, que também estiveram presentes no CCB no último fim de semana.
Tomámos contacto com Jean-Efflam a tocar Wagner e Liszt na edição do ano passado naquilo que foi um concerto de altíssimo nível. Neste ano assistimos à sonata opus 31, nº3, em mi bemol maior e à espantosa sonata opus 106, Hammerklavier (piano de martelos) cuja abordagem é já de si um acto de grande coragem, ainda por cima no final de um fim de semana extenuante.
A sonata em mi bemol maior foi executada com clareza, luminosidade. Bavouzet deu-nos uma visão da sonata como se tratasse de um imenso scherzo de um Beethoven cheio de força e ainda optimista. "Uma sonata lúdica" como Bavouzet nos disse, se repararmos nos andamentos encontramos Allegro, Scherzo: allegro vivace, Menuetto: moderato e gracioso, Presto con fuoco! Curiosamente foi no scherzo que notámos ligeiríssimos problemas de fluidez discursiva, mas foi uma prestação de bom nível, com um último andamento impressionante.
A Hammerklavier em si bemol maior foi toda uma outra história, a maturidade, a experimentalidade da sonata, foram levadas ao extremo por uma leitura apaixonada e vigorosa de Bavouzet. Beethoven disse desta sonata: "Uma sonata que será tocada até daqui a cinquenta anos!" Não teve grande sucesso em tempos de Beethoven, as suas dimensões imensas (de longe a mais longa de Beethoven) e a sua dificuldade técnica e de concepção fazem desta peça tremenda uma espécie de anjo e demónio de qualquer pianista. Um allegro (2/2) inicial em que a utilização da mão esquerda por Bavouzet deu exactamente a visão necessária ao significado experimental da sonata. O scherzo (3/4), uma espécie de preparação para o gigantesco adagio sostenuto (6/8) que se segue, foi atacado com uma fluidez espantosa em que o tempo se suspendeu imperceptivelmente. O adagio sostenuto (6/8) único andamento que sai do si bemol maior é em tom menor (fá# menor) é o verdadeiro coração da sonata que se alonga por um tempo infinito, é um momento máximo de Beethoven e da história da música.
Bavouzet como pianista pensador e intelectual que é, fez uma leitura de grande respeito pelo texto, sem abusar do rubato, mantendo um enorme equilíbrio entre as vozes, a mão esquerda e direita, o uso muito contido e subtil do pedal, escrito na partitura, e uma sensibilidade extrema alicerçada numa enorme visão musical deram uma espantosa realização que fizeram deste concerto um dos mais memoráveis momentos deste fim de semana.
O final, largo-allegro resoluto (4/4) ainda sob os eflúvios intoxicantes do adagio, é uma construção visionária, "uma espécie de Shostakovitsch, não é?" ao que nós respondemos: "parece que tocaste mais como Prokofiev!" E Bavouzet: "C'est ça!" Ou seja, este final de uma sonata intemporal e experimental, bizarra no seu tempo, misteriosa, precursora e percussiva, foi lido numa vertigem que algumas notas erradas não tiraram qualquer mérito.
Um concerto de altíssimo nível por um pianista negligenciado pelos jornais.
P.S. Com o entusiasmo lá escrevi outro testamento...
Jean-Efflam Bavouzet é um pianista francês, é pouco referenciado pela crítica oficial, não suscita as paixão de Berezovsky, Lugansky ou mesmo Melnikov, que também estiveram presentes no CCB no último fim de semana.
Tomámos contacto com Jean-Efflam a tocar Wagner e Liszt na edição do ano passado naquilo que foi um concerto de altíssimo nível. Neste ano assistimos à sonata opus 31, nº3, em mi bemol maior e à espantosa sonata opus 106, Hammerklavier (piano de martelos) cuja abordagem é já de si um acto de grande coragem, ainda por cima no final de um fim de semana extenuante.
A sonata em mi bemol maior foi executada com clareza, luminosidade. Bavouzet deu-nos uma visão da sonata como se tratasse de um imenso scherzo de um Beethoven cheio de força e ainda optimista. "Uma sonata lúdica" como Bavouzet nos disse, se repararmos nos andamentos encontramos Allegro, Scherzo: allegro vivace, Menuetto: moderato e gracioso, Presto con fuoco! Curiosamente foi no scherzo que notámos ligeiríssimos problemas de fluidez discursiva, mas foi uma prestação de bom nível, com um último andamento impressionante.
A Hammerklavier em si bemol maior foi toda uma outra história, a maturidade, a experimentalidade da sonata, foram levadas ao extremo por uma leitura apaixonada e vigorosa de Bavouzet. Beethoven disse desta sonata: "Uma sonata que será tocada até daqui a cinquenta anos!" Não teve grande sucesso em tempos de Beethoven, as suas dimensões imensas (de longe a mais longa de Beethoven) e a sua dificuldade técnica e de concepção fazem desta peça tremenda uma espécie de anjo e demónio de qualquer pianista. Um allegro (2/2) inicial em que a utilização da mão esquerda por Bavouzet deu exactamente a visão necessária ao significado experimental da sonata. O scherzo (3/4), uma espécie de preparação para o gigantesco adagio sostenuto (6/8) que se segue, foi atacado com uma fluidez espantosa em que o tempo se suspendeu imperceptivelmente. O adagio sostenuto (6/8) único andamento que sai do si bemol maior é em tom menor (fá# menor) é o verdadeiro coração da sonata que se alonga por um tempo infinito, é um momento máximo de Beethoven e da história da música.
Bavouzet como pianista pensador e intelectual que é, fez uma leitura de grande respeito pelo texto, sem abusar do rubato, mantendo um enorme equilíbrio entre as vozes, a mão esquerda e direita, o uso muito contido e subtil do pedal, escrito na partitura, e uma sensibilidade extrema alicerçada numa enorme visão musical deram uma espantosa realização que fizeram deste concerto um dos mais memoráveis momentos deste fim de semana.
O final, largo-allegro resoluto (4/4) ainda sob os eflúvios intoxicantes do adagio, é uma construção visionária, "uma espécie de Shostakovitsch, não é?" ao que nós respondemos: "parece que tocaste mais como Prokofiev!" E Bavouzet: "C'est ça!" Ou seja, este final de uma sonata intemporal e experimental, bizarra no seu tempo, misteriosa, precursora e percussiva, foi lido numa vertigem que algumas notas erradas não tiraram qualquer mérito.
Um concerto de altíssimo nível por um pianista negligenciado pelos jornais.
P.S. Com o entusiasmo lá escrevi outro testamento...
28.4.05
Quatro Haikus
27.4.05
Pinho Vargas de Novo
Acaba hoje na Culturgest em Lisboa o ciclo:
Especulações Críticas Sobre Cinco Momentos da Música do Século XX por António Pinho Vargas
27 de Abril, 18h30m
Anos 80: arte, política, economia e como chegamos até aqui.
O plano Marshall e a vanguarda de 50, o fim do Cold War Style, o neo-liberalismo
e o regresso paradoxal da ideologia soviética da “arte para o povo”.
Especulações Críticas Sobre Cinco Momentos da Música do Século XX por António Pinho Vargas
27 de Abril, 18h30m
Anos 80: arte, política, economia e como chegamos até aqui.
O plano Marshall e a vanguarda de 50, o fim do Cold War Style, o neo-liberalismo
e o regresso paradoxal da ideologia soviética da “arte para o povo”.
Mais concertos da festa da Música - Notas de audição 3
Sábado, sala Waldstein, grande auditório. Missa em Dó maior de Beethoven, opus 86. Peter Neumann Collegium Cartusianum, Kölner Kammerchör. Simone Kermes, soprano, Franziska Orendi, alto, Virgil Hartinger, tenor, Markus Lemke, baixo.
Formação: cordas 8-7-5-4-3, 2 fl, 2 ob, 2 cl, 2 fag, 2 trompas e 2 trompetes. Tímpanos. Orgão positivo. Um clarinete com uma sonoridade divina que fez um solo de uma grande poesia no final da missa, mereceu as palmas que teve dos seus pares e do público. Cordas excelentes.
Solistas banais em que o tenor mostrou ter uma voz bonita, mas abusando do vibrato. O alto tem uma voz bonita, o baixo era fracote e desafinava, o soprano sem ser uma cantora extraordinária impressionou pela cor da voz e pelo belo timbre. Mas a mediania e a correcção foram o mote no capítulo das vozes solistas.
Uma missa meditativa, um coro de efectivo pequeno, entre trinta e quarenta cantores, muito afinado, e de qualidade extraordinária. Apenas pecou por uma dicção do latim algo estranha.
Interpretação contida em torno de um ideal sonoro de Peter Neumann. Orquestra com um som muito belo, doce, suave. Aveludado. O orgão positivo contribuiu para a densidade do som de forma (aparentemente) imperceptível dando grande plasticidade ao som do conjunto.
Meditação e interioridade mais do que exuberância e teatralidade, depois de um credo sentido, um sanctus poético, um "Agnus dei" triste até à invocação "Dona Nobis Pacem" em que surge alguma alegria logo substituída pela paz e pela calma do reencontro com Deus a terminar uma obra notável da história da música. Peter Neumann correspondeu ao texto da missa, à partitura, e foi de uma segurança a toda a prova.
Assim vale a pena fazer crítica... Mais um grande concerto na Festa da Música.
Formação: cordas 8-7-5-4-3, 2 fl, 2 ob, 2 cl, 2 fag, 2 trompas e 2 trompetes. Tímpanos. Orgão positivo. Um clarinete com uma sonoridade divina que fez um solo de uma grande poesia no final da missa, mereceu as palmas que teve dos seus pares e do público. Cordas excelentes.
Solistas banais em que o tenor mostrou ter uma voz bonita, mas abusando do vibrato. O alto tem uma voz bonita, o baixo era fracote e desafinava, o soprano sem ser uma cantora extraordinária impressionou pela cor da voz e pelo belo timbre. Mas a mediania e a correcção foram o mote no capítulo das vozes solistas.
Uma missa meditativa, um coro de efectivo pequeno, entre trinta e quarenta cantores, muito afinado, e de qualidade extraordinária. Apenas pecou por uma dicção do latim algo estranha.
Interpretação contida em torno de um ideal sonoro de Peter Neumann. Orquestra com um som muito belo, doce, suave. Aveludado. O orgão positivo contribuiu para a densidade do som de forma (aparentemente) imperceptível dando grande plasticidade ao som do conjunto.
