5.4.05
Perguntas e reflexões depois de escutar Pinho Vargas
Assisti à conferência que o compositor e professor António Pinho Vargas proferiu na Culturgest. A conferência foi interessantíssima, aprendi com Pinho Vargas, o que acontece com frequência quando o escuto.
Fiquei com uma pergunta atravessada, depois da rarefacção de Webern onde situa Pinho Vargas John Cage? Será que a invenção dos 4'33'' é um refinamento desta rarefacção? Ou apenas uma ideia, uma provocação musical esporádica, como tantas do americano? Será um paradigma ou um anátema do tempo? Como será que Adorno veria o americano se o tivesse analisado a fundo, como estudou Schönberg ou Stravinsky?
Adorno prevê dois tipos de acaso aceitável: o automático e o esporádico, ambos relacionados com o conceito de interpretação. O primeiro tipo relaciona-se com a forma como o intérprete ataca subjectivamente a obra, o segundo tem a ver com o próprio conceito aleatório de qualquer performance, uma tosse, um telemóvel (que hoje aparece), uma distracção do intérprete... Adorno teve tempo para escrever sobre Cage, era apenas nove anos mais velho, mas parece ter tido algum desconforto, digamos pudor, em abrir brechas neste autor ou em Boulez, para não ir mais longe. Eu creio que nunca os nega, mas será que os compreende?
O silêncio de Cage é a aceitação total do acaso na performance? É entregar a obra ao acaso extremo? Ao tempo, e ao lugar? Ao ruído da sala, ao virar das folhas, às tosses?
No limite poderíamos pensar que este acaso é afinal o acaso que povoa qualquer obra. O fortuito na segunda hipótese (o esporádico) levado à expressão absoluta e o automático reduzido ao mínimo, ao zero. Destes dois acasos resta assim o mais aceitável de todos, a da performance como acto público, inerente à condição social do acto. O intérprete, reduzido ao mínimo, totalmente despido de automatismos subjectivos, extirpado de clichés e tiques. O ideal para qualquer compositor! Um pianista que não estrague a perfeição da partitura com uma interpretação que pode ser miserável, má, sofrível, ou apenas com erros!
Compositor é o maior exemplo do artista que sofre, depende sempre de outros, que, por definição, nunca compreendem a obra e o que está por detrás da mesma. Grande John Cage.
Fiquei com uma pergunta atravessada, depois da rarefacção de Webern onde situa Pinho Vargas John Cage? Será que a invenção dos 4'33'' é um refinamento desta rarefacção? Ou apenas uma ideia, uma provocação musical esporádica, como tantas do americano? Será um paradigma ou um anátema do tempo? Como será que Adorno veria o americano se o tivesse analisado a fundo, como estudou Schönberg ou Stravinsky?
Adorno prevê dois tipos de acaso aceitável: o automático e o esporádico, ambos relacionados com o conceito de interpretação. O primeiro tipo relaciona-se com a forma como o intérprete ataca subjectivamente a obra, o segundo tem a ver com o próprio conceito aleatório de qualquer performance, uma tosse, um telemóvel (que hoje aparece), uma distracção do intérprete... Adorno teve tempo para escrever sobre Cage, era apenas nove anos mais velho, mas parece ter tido algum desconforto, digamos pudor, em abrir brechas neste autor ou em Boulez, para não ir mais longe. Eu creio que nunca os nega, mas será que os compreende?
O silêncio de Cage é a aceitação total do acaso na performance? É entregar a obra ao acaso extremo? Ao tempo, e ao lugar? Ao ruído da sala, ao virar das folhas, às tosses?
No limite poderíamos pensar que este acaso é afinal o acaso que povoa qualquer obra. O fortuito na segunda hipótese (o esporádico) levado à expressão absoluta e o automático reduzido ao mínimo, ao zero. Destes dois acasos resta assim o mais aceitável de todos, a da performance como acto público, inerente à condição social do acto. O intérprete, reduzido ao mínimo, totalmente despido de automatismos subjectivos, extirpado de clichés e tiques. O ideal para qualquer compositor! Um pianista que não estrague a perfeição da partitura com uma interpretação que pode ser miserável, má, sofrível, ou apenas com erros!
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