28.10.05
Já descobri o site do Soares!
Nobel
A propósito de um artigo de Pedro Mexia, com o qual concordo em absoluto, recordo que Harold Pinter foi Nobel da Literatura tarde, muito tarde. Brecht ou Graham Green (entre outros grandes escritores) não receberam o prémio, Saramago recebeu o Nobel (1991) muito antes de Pinter. Um prémio é apenas isso, e o Factor Humano, um dos melhores romances de Green que li há muitos anos atrás, conta. Onde o factor humano entra deixa de haver objectividade, Pinter é mais uma injustiça, neste caso pelo atraso.
Resumo da obra de Pinter:
* The Room, 1957
* The Birthday Party, 1957
* Pieces of Eight, 1959
* The Caretaker, 1959, film 1963, dir. by Clive Donner, starring Alan Bates, Robert Shaw, Donald Pleasence - Two brothers, Aston and Mick, invite a revolting tramp, Mac, to share their attic.
* The Dumb Waiter, 1960
* A Night Out, 1960
* The Dwarfs, 1960 (from his novel)
* Night School, 1961
* The Collection, 1961
* One To Another, 1961 (with J. Mortimer, N.F. Simpson)
* A Slight Ache and Other Plays, 1961
* The Pumpkin Eaters, 1963
* The Lover, 1963
* The Servant, 1963 (from R. Maugham's novel)
* The Pumpkin Eater, 1964 (from P. Mortimer's novel)
* The Homecoming, 1965
* Tea Party, 1965
* The Quiller Memorandum, 1966 (from Adam Hall's The Berlin Memorandum)
* The Party and Other Plays, 1967
* Accident, 1967 (from N. Mosley's novel)
* New Poems, 1997 (ed.)
* a PEN Anthology, 1967 (ed. with J. Fuller, P. Redgrave)
* Poems, 1968
* Mac, 1968
* Landscape, 1968
* Silence, 1969
* Night, 1969
* Old Times, 1971
* The Go-Between, 1971 (from L.P. Hartley's novel)
* Monologue, 1973
* The Proust Screenplay, 1977 (with B. Bray, J. Losey)
* No Man's Land, 1975
* The Last Tycoon, 1976 (from F. Scott Fitzgerald's novel)
* Betrayal, 1978
* Poems and Prose 1941-1977, 1978
* Langrishe, Go Dowm, 1978 (from A. Higgins)
* I Know thew Place, 1979
* The Hothouse, 1980
* Family Voices, 1981
* The French Lieutenant's Woman, 1981 (from J. Fowles's novel)
* A Kind of Alaska, 1982
* The French Lieutenant's Woman and Other Screenplays, 1982
* Other Places, 1982
* Victoria Station, 1982
* The Big One, 1983
* Players, 1983
* One for the Road, 1984
* Players, 1985
* Turtle Diary, 1985 (from R.Hoban)
* 100 Poems by 100 Poets, 1986 (ed. with A. Astbury, G. Godbert)
* Mountain Language, 1988
* Heat of the Day, 1989 (from E. Bowen's novel)
* Reunion, 1989 (from F. Uhlman)
* The Comfort of Strangers and Other Screenplays, 1990
* The Comfort of Strangers, 1990 (from I. McEwan's novel)
* Victory, 1990 (from J. Conrad's novel)
* The Handmaid's Tale, 1990 (from M. Atwood's novel)
* The Dwarfs, 1990
* Complete Works, 1990
* Party Time, 1991
* Plays, 1991
* The Trial, 1991 (from F. Kafka's novel)
* Ten Early Poems, 1992
* Moonlight, 1993
* Pinter At Sixty, 1993 (ed. by K.H. Burkman, J.L. Kundert-Gibbs)
* 99 Poems in Translation, 1994 (ed. with A. Astbury, G.Godbert)
* Party Time, 1994
* Ashes to Ashes, 1996
* Various Voices: Prose, Poetry, Politics 1948-1998, 1999
* Celebration, 1999
* Collected Screenplays 1-2, 2000
* Celebration & The Room, 2000
* adaptation: Remembrance of Things Past by Marcel Proust, 2000 (with Di Trevis)
* War, 2003
Desde 2003 que Pinter tem estado relativamente inactivo.
Resumo da obra de Pinter:
* The Room, 1957
* The Birthday Party, 1957
* Pieces of Eight, 1959
* The Caretaker, 1959, film 1963, dir. by Clive Donner, starring Alan Bates, Robert Shaw, Donald Pleasence - Two brothers, Aston and Mick, invite a revolting tramp, Mac, to share their attic.
* The Dumb Waiter, 1960
* A Night Out, 1960
* The Dwarfs, 1960 (from his novel)
* Night School, 1961
* The Collection, 1961
* One To Another, 1961 (with J. Mortimer, N.F. Simpson)
* A Slight Ache and Other Plays, 1961
* The Pumpkin Eaters, 1963
* The Lover, 1963
* The Servant, 1963 (from R. Maugham's novel)
* The Pumpkin Eater, 1964 (from P. Mortimer's novel)
* The Homecoming, 1965
* Tea Party, 1965
* The Quiller Memorandum, 1966 (from Adam Hall's The Berlin Memorandum)
* The Party and Other Plays, 1967
* Accident, 1967 (from N. Mosley's novel)
* New Poems, 1997 (ed.)
* a PEN Anthology, 1967 (ed. with J. Fuller, P. Redgrave)
* Poems, 1968
* Mac, 1968
* Landscape, 1968
* Silence, 1969
* Night, 1969
* Old Times, 1971
* The Go-Between, 1971 (from L.P. Hartley's novel)
* Monologue, 1973
* The Proust Screenplay, 1977 (with B. Bray, J. Losey)
* No Man's Land, 1975
* The Last Tycoon, 1976 (from F. Scott Fitzgerald's novel)
* Betrayal, 1978
* Poems and Prose 1941-1977, 1978
* Langrishe, Go Dowm, 1978 (from A. Higgins)
* I Know thew Place, 1979
* The Hothouse, 1980
* Family Voices, 1981
* The French Lieutenant's Woman, 1981 (from J. Fowles's novel)
* A Kind of Alaska, 1982
* The French Lieutenant's Woman and Other Screenplays, 1982
* Other Places, 1982
* Victoria Station, 1982
* The Big One, 1983
* Players, 1983
* One for the Road, 1984
* Players, 1985
* Turtle Diary, 1985 (from R.Hoban)
* 100 Poems by 100 Poets, 1986 (ed. with A. Astbury, G. Godbert)
* Mountain Language, 1988
* Heat of the Day, 1989 (from E. Bowen's novel)
* Reunion, 1989 (from F. Uhlman)
* The Comfort of Strangers and Other Screenplays, 1990
* The Comfort of Strangers, 1990 (from I. McEwan's novel)
* Victory, 1990 (from J. Conrad's novel)
* The Handmaid's Tale, 1990 (from M. Atwood's novel)
* The Dwarfs, 1990
* Complete Works, 1990
* Party Time, 1991
* Plays, 1991
* The Trial, 1991 (from F. Kafka's novel)
* Ten Early Poems, 1992
* Moonlight, 1993
* Pinter At Sixty, 1993 (ed. by K.H. Burkman, J.L. Kundert-Gibbs)
* 99 Poems in Translation, 1994 (ed. with A. Astbury, G.Godbert)
* Party Time, 1994
* Ashes to Ashes, 1996
* Various Voices: Prose, Poetry, Politics 1948-1998, 1999
* Celebration, 1999
* Collected Screenplays 1-2, 2000
* Celebration & The Room, 2000
* adaptation: Remembrance of Things Past by Marcel Proust, 2000 (with Di Trevis)
* War, 2003
Desde 2003 que Pinter tem estado relativamente inactivo.
26.10.05
À espera de reflexões no Quadrado
Como diz o João Gonçalves, no quadrado está uma equipa de respeito, onde (acrescento) não aparecem comentadores futebolísticos. Veremos se me engano e se ainda aparece alguma substância nesta campanha presidencial. Aguardo com muita espectativa os textos do quadrado - mas sem esperar demasiado.
Análise de um artigo de Medeiros Ferreira
Itálicos do blogue Bicho Carpinteiro. Referência directa para o post original muito apropriadamente intitulado: Concurso de Gaffes! Diria eu: Comparação de nulidades. Vejamos o que nos diz Ferreira:
Mário Soares respondeu, ontem, a muitas perguntas de jornalistas, sendo que alguns chegaram a formular várias na mesma intervenção, umas mais precisas do que outras, se me é permitida uma avaliação não-corporativista.
Genérico, impreciso e sem referências, vago, não cita as questões e critica no ar.
Sem qualquer mediação, nem qualquer assessor por perto, o candidato enfrentou a bateria de questões com à vontade.
Exemplos onde estão? Como rebateu e falou à vontade? Quais as respostas em concreto e a sua análise? Referências? Nada, apenas publicidade, enganosa ou não? Não ouvi o dr. Soares logo não sei.
Por vezes pediu para repetirem as perguntas, e bastaria que a regra estabelecida fosse que cada jornalista fizesse uma só, como acontece por esse mundo livre fora, para o ter evitado. Também foi impreciso quanto aos anos de SG do PS, e aposto que se eu perguntar de chofre ao JMF durante quanto tempo ele foi sub-director do Público, ele é capaz de não saber ao certo, sem que isso o desqualifique como actual director.