Meditação e interioridade mais do que exuberância e teatralidade, depois de um credo sentido, um sanctus poético, um "Agnus dei" triste até à invocação "Dona Nobis Pacem" em que surge alguma alegria logo substituída pela paz e pela calma do reencontro com Deus a terminar uma obra notável da história da música. Peter Neumann correspondeu ao texto da missa, à partitura, e foi de uma segurança a toda a prova.
Assim vale a pena fazer crítica... Mais um grande concerto na Festa da Música.
Quarteto Ysaÿe - notas de audição 2
Sábado, 12h, Beethoven, quarteto opus 59 nº1.
O quarteto Ysaye é uma formação adulta. Formou repertório, tem 20 anos de trabalho em cima. As obras estão amadurecidas, pensadas.
Assim se provou com o quarteto opus 59, nº1, o mais profundo dos quartetos dedicados por Beethoven a Razumovsky.
No primeiro andamento o violoncelo enunciou de forma máscula a introdução que seria revisitada de seguida pelo primeiro violino. Ao segundo tema não se pode chamar feminino, talvez elegíaco, facto que o quarteto interpretou com rigor. Neste primeiro andamento constato a já sabida fusão de personalidades dos elementos do quarteto numa só fluência discursiva e retórica.
No segundo andamento, um scherzo, a associação e dissociação foram encenadas de forma subtil pelo Ysaÿe, em ambiente de jogo construtivo e desconstrutivo. Brilhante. Uma revelação abrupta de planos sonoros que surgem de forma surpreendente, escondidos pelos frases enunciadas em primeiro lugar numa descoberta que vai revelando novas realidades num jogo construtivo de sucessões de instantes mágicos. Uma espécie de suspensão no tempo coexistindo com uma progressão inexorável... Um acorde violento, tudo pára e, de novo, o turbilhão das associações sucessivas que volta a tomar o seu lugar numa espiral imparável que caminha para o êxtase estético do terceiro andamento, para a pausa quase absoluta (pausa que apenas retornará no opus 130), para a respiração comovente do violoncelo - de novo o violoncelo - no Adagio molto e mesto. Emoção e subtileza. Curioso o regresso à secção inicial deste andamento, ao já conhecido, e exposto anteriormente, junta-se o pizzicatto da viola (elemento enriquecedor típico de Beethoven), um novo elemento surpreendente, que contribui para o aumento da tensão. O discurso vai do primeiro violino, para o segundo, viola, violoncelo e regressa ciclicamente ao primeiro violino para, então, se passar ao último andamento. O exuberante e arrebatado (mas ao mesmo tempo contido) allegro, perfeito na sua simplicidade aparente. Que belos pianíssimos escutámos neste andamento. Até na utilização do pianíssimo este quarteto Ysaÿe é subtil não abusando da sua capacidade de se tornar quase inaudível sem se tornar irregular no som, o uso e abuso transformaria escassos momentos de transcendência que perduram num simples efeito de virtuosidade (v.g. Berezovsky). Um concerto capaz das emoções mais profundas num Beethoven da plena maturidade em que as sombras já surgem. Um quarteto de cordas superlativo na maturidade plena das suas capacidades discursivas e interpretativas, com inteligência. Um dos melhores concertos que escutámos.
O quarteto Ysaye é uma formação adulta. Formou repertório, tem 20 anos de trabalho em cima. As obras estão amadurecidas, pensadas.
Assim se provou com o quarteto opus 59, nº1, o mais profundo dos quartetos dedicados por Beethoven a Razumovsky.
No primeiro andamento o violoncelo enunciou de forma máscula a introdução que seria revisitada de seguida pelo primeiro violino. Ao segundo tema não se pode chamar feminino, talvez elegíaco, facto que o quarteto interpretou com rigor. Neste primeiro andamento constato a já sabida fusão de personalidades dos elementos do quarteto numa só fluência discursiva e retórica.
No segundo andamento, um scherzo, a associação e dissociação foram encenadas de forma subtil pelo Ysaÿe, em ambiente de jogo construtivo e desconstrutivo. Brilhante. Uma revelação abrupta de planos sonoros que surgem de forma surpreendente, escondidos pelos frases enunciadas em primeiro lugar numa descoberta que vai revelando novas realidades num jogo construtivo de sucessões de instantes mágicos. Uma espécie de suspensão no tempo coexistindo com uma progressão inexorável... Um acorde violento, tudo pára e, de novo, o turbilhão das associações sucessivas que volta a tomar o seu lugar numa espiral imparável que caminha para o êxtase estético do terceiro andamento, para a pausa quase absoluta (pausa que apenas retornará no opus 130), para a respiração comovente do violoncelo - de novo o violoncelo - no Adagio molto e mesto. Emoção e subtileza. Curioso o regresso à secção inicial deste andamento, ao já conhecido, e exposto anteriormente, junta-se o pizzicatto da viola (elemento enriquecedor típico de Beethoven), um novo elemento surpreendente, que contribui para o aumento da tensão. O discurso vai do primeiro violino, para o segundo, viola, violoncelo e regressa ciclicamente ao primeiro violino para, então, se passar ao último andamento. O exuberante e arrebatado (mas ao mesmo tempo contido) allegro, perfeito na sua simplicidade aparente. Que belos pianíssimos escutámos neste andamento. Até na utilização do pianíssimo este quarteto Ysaÿe é subtil não abusando da sua capacidade de se tornar quase inaudível sem se tornar irregular no som, o uso e abuso transformaria escassos momentos de transcendência que perduram num simples efeito de virtuosidade (v.g. Berezovsky). Um concerto capaz das emoções mais profundas num Beethoven da plena maturidade em que as sombras já surgem. Um quarteto de cordas superlativo na maturidade plena das suas capacidades discursivas e interpretativas, com inteligência. Um dos melhores concertos que escutámos.
26.4.05
O Bispo de Dili
É este, dou autorização ao Daniel para copiar a foto de D. Alberto Ricardo da Silva para poder fazer um post um bocadinho melhor que este...
25.4.05
Festa da Música - Precursos e Percursos
Antes de passar à análise de muitos concertos a que assisti no Sábado (11) e Domingo (ainda não contabilizados) na Festa da Música do CCB, devo dizer que cheguei ao final de Domingo com uma enorme dor de cabeça. Overdose de música que a partir de certa altura se torna asfixiante e não dá espaço para a respiração das obras e da meditação que uma análise rigorosa merece.
Escrever em cima do acontecimento também é errado, a emoção do momento e o estado de espírito, por um lado, são altamente propícios à exaltação da escrita no fio da navalha, uma madura reflexão auxiliada pela memória mas com a filtragem da distância, mas sempre alicerçada na consulta das notas escritas em cima do acontecimento, permite, pelo outro lado, uma análise mais cuidada, relativizada (palavra a ficar politicamente incorrecta?) e profunda.
Devo dizer que evitei concertos por formações ad hoc, evitei o trio russo em todas as suas aparições, evitei o Burmester (que privilégio para os portuenses a sua recusa em tocar na casa da música - depois explico melhor o que isto quer dizer), evitei a maioria dos portugueses que posso escutar todo o ano em Lisboa, no Porto e nos festivais e concertos que vão ocorrendo.
Procurei o seguro, o bom, dei crédito ao conselhos de escutar o quateto Aviv (e arrependi-me), reencontrei-me com Bavouzet, desiludi-me com Berezovsky, certifiquei-me com Engerer para o lado negativo e assisti a um número elevado de concertos de categoria superlativa e deparei-me com uma organização excepcional que funciona em pleno caos de milhares de visitantes com a planificação e simpatia que estes momentos complexos exigem. Firmeza e sentido da responsabilidade misturados com educação, uma combinação excelente que nunca falha. Erros pontuais são impossíveis de evitar mas a sua gestão mostra a capacidade organizativa do CCB e neste caso a palavra é dirigida ao Director do Centro de Espectáculos, o dr. Miguel Leal Coelho, que consegue ser a espinha dorsal desta organização desde há seis anos (ou seja desde que a Festa veio a Lisboa) e está no CCB quase desde a sua fundação. Parabéns à equipa.
Os aspectos filosóficos da Festa da Música podem ser discutíveis e há muitas opiniões, eu tenho a minha opinião também, mas essa reflexão fica para o futuro.
Não cumpri totalmente o precurso idealizado anteriormente por eventos e concertos. Falhei inclusivamente as conferências de Nabais e Enes, conferências que me propunha previamente a escutar, a música falou mais alto e o percurso acabou por se fazer, quase inevitavelmente por muitos concertos e recitais...
Escrever em cima do acontecimento também é errado, a emoção do momento e o estado de espírito, por um lado, são altamente propícios à exaltação da escrita no fio da navalha, uma madura reflexão auxiliada pela memória mas com a filtragem da distância, mas sempre alicerçada na consulta das notas escritas em cima do acontecimento, permite, pelo outro lado, uma análise mais cuidada, relativizada (palavra a ficar politicamente incorrecta?) e profunda.
Devo dizer que evitei concertos por formações ad hoc, evitei o trio russo em todas as suas aparições, evitei o Burmester (que privilégio para os portuenses a sua recusa em tocar na casa da música - depois explico melhor o que isto quer dizer), evitei a maioria dos portugueses que posso escutar todo o ano em Lisboa, no Porto e nos festivais e concertos que vão ocorrendo.
Procurei o seguro, o bom, dei crédito ao conselhos de escutar o quateto Aviv (e arrependi-me), reencontrei-me com Bavouzet, desiludi-me com Berezovsky, certifiquei-me com Engerer para o lado negativo e assisti a um número elevado de concertos de categoria superlativa e deparei-me com uma organização excepcional que funciona em pleno caos de milhares de visitantes com a planificação e simpatia que estes momentos complexos exigem. Firmeza e sentido da responsabilidade misturados com educação, uma combinação excelente que nunca falha. Erros pontuais são impossíveis de evitar mas a sua gestão mostra a capacidade organizativa do CCB e neste caso a palavra é dirigida ao Director do Centro de Espectáculos, o dr. Miguel Leal Coelho, que consegue ser a espinha dorsal desta organização desde há seis anos (ou seja desde que a Festa veio a Lisboa) e está no CCB quase desde a sua fundação. Parabéns à equipa.
