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19.4.05

O Papa da Abertura 



Depois de tudo o que foi dito, é altura de colocar alguns pontos nos ii.
A memória dos homens é curta e existe a tendência de se falar do que se viu, do que se presenciou e não daquilo que se passou há quarenta anos.
O verdadeiro Papa da abertura foi João XXIII, o homem bom, o Papa do perdão sem compromissos, o homem que não admitia excluídos, tal como Cristo, o mesmo Cristo que conviveu com prostitutas e cobradores de impostos e escolheu os seus discípulos entre gente humilde, entre os pescadores da Galileia e não imperadores, grandes senhores ou os banqueiros de hoje.
João XXIII é o Bom Pastor em todo o sentido da palavra. E ser bom é a virtude máxima para João XXIII.
Ratzinger causa em mim um arrepio, tal como causava a intransigência de João Paulo II, que nos últimos anos do seu papado tinha como cabeças esse mesmo Ratzinger e o amigo de Pinochet: Sodano.
A ausência de pragmatismo moral, na questão do preservativo, por exemplo, pode ter levado à morte um número incontável de homens e mulheres, geralmente muito pobres, quando a mais elementar defesa do direito à vida deveria ter levado o Papa pelo caminho bem mais espinhoso da tolerância.
Ratzinger é mais um Papa, como tantos, um papa falível como os mais de duzentos papas que o foram até Pio IX. O Concílio Vaticano I no século XIX declarou a infalibilidade papal (a par dos Concílios Ecuménicos que tinham essa progativa até então). Ratzinger ou Bento XVI é tão infalível como Alexandre Bórgia ou Celestino V* se tornaram retroactivamente depois da infalibilidade ser decretada, como uma espécie de panaceia universal para o totalitarismo absoluto de um homem solitário e frágil.
Resta saber se Deus o vai conservar por muito tempo. Palpita-me que o Beato João vai continuar a ser um dos Santos esquecidos tanto de João Paulo II como de Bento XVI. Palpita-me que veremos uma sucessão interminável de canonizações de pastorinhos e de homens do Opus Dei, como a canonização expresso de Escrivá em detrimento do mesmo João XXIII e do padre Arrupe, o Jesuíta.
Mas é o Papa que temos, talvez mude, muitos o fizeram...

* Celestino V (Pietro da Morrone 1209-1296), Papa em 1294 se a memória não me falha no tempo do velhaco Filipe o Belo de França, eremita dos montes Abruzzi, chamado da sua cabana (ou caverna como reza a lenda) por uma multidão de cardeais, bispos, dignitários... Reinou durante cinco meses. Teve um papado inenarrável de erros e disparates segundo a história ortodoxa que nunca lhe perdoou a renúncia, um verdadeiro acto de insubordinação perante uma hierarquia que o queria manipular. Pobre e espiritual. Abdicou (caso único), tentou regressar ao seu eremitério para rezar e fazer os seus exercícios espirituais, mas foi preso pelo sucessor Bonifácio VIII com receio que Celestino se tornasse incómodo. Morreu provavelmente aos 87 anos na cadeia, existem rumores que teria sido assassinado por Bonifácio. Pouco depois (1313) foi canonizado por Clemente V como S. (Pedro) Celestino, celebra-se a 19 de Maio. É um Santo muito incómodo para todos aqueles que nunca perdoaram a sua demissão...


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