29.4.05
Quarteto Prazak e um clarinetista - Dois concertos no sábado - Notas de audição 5
O quarteto Prazak é quase sui generis hoje, interpreta música de câmara na sua expressão mais viva e clássica (no sentido histórico do termo), como se estivessem em casa, num dia à noite.
Um quarteto em que temos a soma de personalidades sem que estas se apaguem, uma espécie de quarteto dos primeiros tempos deste tipo de música: quatro amigos reunidos, neste caso bons músicos, e fazem música por prazer. Não estamos em presença de visões uniformes, de análises demasiado intelectualizadas. No caso do quarteto Prazak pode-se até dizer que são rústicos, a sonoridade é rude, angulosa. Onde os Ysaÿe são elegantes e refinados, uniformes, pensados, redondos, os Prazak são rústicos e bárbaros, pouco homogéneos, intuitivos, angulosos. Significa isso que é um quarteto menor? A resposta é um rotundo não!
Nada nos diz que a música feita com entusiasmo, prazer puro, intuição, retorno às origens, é má música, antes pelo contrário. Acontecimentos como a Festa da Música são ocasiões de poder comparar diferentes visões num período de tempo curto, apesar das críticas que se podem fazer a este tipo de eventos e que serão analisadas com calma no futuro. Esta possibilidade é única, poder ouvir grandes quartetos de cordas (ou outras formações) em repertórios semelhantes é um valor inestimável.
Falemos então dos Prazak: como foi dito a sua concepção de música de câmara é muito intuitiva e livre, o seu maior valor é o entusiasmo e felicidade com que fazem música, parecem realmente quatro amigos a tocar juntos sem obliterar as suas personalidades de origem. Um violoncelo sonoro e cheio de carácter, um viola com sonoridade densa e aveludada, um segundo violino que não se apaga perante o primeiro e um primeiro violino com uma sonoridade rude mas, ao mesmo tempo, forte e expressiva.
No quarteto opus 127, sábado à tarde (15h15m na sala Holz), tivemos uma vigorosa leitura de um dos cinco últimos quartetos de Beethoven. Uma introdução com erros, notas erradas, desafinações, mas o resto quase perfeito na linha de que falei acima. Torna-se evidente que os andamentos rápidos são muito empolgantes e o scherzo foi brindado por uma tremenda salva de palmas, por parte de um público menos sabedor mas generoso. Não sei se fiz bem em ter ficado de nariz empinado olhando com desdém para quem batia palmas entre andamentos, afinal a celebração natural da música por este quarteto coaduna-se bem com as palmas entre andamentos. Como teria sido há duzentos anos? Certamente que teríamos palmas e comentários não só entre andamentos como durante a execução...
Um final brilhante e apaixonado culminou um belo concerto.
Pelas 18h15m o mesmo quarteto na mesma sala com duas interpretações radicalmente distintas, Roman Guyot clarinete juntou-se ao quarteto Prazak para o belíssimo quinteto de Weber, o opus 34 em si bemol maior, um quarteto de cordas com uma parte solística e virtuosística para clarinete. Infelizmente a interpretação de Guyot foi confrangedora, sonoridade excessiva, pouca subtileza, frases por terminar, falta de sentido de respiração, articulação trapalhona. O Scherzo foi um desastre, a fluidez que se requer essencial para uma leitura que tem de parecer fácil (e não o é) foi nula, notas erradas, desespero no fraseado em que se notou grande dificuldade. Uma escolha de palheta demasiado forte? O último andamento, rondo, voltou a ter esses mesmos erros. O quarteto de cordas esteve ao seu nível habitual. O programa não incluiu os nomes completos dos andamentos:
(As notas dizem respeito ao clarinete.)
1 Allegro. Médio fraco.
2 Fantasia - adagio ma non troppo. Razoável mas pouco sensível.
3 Menuetto - Capriccio Presto. Muito mau, desastroso
4 Rondo - allegro giocoso. Pouco fluido, lido de forma anódina e com final a retardar nas tercinas de semicolcheia.
O mesmo concerto prosseguiu com uma grande fuga opus 133 de Beethoven em si bemol maior, o final original para o opus 130 e aqui retirada do contexto. Uma obra fora do tempo e fora do mundo, um grande arco musical, o expoente dos expoentes dos últimos quartetos e de toda a obra do mestre de Bona. A visão do Prazak foi atormentada, solística em cada uma das partes, agreste. Ficou quase irrespirável o ar devido à carga da obra e à hipersensibilidade (sem cair no sentimentalismo) com que a obra foi executada. Não sei se foi uma boa interpretação, nem me interessa. Foi uma visão arrasadora, esmagadora. Saí deprimido pela gigantesca carga desta música.