Os aspectos filosóficos da Festa da Música podem ser discutíveis e há muitas opiniões, eu tenho a minha opinião também, mas essa reflexão fica para o futuro.
Não cumpri totalmente o precurso idealizado anteriormente por eventos e concertos. Falhei inclusivamente as conferências de Nabais e Enes, conferências que me propunha previamente a escutar, a música falou mais alto e o percurso acabou por se fazer, quase inevitavelmente por muitos concertos e recitais...
24.4.05
Notícia triste
Recordo Bernard Fournier, engenheiro de formação mas musicólogo por vocação, autor de uma Tese de Estado consagrada a Beethoven e a Modernidade. Pensador, primeiro violino de dois quartetos amadores. Autor dos extraordinários livros, publicados pela Fayard, L'esthétique du Quatuor à Cordes e Histoire du Quatuor à Cordes (este em dois volumes). Professor em Paris VIII.
Este grande senhor da cultura francesa, e mundial, teve um acidente vascular cerebral há dois dias, segundo me disse Miguel da Silva, viola do quarteto Ysaÿe. As esperanças de que recupere totalmente são pequenas e a esperança de que volte a falar são o pouco que se pode esperar na situação presente. Uma tristíssima notícia para todos nós. Que recupere...
Este grande senhor da cultura francesa, e mundial, teve um acidente vascular cerebral há dois dias, segundo me disse Miguel da Silva, viola do quarteto Ysaÿe. As esperanças de que recupere totalmente são pequenas e a esperança de que volte a falar são o pouco que se pode esperar na situação presente. Uma tristíssima notícia para todos nós. Que recupere...
23.4.05
Festa da Música - Notas de Audição 1
Mais uma vez na Festa da Música, sexta feira com apenas 4 concertos. Diversos amigos na rádio e televisão impediram-me de ver e ouvir mais. Uma contenção interessante que evita o excesso sonoro de outros anos.
Resolvi quedar-me por Beethoven e, sobretudo, por intérpretes estrangeiros com excepção do Divino Sospiro, concerto com o septeto opus 20 de Beethoven em instrumentos originais. Foi bom escutar a sonoridade do tempo de Beethoven, mais não acrescento mais nada por razões que se prendem com o meu envolvimento no projecto do agrupamento.
Escutei na sala Waldstein a Sinfonia Varsóvia, dirigida por Peter Csaba nas vinte e seis variações da Folia de Espanha, não todas as variações, mas suficientes para perceber o interesse da obra, que embora já escutada anteriormente por mim, não tinha ficado muito marcada na minha memória. Recordo uma variação em que o coro de trombones faz de forma muito escura (quase negra) uma antevisão do que Wagner viria a levar às últimas consequências.
Uma interpretação muito sólida da Sinfonia Varsóvia e do seu director.
A sinfonia em dó menor (nº5), seguida com a partitura e na companhia da Teresa, foi uma experiência de reencontro com uma obra que a certa altura se deixou de ouvir, por exaustão sonora. Um reencontro notável através de uma leitura linear, fiel ao texto escrito, plástica e recortada, com acentuações diferentes ao longo da obra e muito sensíveis ao contexto e economia da obra. Uma pequena atrapalhação no início da célebre passagem dos violoncelos e contrabaixos no terceiro andamento e um malfadado clarinete a tocar nas pausas no final da sinfonia não estragaram uma interpretação de altíssimo nível. Cordas de grande coesão, madeiras de grande beleza. Um concerto de grande nível pela Sinfonia Varsóvia.
Uma redução para dois pianos da sinfonia em ré menor (nona) de Beethoven feita por Liszt e interpretada por Brigitte Engerer e Boris Berezovsky parecia muito apetecível. Foi uma espécie de bom momento, mais pela carga e pelo esforço, pelo entusiasmo, do que pela realização musical propriamente dita. Um concerto como no tempo de Beethoven em que os músicos nem sequer levavam a música para casa para estudar. Percebeu-se que o trabalho de ensaio foi pequeno, mas que os pianistas são de alto nível e mesmo numa interpretação a ler, pouco libertos das dificuldades técnicas, sobretudo em Engerer na parte do primeiro piano fazendo as vozes mais altas e melódicas, conseguimos perceber a qualidade que se esconde por detrás das notas erradas. Um primeiro andamento muito bom, um scherzo tremendo e muito bem ritmado, um terceiro andamento pouco lírico e muito em passagem de notas. Finalmente o último andamento em género meia bola e força, mas é preciso levar a música para a frente, com um primeiro "prestissimo" desastroso onde a música perdeu mesmo o nexo, mas que Berezovsky conseguiu conduzir, a partir da parte dos baixos e da sustentação sonora, para reencaminhar a obra nos carris e acabar em triunfo. Um concerto imperfeito, muito imperfeito, mas belo de se escutar e empolgante próprio de uma festa da música. Sonoridade excessiva, martelar no piano, fúria destrutiva! Pianos no final em estado lastimoso e totalmente desafinados...
Finalmente escutei o quarteto Ysaÿe que fez uma leitura irrepreensível dos quartetos opus 18 nº4 e nº6 de Beethoven. Um concerto excelente! Perfeito no ritmo, na vitalidade, entrega. Um misto de associação e dissociação, a essência de qualquer quarteto, feito de forma subtil e natural. Um pouco de excesso de vibrato no violoncelo nas passagens mais elegíacas, mas um grande equilíbrio entre músicos, e entre paixão e serenidade. Arrebatamento e elegância, o que é difícil de obter. Pianíssimos de grande qualidade, sem timidez, mas no limite do inaudível. Adagios no quarteto nº6 "la malincona", uma das grandes obras de Beethoven, de alta sensibilidade. Quarteto Ysaÿe é um dos grandes agrupamentos desta Festa da Música.
Hoje prevejo ver e ouvir:
O mesmo quarteto pelas 12h (já a seguir).
A missa em dó maior com Peter Neumann e o collegium cartusianun.
Mais quarteto de Beethoven pelos Ysaÿe pelas 15h.
Filipe Pinto Ribeiro pelas 16h45m
Mais quarteto Ysaÿe pelas 18h45m
Indecisão entre Jorge Moyano e Explorations pelo fim da tarde.
Indecisão entre Lugansky e Beresovsky ao início da noite (21h e 21h30m).
Finalmente a Missa Solene pelo coro de câmara da RIAS e concerto Köln com direcção de Daniel Reuss pelas 22h30m.
Um dia em cheiro.
Resolvi quedar-me por Beethoven e, sobretudo, por intérpretes estrangeiros com excepção do Divino Sospiro, concerto com o septeto opus 20 de Beethoven em instrumentos originais. Foi bom escutar a sonoridade do tempo de Beethoven, mais não acrescento mais nada por razões que se prendem com o meu envolvimento no projecto do agrupamento.
Escutei na sala Waldstein a Sinfonia Varsóvia, dirigida por Peter Csaba nas vinte e seis variações da Folia de Espanha, não todas as variações, mas suficientes para perceber o interesse da obra, que embora já escutada anteriormente por mim, não tinha ficado muito marcada na minha memória. Recordo uma variação em que o coro de trombones faz de forma muito escura (quase negra) uma antevisão do que Wagner viria a levar às últimas consequências.
Uma interpretação muito sólida da Sinfonia Varsóvia e do seu director.
A sinfonia em dó menor (nº5), seguida com a partitura e na companhia da Teresa, foi uma experiência de reencontro com uma obra que a certa altura se deixou de ouvir, por exaustão sonora. Um reencontro notável através de uma leitura linear, fiel ao texto escrito, plástica e recortada, com acentuações diferentes ao longo da obra e muito sensíveis ao contexto e economia da obra. Uma pequena atrapalhação no início da célebre passagem dos violoncelos e contrabaixos no terceiro andamento e um malfadado clarinete a tocar nas pausas no final da sinfonia não estragaram uma interpretação de altíssimo nível. Cordas de grande coesão, madeiras de grande beleza. Um concerto de grande nível pela Sinfonia Varsóvia.
Uma redução para dois pianos da sinfonia em ré menor (nona) de Beethoven feita por Liszt e interpretada por Brigitte Engerer e Boris Berezovsky parecia muito apetecível. Foi uma espécie de bom momento, mais pela carga e pelo esforço, pelo entusiasmo, do que pela realização musical propriamente dita. Um concerto como no tempo de Beethoven em que os músicos nem sequer levavam a música para casa para estudar. Percebeu-se que o trabalho de ensaio foi pequeno, mas que os pianistas são de alto nível e mesmo numa interpretação a ler, pouco libertos das dificuldades técnicas, sobretudo em Engerer na parte do primeiro piano fazendo as vozes mais altas e melódicas, conseguimos perceber a qualidade que se esconde por detrás das notas erradas. Um primeiro andamento muito bom, um scherzo tremendo e muito bem ritmado, um terceiro andamento pouco lírico e muito em passagem de notas. Finalmente o último andamento em género meia bola e força, mas é preciso levar a música para a frente, com um primeiro "prestissimo" desastroso onde a música perdeu mesmo o nexo, mas que Berezovsky conseguiu conduzir, a partir da parte dos baixos e da sustentação sonora, para reencaminhar a obra nos carris e acabar em triunfo. Um concerto imperfeito, muito imperfeito, mas belo de se escutar e empolgante próprio de uma festa da música. Sonoridade excessiva, martelar no piano, fúria destrutiva! Pianos no final em estado lastimoso e totalmente desafinados...
Finalmente escutei o quarteto Ysaÿe que fez uma leitura irrepreensível dos quartetos opus 18 nº4 e nº6 de Beethoven. Um concerto excelente! Perfeito no ritmo, na vitalidade, entrega. Um misto de associação e dissociação, a essência de qualquer quarteto, feito de forma subtil e natural. Um pouco de excesso de vibrato no violoncelo nas passagens mais elegíacas, mas um grande equilíbrio entre músicos, e entre paixão e serenidade. Arrebatamento e elegância, o que é difícil de obter. Pianíssimos de grande qualidade, sem timidez, mas no limite do inaudível. Adagios no quarteto nº6 "la malincona", uma das grandes obras de Beethoven, de alta sensibilidade. Quarteto Ysaÿe é um dos grandes agrupamentos desta Festa da Música.
Hoje prevejo ver e ouvir:
O mesmo quarteto pelas 12h (já a seguir).