Comparação inútil sobre questão inútil, ou alguém ficou incomodado para além de Medeiros Ferreira com essa questão?
Soares também disse mandatário em vez de porta-voz, e, não disse que a questão do referendo sobre a IVG já está a ser apreciada no Tribunal Constitucional, sem que se saiba se sobre a forma, consubstanciada na específica questão magna desta enorme sessão legislativa, se sobre o conteúdo. Tanto bastou para que os sábios do momento recenceassem essas «confusões».
Parece que Medeiros Ferreira está com receio de que alguém julgue que Soares está algo incapacitado, talvez pela idade, não é o meu caso, penso que a idade é um factor que engrandece. O problema é que em Soares há pouco para engrandecer.
Por mim acho-as benignas, sobretudo se comparadas com as confusões de Cavaco, que já fala como PR e já trata o Parlamento como se este fosse a insignificante Assembleia Nacional. Eu até acho que os apoiantes do professor deviam propor a restauração do nome da Assembleia Nacional. Para ele tornar a gaffe numa previsão. Caramba, quem não percebe a diferença das gaffes?!
Porque não diz Medeiros Ferreira que Cavaco é fascista? Se vai por aí, qual Vasco Lourenço de colarinho branco, explique porque razão o professor de finanças é fascista. Pode também estabelecer um paralelo com o professor de finanças de Santa Comba, numa brilhante e original analogia e alicerça o seu post numa lógica inabalável. Pode depois falar dos camisas negras, do integralismo lusitano, da beatice saloia de Salazar, pode ainda dizer que Cavaco é filho de um gasolineiro e etc, etc, etc. Felizmente não voto em nenhum candidato e estou de fora, mas com argumentação destas Soares há-de ir longe. Pode ainda filosofar sobre ideologias e explicar a separação entre Cavaco e Soares em termos de pensamento e referências… Referências? Bem, quais as referências de um e de outro? Kurt Heinig, muito obscuro, mas e que tal Eduard Bernstein e Karl Kautsky, ou quais os teóricos do socialismo na gaveta, e na algibeira? Feuerbachs de pacotilha? Bem, talvez seja melhor não falar das diferenças. É que comparar zeros é uma tarefa ingrata…
Enfim um típico sub produto de vaga propaganda, sem alicerces discursivos e com uma lógica ofensiva da inteligência do leitor. "Sibilino"? Eu diria torcidinho.
Mas o problema é que é tudo assim, Joana Amaral Dias ou um apoiante qualquer de Cavaco ou Alegre não passam deste discurso paupérrimo. Alguém me pode enviar o tal manifesto do Soares que não o consigo encontrar na net? Gostava de cotejar os diversos manifestos, deu-me para estudar infinitésimos intelectuais.
Já agora, peço aos apoiantes dos candidatos, pedido algo bizarro, que expliquem as razões filosóficas, os referenciais ideológicos e os modelos para o mundo, e já agora para Portugal, que vislumbram nos seus candidatos e como eles pretendem implantar esses modelos para além das teorias bem conhecidas do Socialismo na Gaveta, Social Betonocracia, Trotstskismo Pós Moderno Minoritário Libertário Anarco Louçanista, Socialismo na Gaveta com Alegria, e Comunismo Ferrugento...
Henrique Silveira
Mário Soares respondeu, ontem, a muitas perguntas de jornalistas, sendo que alguns chegaram a formular várias na mesma intervenção, umas mais precisas do que outras, se me é permitida uma avaliação não-corporativista.
Genérico, impreciso e sem referências, vago, não cita as questões e critica no ar.
Sem qualquer mediação, nem qualquer assessor por perto, o candidato enfrentou a bateria de questões com à vontade.
Exemplos onde estão? Como rebateu e falou à vontade? Quais as respostas em concreto e a sua análise? Referências? Nada, apenas publicidade, enganosa ou não? Não ouvi o dr. Soares logo não sei.
Por vezes pediu para repetirem as perguntas, e bastaria que a regra estabelecida fosse que cada jornalista fizesse uma só, como acontece por esse mundo livre fora, para o ter evitado. Também foi impreciso quanto aos anos de SG do PS, e aposto que se eu perguntar de chofre ao JMF durante quanto tempo ele foi sub-director do Público, ele é capaz de não saber ao certo, sem que isso o desqualifique como actual director.
Comparação inútil sobre questão inútil, ou alguém ficou incomodado para além de Medeiros Ferreira com essa questão?
Soares também disse mandatário em vez de porta-voz, e, não disse que a questão do referendo sobre a IVG já está a ser apreciada no Tribunal Constitucional, sem que se saiba se sobre a forma, consubstanciada na específica questão magna desta enorme sessão legislativa, se sobre o conteúdo. Tanto bastou para que os sábios do momento recenceassem essas «confusões».
Parece que Medeiros Ferreira está com receio de que alguém julgue que Soares está algo incapacitado, talvez pela idade, não é o meu caso, penso que a idade é um factor que engrandece. O problema é que em Soares há pouco para engrandecer.
Por mim acho-as benignas, sobretudo se comparadas com as confusões de Cavaco, que já fala como PR e já trata o Parlamento como se este fosse a insignificante Assembleia Nacional. Eu até acho que os apoiantes do professor deviam propor a restauração do nome da Assembleia Nacional. Para ele tornar a gaffe numa previsão. Caramba, quem não percebe a diferença das gaffes?!
Porque não diz Medeiros Ferreira que Cavaco é fascista? Se vai por aí, qual Vasco Lourenço de colarinho branco, explique porque razão o professor de finanças é fascista. Pode também estabelecer um paralelo com o professor de finanças de Santa Comba, numa brilhante e original analogia e alicerça o seu post numa lógica inabalável. Pode depois falar dos camisas negras, do integralismo lusitano, da beatice saloia de Salazar, pode ainda dizer que Cavaco é filho de um gasolineiro e etc, etc, etc. Felizmente não voto em nenhum candidato e estou de fora, mas com argumentação destas Soares há-de ir longe. Pode ainda filosofar sobre ideologias e explicar a separação entre Cavaco e Soares em termos de pensamento e referências… Referências? Bem, quais as referências de um e de outro? Kurt Heinig, muito obscuro, mas e que tal Eduard Bernstein e Karl Kautsky, ou quais os teóricos do socialismo na gaveta, e na algibeira? Feuerbachs de pacotilha? Bem, talvez seja melhor não falar das diferenças. É que comparar zeros é uma tarefa ingrata…
Enfim um típico sub produto de vaga propaganda, sem alicerces discursivos e com uma lógica ofensiva da inteligência do leitor. "Sibilino"? Eu diria torcidinho.
Mas o problema é que é tudo assim, Joana Amaral Dias ou um apoiante qualquer de Cavaco ou Alegre não passam deste discurso paupérrimo. Alguém me pode enviar o tal manifesto do Soares que não o consigo encontrar na net? Gostava de cotejar os diversos manifestos, deu-me para estudar infinitésimos intelectuais.
Já agora, peço aos apoiantes dos candidatos, pedido algo bizarro, que expliquem as razões filosóficas, os referenciais ideológicos e os modelos para o mundo, e já agora para Portugal, que vislumbram nos seus candidatos e como eles pretendem implantar esses modelos para além das teorias bem conhecidas do Socialismo na Gaveta, Social Betonocracia, Trotstskismo Pós Moderno Minoritário Libertário Anarco Louçanista, Socialismo na Gaveta com Alegria, e Comunismo Ferrugento...
Henrique Silveira
A escolha do Acaso e o Acaso da Escolha - divagações utópicas
Será que o acaso escolhe melhor os dirigentes de um país do que uma eleição?
Ao longo da história tivemos um punhado de dirigentes de grande qualidade, Afonso Henriques, Afonso III, Diniz, Pedro, João II entre os reis. O Infante como caso ímpar da iniciativa paralela ao poder real. D. Pedro das sete partidas como regente. Tivemos ainda alguns bons ministros: Castelo Melhor, Sebastião José (este com muitas dúvidas). Todos estes dirigentes resultam de um acaso total, a escolha de um governante por factores hereditários.
As escolhas democráticas deram-nos gente medíocre e sem qualidade, não vejo um único "exemplar democrático" que se compare aos anteriores. A própria ditadura de Salazar também resultou de uma reacção a convulsões de origem republicana e foi o pior que aconteceu a este país na sua história.
Será que o sistema eleitoral nunca produz dirigentes de qualidade e o acaso será sempre melhor opção? Será a escolha do acaso a melhor solução democrática? Um dirigente escolhido pelo acaso dispõe de alguma probabilidade de ter algumas qualidades, provavelmente um a dois por cento da população é altruísta, inteligente, terá capacidade de liderança, alguma inteligência ou honestidade, uma ou outra sofrível qualidade que habilitem para o governo de um país. Os filósofos assim o dizem, o resto é gente gananciosa, desonesta, egoísta ou simplesmente estúpida.
Um político terá quase sempre de ser um pulha sem escrúpulos, capaz de comprar e vender influências para conseguir impôr-se no meio de outros pulhas iguais que constituem os tais noventa e tal por cento remanescentes da população e quase cem por cento dos aparelhos partidários.
