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23.4.05

Festa da Música - Notas de Audição 1 

Mais uma vez na Festa da Música, sexta feira com apenas 4 concertos. Diversos amigos na rádio e televisão impediram-me de ver e ouvir mais. Uma contenção interessante que evita o excesso sonoro de outros anos.
Resolvi quedar-me por Beethoven e, sobretudo, por intérpretes estrangeiros com excepção do Divino Sospiro, concerto com o septeto opus 20 de Beethoven em instrumentos originais. Foi bom escutar a sonoridade do tempo de Beethoven, mais não acrescento mais nada por razões que se prendem com o meu envolvimento no projecto do agrupamento.

Escutei na sala Waldstein a Sinfonia Varsóvia, dirigida por Peter Csaba nas vinte e seis variações da Folia de Espanha, não todas as variações, mas suficientes para perceber o interesse da obra, que embora já escutada anteriormente por mim, não tinha ficado muito marcada na minha memória. Recordo uma variação em que o coro de trombones faz de forma muito escura (quase negra) uma antevisão do que Wagner viria a levar às últimas consequências.
Uma interpretação muito sólida da Sinfonia Varsóvia e do seu director.
A sinfonia em dó menor (nº5), seguida com a partitura e na companhia da Teresa, foi uma experiência de reencontro com uma obra que a certa altura se deixou de ouvir, por exaustão sonora. Um reencontro notável através de uma leitura linear, fiel ao texto escrito, plástica e recortada, com acentuações diferentes ao longo da obra e muito sensíveis ao contexto e economia da obra. Uma pequena atrapalhação no início da célebre passagem dos violoncelos e contrabaixos no terceiro andamento e um malfadado clarinete a tocar nas pausas no final da sinfonia não estragaram uma interpretação de altíssimo nível. Cordas de grande coesão, madeiras de grande beleza. Um concerto de grande nível pela Sinfonia Varsóvia.

Uma redução para dois pianos da sinfonia em ré menor (nona) de Beethoven feita por Liszt e interpretada por Brigitte Engerer e Boris Berezovsky parecia muito apetecível. Foi uma espécie de bom momento, mais pela carga e pelo esforço, pelo entusiasmo, do que pela realização musical propriamente dita. Um concerto como no tempo de Beethoven em que os músicos nem sequer levavam a música para casa para estudar. Percebeu-se que o trabalho de ensaio foi pequeno, mas que os pianistas são de alto nível e mesmo numa interpretação a ler, pouco libertos das dificuldades técnicas, sobretudo em Engerer na parte do primeiro piano fazendo as vozes mais altas e melódicas, conseguimos perceber a qualidade que se esconde por detrás das notas erradas. Um primeiro andamento muito bom, um scherzo tremendo e muito bem ritmado, um terceiro andamento pouco lírico e muito em passagem de notas. Finalmente o último andamento em género meia bola e força, mas é preciso levar a música para a frente, com um primeiro "prestissimo" desastroso onde a música perdeu mesmo o nexo, mas que Berezovsky conseguiu conduzir, a partir da parte dos baixos e da sustentação sonora, para reencaminhar a obra nos carris e acabar em triunfo. Um concerto imperfeito, muito imperfeito, mas belo de se escutar e empolgante próprio de uma festa da música. Sonoridade excessiva, martelar no piano, fúria destrutiva! Pianos no final em estado lastimoso e totalmente desafinados...

Finalmente escutei o quarteto Ysaÿe que fez uma leitura irrepreensível dos quartetos opus 18 nº4 e nº6 de Beethoven. Um concerto excelente! Perfeito no ritmo, na vitalidade, entrega. Um misto de associação e dissociação, a essência de qualquer quarteto, feito de forma subtil e natural. Um pouco de excesso de vibrato no violoncelo nas passagens mais elegíacas, mas um grande equilíbrio entre músicos, e entre paixão e serenidade. Arrebatamento e elegância, o que é difícil de obter. Pianíssimos de grande qualidade, sem timidez, mas no limite do inaudível. Adagios no quarteto nº6 "la malincona", uma das grandes obras de Beethoven, de alta sensibilidade. Quarteto Ysaÿe é um dos grandes agrupamentos desta Festa da Música.

Hoje prevejo ver e ouvir:

O mesmo quarteto pelas 12h (já a seguir).
A missa em dó maior com Peter Neumann e o collegium cartusianun.
Mais quarteto de Beethoven pelos Ysaÿe pelas 15h.
Filipe Pinto Ribeiro pelas 16h45m
Mais quarteto Ysaÿe pelas 18h45m
Indecisão entre Jorge Moyano e Explorations pelo fim da tarde.
Indecisão entre Lugansky e Beresovsky ao início da noite (21h e 21h30m).
Finalmente a Missa Solene pelo coro de câmara da RIAS e concerto Köln com direcção de Daniel Reuss pelas 22h30m.

Um dia em cheiro.



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