A missa em dó maior com Peter Neumann e o collegium cartusianun.
Mais quarteto de Beethoven pelos Ysaÿe pelas 15h.
Filipe Pinto Ribeiro pelas 16h45m
Mais quarteto Ysaÿe pelas 18h45m
Indecisão entre Jorge Moyano e Explorations pelo fim da tarde.
Indecisão entre Lugansky e Beresovsky ao início da noite (21h e 21h30m).
Finalmente a Missa Solene pelo coro de câmara da RIAS e concerto Köln com direcção de Daniel Reuss pelas 22h30m.
Um dia em cheiro.
21.4.05
Pinho Vargas na Culturgest
António Pinho Vargas continua a sua caminhada pela música do século XX. Tivemos a "contaminação da alta cultura" por elementos da baixa cultura, sem esquecer a alta e baixa costura, o Jazz e o seu diferente "status" na França, no resto da Europa, nos Estados Unidos, a importação de elementos da chamada cultura popular na arte e música do final de século XX com excursões ao "Vira do Minho".
Os códigos comunicacionais dos intérpretes, desde as fatiotas tradicionais das orquestras sinfónicas aos trajes negros estilizados, ou não, dos ensembles contemporâneos. Uma viagem que passou pelos hábitos de higiene do compositor pós moderno, ou moderno, e da variedade ou não do seu vestuário enquanto compositor e enquanto conferencista, o traje do conferencista enquanto intelectual: "uma autocrítica apavorada de um paradigma apreendido no instante da descoberta" (um título que Pinho Vargas não desdenharia para aquele momento). A influência da cor e do espírito do tempo. Boulez e as modas e a presença do omnipresente John Cage, uma espécie de Bête noire do final do século XX.
O mecanicismo do serialismo integral e das suas variantes e subvariantes. A improvisação, a condescendência da "alta cultura pela baixa cultura".
Contaminações que nos voltaram a tocar, desta feita Vargas realizou uma tremenda elipse num arco temporal real e referencial que apanhou de surpresa o público presente e..., de repente, tinham-se passado duas horas, Pinho Vargas regressava à terra no ponto em que tinha partido e quem o tinha escutado tinha sido obrigado a pensar numa conferência intraduzível. Parece que tinhamos estado a escutar o pensamento dentro da cabeça do pensador. Mais de duas horas e todos ainda estávamos presos pelas palavras mágicas, palavras duras e difíceis, mordazes sem serem arrogantes. Perguntas que ia fazendo ao público quando se esquecia de um nome num confronto amigo de pensamento colectivo, uma espécie de improvisação melhor que as do Michel Portal. Palavras que saiam trabalhadas, roladas, caídas, dolorosas, palavras feitas angústias da boca do poeta.
Há uma citação "proibida" que não resisto a fazer:
"O meu livro, um livro grande, um bom livro, barato, 20 euros, com um desconto podem trazê-lo por 18! Comprem o meu livro!" Gargalhadas... do conferencista e do público.
Concordo. O livro do António Pinho Vargas é bom é grande, não é caro e deve ser lido.
Post Scriptum pessoal:
Irrita-me escrever neste tom. Detesto ser tão encomiástico e ficar rendido a um autor, é uma questão de feitio, desculpem-me o desabafo. No entanto penso que este ciclo de conferências de Pinho Vargas é realmente um acto de inscrição na cultura musical portuguesa. Falta uma sessão, quarta feira próxima. A não perder.
Os códigos comunicacionais dos intérpretes, desde as fatiotas tradicionais das orquestras sinfónicas aos trajes negros estilizados, ou não, dos ensembles contemporâneos. Uma viagem que passou pelos hábitos de higiene do compositor pós moderno, ou moderno, e da variedade ou não do seu vestuário enquanto compositor e enquanto conferencista, o traje do conferencista enquanto intelectual: "uma autocrítica apavorada de um paradigma apreendido no instante da descoberta" (um título que Pinho Vargas não desdenharia para aquele momento). A influência da cor e do espírito do tempo. Boulez e as modas e a presença do omnipresente John Cage, uma espécie de Bête noire do final do século XX.
O mecanicismo do serialismo integral e das suas variantes e subvariantes. A improvisação, a condescendência da "alta cultura pela baixa cultura".
Contaminações que nos voltaram a tocar, desta feita Vargas realizou uma tremenda elipse num arco temporal real e referencial que apanhou de surpresa o público presente e..., de repente, tinham-se passado duas horas, Pinho Vargas regressava à terra no ponto em que tinha partido e quem o tinha escutado tinha sido obrigado a pensar numa conferência intraduzível. Parece que tinhamos estado a escutar o pensamento dentro da cabeça do pensador. Mais de duas horas e todos ainda estávamos presos pelas palavras mágicas, palavras duras e difíceis, mordazes sem serem arrogantes. Perguntas que ia fazendo ao público quando se esquecia de um nome num confronto amigo de pensamento colectivo, uma espécie de improvisação melhor que as do Michel Portal. Palavras que saiam trabalhadas, roladas, caídas, dolorosas, palavras feitas angústias da boca do poeta.
Há uma citação "proibida" que não resisto a fazer:
"O meu livro, um livro grande, um bom livro, barato, 20 euros, com um desconto podem trazê-lo por 18! Comprem o meu livro!" Gargalhadas... do conferencista e do público.
Concordo. O livro do António Pinho Vargas é bom é grande, não é caro e deve ser lido.
Post Scriptum pessoal:
Irrita-me escrever neste tom. Detesto ser tão encomiástico e ficar rendido a um autor, é uma questão de feitio, desculpem-me o desabafo. No entanto penso que este ciclo de conferências de Pinho Vargas é realmente um acto de inscrição na cultura musical portuguesa. Falta uma sessão, quarta feira próxima. A não perder.
20.4.05
Pinho Vargas continua o tour de force por cinco momentos da música do Século XX
Continua hoje na Culturgest em Lisboa o ciclo:
Especulações Críticas Sobre Cinco Momentos da Música do Século XX por António Pinho Vargas
20 de Abril, 18h30m
Músicas de 60: um espírito do tempo e as relações esquecidas.
Contaminações: Improvisação, obra aberta, free jazz, oriente, zen; relações entre a high e low culture.
E as reflexões continuam hoje, sem desculpas para faltar...
Especulações Críticas Sobre Cinco Momentos da Música do Século XX por António Pinho Vargas
20 de Abril, 18h30m
Músicas de 60: um espírito do tempo e as relações esquecidas.
Contaminações: Improvisação, obra aberta, free jazz, oriente, zen; relações entre a high e low culture.
E as reflexões continuam hoje, sem desculpas para faltar...
Estive no Wang
Mas não me apetece dizer nada.
19.4.05
O Papa da Abertura
Depois de tudo o que foi dito, é altura de colocar alguns pontos nos ii.
A memória dos homens é curta e existe a tendência de se falar do que se viu, do que se presenciou e não daquilo que se passou há quarenta anos.
O verdadeiro Papa da abertura foi João XXIII, o homem bom, o Papa do perdão sem compromissos, o homem que não admitia excluídos, tal como Cristo, o mesmo Cristo que conviveu com prostitutas e cobradores de impostos e escolheu os seus discípulos entre gente humilde, entre os pescadores da Galileia e não imperadores, grandes senhores ou os banqueiros de hoje.
João XXIII é o Bom Pastor em todo o sentido da palavra. E ser bom é a virtude máxima para João XXIII.
Ratzinger causa em mim um arrepio, tal como causava a intransigência de João Paulo II, que nos últimos anos do seu papado tinha como cabeças esse mesmo Ratzinger e o amigo de Pinochet: Sodano.
A ausência de pragmatismo moral, na questão do preservativo, por exemplo, pode ter levado à morte um número incontável de homens e mulheres, geralmente muito pobres, quando a mais elementar defesa do direito à vida deveria ter levado o Papa pelo caminho bem mais espinhoso da tolerância.
Ratzinger é mais um Papa, como tantos, um papa falível como os mais de duzentos papas que o foram até Pio IX. O Concílio Vaticano I no século XIX declarou a infalibilidade papal (a par dos Concílios Ecuménicos que tinham essa progativa até então). Ratzinger ou Bento XVI é tão infalível como Alexandre Bórgia ou Celestino V* se tornaram retroactivamente depois da infalibilidade ser decretada, como uma espécie de panaceia universal para o totalitarismo absoluto de um homem solitário e frágil.
Resta saber se Deus o vai conservar por muito tempo. Palpita-me que o Beato João vai continuar a ser um dos Santos esquecidos tanto de João Paulo II como de Bento XVI. Palpita-me que veremos uma sucessão interminável de canonizações de pastorinhos e de homens do Opus Dei, como a canonização expresso de Escrivá em detrimento do mesmo João XXIII e do padre Arrupe, o Jesuíta.
Mas é o Papa que temos, talvez mude, muitos o fizeram...
* Celestino V (Pietro da Morrone 1209-1296), Papa em 1294 se a memória não me falha no tempo do velhaco Filipe o Belo de França, eremita dos montes Abruzzi, chamado da sua cabana (ou caverna como reza a lenda) por uma multidão de cardeais, bispos, dignitários... Reinou durante cinco meses. Teve um papado inenarrável de erros e disparates segundo a história ortodoxa que nunca lhe perdoou a renúncia, um verdadeiro acto de insubordinação perante uma hierarquia que o queria manipular. Pobre e espiritual. Abdicou (caso único), tentou regressar ao seu eremitério para rezar e fazer os seus exercícios espirituais, mas foi preso pelo sucessor Bonifácio VIII com receio que Celestino se tornasse incómodo. Morreu provavelmente aos 87 anos na cadeia, existem rumores que teria sido assassinado por Bonifácio. Pouco depois (1313) foi canonizado por Clemente V como S. (Pedro) Celestino, celebra-se a 19 de Maio. É um Santo muito incómodo para todos aqueles que nunca perdoaram a sua demissão...
18.4.05
Crítica à crítica
Com a Casa da Música saúda-se a nova autora de críticas do Público. Jovem compositora, Diana Ferreira, é uma voz fresca que começa na nobre arte de criticar o trabalho dos outros.
Elogia-se a coragem da jovem em falar de compositores "relativamente" consagrados, como os que estrearam obra na Casa da Música neste fim de semana auspicioso.