D. Afonso VI tido como incapaz e débil mental, nunca se soube se era bem assim, tinha Castelo Melhor, D. José, tido por pusilânime e preguiçoso, tinha Carvalho e Melo. Sampaio quem teve? Guterres, Barroso, Santana e Sócrates. Está tudo dito.
Prefiro o acaso, faça-se uma lotaria e eleja-se democraticamente alguém com maior probabilidade de sucesso, alguém que seja presidente da república por cinco anos... O primeiro ministro que seja escolhido pelo presidente. Tenho a certeza que os resultados não poderiam ser piores.
Ao longo da história tivemos um punhado de dirigentes de grande qualidade, Afonso Henriques, Afonso III, Diniz, Pedro, João II entre os reis. O Infante como caso ímpar da iniciativa paralela ao poder real. D. Pedro das sete partidas como regente. Tivemos ainda alguns bons ministros: Castelo Melhor, Sebastião José (este com muitas dúvidas). Todos estes dirigentes resultam de um acaso total, a escolha de um governante por factores hereditários.
As escolhas democráticas deram-nos gente medíocre e sem qualidade, não vejo um único "exemplar democrático" que se compare aos anteriores. A própria ditadura de Salazar também resultou de uma reacção a convulsões de origem republicana e foi o pior que aconteceu a este país na sua história.
Será que o sistema eleitoral nunca produz dirigentes de qualidade e o acaso será sempre melhor opção? Será a escolha do acaso a melhor solução democrática? Um dirigente escolhido pelo acaso dispõe de alguma probabilidade de ter algumas qualidades, provavelmente um a dois por cento da população é altruísta, inteligente, terá capacidade de liderança, alguma inteligência ou honestidade, uma ou outra sofrível qualidade que habilitem para o governo de um país. Os filósofos assim o dizem, o resto é gente gananciosa, desonesta, egoísta ou simplesmente estúpida.
Um político terá quase sempre de ser um pulha sem escrúpulos, capaz de comprar e vender influências para conseguir impôr-se no meio de outros pulhas iguais que constituem os tais noventa e tal por cento remanescentes da população e quase cem por cento dos aparelhos partidários.
D. Afonso VI tido como incapaz e débil mental, nunca se soube se era bem assim, tinha Castelo Melhor, D. José, tido por pusilânime e preguiçoso, tinha Carvalho e Melo. Sampaio quem teve? Guterres, Barroso, Santana e Sócrates. Está tudo dito.
Prefiro o acaso, faça-se uma lotaria e eleja-se democraticamente alguém com maior probabilidade de sucesso, alguém que seja presidente da república por cinco anos... O primeiro ministro que seja escolhido pelo presidente. Tenho a certeza que os resultados não poderiam ser piores.
25.10.05
A nulidade e a diluição
Divagação 1
Vejo a chamada blogosfera política e o que ressalta? Um imenso vazio. A essência, o âmago das questões? Nada, uma pobreza absoluta. Um bando de intriguistas, táctica sem estratégia. A ideologia sem sentido de discussões vácuas sobre este ou aquele. Cavaco ou Soares? Ambos ocos de ideias para um regime sem sentido num país sem sentido.
Este Portugal é um cadáver, o Quinto Império de Pessoa é afinal o império dos vermes no cadáver de Portugal.
Valera a pena qualquer razão para preocupações neste oceano de nada que reflecte o imenso vazio do país? Infelizmente creio bem que não.
Que resta quando não há nada para dizer? Dizer nada, creio.
Razões para votar? Não há razões para votar, e infelizmente já nem me sobra a inacção do desinteresse e do egoísmo mesquinho tão típicas do povo português. Falta mesmo a vontade. Não, não é a vontade de representação de Schopenhauer, numenal kantianna ou não. Nem a vontade de poder de Nietsche. Falta mesmo a vontade consciente de uma reflexão profunda. É uma imensa ausência de opções num deserto de ideias alicerçado num cepticismo total. O homem político português, e não só português, quando não é vazio, estúpido, ignorante, incompetente, preguiçoso, vendido, inculto e sem rasgo, o que é mais frequente, é ganancioso e velhaco. Não é culpa deles, coitados, é mesmo culpa nossa, ou do barro primordial, o ser humano é assim. Será a matéria tão amoral como isso? Será que a agregação na vida é inócua em termos morais ou será este o sentido da criação? Acreditar num Deus ou num Diabo criador? Uma pergunta já feita anteriormente cujo alcance nem sequer quero abarcar aqui.
Divagação 2
Resta uma saída para o nada, o verdadeiro nada redentor que nos dá a esperança da diluição eterna. A mesma diluição do final de Tristan, o mesmo crepúsculo do final do Ring. Será que Schopenhauer socorre sempre os amargurados com o mundo? Será a retirada do mundo o único devir de quem sofre com o século e esperou dele tudo?
Lembro, nesta divagação, o célebre artigo de Wagner, 1849 segundo creio, Judeísmo na Música (Das Judentum in der Musik), um artigo execrável, repugnante mesmo. Poderá ser Alberich esse judeu desprezado pelo Wagner mesquinho e insignificante dos seus escritos políticos?
Não o creio, não creio que a força motriz do mundo que encerra na sua maldição o cataclismo cósmico que destruirá a raça dos senhores, com Wotan à cabeça, possa ser a encarnação escarninha de um desprezado, por Wagner, judeu. Alberich é o lado negro de Wotan. Alberich vive em cada um de nós. Só o poderemos matar se nos diluirmos no nada. Mas será que o queremos matar? Foi o que Schopenhauer disse através do eterno da música de Wagner: apesar de tudo subsiste a música, para além do bem e do mal que é o que menos interessa.
Subsiste uma luz, a da diluição no nada, no eterno nada.
Henrique Silveira
Vejo a chamada blogosfera política e o que ressalta? Um imenso vazio. A essência, o âmago das questões? Nada, uma pobreza absoluta. Um bando de intriguistas, táctica sem estratégia. A ideologia sem sentido de discussões vácuas sobre este ou aquele. Cavaco ou Soares? Ambos ocos de ideias para um regime sem sentido num país sem sentido.
Este Portugal é um cadáver, o Quinto Império de Pessoa é afinal o império dos vermes no cadáver de Portugal.
Valera a pena qualquer razão para preocupações neste oceano de nada que reflecte o imenso vazio do país? Infelizmente creio bem que não.
Que resta quando não há nada para dizer? Dizer nada, creio.
Razões para votar? Não há razões para votar, e infelizmente já nem me sobra a inacção do desinteresse e do egoísmo mesquinho tão típicas do povo português. Falta mesmo a vontade. Não, não é a vontade de representação de Schopenhauer, numenal kantianna ou não. Nem a vontade de poder de Nietsche. Falta mesmo a vontade consciente de uma reflexão profunda. É uma imensa ausência de opções num deserto de ideias alicerçado num cepticismo total. O homem político português, e não só português, quando não é vazio, estúpido, ignorante, incompetente, preguiçoso, vendido, inculto e sem rasgo, o que é mais frequente, é ganancioso e velhaco. Não é culpa deles, coitados, é mesmo culpa nossa, ou do barro primordial, o ser humano é assim. Será a matéria tão amoral como isso? Será que a agregação na vida é inócua em termos morais ou será este o sentido da criação? Acreditar num Deus ou num Diabo criador? Uma pergunta já feita anteriormente cujo alcance nem sequer quero abarcar aqui.
Divagação 2
Resta uma saída para o nada, o verdadeiro nada redentor que nos dá a esperança da diluição eterna. A mesma diluição do final de Tristan, o mesmo crepúsculo do final do Ring. Será que Schopenhauer socorre sempre os amargurados com o mundo? Será a retirada do mundo o único devir de quem sofre com o século e esperou dele tudo?
Lembro, nesta divagação, o célebre artigo de Wagner, 1849 segundo creio, Judeísmo na Música (Das Judentum in der Musik), um artigo execrável, repugnante mesmo. Poderá ser Alberich esse judeu desprezado pelo Wagner mesquinho e insignificante dos seus escritos políticos?
Não o creio, não creio que a força motriz do mundo que encerra na sua maldição o cataclismo cósmico que destruirá a raça dos senhores, com Wotan à cabeça, possa ser a encarnação escarninha de um desprezado, por Wagner, judeu. Alberich é o lado negro de Wotan. Alberich vive em cada um de nós. Só o poderemos matar se nos diluirmos no nada. Mas será que o queremos matar? Foi o que Schopenhauer disse através do eterno da música de Wagner: apesar de tudo subsiste a música, para além do bem e do mal que é o que menos interessa.
Subsiste uma luz, a da diluição no nada, no eterno nada.
Henrique Silveira
24.10.05
Almotriptano e Acetilsalicilato de Lisina
Como é possível que o Almotriptan, a 5.41 € o comprimido me faça menos efeito que umas saquetas de acetilsalicilato de lisina a 0.24 € mais cafeína num caso de uma enxaqueca diagnosticada como tal e fortíssima?
