27.4.05
Quarteto Ysaÿe - notas de audição 2
Sábado, 12h, Beethoven, quarteto opus 59 nº1.
O quarteto Ysaye é uma formação adulta. Formou repertório, tem 20 anos de trabalho em cima. As obras estão amadurecidas, pensadas.
Assim se provou com o quarteto opus 59, nº1, o mais profundo dos quartetos dedicados por Beethoven a Razumovsky.
No primeiro andamento o violoncelo enunciou de forma máscula a introdução que seria revisitada de seguida pelo primeiro violino. Ao segundo tema não se pode chamar feminino, talvez elegíaco, facto que o quarteto interpretou com rigor. Neste primeiro andamento constato a já sabida fusão de personalidades dos elementos do quarteto numa só fluência discursiva e retórica.
No segundo andamento, um scherzo, a associação e dissociação foram encenadas de forma subtil pelo Ysaÿe, em ambiente de jogo construtivo e desconstrutivo. Brilhante. Uma revelação abrupta de planos sonoros que surgem de forma surpreendente, escondidos pelos frases enunciadas em primeiro lugar numa descoberta que vai revelando novas realidades num jogo construtivo de sucessões de instantes mágicos. Uma espécie de suspensão no tempo coexistindo com uma progressão inexorável... Um acorde violento, tudo pára e, de novo, o turbilhão das associações sucessivas que volta a tomar o seu lugar numa espiral imparável que caminha para o êxtase estético do terceiro andamento, para a pausa quase absoluta (pausa que apenas retornará no opus 130), para a respiração comovente do violoncelo - de novo o violoncelo - no Adagio molto e mesto. Emoção e subtileza. Curioso o regresso à secção inicial deste andamento, ao já conhecido, e exposto anteriormente, junta-se o pizzicatto da viola (elemento enriquecedor típico de Beethoven), um novo elemento surpreendente, que contribui para o aumento da tensão. O discurso vai do primeiro violino, para o segundo, viola, violoncelo e regressa ciclicamente ao primeiro violino para, então, se passar ao último andamento. O exuberante e arrebatado (mas ao mesmo tempo contido) allegro, perfeito na sua simplicidade aparente. Que belos pianíssimos escutámos neste andamento. Até na utilização do pianíssimo este quarteto Ysaÿe é subtil não abusando da sua capacidade de se tornar quase inaudível sem se tornar irregular no som, o uso e abuso transformaria escassos momentos de transcendência que perduram num simples efeito de virtuosidade (v.g. Berezovsky). Um concerto capaz das emoções mais profundas num Beethoven da plena maturidade em que as sombras já surgem. Um quarteto de cordas superlativo na maturidade plena das suas capacidades discursivas e interpretativas, com inteligência. Um dos melhores concertos que escutámos.
O quarteto Ysaye é uma formação adulta. Formou repertório, tem 20 anos de trabalho em cima. As obras estão amadurecidas, pensadas.
Assim se provou com o quarteto opus 59, nº1, o mais profundo dos quartetos dedicados por Beethoven a Razumovsky.
No primeiro andamento o violoncelo enunciou de forma máscula a introdução que seria revisitada de seguida pelo primeiro violino. Ao segundo tema não se pode chamar feminino, talvez elegíaco, facto que o quarteto interpretou com rigor. Neste primeiro andamento constato a já sabida fusão de personalidades dos elementos do quarteto numa só fluência discursiva e retórica.
No segundo andamento, um scherzo, a associação e dissociação foram encenadas de forma subtil pelo Ysaÿe, em ambiente de jogo construtivo e desconstrutivo. Brilhante. Uma revelação abrupta de planos sonoros que surgem de forma surpreendente, escondidos pelos frases enunciadas em primeiro lugar numa descoberta que vai revelando novas realidades num jogo construtivo de sucessões de instantes mágicos. Uma espécie de suspensão no tempo coexistindo com uma progressão inexorável... Um acorde violento, tudo pára e, de novo, o turbilhão das associações sucessivas que volta a tomar o seu lugar numa espiral imparável que caminha para o êxtase estético do terceiro andamento, para a pausa quase absoluta (pausa que apenas retornará no opus 130), para a respiração comovente do violoncelo - de novo o violoncelo - no Adagio molto e mesto. Emoção e subtileza. Curioso o regresso à secção inicial deste andamento, ao já conhecido, e exposto anteriormente, junta-se o pizzicatto da viola (elemento enriquecedor típico de Beethoven), um novo elemento surpreendente, que contribui para o aumento da tensão. O discurso vai do primeiro violino, para o segundo, viola, violoncelo e regressa ciclicamente ao primeiro violino para, então, se passar ao último andamento. O exuberante e arrebatado (mas ao mesmo tempo contido) allegro, perfeito na sua simplicidade aparente. Que belos pianíssimos escutámos neste andamento. Até na utilização do pianíssimo este quarteto Ysaÿe é subtil não abusando da sua capacidade de se tornar quase inaudível sem se tornar irregular no som, o uso e abuso transformaria escassos momentos de transcendência que perduram num simples efeito de virtuosidade (v.g. Berezovsky). Um concerto capaz das emoções mais profundas num Beethoven da plena maturidade em que as sombras já surgem. Um quarteto de cordas superlativo na maturidade plena das suas capacidades discursivas e interpretativas, com inteligência. Um dos melhores concertos que escutámos.
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