Cuidado com os termos de apreensão imediata pelos entendidos e que ajudam claramente na leitura mas que podem ser inacessíveis ao grande público. Exemplo: o tremendo palavrão homorrítmico, que soa melhor dito em voz alta do que escrito. Vocábulo que descreve um ritmo sempre igual, repetido, presente em todas as linhas da partitura. Devo acrescentar, a título de descodificação, que homorrítmico é geralmente usado em contexto depreciativo. Mas em geral o texto de Diana é exemplar na sua concisão e na qualidade da pontuação!
A novel crítica deve também evitar demonstrar as admirações por este ou aquele e que apenas são fruto de gosto pessoal. Falo desse senhor que dá pelo nome de Emmanuel Numes. É um disparate essa do "expoente máximo da cultura musical portuguesa". Vivo ou morto? Intérprete, compositor, pedagogo, musicólogo, pensador? Não sabemos, apenas que é um expoente máximo! Não vale a pena enumerar uma lista de nomes para provar a enormidade do disparate. Basta-me um, e nem sequer é dos maiores, Jorge Peixinho... Se quisermos expoentes máximos temos Manuel Cardoso, Duarte Lobo e tantos outros! Generalizações descontextualizadas são abusivas e um crítico deve abster-se de fazer juízos opinativos genéricos quando o espaço é curto.
Elegante a forma como depreciou o trabalho dos compositores do primeiro concerto! No segundo concerto tivemos o genial Emmanuel Nunes, no primeiro "umas peças fáceis, brilhantes aqui e ali, homorrítmicas, de sucesso fácil pela simplicidade dos ritmos". O resumo do texto não podia ser mais elucidativo: "Se há um denominador comum entre os dois concertos, é o elevado nível dos intérpretes." Se descontarmos a vírgula, o texto diz-nos que a qualidade dos compositores é completamente díspar. Brilhante na sua concisão e na forma subtil como foi dito.
Os votos de grande sucesso a Diana Ferreira, merece continuar nas páginas do Público, com conhecimentos técnicos e capacidade de síntese superior, mas pede-se um pouco mais de cuidado nas apreciações bombásticas como a do Emmannuel Nunnes.
Henrique Silveira
Elogia-se a coragem da jovem em falar de compositores "relativamente" consagrados, como os que estrearam obra na Casa da Música neste fim de semana auspicioso.
Cuidado com os termos de apreensão imediata pelos entendidos e que ajudam claramente na leitura mas que podem ser inacessíveis ao grande público. Exemplo: o tremendo palavrão homorrítmico, que soa melhor dito em voz alta do que escrito. Vocábulo que descreve um ritmo sempre igual, repetido, presente em todas as linhas da partitura. Devo acrescentar, a título de descodificação, que homorrítmico é geralmente usado em contexto depreciativo. Mas em geral o texto de Diana é exemplar na sua concisão e na qualidade da pontuação!
A novel crítica deve também evitar demonstrar as admirações por este ou aquele e que apenas são fruto de gosto pessoal. Falo desse senhor que dá pelo nome de Emmanuel Numes. É um disparate essa do "expoente máximo da cultura musical portuguesa". Vivo ou morto? Intérprete, compositor, pedagogo, musicólogo, pensador? Não sabemos, apenas que é um expoente máximo! Não vale a pena enumerar uma lista de nomes para provar a enormidade do disparate. Basta-me um, e nem sequer é dos maiores, Jorge Peixinho... Se quisermos expoentes máximos temos Manuel Cardoso, Duarte Lobo e tantos outros! Generalizações descontextualizadas são abusivas e um crítico deve abster-se de fazer juízos opinativos genéricos quando o espaço é curto.
Elegante a forma como depreciou o trabalho dos compositores do primeiro concerto! No segundo concerto tivemos o genial Emmanuel Nunes, no primeiro "umas peças fáceis, brilhantes aqui e ali, homorrítmicas, de sucesso fácil pela simplicidade dos ritmos". O resumo do texto não podia ser mais elucidativo: "Se há um denominador comum entre os dois concertos, é o elevado nível dos intérpretes." Se descontarmos a vírgula, o texto diz-nos que a qualidade dos compositores é completamente díspar. Brilhante na sua concisão e na forma subtil como foi dito.
Os votos de grande sucesso a Diana Ferreira, merece continuar nas páginas do Público, com conhecimentos técnicos e capacidade de síntese superior, mas pede-se um pouco mais de cuidado nas apreciações bombásticas como a do Emmannuel Nunnes.
Henrique Silveira
15.4.05
Arrupe
O Jesuíta Pedro Arrupe, SI. 1907 - 1991. Geral entre 1965 e 1983 (pediu para resignar em 81 por motivos de saúde).
Um dos Santos esquecidos dos últimos 26 anos.
O Favorito - Mais um Papa da Obra?
"Com tudo isto compreendi melhor a fisionomia do Opus Dei, esta ligação surpreendente entre uma absoluta fidelidade à grande tradição da Igreja, à sua fé, com desarmante simplicidade, e a abertura incondicionada a todos os desafios deste mundo, quer no âmbito académico, quer no do trabalho, da economia, etc. Quem tem este vínculo com Deus, quem mantém este diálogo ininterrupto pode ousar responder a estes desafios, e deixa de ter medo; porque quem está nas mãos de Deus cai sempre nas mãos de Deus. É assim que desaparece o medo e nasce, ao contrário, a coragem de responder ao mundo de hoje."
Alain Connes - Música e Matemática
As palavras de Alain Connes, medalha Fields com a sua imensa Geometria Não Comutativa, grande matemático de todos os tempos. Professor do Collège de France que Pinho Vargas citou na sua conferência de quarta feira.
" On peut percevoir l'élaboration de l'algèbre à travers la musique.
Il est crucial pour un enfant d´être exposé très tôt à la musique. Vers l´âge de 5-6 ans, exposer un enfant à la musique permet d'équilibrer la prépondérance du sens de la vue et la richesse incroyable q'un enfant acquiert à partir de la vue qui donc est reliée à la géométrie. Cela permet de l'équilibrer par l'algèbre. La musique, elle, s'inscrit dans le temps exactement comme l'algèbre. dans les mathématiques, il y a cette dualité fondamentale, entre, d'un côté la géométrie qui correspond aux arts visuels, à une intuition immédiate. D'un autre côté il y a l'algèbre. Cela n'a rien de visuel, ça a une temporalité. Cela sínscrit dans le temps, c'est le calcul, quelque chose qui est très proche du langage, et qui en a la précision diabolique.[...]
Et on ne perçoit l'élaboration de l'algèbre qu'à travers la musique. Pour moi il ya une connivence incroyable entre la musique perçue dans sa forme la plus raffinnée et l'algèbre. J'adore certains préludes de Chopin, car ils ont exactement cette qualité de "distiller une idée", c'est une musique qui fait irruption dans une pièce comme si la fenêtre s'ouvrait brutalement, en coup de vent, puis repart en s'envolant, mais en ayant présenté une idée sous sa forme la plus limpide, la plus pure qui soit.
L'algèbre c'est ça. "
Alain Connes, Abril 2005
" On peut percevoir l'élaboration de l'algèbre à travers la musique.
Il est crucial pour un enfant d´être exposé très tôt à la musique. Vers l´âge de 5-6 ans, exposer un enfant à la musique permet d'équilibrer la prépondérance du sens de la vue et la richesse incroyable q'un enfant acquiert à partir de la vue qui donc est reliée à la géométrie. Cela permet de l'équilibrer par l'algèbre. La musique, elle, s'inscrit dans le temps exactement comme l'algèbre. dans les mathématiques, il y a cette dualité fondamentale, entre, d'un côté la géométrie qui correspond aux arts visuels, à une intuition immédiate. D'un autre côté il y a l'algèbre. Cela n'a rien de visuel, ça a une temporalité. Cela sínscrit dans le temps, c'est le calcul, quelque chose qui est très proche du langage, et qui en a la précision diabolique.[...]
Et on ne perçoit l'élaboration de l'algèbre qu'à travers la musique. Pour moi il ya une connivence incroyable entre la musique perçue dans sa forme la plus raffinnée et l'algèbre. J'adore certains préludes de Chopin, car ils ont exactement cette qualité de "distiller une idée", c'est une musique qui fait irruption dans une pièce comme si la fenêtre s'ouvrait brutalement, en coup de vent, puis repart en s'envolant, mais en ayant présenté une idée sous sa forme la plus limpide, la plus pure qui soit.
L'algèbre c'est ça. "
Alain Connes, Abril 2005
14.4.05
Os Santos esquecidos dos últimos 26 anos
Quem foi este Homem?
Não Sei
À pergunta do professor Paulo Almeida:
O que deixou Boulez? se falássemos de Ligeti ou de Xenakis o seu arqui-inimigo a resposta seria mais fácil, mas afinal qual é o legado de Boulez?
Resposta de Pinho Vargas:
- Não sei!
E acabou a conferência.
Surge este pequeno fait divers, bem significativo da dificuldade de caracterizar Pierre Boulez e o seu legado, ou de falar sobre o mesmo e da sua música para encerrar com a terceira negativa às questões postas pelo público. O professor, o conferencista e as suas dúvidas, as suas interrogações e a sua partilha com os outros que tornam tão estimulantes as conferências de Pinho Vargas. Não direi que Pinho Vargas tem o dom da oratória fluida dos omnipotentes e dos clarividentes. Direi que o compositor nas suas elucubrações tem a dificuldade própria da dúvida e do pudor da abordagem de temas complexos. Mesmo depois de necessárias e profundas elaborações prévias, depois de exercícios preparatórios, depois de apontamentos escritos que um ciclo desta envergadura, cinco semanas a debater temas de grande complexidade e modernidade, o grão da dúvida metódica no momento da angústia.
As minhas reflexões: depois dos anos vinte do século passado o modernismo de Boulez é serôdio, é apenas uma radicalidade obrigatória e reaccionária, porque deve ser assim, porque é obrigatório rasgar. Boulez é um gesto, um formalismo, uma necessidade de ser avant garde de uma arte que já não consegue ter guardas nem muito menos avançadas, porque a arte já não é um movimento em direcção a algo, a arte hoje não se rege por padrões lineares ou planares. A arte é um volume caótico, uma nuvem, os movimentos são internos, existem expansões para o desconhecido, mas o interior da nuvem não se pode desprezar. O modernismo que ainda se consegue descortinar em Boulez é, hoje em dia, indescortinável do pós modernismo, que por essência é algo demasiado vago para caracterizações.