Epitáfio revisitado
Conditur hoc tumulo, si vera est Fama, Sebastus
Quem tulit in Libicis mors properata plagis
Nec dicas falci regem qui vivere Credit
Pro lege extincto mors quasi vita fuit
Quem tulit in Libicis mors properata plagis
Nec dicas falci regem qui vivere Credit
Pro lege extincto mors quasi vita fuit
21.10.05
Correlação entre Índices
A curiosidade tem destas coisas, resolvi cruzar a informação entre o Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas (HDI) e o Índice da Corrupção da http://www.transparency.org/. Fiz o cálculo do coeficiente de correlação dos cem primeiros países no produto dos dois índices, excluindo os países que não constam (muito pequenos) em alguma das duas listas e o resultado não surpreende, o coeficiente de correlação entre os dois índices é de 0,741393903 para os primeiros cem países da lista (o índice de corrupção é inversamente proporcional à corrupção). Um número bastante significativo em ciências humanas, quem estaria convencido de outra coisa?
Qual a conclusão que tira?
1. Corrupção implica atraso.
2. Atraso implica corrupção.
3. Ambas as hipóteses anteriores, o que significa que atraso e corrupção são equivalentes.
4. Não é possível tirar conclusões simples.
Qual a conclusão que tira?
1. Corrupção implica atraso.
2. Atraso implica corrupção.
3. Ambas as hipóteses anteriores, o que significa que atraso e corrupção são equivalentes.
4. Não é possível tirar conclusões simples.
20.10.05
Estava tudo a correr tão bem
19.10.05
Afinal quem são eles?
No blogue Portugal dos Pequeninos fala-se de Ivan Nunes. Afinal quem é Ivan Nunes? Uma pesquisa no Google mostra alguns Ivans Nunes, brasileiros e ligados ao ensino e investigação, universitários. Este para além de ser blogueiro e da comissão política do Soares quem é? Fui ver o blogue "A Praia", e o tal Nunes discorre sobre o "Soarismo - e eu". Sim, li bem, o Soarismo e ele, lui même, ele próprio. Li o início do post, muito interessante, parece que o tal Nunes não é "inefável" nem nunca foi soarista e até escreveu um artigo contra o Soares. Bravo! Para uma carreira política há gente na comissão do tal Soares que tem muito menos para apresentar.
Já Medeiros Ferreira não pede meças a ninguém, ele não é uma de espécie de mosca num bolo de chantilly como o Ivan. Não, Medeiros Ferreira é um conhecido político, açoriano de boa cepa e político dos antigos, Ferreira é um morango apetitoso no dito cujo bolo. Já conheço Medeiros Ferreira de há longo tempo, andava eu na Faculdade de Ciências na rua da Escola Politécnica e ele lá estava no café onde eu parava a tomar umas bicas antes, durante e depois das aulas. Belos tempos os do dr. Medeiros Ferreira no café, a ler, a escrever, a conversar com amigos, agora anda no blogue, o que também não está mal.
Esta comissão é apenas mais uma numa carreira longa e cheia de cargos e desempenhos a favor da república. Não aparece de pára-quedas na comissão socialista de apoio político a Soares. Vem isto a propósito de Medeiros Ferreira se insurgir por esta comissão não ter tido eco nos jornais, segundo leio também através do João Gonçalves. Parece que uns galináceos engripados passaram à frente da comissão do dr. Soares. Mas não se trata do mesmo assunto?
Mas vou ao ponto que tem a ver com o título do post:
Ultimamente tenho escutado um outro Medeiros Ferreira como comentador desportivo na Antena 1. Será o simpático político ou um familiar? Uma coincidência de nomes? Inveja de Fernando Seara ou mais uma mosca num bolo de chantilly? Será que veremos este Medeiros Ferreira, o comentador desportivo, a disputar Sintra ou Oeiras nas próximas autárquicas?
Já Medeiros Ferreira não pede meças a ninguém, ele não é uma de espécie de mosca num bolo de chantilly como o Ivan. Não, Medeiros Ferreira é um conhecido político, açoriano de boa cepa e político dos antigos, Ferreira é um morango apetitoso no dito cujo bolo. Já conheço Medeiros Ferreira de há longo tempo, andava eu na Faculdade de Ciências na rua da Escola Politécnica e ele lá estava no café onde eu parava a tomar umas bicas antes, durante e depois das aulas. Belos tempos os do dr. Medeiros Ferreira no café, a ler, a escrever, a conversar com amigos, agora anda no blogue, o que também não está mal.
Esta comissão é apenas mais uma numa carreira longa e cheia de cargos e desempenhos a favor da república. Não aparece de pára-quedas na comissão socialista de apoio político a Soares. Vem isto a propósito de Medeiros Ferreira se insurgir por esta comissão não ter tido eco nos jornais, segundo leio também através do João Gonçalves. Parece que uns galináceos engripados passaram à frente da comissão do dr. Soares. Mas não se trata do mesmo assunto?
Mas vou ao ponto que tem a ver com o título do post:
Ultimamente tenho escutado um outro Medeiros Ferreira como comentador desportivo na Antena 1. Será o simpático político ou um familiar? Uma coincidência de nomes? Inveja de Fernando Seara ou mais uma mosca num bolo de chantilly? Será que veremos este Medeiros Ferreira, o comentador desportivo, a disputar Sintra ou Oeiras nas próximas autárquicas?
Kurtág mais do que perfeito
Elisabeth Leonskaya e três elementos do quarteto Alban Berg deram um concerto na Gulbenkian. Diversas razões levavam-me a pensar que iria gostar, à priori, desse concerto: Os quartetos com piano de Mozart são obras geniais, a sonata n.º 2 para piano de Shostakovitch é uma obra-prima no seu ambiente nocturno, no seu duelo fratricida entre a mão esquerda e direita que se prolonga do primeiro para o segundo andamento, e que culmina com os choques de cristal esmagado algures na noite que o terceiro andamento me faz lembrar.
Algumas peças de Kurtág (exergos de Signs, Games and Messages) serviam, no meu entender, para um bom complemento do programa.
Devo ainda dizer que o Alban Berg sempre foi para mim uma referência última da arte de tocar bem em quarteto de cordas, a sua subtileza e sonoridade vienenses, oriundas de Günther Pichler e seus pares, constituíram para mim o supremo refinamento na música de câmara.
E neste sentido o concerto foi realmente excelente, a pianista russa conseguiu moderar a sonoridade do seu piano à escala dos instrumentos de corda, mercê de uma subtileza enorme no toque e a uma elegância de grande fluidez no fraseado. O quarteto, reduzido a trio neste caso, esteve olímpico na técnica e no jogo sagaz e complexo da personalidade solística e da fusão. A noção de linha melódica e de acompanhamento foi notória, a exactidão das entradas e dos tempos irrepreensível.
Mas porque razão saí do concerto com um certo sabor amargo? Creio que foi pela sonoridade ostensivamente brilhante, nos sforzandi muito vincados, na linha algo romântica e no vibrato, sim o velho vibrato, muito marcado nas cordas. Curiosamente Leonskaya acabou por ser mais inteligente na moderação Mozartiana do que os elementos do Quarteto Alban Berg, o já citado Pinchler (o histórico violino), Isabel Charisius (viola) e o esteio Valentin Erben (violoncelo), um pilar de segurança. Mas até aqui de forma pouco natural, Leonskaya acabou por reduzir a fogosidade do discurso virtuosístico, que ocorre nos quartetos com piano de Mozart, a uma mera enumeração de suaves passagens sem chama e algo indistintas ao passo que as cordas deram mostras de uma exuberância, temperada - é certo - com alguma elegância, um pouco excessiva. Na sonata de Shostakovitch gostámos das atmosferas do primeiro e segundo andamento e sofremos ligeiramente com algumas passagens em que Leonskaya esmagou acordes no último andamento mas sempre com uma concepção muito bela da obra e um amadurecimento profundo da música que fazem esquecer erros menores de cansaço.
Finalmente o Kurtág que seria à partida um complemento agradável do concerto, foi tocado de forma notável pelo trio de cordas, dando energia e vida a uma obra que se for tocada de forma indistinta se torna insuportável, não só foi suportável como acabou por ser notável! E aqui o vibrato parou! Talvez porque os efeitos ditos "expressivos" não fizessem sentido na obra do grande compositor húngaro.
Um concerto muito bom mas com o sabor amargo de um estilo anacrónico em Mozart. Depois de escutar corda de tripa e as acentuações mais de acordo com a música do final de setecentos acabamos por questionar o estilo "metálico" de um quarteto como o Alban Berg. É tempo de voltar aos discos de vinil deste agrupamento com os quartetos de Mozart, que estão na sala a apanhar pó nas prateleiras de cima, e escutar para perceber o que aconteceu nestes 25 anos (o tempo que decorreu desde que escuto o quarteto Alban Berg)...
Algumas peças de Kurtág (exergos de Signs, Games and Messages) serviam, no meu entender, para um bom complemento do programa.
Devo ainda dizer que o Alban Berg sempre foi para mim uma referência última da arte de tocar bem em quarteto de cordas, a sua subtileza e sonoridade vienenses, oriundas de Günther Pichler e seus pares, constituíram para mim o supremo refinamento na música de câmara.
