29.4.05
Impressões de Bavouzet - Notas de audição 4 - Sábado e domingo
Para conseguir colocar neste espaço todas as notas que fui tirando, terei de ser mais breve nas minhas apreciações, senão vou continuar a escrever sobre esta Festa da Música já depois da próxima ter acabado.
Jean-Efflam Bavouzet é um pianista francês, é pouco referenciado pela crítica oficial, não suscita as paixão de Berezovsky, Lugansky ou mesmo Melnikov, que também estiveram presentes no CCB no último fim de semana.
Tomámos contacto com Jean-Efflam a tocar Wagner e Liszt na edição do ano passado naquilo que foi um concerto de altíssimo nível. Neste ano assistimos à sonata opus 31, nº3, em mi bemol maior e à espantosa sonata opus 106, Hammerklavier (piano de martelos) cuja abordagem é já de si um acto de grande coragem, ainda por cima no final de um fim de semana extenuante.
A sonata em mi bemol maior foi executada com clareza, luminosidade. Bavouzet deu-nos uma visão da sonata como se tratasse de um imenso scherzo de um Beethoven cheio de força e ainda optimista. "Uma sonata lúdica" como Bavouzet nos disse, se repararmos nos andamentos encontramos Allegro, Scherzo: allegro vivace, Menuetto: moderato e gracioso, Presto con fuoco! Curiosamente foi no scherzo que notámos ligeiríssimos problemas de fluidez discursiva, mas foi uma prestação de bom nível, com um último andamento impressionante.
A Hammerklavier em si bemol maior foi toda uma outra história, a maturidade, a experimentalidade da sonata, foram levadas ao extremo por uma leitura apaixonada e vigorosa de Bavouzet. Beethoven disse desta sonata: "Uma sonata que será tocada até daqui a cinquenta anos!" Não teve grande sucesso em tempos de Beethoven, as suas dimensões imensas (de longe a mais longa de Beethoven) e a sua dificuldade técnica e de concepção fazem desta peça tremenda uma espécie de anjo e demónio de qualquer pianista. Um allegro (2/2) inicial em que a utilização da mão esquerda por Bavouzet deu exactamente a visão necessária ao significado experimental da sonata. O scherzo (3/4), uma espécie de preparação para o gigantesco adagio sostenuto (6/8) que se segue, foi atacado com uma fluidez espantosa em que o tempo se suspendeu imperceptivelmente. O adagio sostenuto (6/8) único andamento que sai do si bemol maior é em tom menor (fá# menor) é o verdadeiro coração da sonata que se alonga por um tempo infinito, é um momento máximo de Beethoven e da história da música.
Bavouzet como pianista pensador e intelectual que é, fez uma leitura de grande respeito pelo texto, sem abusar do rubato, mantendo um enorme equilíbrio entre as vozes, a mão esquerda e direita, o uso muito contido e subtil do pedal, escrito na partitura, e uma sensibilidade extrema alicerçada numa enorme visão musical deram uma espantosa realização que fizeram deste concerto um dos mais memoráveis momentos deste fim de semana.
O final, largo-allegro resoluto (4/4) ainda sob os eflúvios intoxicantes do adagio, é uma construção visionária, "uma espécie de Shostakovitsch, não é?" ao que nós respondemos: "parece que tocaste mais como Prokofiev!" E Bavouzet: "C'est ça!" Ou seja, este final de uma sonata intemporal e experimental, bizarra no seu tempo, misteriosa, precursora e percussiva, foi lido numa vertigem que algumas notas erradas não tiraram qualquer mérito.
Um concerto de altíssimo nível por um pianista negligenciado pelos jornais.
P.S. Com o entusiasmo lá escrevi outro testamento...
Jean-Efflam Bavouzet é um pianista francês, é pouco referenciado pela crítica oficial, não suscita as paixão de Berezovsky, Lugansky ou mesmo Melnikov, que também estiveram presentes no CCB no último fim de semana.
Tomámos contacto com Jean-Efflam a tocar Wagner e Liszt na edição do ano passado naquilo que foi um concerto de altíssimo nível. Neste ano assistimos à sonata opus 31, nº3, em mi bemol maior e à espantosa sonata opus 106, Hammerklavier (piano de martelos) cuja abordagem é já de si um acto de grande coragem, ainda por cima no final de um fim de semana extenuante.
A sonata em mi bemol maior foi executada com clareza, luminosidade. Bavouzet deu-nos uma visão da sonata como se tratasse de um imenso scherzo de um Beethoven cheio de força e ainda optimista. "Uma sonata lúdica" como Bavouzet nos disse, se repararmos nos andamentos encontramos Allegro, Scherzo: allegro vivace, Menuetto: moderato e gracioso, Presto con fuoco! Curiosamente foi no scherzo que notámos ligeiríssimos problemas de fluidez discursiva, mas foi uma prestação de bom nível, com um último andamento impressionante.
A Hammerklavier em si bemol maior foi toda uma outra história, a maturidade, a experimentalidade da sonata, foram levadas ao extremo por uma leitura apaixonada e vigorosa de Bavouzet. Beethoven disse desta sonata: "Uma sonata que será tocada até daqui a cinquenta anos!" Não teve grande sucesso em tempos de Beethoven, as suas dimensões imensas (de longe a mais longa de Beethoven) e a sua dificuldade técnica e de concepção fazem desta peça tremenda uma espécie de anjo e demónio de qualquer pianista. Um allegro (2/2) inicial em que a utilização da mão esquerda por Bavouzet deu exactamente a visão necessária ao significado experimental da sonata. O scherzo (3/4), uma espécie de preparação para o gigantesco adagio sostenuto (6/8) que se segue, foi atacado com uma fluidez espantosa em que o tempo se suspendeu imperceptivelmente. O adagio sostenuto (6/8) único andamento que sai do si bemol maior é em tom menor (fá# menor) é o verdadeiro coração da sonata que se alonga por um tempo infinito, é um momento máximo de Beethoven e da história da música.
Bavouzet como pianista pensador e intelectual que é, fez uma leitura de grande respeito pelo texto, sem abusar do rubato, mantendo um enorme equilíbrio entre as vozes, a mão esquerda e direita, o uso muito contido e subtil do pedal, escrito na partitura, e uma sensibilidade extrema alicerçada numa enorme visão musical deram uma espantosa realização que fizeram deste concerto um dos mais memoráveis momentos deste fim de semana.
O final, largo-allegro resoluto (4/4) ainda sob os eflúvios intoxicantes do adagio, é uma construção visionária, "uma espécie de Shostakovitsch, não é?" ao que nós respondemos: "parece que tocaste mais como Prokofiev!" E Bavouzet: "C'est ça!" Ou seja, este final de uma sonata intemporal e experimental, bizarra no seu tempo, misteriosa, precursora e percussiva, foi lido numa vertigem que algumas notas erradas não tiraram qualquer mérito.
Um concerto de altíssimo nível por um pianista negligenciado pelos jornais.
P.S. Com o entusiasmo lá escrevi outro testamento...
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