Creio que Boulez se pode entender pelo desconstrutivismo auto justificativo das suas incessantes explicações acerca de si próprio. Boulez utiliza células, estrutura as células, elabora métodos, prepara gestos, constrói, mas realiza esta construção de forma paradoxal, preparando-a para a desconstrução da explicação sistemática. Como Pinho Vargas realçou, Boulez passou toda a vida a explicar a sua obra. Afinal não será esta aula enorme que foi toda a vida de Boulez “o maior testemunho do falhanço da sua criação?!” Questionou o conferencista. Será também esta a razão do subtítulo da conferência: Uma autocrítica prática? Eu diria mais: Uma autocrítica prática e involuntária.
A resposta que se pode dar à questão inicial: o IRCAM, o reconhecimento do compositor como centro da criação musical moderna, o esoterismo da criação recorrendo a métodos e técnicas ensinadas apenas a iniciados e a doutrinados da sua escola.
As minhas questões: Boulez o formalista? Boulez o gesto e o jogo? Boulez o sofista da célula musical? O manipulador de séries? O jogador de acordes? De timbres? Boulez o homem na crista da moda? O ditador? O génio maniqueu? O tecnicista? Boulez o génio da segunda metade do século vinte ou a repetição disfarçada de um cliché?
Sobre John Cage, Pinho Vargas explicou a sua visão sobre a apreensão do banal, do simples como obra de arte. Em conversa anterior com o compositor discutimos a questão da apreensão do silêncio como peça de arte. Depois de reflectir muito sobre o assunto continuo dividido entre considerar o gesto de Cage como uma mera provocação, que acabaria por surgir, fruto do tempo, ou um acto de génio deliberado, a eliminação do acto da performance pública de toda a subjectividade oriunda de uma interpretação, recaindo a obra na essência da performance e do confronto mortal entre compositor, intérprete e público. Para mim 4 minutos e 33 segundos pode ser o instante que marca o divórcio entre a obra de arte e o público que já não consegue entender ou fruir da arte. Afinal a primeira das questões que se colocou na conferência. Porquê este divórcio? A que Pinho Vargas disse: “não sei”.
Ao pensador não cabe explicar o porquê mas o como. Talvez outra das respostas que Pinho Vargas deu, implicitamente.
Não sei.
H. Silveira
O que deixou Boulez? se falássemos de Ligeti ou de Xenakis o seu arqui-inimigo a resposta seria mais fácil, mas afinal qual é o legado de Boulez?
Resposta de Pinho Vargas:
- Não sei!
E acabou a conferência.
Surge este pequeno fait divers, bem significativo da dificuldade de caracterizar Pierre Boulez e o seu legado, ou de falar sobre o mesmo e da sua música para encerrar com a terceira negativa às questões postas pelo público. O professor, o conferencista e as suas dúvidas, as suas interrogações e a sua partilha com os outros que tornam tão estimulantes as conferências de Pinho Vargas. Não direi que Pinho Vargas tem o dom da oratória fluida dos omnipotentes e dos clarividentes. Direi que o compositor nas suas elucubrações tem a dificuldade própria da dúvida e do pudor da abordagem de temas complexos. Mesmo depois de necessárias e profundas elaborações prévias, depois de exercícios preparatórios, depois de apontamentos escritos que um ciclo desta envergadura, cinco semanas a debater temas de grande complexidade e modernidade, o grão da dúvida metódica no momento da angústia.
As minhas reflexões: depois dos anos vinte do século passado o modernismo de Boulez é serôdio, é apenas uma radicalidade obrigatória e reaccionária, porque deve ser assim, porque é obrigatório rasgar. Boulez é um gesto, um formalismo, uma necessidade de ser avant garde de uma arte que já não consegue ter guardas nem muito menos avançadas, porque a arte já não é um movimento em direcção a algo, a arte hoje não se rege por padrões lineares ou planares. A arte é um volume caótico, uma nuvem, os movimentos são internos, existem expansões para o desconhecido, mas o interior da nuvem não se pode desprezar. O modernismo que ainda se consegue descortinar em Boulez é, hoje em dia, indescortinável do pós modernismo, que por essência é algo demasiado vago para caracterizações.
Creio que Boulez se pode entender pelo desconstrutivismo auto justificativo das suas incessantes explicações acerca de si próprio. Boulez utiliza células, estrutura as células, elabora métodos, prepara gestos, constrói, mas realiza esta construção de forma paradoxal, preparando-a para a desconstrução da explicação sistemática. Como Pinho Vargas realçou, Boulez passou toda a vida a explicar a sua obra. Afinal não será esta aula enorme que foi toda a vida de Boulez “o maior testemunho do falhanço da sua criação?!” Questionou o conferencista. Será também esta a razão do subtítulo da conferência: Uma autocrítica prática? Eu diria mais: Uma autocrítica prática e involuntária.
A resposta que se pode dar à questão inicial: o IRCAM, o reconhecimento do compositor como centro da criação musical moderna, o esoterismo da criação recorrendo a métodos e técnicas ensinadas apenas a iniciados e a doutrinados da sua escola.
As minhas questões: Boulez o formalista? Boulez o gesto e o jogo? Boulez o sofista da célula musical? O manipulador de séries? O jogador de acordes? De timbres? Boulez o homem na crista da moda? O ditador? O génio maniqueu? O tecnicista? Boulez o génio da segunda metade do século vinte ou a repetição disfarçada de um cliché?
Sobre John Cage, Pinho Vargas explicou a sua visão sobre a apreensão do banal, do simples como obra de arte. Em conversa anterior com o compositor discutimos a questão da apreensão do silêncio como peça de arte. Depois de reflectir muito sobre o assunto continuo dividido entre considerar o gesto de Cage como uma mera provocação, que acabaria por surgir, fruto do tempo, ou um acto de génio deliberado, a eliminação do acto da performance pública de toda a subjectividade oriunda de uma interpretação, recaindo a obra na essência da performance e do confronto mortal entre compositor, intérprete e público. Para mim 4 minutos e 33 segundos pode ser o instante que marca o divórcio entre a obra de arte e o público que já não consegue entender ou fruir da arte. Afinal a primeira das questões que se colocou na conferência. Porquê este divórcio? A que Pinho Vargas disse: “não sei”.
Ao pensador não cabe explicar o porquê mas o como. Talvez outra das respostas que Pinho Vargas deu, implicitamente.
Não sei.
H. Silveira
13.4.05
Conferência na Culturgest e mais assuntos
Pinho Vargas volta à Culturgest em Lisboa para uma conferência sobre Pierre Boulez - estruturas ou invenções, uma autocrítica prática, 18h30m, quarta feira (hoje). A última conferência a que assisti, a primeira, foi muito interessante. Recomendado.
Está uma petição on-line pela defesa da integridade da Casa da Música, recomenda-se uma leitura, quem concordar que assine.
Está uma petição on-line pela defesa da integridade da Casa da Música, recomenda-se uma leitura, quem concordar que assine.
Concerto de Ensemble Micrologus
A música antiga na Fundação está a expirar nesta temporada. O concerto com ensemble Micrologus foi de grande qualidade. A utilização criteriosa dos instrumentos antigos, que parecem cópias fidelíssimas das iluminuras da época foi um dos factores mais interessantes.
É de realçar que a linha melódica se pode decifrar com bastante segurança, mas que o ritmo pode ser objecto de diferentes interpretações (sendo objecto de várias divergências musicológicas). A parte harmónica e as opções instrumentais são totalmente deduzidas.
A recriação da atmosfera do tempo socorreu-se no caso do concerto em apreço, de elementos claramente populares e tradicionais das regiões durienses e galegas. O uso da gaita de foles com ornamentação bem característica do nosso povo (sem esquecer a origem também exterior a Portugal da compilação do rei Afonso X), o uso da combinação do tamboril e flauta, que se encontra desde Rio de Onor e Miranda do Douro até Vila Verde de Ficalho (numa enorme extensão territorial) foi amplamente usado pelo Micrologus, que se socorreu de outros instrumentos, como sanfona, harpas, sinos, rabecas ... Sempre com enorme ligação aos ritmos e harmonias arcaicas que subsistiram na tradição popular mas alicerçadas no conhecimento erudito das harmonias medievais.
Neste concerto tivemos a recriação musicológica combinada com uma interpretação, do ponto de vista musical, muito natural e seguríssima, sem esquecer, pelo menos aparentemente, a frescura de uma certa improvisação e um grande entusiasmo pela música como elemento vivo e sempre eterno. Esse lado da vivência musical pura, apesar do tempo e do lugar, fez deste concerto algo inesquecível.
De realçar que um ensemble de 10 elementos não precisou de amplificação sonora para nada ao contrário do enorme ensemble de Jordi Savall que utilizou uma bizarra panóplia de altifalantes e amplificadores mal concebidos para o espaço e distorcendo totalmente a audição. Um viva pela naturalidade do som produzido.
Hesito sempre em recomendar um concerto, por antecipação, neste blog, felizmente este não deslustrou as espectativas.
Recordo o Livro Instrumentos Musicais Populares Portugueses de Ernesto Veiga de Oliveira, editado pela Fundação Gulbenkian, onde se pode constatar a enorme riqueza de instrumentação que o nosso povo usava até meados do século vinte e que hoje parece ter caído em desuso e corre o risco de se perder.
É de realçar que a linha melódica se pode decifrar com bastante segurança, mas que o ritmo pode ser objecto de diferentes interpretações (sendo objecto de várias divergências musicológicas). A parte harmónica e as opções instrumentais são totalmente deduzidas.
A recriação da atmosfera do tempo socorreu-se no caso do concerto em apreço, de elementos claramente populares e tradicionais das regiões durienses e galegas. O uso da gaita de foles com ornamentação bem característica do nosso povo (sem esquecer a origem também exterior a Portugal da compilação do rei Afonso X), o uso da combinação do tamboril e flauta, que se encontra desde Rio de Onor e Miranda do Douro até Vila Verde de Ficalho (numa enorme extensão territorial) foi amplamente usado pelo Micrologus, que se socorreu de outros instrumentos, como sanfona, harpas, sinos, rabecas ... Sempre com enorme ligação aos ritmos e harmonias arcaicas que subsistiram na tradição popular mas alicerçadas no conhecimento erudito das harmonias medievais.