E neste sentido o concerto foi realmente excelente, a pianista russa conseguiu moderar a sonoridade do seu piano à escala dos instrumentos de corda, mercê de uma subtileza enorme no toque e a uma elegância de grande fluidez no fraseado. O quarteto, reduzido a trio neste caso, esteve olímpico na técnica e no jogo sagaz e complexo da personalidade solística e da fusão. A noção de linha melódica e de acompanhamento foi notória, a exactidão das entradas e dos tempos irrepreensível.
Mas porque razão saí do concerto com um certo sabor amargo? Creio que foi pela sonoridade ostensivamente brilhante, nos sforzandi muito vincados, na linha algo romântica e no vibrato, sim o velho vibrato, muito marcado nas cordas. Curiosamente Leonskaya acabou por ser mais inteligente na moderação Mozartiana do que os elementos do Quarteto Alban Berg, o já citado Pinchler (o histórico violino), Isabel Charisius (viola) e o esteio Valentin Erben (violoncelo), um pilar de segurança. Mas até aqui de forma pouco natural, Leonskaya acabou por reduzir a fogosidade do discurso virtuosístico, que ocorre nos quartetos com piano de Mozart, a uma mera enumeração de suaves passagens sem chama e algo indistintas ao passo que as cordas deram mostras de uma exuberância, temperada - é certo - com alguma elegância, um pouco excessiva. Na sonata de Shostakovitch gostámos das atmosferas do primeiro e segundo andamento e sofremos ligeiramente com algumas passagens em que Leonskaya esmagou acordes no último andamento mas sempre com uma concepção muito bela da obra e um amadurecimento profundo da música que fazem esquecer erros menores de cansaço.
Finalmente o Kurtág que seria à partida um complemento agradável do concerto, foi tocado de forma notável pelo trio de cordas, dando energia e vida a uma obra que se for tocada de forma indistinta se torna insuportável, não só foi suportável como acabou por ser notável! E aqui o vibrato parou! Talvez porque os efeitos ditos "expressivos" não fizessem sentido na obra do grande compositor húngaro.
Um concerto muito bom mas com o sabor amargo de um estilo anacrónico em Mozart. Depois de escutar corda de tripa e as acentuações mais de acordo com a música do final de setecentos acabamos por questionar o estilo "metálico" de um quarteto como o Alban Berg. É tempo de voltar aos discos de vinil deste agrupamento com os quartetos de Mozart, que estão na sala a apanhar pó nas prateleiras de cima, e escutar para perceber o que aconteceu nestes 25 anos (o tempo que decorreu desde que escuto o quarteto Alban Berg)...
Um Blog Sobre Kleist
Continua um dos melhores Blogs Portugueses, um dos mais antigos, e sempre com altíssima qualidade, continuando a intrigar-me diariamente com as suas questões metafísicas, que num estado de surrealidade exercitam a sua curiosidade e espanto perante o mundo, indiferente a modas, a links cruzados e ao seu comércio. Um Blogue Sobre Kleist continua uma referência. Neste contexto não espanta o lúcido post sobre Pacheco Pereira e o populismo.
Lançamento
Lançamento do 1º Caderno de Filosofia das Ciências do CFCUL (Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa)
Cartas de Edmundo Curvelo a Joaquim de Carvalho (1947-1953) e outros inéditos
intervenções de
Augusto Franco Oliveira, Vasco Vieira de Almeida e Olga Pombo
21 de Outubro, 18 horas
Livraria Buchholz
Rua Duque de Palmela, nº 4, Lisboa
Nota - Edmundo de Carvalho Curvelo (1913-1954) foi um promissor lógico de pendor positivista e logicista, avançado mas incompreendido no seu ambicioso programa de tudo logificar, das matemáticas à psicologia.
Cartas de Edmundo Curvelo a Joaquim de Carvalho (1947-1953) e outros inéditos
intervenções de
Augusto Franco Oliveira, Vasco Vieira de Almeida e Olga Pombo
21 de Outubro, 18 horas
Livraria Buchholz
Rua Duque de Palmela, nº 4, Lisboa
Nota - Edmundo de Carvalho Curvelo (1913-1954) foi um promissor lógico de pendor positivista e logicista, avançado mas incompreendido no seu ambicioso programa de tudo logificar, das matemáticas à psicologia.
18.10.05
O lixo soarista e o estado de Portugal
Observo sem surpresa a Comissão Política de Soares.
É uma comissão política do PS, uma candidatura politicamente colada ao partido socialista e aos restos do guterrismo, numa lista de nulidades absolutamente confragedora onde pontificam Tozé Seguro, João Proença e Dias da Cunha, verdadeiras lumiárias do espírito lusitano.
Filiados:
Jorge Coelho
António Vitorino
Francisco Assis
João Cravinho
Medeiros Ferreira
Capoulas Santos
Sérgio Sousa Pinto
Pedro Nuno Santos (líder da JS)
Carlos Luís (mandatário de Mário Soares para a emigração)
Pres. Câmara Montijo: Amélia Antunes
Pres. Câmara Odivelas: Susana Amador
António José Seguro
Rui Cunha (ex-secretário de estado de Guterres)
João Proença
Não filiados, mas não propriamente independentes:
Vital Moreira (ex-deputado do PCP e ex-deputado independente do PS)
Luís Braga da Cruz (ex-ministro da Economia de Guterres)
Maria João Rodrigues (ex-ministra do Emprego de Guterres)
Nuno Severiano Teixeira (idem ex-ministro)
Próximos e afins:
António Mega Ferreira
Fernando Freire de Sousa
Fernando Nobre
Ivan Nunes
Pinto Ribeiro
Manuel Ferreira de Oliveira
Mário Mesquita
Mário Ruivo
Ulisses Garrido (dirigente da CGTP-IN).
Viriato Soromenho Marques
Outros:
Vasco Vieira de Almeida
Joana Amaral Dias
Inqualificável:
Dias da Cunha
Entretanto o relatório das ONG's sobre pobreza entrevista 25000 pessoas, algo que nenhuma sondagem de opinião pode fazer, uma amostra imsensa. Pena os resultados serem de 2003, mas a estrutura social, económica e educacional de Portugal não pode ter mudado muito em dois anos, tal como não mudou em trinta anos de democracia:
Alcolismo
Fome
Analfabetismo
As chagas permanentes de Portugal. Entretanto 31 infáveis nulidades (com honrosas excepções) servem de esteio político a outro falso profeta que Portugal endeusou, à sua medida aliás. Um aeróprago de gente longe, bem longe, do Portugal que tem fome mas muito perto dos seus umbigos; afinal demasiado perto desse mesmo Portugal. Senadores de um país em ruínas.
É uma comissão política do PS, uma candidatura politicamente colada ao partido socialista e aos restos do guterrismo, numa lista de nulidades absolutamente confragedora onde pontificam Tozé Seguro, João Proença e Dias da Cunha, verdadeiras lumiárias do espírito lusitano.
Filiados:
Jorge Coelho
António Vitorino
Francisco Assis
João Cravinho
Medeiros Ferreira
Capoulas Santos
Sérgio Sousa Pinto
Pedro Nuno Santos (líder da JS)
Carlos Luís (mandatário de Mário Soares para a emigração)
Pres. Câmara Montijo: Amélia Antunes
Pres. Câmara Odivelas: Susana Amador
António José Seguro
Rui Cunha (ex-secretário de estado de Guterres)
João Proença
Não filiados, mas não propriamente independentes:
Vital Moreira (ex-deputado do PCP e ex-deputado independente do PS)
Luís Braga da Cruz (ex-ministro da Economia de Guterres)
Maria João Rodrigues (ex-ministra do Emprego de Guterres)
Nuno Severiano Teixeira (idem ex-ministro)
Próximos e afins:
António Mega Ferreira
Fernando Freire de Sousa
Fernando Nobre
Ivan Nunes
Pinto Ribeiro
Manuel Ferreira de Oliveira
Mário Mesquita
Mário Ruivo
Ulisses Garrido (dirigente da CGTP-IN).
Viriato Soromenho Marques
Outros:
Vasco Vieira de Almeida
Joana Amaral Dias
Inqualificável:
Dias da Cunha
Entretanto o relatório das ONG's sobre pobreza entrevista 25000 pessoas, algo que nenhuma sondagem de opinião pode fazer, uma amostra imsensa. Pena os resultados serem de 2003, mas a estrutura social, económica e educacional de Portugal não pode ter mudado muito em dois anos, tal como não mudou em trinta anos de democracia:
Alcolismo
Fome
Analfabetismo
As chagas permanentes de Portugal. Entretanto 31 infáveis nulidades (com honrosas excepções) servem de esteio político a outro falso profeta que Portugal endeusou, à sua medida aliás. Um aeróprago de gente longe, bem longe, do Portugal que tem fome mas muito perto dos seus umbigos; afinal demasiado perto desse mesmo Portugal. Senadores de um país em ruínas.
16.10.05
Exageros
"Mais de dois Milhões de pessoas morrem à fome por dia", título de uma notícia do público! Vejamos, mais de 23 pessoas por segundo, ou noutra escala, mais de 730 milhões de pessoas por ano. Humm?! Por ano? 730 milhões? Enfim, O Público já arranjou maneira de resolver o excesso populacional da Terra, dentro de menos de dez anos morreu tudo à fome!
Neste momento a população da terra é de 6561 milhões de habitantes, menos de dez vezes o tal número de mortos à fome, mesmo com a reprodução dos "Famélicos da Terra", em poucos anos estaremos extintos.