Um concerto com duas partes totalmente distintas.
Um quarteto em que temos a soma de personalidades sem que estas se apaguem, uma espécie de quarteto dos primeiros tempos deste tipo de música: quatro amigos reunidos, neste caso bons músicos, e fazem música por prazer. Não estamos em presença de visões uniformes, de análises demasiado intelectualizadas. No caso do quarteto Prazak pode-se até dizer que são rústicos, a sonoridade é rude, angulosa. Onde os Ysaÿe são elegantes e refinados, uniformes, pensados, redondos, os Prazak são rústicos e bárbaros, pouco homogéneos, intuitivos, angulosos. Significa isso que é um quarteto menor? A resposta é um rotundo não!
Nada nos diz que a música feita com entusiasmo, prazer puro, intuição, retorno às origens, é má música, antes pelo contrário. Acontecimentos como a Festa da Música são ocasiões de poder comparar diferentes visões num período de tempo curto, apesar das críticas que se podem fazer a este tipo de eventos e que serão analisadas com calma no futuro. Esta possibilidade é única, poder ouvir grandes quartetos de cordas (ou outras formações) em repertórios semelhantes é um valor inestimável.
Falemos então dos Prazak: como foi dito a sua concepção de música de câmara é muito intuitiva e livre, o seu maior valor é o entusiasmo e felicidade com que fazem música, parecem realmente quatro amigos a tocar juntos sem obliterar as suas personalidades de origem. Um violoncelo sonoro e cheio de carácter, um viola com sonoridade densa e aveludada, um segundo violino que não se apaga perante o primeiro e um primeiro violino com uma sonoridade rude mas, ao mesmo tempo, forte e expressiva.
No quarteto opus 127, sábado à tarde (15h15m na sala Holz), tivemos uma vigorosa leitura de um dos cinco últimos quartetos de Beethoven. Uma introdução com erros, notas erradas, desafinações, mas o resto quase perfeito na linha de que falei acima. Torna-se evidente que os andamentos rápidos são muito empolgantes e o scherzo foi brindado por uma tremenda salva de palmas, por parte de um público menos sabedor mas generoso. Não sei se fiz bem em ter ficado de nariz empinado olhando com desdém para quem batia palmas entre andamentos, afinal a celebração natural da música por este quarteto coaduna-se bem com as palmas entre andamentos. Como teria sido há duzentos anos? Certamente que teríamos palmas e comentários não só entre andamentos como durante a execução...
Um final brilhante e apaixonado culminou um belo concerto.
Pelas 18h15m o mesmo quarteto na mesma sala com duas interpretações radicalmente distintas, Roman Guyot clarinete juntou-se ao quarteto Prazak para o belíssimo quinteto de Weber, o opus 34 em si bemol maior, um quarteto de cordas com uma parte solística e virtuosística para clarinete. Infelizmente a interpretação de Guyot foi confrangedora, sonoridade excessiva, pouca subtileza, frases por terminar, falta de sentido de respiração, articulação trapalhona. O Scherzo foi um desastre, a fluidez que se requer essencial para uma leitura que tem de parecer fácil (e não o é) foi nula, notas erradas, desespero no fraseado em que se notou grande dificuldade. Uma escolha de palheta demasiado forte? O último andamento, rondo, voltou a ter esses mesmos erros. O quarteto de cordas esteve ao seu nível habitual. O programa não incluiu os nomes completos dos andamentos:
(As notas dizem respeito ao clarinete.)
1 Allegro. Médio fraco.
2 Fantasia - adagio ma non troppo. Razoável mas pouco sensível.
3 Menuetto - Capriccio Presto. Muito mau, desastroso
4 Rondo - allegro giocoso. Pouco fluido, lido de forma anódina e com final a retardar nas tercinas de semicolcheia.
O mesmo concerto prosseguiu com uma grande fuga opus 133 de Beethoven em si bemol maior, o final original para o opus 130 e aqui retirada do contexto. Uma obra fora do tempo e fora do mundo, um grande arco musical, o expoente dos expoentes dos últimos quartetos e de toda a obra do mestre de Bona. A visão do Prazak foi atormentada, solística em cada uma das partes, agreste. Ficou quase irrespirável o ar devido à carga da obra e à hipersensibilidade (sem cair no sentimentalismo) com que a obra foi executada. Não sei se foi uma boa interpretação, nem me interessa. Foi uma visão arrasadora, esmagadora. Saí deprimido pela gigantesca carga desta música.
Um concerto com duas partes totalmente distintas.
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