Neste concerto tivemos a recriação musicológica combinada com uma interpretação, do ponto de vista musical, muito natural e seguríssima, sem esquecer, pelo menos aparentemente, a frescura de uma certa improvisação e um grande entusiasmo pela música como elemento vivo e sempre eterno. Esse lado da vivência musical pura, apesar do tempo e do lugar, fez deste concerto algo inesquecível.
De realçar que um ensemble de 10 elementos não precisou de amplificação sonora para nada ao contrário do enorme ensemble de Jordi Savall que utilizou uma bizarra panóplia de altifalantes e amplificadores mal concebidos para o espaço e distorcendo totalmente a audição. Um viva pela naturalidade do som produzido.
Hesito sempre em recomendar um concerto, por antecipação, neste blog, felizmente este não deslustrou as espectativas.
Recordo o Livro Instrumentos Musicais Populares Portugueses de Ernesto Veiga de Oliveira, editado pela Fundação Gulbenkian, onde se pode constatar a enorme riqueza de instrumentação que o nosso povo usava até meados do século vinte e que hoje parece ter caído em desuso e corre o risco de se perder.
11.4.05
Ensemble Micrologus - Lembrança
Divulgamos informação recebida por email da parte do Serviço de Música da Fundação Calouste Gulbenkian. O texto contém todos os dados necessários para uma avaliação prévia do que será o concerto de dia 12, terça feira.
De notar que o Ensemble Micrologus é uma das formações mais consistentes na Música Antiga e que este concerto é imprescindível para quem gosta da Grande Música de Todos os Tempos!
Terça, 12 de Abril, 19h00
Ciclo de Música Antiga
Ensemble Micrologus
“Nostra Donna”: As Cantigas de Santa Maria de Afonso X de Castela
Virgen Madre groriosa
Como podemos a Deus gradeçer
Beneito foi o dia
O que en coita de morte
Muito foi noss'amigo Gabriel
Poys que dos reys
Sempre seja beneita
Quen aos servos da Virgen
Aver non poderia
Beneyta es Maria
Nembressete Madre
Muito bon miragre a Virgen
Quantos me creveren loaran
A Virgen S. Maria
O Ensemble Micrologus, que conta já com 20 anos de existência, é um dos agrupamentos mais consagrados no domínio da interpretação da música medieval, tratando-se também de um dos agrupamentos que participou na confirmação da validade e enriquecimento que os músicos italianos trouxeram ao desenvolvimento da interpretação da música antiga, e não apenas no reportório barroco. O Ensemble Micrologus reúne investigação musicológica com uma capacidade de recriação musical, historicamente fundamentada, não perdendo de vista a demanda da música enquanto experiência de gozo da beleza e fruição emocional. Por isso mesmo, os seus concertos ficam como intensas experiências musicais ao nível da memória, ultrapassando em muito o mero interesse histórico-cultural do reportório. A prática de recriação musical apoia-se em estudos aturados nas mais diversas fontes e recursos, chegando ao ponto de reconstruir instrumentos com base em descrições e fontes iconográficas. Para atingir um modelo de comparação em termos de realidade sonora existente, o Ensemble Micrologus recorre ainda ao estudo comparativo de reportórios de tradição oral com traços arcaicos que se apresentem inspiradores para atingir um determinado ideal de sonoridade. Corporizam por isso uma das mais férteis vias de cooperação da musicologia e etnomusicologia, iluminando aspectos como o fraseado, técnicas de emissão vocal e ainda a complexa questão da ornamentação.
Com uma cuidada e valiosa discografia, o Ensemble Micrologus tem gravado para o catálogo da Opus 111-Naïve e a partir de 2004 na recente etiqueta Zig Zag Territoires.
O concerto centrado nas cantigas de Afonso X, reveste-se do maior interesse, uma vez que se trata de um espólio absolutamente incontornável para o conhecimento da tradição lírica trovadoresca em galaico-português na Península Ibérica. Centrando-se no culto mariano, são ainda exemplo da tolerância religiosa presente na corte de Afonso X, pois as iluminuras que acompanham esta colecção de cantigas dão-nos conta da presença de elementos cristãos, muçulmanos e judeus em tranquila convivência. O códice constitui-se ainda como o principal documento iconográfico para o estudo da organologia europeia, precisamente pela valiosa informação fornecida relativa aos instrumentos e à sua execução.
De notar que o Ensemble Micrologus é uma das formações mais consistentes na Música Antiga e que este concerto é imprescindível para quem gosta da Grande Música de Todos os Tempos!
Terça, 12 de Abril, 19h00
Ciclo de Música Antiga
Ensemble Micrologus
“Nostra Donna”: As Cantigas de Santa Maria de Afonso X de Castela
Virgen Madre groriosa
Como podemos a Deus gradeçer
Beneito foi o dia
O que en coita de morte
Muito foi noss'amigo Gabriel
Poys que dos reys
Sempre seja beneita
Quen aos servos da Virgen
Aver non poderia
Beneyta es Maria
Nembressete Madre
Muito bon miragre a Virgen
Quantos me creveren loaran
A Virgen S. Maria
O Ensemble Micrologus, que conta já com 20 anos de existência, é um dos agrupamentos mais consagrados no domínio da interpretação da música medieval, tratando-se também de um dos agrupamentos que participou na confirmação da validade e enriquecimento que os músicos italianos trouxeram ao desenvolvimento da interpretação da música antiga, e não apenas no reportório barroco. O Ensemble Micrologus reúne investigação musicológica com uma capacidade de recriação musical, historicamente fundamentada, não perdendo de vista a demanda da música enquanto experiência de gozo da beleza e fruição emocional. Por isso mesmo, os seus concertos ficam como intensas experiências musicais ao nível da memória, ultrapassando em muito o mero interesse histórico-cultural do reportório. A prática de recriação musical apoia-se em estudos aturados nas mais diversas fontes e recursos, chegando ao ponto de reconstruir instrumentos com base em descrições e fontes iconográficas. Para atingir um modelo de comparação em termos de realidade sonora existente, o Ensemble Micrologus recorre ainda ao estudo comparativo de reportórios de tradição oral com traços arcaicos que se apresentem inspiradores para atingir um determinado ideal de sonoridade. Corporizam por isso uma das mais férteis vias de cooperação da musicologia e etnomusicologia, iluminando aspectos como o fraseado, técnicas de emissão vocal e ainda a complexa questão da ornamentação.
Com uma cuidada e valiosa discografia, o Ensemble Micrologus tem gravado para o catálogo da Opus 111-Naïve e a partir de 2004 na recente etiqueta Zig Zag Territoires.
O concerto centrado nas cantigas de Afonso X, reveste-se do maior interesse, uma vez que se trata de um espólio absolutamente incontornável para o conhecimento da tradição lírica trovadoresca em galaico-português na Península Ibérica. Centrando-se no culto mariano, são ainda exemplo da tolerância religiosa presente na corte de Afonso X, pois as iluminuras que acompanham esta colecção de cantigas dão-nos conta da presença de elementos cristãos, muçulmanos e judeus em tranquila convivência. O códice constitui-se ainda como o principal documento iconográfico para o estudo da organologia europeia, precisamente pela valiosa informação fornecida relativa aos instrumentos e à sua execução.
Idades
No futuro e próximo Conclave poderão estar presentes 117 cardeais. Três foram criados por Paulo VI, os restantes por João Paulo II.
O cardeal mais novo tem 52 anos, cinco têm menos de sessenta anos.
Trinta e seis cardeais estão entre os sessenta e os setenta.
Setenta e seis cardeais eleitores têm entre setenta e oitenta mas trinta e sete destes têm mais de setenta e cinco anos!
Nenhum eleitor poderá ter mais de oitenta anos à data da morte de João Paulo II.
A média de idades, nos eleitores, é de quase 73 anos.
O Colégio cardinalício obedece a uma lógica conservadora e, mesmo com as nomeações feitas por parte de João Paulo II continuou envelhecido, relembre-se que este Papa criou cardeais que, à data da imposição do barrete, tinham mais de oitenta anos.
Todos os cardeais foram ordenados bispos, seja em título (sendo bispos de uma diocese extinta ou apenas nominais de uma diocese existente, como Palestrina e outras no caso de um dos seis cardeais da ordem mais elevada), seja de facto (dirigindo uma diocese). Esta obrigação de um cardeal ser também bispo está consagrada no direito canónico desde João XIII. Se um escolhido para cardeal não for bispo deve ser consagrado previamente.
Embora o escolhido para Papa possa não ser cardeal, ou mesmo bispo, a probabilidade de o escolhido ser exterior ao conclave é quase nula. Se o Papa eleito não for bispo deve ser consagrado imediatamente antes de ascender a Papa (bispo de Roma). (Constituição Apostólica de João Paulo II)
Existem três ordens de cardeais, os de ordem mais elevada correspondem a seis dioceses suburbicanas de Roma, mais a diocese de Óstia que é título do Decano. O Decano terá de ser forçosamente um dos seis cardeais desta ordem. É a Ordem dos Cardeias Bispos. Não espante que haja cardeais muito mais velhos que Ratzinger, ou que tenham sido criados há mais tempo, o Decano é eleito entre os cardeais bispos e apenas entre estes e confirmado pelo Papa, que pode recusar a eleição.
A segunda ordem é a mais numerosa, são os cardeais padres, cada um tem o título correspondente a uma dada igreja de Roma, a maioria destes cardeais são bispos e arcebispos de dioceses efectivas ou membros destacados de ordens religiosas. José da Cruz Policarpo é um cardeal padre.
Finalmente temos os cardeais diáconos, quase todos trabalham na Santa Sé, é o título que o Papa prefere atribuir aos seus colaboradores mais directos, todos são bispos apenas em título, sem diocese efectiva. Ao fim de dez anos podem optar pelo título de cardeal padre. Saraiva Martins é cardeal diácono.
Todos os cardeais, independentemente da ordem, têm os mesmos direitos de voto no conclave.
Ver Colégio dos Cardeais na Wikipedia ou Site do Vaticano com informações oficiais, onde se pode também consultar a legislação.
O cardeal mais novo tem 52 anos, cinco têm menos de sessenta anos.
Trinta e seis cardeais estão entre os sessenta e os setenta.
Setenta e seis cardeais eleitores têm entre setenta e oitenta mas trinta e sete destes têm mais de setenta e cinco anos!