Dados mais sérios: mortos estimados em 2005: 56 milhões.
Nascimentos: 130 milhões.
Aumento da população: 74 milhões.
Dados do público representariam uma redução de 600 milhões de habitantes por ano, sem contar as mortes por outras causas!
Mais a sério, na tentativa de dramatizar um assunto grave, sério e urgente, cometem-se os maiores disparates que descredibilizam a notícia. A fome na Terra mata muito, felizmente menos do que a notícia diz, pode-se mesmo dizer que a pobreza é a maior causa de mortalidade no planeta, sem sombra de dúvida, não são os acidentes cardiovasculares ou o cancro.
Aqui no burgo voltados para o mesquinho umbigo lusitano continuamos a esquecer os verdadeiros problemas do mundo. Antes de sermos portugueses ou europeus somos humanos.
Neste momento a população da terra é de 6561 milhões de habitantes, menos de dez vezes o tal número de mortos à fome, mesmo com a reprodução dos "Famélicos da Terra", em poucos anos estaremos extintos.
Dados mais sérios: mortos estimados em 2005: 56 milhões.
Nascimentos: 130 milhões.
Aumento da população: 74 milhões.
Dados do público representariam uma redução de 600 milhões de habitantes por ano, sem contar as mortes por outras causas!
Mais a sério, na tentativa de dramatizar um assunto grave, sério e urgente, cometem-se os maiores disparates que descredibilizam a notícia. A fome na Terra mata muito, felizmente menos do que a notícia diz, pode-se mesmo dizer que a pobreza é a maior causa de mortalidade no planeta, sem sombra de dúvida, não são os acidentes cardiovasculares ou o cancro.
Aqui no burgo voltados para o mesquinho umbigo lusitano continuamos a esquecer os verdadeiros problemas do mundo. Antes de sermos portugueses ou europeus somos humanos.
15.10.05
Ainda a micro causa e Luís Carmelo
Diz Luís Carmelo em Miniscente:
“Escreve o sapiente Crítico:
(…) não alinho em grupos nem em carneiradas, mesmo que sejam organizadas por bloggers esclarecidos e muito visitados que oferecem links a quem os apoiar, numa espécie de oferta manipuladora de chouriços em campanha eleitoral. Não contem comigo.”
E escrevo eu, mero mortal: quem “alinha” ou não em causas, tendo como base a ideia de “carneirada” vs. “não-carneirada”, é porque não opta de acordo com o critério fundamental: a liberdade. Dispenso de me alongar em ilações (e haveria muitas e interessantes).
SIC
Esquece Luís Carmelo que eu escrevi isto no final de um texto grande e que a frase começa por: "É por isso..." Que, de forma obscenamente manipuladora, Luís Carmelo omite. É pelas razões mostradas ao longo de todo um texto acima da citação que não alinho em carneiradas, à priori, apenas porque se dão links. Eu alinharia com a causa apesar dos links, por concordar ou discordar, como se entende do texto. Já agora quando falo de "uma carneirada" falo de um acto acéfalo, uma multidão sem pensamento ou reflexão que segue o pastor, ou o cão e procura a erva mais fresca. Ou Luís Carmelo pensará que os carneiros têm um discernimento profundo?
É precisamente como cultor da liberdade de pensamento que nego a carneirada à qual Luís Carmelo aprecia tanto as virtudes. Por liberdade, por independência, por total e radical negação da venda dos princípios pela obtenção de benefícios. E a venda de links a troco de causas, micro ou não, é uma das mais mesquinhas formas de manipulação (pelos autores) e de decadência (pelos autores e seguidores) de uma blogosfera que se queria livre. Não digo que todos os seguidores da microcausa do dr. Gorjão tenham vendido a sua opinião ao enlace, mas muitos o fizeram num fenómeno que, para mim, é um sinal de que a corrupção de que fala Schopenhauer e que atinge a maioria dos seres humanos, e aprendi com o filósofo e a realidade a ser descrente dos dons de bondade do ser humano face à ganância e ao egoísmo. É esta corrupção que atinge de forma normal e natural, somos humanos, a blogosfera portuguesa. Aliás, o post manipulador de Carmelo é mais um elemento para alimentar a minha desilusão. Carmelo podia discordar do que eu escrevi, podia rebater, mas amputar para fingir que tem razão é um acto inqualificável de desonestidade intelectual.
Admitiria muito interessante que o dr. Gorjão (o blogue com mais leitores associado à ideia da micro causa ) fizesse a tal arregimentação de blogues, mas que anunciasse apenas no final de tudo quais os aderentes, sem aviso prévio. Comparando os números chegaríamos a conclusões bem interessantes numa experiência que não se pode realizar mas que se pode conceptualizar.
Aliás, é também interessante é o recuo de Gorjão e companhia perante a não resposta de José Manuel Fernandes à tal microcausa, fingindo que se ganhou a microcausa onde apenas conseguiu turvar as águas. Manipulação em toda a parte, o método dos politiqueiros e dos politólogos! É que os protestos começavam a ser demais perante os métodos usados e era necessário parar.
H.S.
Comentário afixado no blogue Miniscente:
É mesmo uma questão de liberdade, basta ler o texto todo. Claro que extrair apenas uma parcela ínfima, de forma a distorcer todo o conteúdo, numa manipulação intelectual que não conheço em Luís Carmelo, é que afasta o leitor dessa mesma liberdade de pensamento de forma a ser manipulado. Obrigado por negar no mesmo texto aquilo que afirma defender.
Fonte próxima de H.S.
“Escreve o sapiente Crítico:
(…) não alinho em grupos nem em carneiradas, mesmo que sejam organizadas por bloggers esclarecidos e muito visitados que oferecem links a quem os apoiar, numa espécie de oferta manipuladora de chouriços em campanha eleitoral. Não contem comigo.”
E escrevo eu, mero mortal: quem “alinha” ou não em causas, tendo como base a ideia de “carneirada” vs. “não-carneirada”, é porque não opta de acordo com o critério fundamental: a liberdade. Dispenso de me alongar em ilações (e haveria muitas e interessantes).
SIC
Esquece Luís Carmelo que eu escrevi isto no final de um texto grande e que a frase começa por: "É por isso..." Que, de forma obscenamente manipuladora, Luís Carmelo omite. É pelas razões mostradas ao longo de todo um texto acima da citação que não alinho em carneiradas, à priori, apenas porque se dão links. Eu alinharia com a causa apesar dos links, por concordar ou discordar, como se entende do texto. Já agora quando falo de "uma carneirada" falo de um acto acéfalo, uma multidão sem pensamento ou reflexão que segue o pastor, ou o cão e procura a erva mais fresca. Ou Luís Carmelo pensará que os carneiros têm um discernimento profundo?
É precisamente como cultor da liberdade de pensamento que nego a carneirada à qual Luís Carmelo aprecia tanto as virtudes. Por liberdade, por independência, por total e radical negação da venda dos princípios pela obtenção de benefícios. E a venda de links a troco de causas, micro ou não, é uma das mais mesquinhas formas de manipulação (pelos autores) e de decadência (pelos autores e seguidores) de uma blogosfera que se queria livre. Não digo que todos os seguidores da microcausa do dr. Gorjão tenham vendido a sua opinião ao enlace, mas muitos o fizeram num fenómeno que, para mim, é um sinal de que a corrupção de que fala Schopenhauer e que atinge a maioria dos seres humanos, e aprendi com o filósofo e a realidade a ser descrente dos dons de bondade do ser humano face à ganância e ao egoísmo. É esta corrupção que atinge de forma normal e natural, somos humanos, a blogosfera portuguesa. Aliás, o post manipulador de Carmelo é mais um elemento para alimentar a minha desilusão. Carmelo podia discordar do que eu escrevi, podia rebater, mas amputar para fingir que tem razão é um acto inqualificável de desonestidade intelectual.
Admitiria muito interessante que o dr. Gorjão (o blogue com mais leitores associado à ideia da micro causa ) fizesse a tal arregimentação de blogues, mas que anunciasse apenas no final de tudo quais os aderentes, sem aviso prévio. Comparando os números chegaríamos a conclusões bem interessantes numa experiência que não se pode realizar mas que se pode conceptualizar.
Aliás, é também interessante é o recuo de Gorjão e companhia perante a não resposta de José Manuel Fernandes à tal microcausa, fingindo que se ganhou a microcausa onde apenas conseguiu turvar as águas. Manipulação em toda a parte, o método dos politiqueiros e dos politólogos! É que os protestos começavam a ser demais perante os métodos usados e era necessário parar.
H.S.
Comentário afixado no blogue Miniscente:
É mesmo uma questão de liberdade, basta ler o texto todo. Claro que extrair apenas uma parcela ínfima, de forma a distorcer todo o conteúdo, numa manipulação intelectual que não conheço em Luís Carmelo, é que afasta o leitor dessa mesma liberdade de pensamento de forma a ser manipulado. Obrigado por negar no mesmo texto aquilo que afirma defender.
Fonte próxima de H.S.
14.10.05
O método do discurso
Em ciências sociais e na filosofia pós moderna não vigora o discurso do método mas o método do discurso: gongórico, obscuro, pomposo, inchado, disfarçando a total ausência de ideias. Num mundo pós ano 2000 e pós Sokal o mundo pós moderno nas ciências sociais deixa de fazer sentido, pelo menos na concepção inicial dos seus criadores, para os novos leitores com olhos mais abertos e desconfiados dos vendedores da banha epistemológica da cobra, ou das colheres de óleo de fígado de desconstrutivista.
Os prolegómenos discursivos são paradigmas na nova ciência social que nunca atinge os fins perdendo-se na teia pseudo argumentativa, cujo método de exposição é afinal bem mais escolástico do que o pretenso conteúdo disfarçado por uma carga de jargão para entendidos, códigos estritos que colocam fora da ciência social os não iniciados. Aquela que seria a ciência pós Maio de 68, pós moderna, pós século XX, usa ainda o método de Hegel, a ininteligibilidade como forma da afirmação de um raciocínio profundo e de uma inteligência rara. Apenas e só disfarce da nulidade e da ausência de conteúdo. Então como hoje fraude científica e intelectual.
Esta ausência de legibilidade traduz apenas um facto: a total irrelevância da maioria dos estudos e reflexões e a completa incapacidade para a transmissão do conhecimento. Dispusessem as ciências humanas de um código simples e lógico, como nas ciências exactas existe a matemática, e perceber-se-ia o fosso espistemológico onde vegetam as ditas ciências humanas e em particular as ciências sociais. O gongorismo e o discurso sofista são prenúncios de irresolubilidade cíclica do problema espistemológico essencial das ciências humanas: qual o método científico a usar, qual o código a usar, qual o objecto exacto do estudo.
O pós moderno até neste problema tão simples se mostrou simplista e fraudulento, Para além de todos os prolegómenos. E se não se entendem sequer com o método e não entendem as ferramentas, como não deixar de rir quando atacam os problemas metodológicos e filosóficos das ciências exactas? O método do discurso e a desconstrução derridiana de conceitos das ciências exactas não funcionam no mundo onde a demonstração lógica e o conhecimento da linguagem são a essência.
E onde fica a migração do conceito neste ponto? O conceito como objecto relativo na filosofia das ciências. Claro que sim, após Einstein até o conceito se tornou relativo, vale o que vale para cada qual.
E acabei vítima do meu próprio post, o método do discurso...
Os prolegómenos discursivos são paradigmas na nova ciência social que nunca atinge os fins perdendo-se na teia pseudo argumentativa, cujo método de exposição é afinal bem mais escolástico do que o pretenso conteúdo disfarçado por uma carga de jargão para entendidos, códigos estritos que colocam fora da ciência social os não iniciados. Aquela que seria a ciência pós Maio de 68, pós moderna, pós século XX, usa ainda o método de Hegel, a ininteligibilidade como forma da afirmação de um raciocínio profundo e de uma inteligência rara. Apenas e só disfarce da nulidade e da ausência de conteúdo. Então como hoje fraude científica e intelectual.
Esta ausência de legibilidade traduz apenas um facto: a total irrelevância da maioria dos estudos e reflexões e a completa incapacidade para a transmissão do conhecimento. Dispusessem as ciências humanas de um código simples e lógico, como nas ciências exactas existe a matemática, e perceber-se-ia o fosso espistemológico onde vegetam as ditas ciências humanas e em particular as ciências sociais. O gongorismo e o discurso sofista são prenúncios de irresolubilidade cíclica do problema espistemológico essencial das ciências humanas: qual o método científico a usar, qual o código a usar, qual o objecto exacto do estudo.
O pós moderno até neste problema tão simples se mostrou simplista e fraudulento, Para além de todos os prolegómenos. E se não se entendem sequer com o método e não entendem as ferramentas, como não deixar de rir quando atacam os problemas metodológicos e filosóficos das ciências exactas? O método do discurso e a desconstrução derridiana de conceitos das ciências exactas não funcionam no mundo onde a demonstração lógica e o conhecimento da linguagem são a essência.
E onde fica a migração do conceito neste ponto? O conceito como objecto relativo na filosofia das ciências. Claro que sim, após Einstein até o conceito se tornou relativo, vale o que vale para cada qual.
E acabei vítima do meu próprio post, o método do discurso...
Programa do Festival de Mafra
Não perca os concertos de fim de semana no Festival de Mafra. Colocamos em anexo o ficheiro pdf do resumo da programação para que se possa seguir e escolher o mais interessante para cada leitor.
Programa do Festival de Mafra.
Programa do Festival de Mafra.
Sebastião
Conditur hoc tumulo, si vera est Fama, Sebastus
Quem tulit in Libicis mors properata plagis
Nec dicas falci regem qui vivere Credit
Pro lege extincto mors quasi vita fuit
Por Cristovão de Morais
Quem tulit in Libicis mors properata plagis
Nec dicas falci regem qui vivere Credit
Pro lege extincto mors quasi vita fuit
Por Cristovão de Morais
10.10.05
Micro País
Pergunto-me a mim próprio se estou contente com os resultados eleitorais de ontem. Não, não estou. Portugal sai sempre a perder. Os candidatos autárquicos do PS eram muito maus em muitos casos. Os do PSD são na sua generalidade muito maus. Os partidos como o PSD e o PS continuarão, à custa da destruição do país, de urbanizações selvagens, de caos ambiental e urbano, a financiar-se de forma escandalosa e mafiosa à custa dos especuladores imobiliários e dos empreiteiros sem escrúpulos que polulam por aí e da gente de mau gosto que vai comprando os tugúrios. Não existe consciência cívica nem de quem quer enriquecer a todo o custo, políticos e especuladores, nem dos partidos por detrás do grande negócio autárquico que vai destruindo o país e queimando o que resta.
Sinto uma grande tristeza, porque o legado que recebemos dos nossos antepassados está a ser delapidado por esta corja colectiva portuguesa e porque nada haverá para os portugueses do futuro que poderão vir a ser melhores do que os de hoje, os quais não lamento. Tenho pena pelas aves de rapina, pelo lince, pelos peixes e pelas águas dos ribeiros, tenho pena pelas florestas, pelas azinheiras, pelos carvalhos, pelos sobreiros, pelas oliveiras e pelos castanheiros deste Portugal milenar que se esfuma em sacos azuis iguais ao de Felgueiras e em fogos ateados pela corrupção e pela ganância. Tenho pena pelas gerações inocentes dos crimes dos seus pais e que ocuparão um dia o seu lugar nas ruínas de um país com tudo para ser um paraíso, mas destruído pela gente rasteira que o habita e pelos políticos que elege. Democracia de Abril desperdiçada pelos seus filhos, como foi o Portugal da primeira república.
Tenho comiseração pela própria Fátima Felgueiras, na sua triste sina de ser igual a todos os outros e ter tido um Barros Moura, ex-comunista, intrinsecamente honesto e como tal já falecido, que a denunciou. Elegemos Fátimas Felgueiras em quase todos os concelhos do país e andamos a chorar e a lamentar a sua eleição na sua terra onde sempre fez o que vai alimentando os partidos e lhes permite pagar as campanhas eleitorais e retribuir os autarcas e aparelhos.
Estamos felizes por ter a Fátima para lamentar mas somos tristes por não vermos a floresta tapada por esta árvore. Seremos burros, seremos cegos, defendemos micro causas de forma obsessiva mas de facto temos micro cérebros se não percebermos o esquema...
Depois de ler Schopenhauer resta apenas a retirada, a desilusão para um espaço sem tempo, sem vontade, sem o nada redentor onde nem a Vontade de Representação subsiste. Onde não há espaço nem para Messias nem para um miserável Sebastião que apareça disfarçado de sapateiro. Portugal não é nada, nevoeiro. É chegado o momento da renúncia, o momento da poesia. E Fernando Pessoa bem pode clamar do fundo do seu livro: Portugal, é a hora! que o clamor já está extinto em letras desiguais na forma de uma impressão gasta. Talvez na próxima geração...
Sinto uma grande tristeza, porque o legado que recebemos dos nossos antepassados está a ser delapidado por esta corja colectiva portuguesa e porque nada haverá para os portugueses do futuro que poderão vir a ser melhores do que os de hoje, os quais não lamento. Tenho pena pelas aves de rapina, pelo lince, pelos peixes e pelas águas dos ribeiros, tenho pena pelas florestas, pelas azinheiras, pelos carvalhos, pelos sobreiros, pelas oliveiras e pelos castanheiros deste Portugal milenar que se esfuma em sacos azuis iguais ao de Felgueiras e em fogos ateados pela corrupção e pela ganância. Tenho pena pelas gerações inocentes dos crimes dos seus pais e que ocuparão um dia o seu lugar nas ruínas de um país com tudo para ser um paraíso, mas destruído pela gente rasteira que o habita e pelos políticos que elege. Democracia de Abril desperdiçada pelos seus filhos, como foi o Portugal da primeira república.
Tenho comiseração pela própria Fátima Felgueiras, na sua triste sina de ser igual a todos os outros e ter tido um Barros Moura, ex-comunista, intrinsecamente honesto e como tal já falecido, que a denunciou. Elegemos Fátimas Felgueiras em quase todos os concelhos do país e andamos a chorar e a lamentar a sua eleição na sua terra onde sempre fez o que vai alimentando os partidos e lhes permite pagar as campanhas eleitorais e retribuir os autarcas e aparelhos.