Nenhum eleitor poderá ter mais de oitenta anos à data da morte de João Paulo II.
A média de idades, nos eleitores, é de quase 73 anos.
O Colégio cardinalício obedece a uma lógica conservadora e, mesmo com as nomeações feitas por parte de João Paulo II continuou envelhecido, relembre-se que este Papa criou cardeais que, à data da imposição do barrete, tinham mais de oitenta anos.
Todos os cardeais foram ordenados bispos, seja em título (sendo bispos de uma diocese extinta ou apenas nominais de uma diocese existente, como Palestrina e outras no caso de um dos seis cardeais da ordem mais elevada), seja de facto (dirigindo uma diocese). Esta obrigação de um cardeal ser também bispo está consagrada no direito canónico desde João XIII. Se um escolhido para cardeal não for bispo deve ser consagrado previamente.
Embora o escolhido para Papa possa não ser cardeal, ou mesmo bispo, a probabilidade de o escolhido ser exterior ao conclave é quase nula. Se o Papa eleito não for bispo deve ser consagrado imediatamente antes de ascender a Papa (bispo de Roma). (Constituição Apostólica de João Paulo II)
Existem três ordens de cardeais, os de ordem mais elevada correspondem a seis dioceses suburbicanas de Roma, mais a diocese de Óstia que é título do Decano. O Decano terá de ser forçosamente um dos seis cardeais desta ordem. É a Ordem dos Cardeias Bispos. Não espante que haja cardeais muito mais velhos que Ratzinger, ou que tenham sido criados há mais tempo, o Decano é eleito entre os cardeais bispos e apenas entre estes e confirmado pelo Papa, que pode recusar a eleição.
A segunda ordem é a mais numerosa, são os cardeais padres, cada um tem o título correspondente a uma dada igreja de Roma, a maioria destes cardeais são bispos e arcebispos de dioceses efectivas ou membros destacados de ordens religiosas. José da Cruz Policarpo é um cardeal padre.
Finalmente temos os cardeais diáconos, quase todos trabalham na Santa Sé, é o título que o Papa prefere atribuir aos seus colaboradores mais directos, todos são bispos apenas em título, sem diocese efectiva. Ao fim de dez anos podem optar pelo título de cardeal padre. Saraiva Martins é cardeal diácono.
Todos os cardeais, independentemente da ordem, têm os mesmos direitos de voto no conclave.
Ver Colégio dos Cardeais na Wikipedia ou Site do Vaticano com informações oficiais, onde se pode também consultar a legislação.
8.4.05
A Capital e o furto de textos
O Jornal "A Capital" utilizou textos de bloggers sem avisar autores, sem lhes pedir autorização e sem lhes pagar.
Pior, diz que o material é sua propriedade e não permite a sua utilização sem autorização do próprio Jornal!
Tudo isto a partir do blogue Esplanar, que nos habituámos a ler.
Uma situação que põe em risco a continuidade do blogue e é uma pouca vergonha da parte do director Osório, uma espécie de frade da esquerda moralista e correcta.
Companheiro Osório: faz o que ele diz não faças o que faz.
Pior, diz que o material é sua propriedade e não permite a sua utilização sem autorização do próprio Jornal!
Tudo isto a partir do blogue Esplanar, que nos habituámos a ler.
Uma situação que põe em risco a continuidade do blogue e é uma pouca vergonha da parte do director Osório, uma espécie de frade da esquerda moralista e correcta.
Companheiro Osório: faz o que ele diz não faças o que faz.
Adeus
Repouso Eterno
7.4.05
Um exemplo
Ut unun sint
5.4.05
Perguntas e reflexões depois de escutar Pinho Vargas
Assisti à conferência que o compositor e professor António Pinho Vargas proferiu na Culturgest. A conferência foi interessantíssima, aprendi com Pinho Vargas, o que acontece com frequência quando o escuto.
Fiquei com uma pergunta atravessada, depois da rarefacção de Webern onde situa Pinho Vargas John Cage? Será que a invenção dos 4'33'' é um refinamento desta rarefacção? Ou apenas uma ideia, uma provocação musical esporádica, como tantas do americano? Será um paradigma ou um anátema do tempo? Como será que Adorno veria o americano se o tivesse analisado a fundo, como estudou Schönberg ou Stravinsky?
Adorno prevê dois tipos de acaso aceitável: o automático e o esporádico, ambos relacionados com o conceito de interpretação. O primeiro tipo relaciona-se com a forma como o intérprete ataca subjectivamente a obra, o segundo tem a ver com o próprio conceito aleatório de qualquer performance, uma tosse, um telemóvel (que hoje aparece), uma distracção do intérprete... Adorno teve tempo para escrever sobre Cage, era apenas nove anos mais velho, mas parece ter tido algum desconforto, digamos pudor, em abrir brechas neste autor ou em Boulez, para não ir mais longe. Eu creio que nunca os nega, mas será que os compreende?
O silêncio de Cage é a aceitação total do acaso na performance? É entregar a obra ao acaso extremo? Ao tempo, e ao lugar? Ao ruído da sala, ao virar das folhas, às tosses?
No limite poderíamos pensar que este acaso é afinal o acaso que povoa qualquer obra. O fortuito na segunda hipótese (o esporádico) levado à expressão absoluta e o automático reduzido ao mínimo, ao zero. Destes dois acasos resta assim o mais aceitável de todos, a da performance como acto público, inerente à condição social do acto. O intérprete, reduzido ao mínimo, totalmente despido de automatismos subjectivos, extirpado de clichés e tiques. O ideal para qualquer compositor! Um pianista que não estrague a perfeição da partitura com uma interpretação que pode ser miserável, má, sofrível, ou apenas com erros!
Compositor é o maior exemplo do artista que sofre, depende sempre de outros, que, por definição, nunca compreendem a obra e o que está por detrás da mesma. Grande John Cage.
Fiquei com uma pergunta atravessada, depois da rarefacção de Webern onde situa Pinho Vargas John Cage? Será que a invenção dos 4'33'' é um refinamento desta rarefacção? Ou apenas uma ideia, uma provocação musical esporádica, como tantas do americano? Será um paradigma ou um anátema do tempo? Como será que Adorno veria o americano se o tivesse analisado a fundo, como estudou Schönberg ou Stravinsky?
Adorno prevê dois tipos de acaso aceitável: o automático e o esporádico, ambos relacionados com o conceito de interpretação. O primeiro tipo relaciona-se com a forma como o intérprete ataca subjectivamente a obra, o segundo tem a ver com o próprio conceito aleatório de qualquer performance, uma tosse, um telemóvel (que hoje aparece), uma distracção do intérprete... Adorno teve tempo para escrever sobre Cage, era apenas nove anos mais velho, mas parece ter tido algum desconforto, digamos pudor, em abrir brechas neste autor ou em Boulez, para não ir mais longe. Eu creio que nunca os nega, mas será que os compreende?
O silêncio de Cage é a aceitação total do acaso na performance? É entregar a obra ao acaso extremo? Ao tempo, e ao lugar? Ao ruído da sala, ao virar das folhas, às tosses?
No limite poderíamos pensar que este acaso é afinal o acaso que povoa qualquer obra. O fortuito na segunda hipótese (o esporádico) levado à expressão absoluta e o automático reduzido ao mínimo, ao zero. Destes dois acasos resta assim o mais aceitável de todos, a da performance como acto público, inerente à condição social do acto. O intérprete, reduzido ao mínimo, totalmente despido de automatismos subjectivos, extirpado de clichés e tiques. O ideal para qualquer compositor! Um pianista que não estrague a perfeição da partitura com uma interpretação que pode ser miserável, má, sofrível, ou apenas com erros!
Compositor é o maior exemplo do artista que sofre, depende sempre de outros, que, por definição, nunca compreendem a obra e o que está por detrás da mesma. Grande John Cage.
Toradze em Lisboa
Assisti na quinta feira passada a Alexander Toradze interpretar o concerto nº 3 de Prokofiev com a orquestra Gulbenkian e Bertrand Billy na direcção. Voltei a assistir no domingo ao Toradze Piano Studio.
Fiquei convencido da grande capacidade de Toradze como pianista e pedagogo.
Pese embora algum excesso de agressividade, a sua vitalidade e personalidade são marcantes. Toradze é um músico que arrisca e arrisca pela música.
Prokofiev não é para todos e percebeu isso mesmo no recital de domingo. Os seus estudantes e assistentes mostraram-se à altura das obras.
Já Bertrand de Billy e a Gulbenkian poderiam ter tido uma resposta mais equilibrada num concerto (quinta feira) em que houve muito bom e fracote. Felizmente o lado menos bom foi compensado pelos aspectos positivos.
Infelizmente o blogger não me tem deixado escrever, dá sempre erro, de modo que vou detalhar estas observações e comentar detalhadamente mais tarde a impressão que cada um dos pianistas me provocou.
Henrique Silveira
Fiquei convencido da grande capacidade de Toradze como pianista e pedagogo.
Pese embora algum excesso de agressividade, a sua vitalidade e personalidade são marcantes. Toradze é um músico que arrisca e arrisca pela música.
Prokofiev não é para todos e percebeu isso mesmo no recital de domingo. Os seus estudantes e assistentes mostraram-se à altura das obras.
Já Bertrand de Billy e a Gulbenkian poderiam ter tido uma resposta mais equilibrada num concerto (quinta feira) em que houve muito bom e fracote. Felizmente o lado menos bom foi compensado pelos aspectos positivos.
Infelizmente o blogger não me tem deixado escrever, dá sempre erro, de modo que vou detalhar estas observações e comentar detalhadamente mais tarde a impressão que cada um dos pianistas me provocou.
Henrique Silveira
4.4.05
A Eleição do novo Papa
Pode ser uma pessoa exterior ao colégio cardinalício. Pode ser um não Bispo.
Por ser actual e interessante aqui está a Constituição Apostólica que regula estes assuntos, da autoria de João Paulo II. Em português numa tradução oficial do Vaticano:
Constituição Apostólica UNIVERSI DOMINICI GREGIS.
Por ser actual e interessante aqui está a Constituição Apostólica que regula estes assuntos, da autoria de João Paulo II. Em português numa tradução oficial do Vaticano:
Constituição Apostólica UNIVERSI DOMINICI GREGIS.
3.4.05
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