Estamos felizes por ter a Fátima para lamentar mas somos tristes por não vermos a floresta tapada por esta árvore. Seremos burros, seremos cegos, defendemos micro causas de forma obsessiva mas de facto temos micro cérebros se não percebermos o esquema...
Depois de ler Schopenhauer resta apenas a retirada, a desilusão para um espaço sem tempo, sem vontade, sem o nada redentor onde nem a Vontade de Representação subsiste. Onde não há espaço nem para Messias nem para um miserável Sebastião que apareça disfarçado de sapateiro. Portugal não é nada, nevoeiro. É chegado o momento da renúncia, o momento da poesia. E Fernando Pessoa bem pode clamar do fundo do seu livro: Portugal, é a hora! que o clamor já está extinto em letras desiguais na forma de uma impressão gasta. Talvez na próxima geração...
9.10.05
Micro Causas ou Linchamento Fácil
Chega a ser divertida a forma como os blogueiros se tomam a si próprios como os últimos detentores da verdade e da consciência cívica de um país. Penso que eu próprio sofro às vezes do mesmo mal, embora não me canse de repetir que este nosso blogue é apenas um diário pessoal e as opiniões aqui escritas sejam apenas reflexões pessoais, sujeitas a contraditório, quem discorda do que eu penso pode sempre manifestar-se noutro blogue, num princípio simétrico claríssimo, que depende apenas do engenho pessoal de cada um, é barato, custa apenas uma ligação à net e nem é necessário comprar um computador, pode-se fazê-lo de um local público, uma biblioteca ou um café internet.
Evidentemente quem discorda de um jornal não pode abrir um jornal com facilidade. Poderá escrever uma carta ao director. Poderá, em casos extremos, colocar um processo ao jornal e obrigá-lo a provar o que foi publicado.
É neste contexto que o jornal O Público anda a ser pressionado por um grupo de blogueiros, que contam com a generosa, mas perversa oferta de um link no blog do Paulo Gorjão (e sabe-se como um link num blogue conhecido é apetitoso), a propósito dos contactos entre Fátima Felgueiras e o PS. E para mim esses são os factos, porque os li num jornal de referência. É por isso que os abusos de liberdade de imprensa têm especiais privilégios de urgência nos tribunais, para que os factos publicados não perdurem como tal (demasiado tempo) no espaço público se não corresponderem à realidade.
Neste caso, como em todos, temos de ser honestos e não hipócritas, por isso mesmo devo dizer que acredito no jornal, as razões são simples:
Colocamos na balança um jornal com as credenciais de O Público, e na outra políticos e partidos e teremos de acreditar à priori no jornal e nos jornalistas que assinam. Se conhecer os intervenientes e toda a envolvência ainda mais acreditamos no jornal.
O assunto por debaixo da mesa é muito grave para o PS, Fátima sabe obviamente muito, o financiamento dos partidos passa pelas autarquias, é natural um entendimento.
O ónus da prova no espaço público não é do jornal enquanto elemento desse mesmo espaço público, sobretudo se se trata de um jornal de prestígio. Um jornal de prestígio tem as suas fontes que deve proteger a todo o custo, e apenas em sede judicial, se outro bem mais elevado estiver em causa, devem estas fontes ser reveladas. Ninguém se preocuparia com uma notícia destas no 24 Horas. Quem se sente lesado tem direito a processar o jornal e apenas em sede judicial o ónus se inverte, o Jornal teria de provar se a informação é verdadeira. Acredito que um Jornal como o Público está preparado para enfrentar qualquer processo, senão nunca publicaria essas notícias. Esperamos que o PS coloque um processo ao jornal para então podermos ser confrontados com toda a extensão do problema. Enquanto assim não for, eu terei de acreditar nos jornalistas que assinam e que me merecem o maior respeito e estima, ao contrário dos políticos. E merecem certamente infinitamente muito maior credibilidade do que qualquer político como Fátima Felgueiras e o partido a que pertence e que a suportou e que beneficiou da sua existência até há pouco tempo. Existe claramente um esquema para salvar Fátima Felgueiras, que atravessou a própria magistratura e que se estende à situação presente que é mais uma vergonha para Portugal e uma prova manifesta da inexistência de um estado de direito. A ausência do PS nacional em Felgueiras é mais uma confirmação implicíta, o pobre do Almeida Santos (e o PS depende cada vez mais da brigada do reumático) até estava preparado para dar um abraço a Felgueiras se a encontrasse!
Por isso não alinho em grupos nem em carneiradas, mesmo que sejam organizadas por bloggers esclarecidos e muito visitados que oferecem links a quem os apoiar, numa espécie de oferta manipuladora de chouriços em campanha eleitoral. Não contem comigo.
Evidentemente quem discorda de um jornal não pode abrir um jornal com facilidade. Poderá escrever uma carta ao director. Poderá, em casos extremos, colocar um processo ao jornal e obrigá-lo a provar o que foi publicado.
É neste contexto que o jornal O Público anda a ser pressionado por um grupo de blogueiros, que contam com a generosa, mas perversa oferta de um link no blog do Paulo Gorjão (e sabe-se como um link num blogue conhecido é apetitoso), a propósito dos contactos entre Fátima Felgueiras e o PS. E para mim esses são os factos, porque os li num jornal de referência. É por isso que os abusos de liberdade de imprensa têm especiais privilégios de urgência nos tribunais, para que os factos publicados não perdurem como tal (demasiado tempo) no espaço público se não corresponderem à realidade.
Neste caso, como em todos, temos de ser honestos e não hipócritas, por isso mesmo devo dizer que acredito no jornal, as razões são simples:
Colocamos na balança um jornal com as credenciais de O Público, e na outra políticos e partidos e teremos de acreditar à priori no jornal e nos jornalistas que assinam. Se conhecer os intervenientes e toda a envolvência ainda mais acreditamos no jornal.
O assunto por debaixo da mesa é muito grave para o PS, Fátima sabe obviamente muito, o financiamento dos partidos passa pelas autarquias, é natural um entendimento.
O ónus da prova no espaço público não é do jornal enquanto elemento desse mesmo espaço público, sobretudo se se trata de um jornal de prestígio. Um jornal de prestígio tem as suas fontes que deve proteger a todo o custo, e apenas em sede judicial, se outro bem mais elevado estiver em causa, devem estas fontes ser reveladas. Ninguém se preocuparia com uma notícia destas no 24 Horas. Quem se sente lesado tem direito a processar o jornal e apenas em sede judicial o ónus se inverte, o Jornal teria de provar se a informação é verdadeira. Acredito que um Jornal como o Público está preparado para enfrentar qualquer processo, senão nunca publicaria essas notícias. Esperamos que o PS coloque um processo ao jornal para então podermos ser confrontados com toda a extensão do problema. Enquanto assim não for, eu terei de acreditar nos jornalistas que assinam e que me merecem o maior respeito e estima, ao contrário dos políticos. E merecem certamente infinitamente muito maior credibilidade do que qualquer político como Fátima Felgueiras e o partido a que pertence e que a suportou e que beneficiou da sua existência até há pouco tempo. Existe claramente um esquema para salvar Fátima Felgueiras, que atravessou a própria magistratura e que se estende à situação presente que é mais uma vergonha para Portugal e uma prova manifesta da inexistência de um estado de direito. A ausência do PS nacional em Felgueiras é mais uma confirmação implicíta, o pobre do Almeida Santos (e o PS depende cada vez mais da brigada do reumático) até estava preparado para dar um abraço a Felgueiras se a encontrasse!
Por isso não alinho em grupos nem em carneiradas, mesmo que sejam organizadas por bloggers esclarecidos e muito visitados que oferecem links a quem os apoiar, numa espécie de oferta manipuladora de chouriços em campanha eleitoral. Não contem comigo.
7.10.05
O par de fagotes
Concerto com programa de abertura da orquestra Gulbenkian na temporada deste ano. Emanuel Nunes, Mozart, Boulez e Haydn. Dirigiu LAWRENCE FOSTER.
Uma peça altamente desinteressante de Emanuel Nunes, cheia de efeitos e empastelamento repetitivo das mesmas ideias até à exaustão da devolução. Uma devolução aliás eloquente e não necessariamente má, uma espécie de regurgitação com sabor pós moderno através de uma dupla negação tanto cognitiva como onírica do universo aparente, criando estruturas subjacentes de uma poética vaga e instável. Nunes não deixa margem para dúvidas epistemológicas mas também não é escatológico. Passámos depois a um inacreditável concerto para piano e orquestra. Como não quero que me chamem "bota-abaixo" passo adiante e nem dou o nome do pianista, parecia o concerto nº 20 mas não tenho a certeza, muitas das notas eram do concerto nº 20. Talvez fosse uma releitura de algum compositor contemporâneo da obra para combinar com o Nunes e o Boulez. Se fosse o concerto de Mozart diria: "Péssima a orquestra, desconcentrado e desastradíssimo o pianista. Desacerto total entre orquestra e o que o pianista queria dizer, excesso de som e de dinâmica sobre a suavidade que se pretendia inefável a transformar-se crescentemente em trapalhada irritada do pianista... Primeiro trompa fanhoso a falhar notas agudas. O pianista talvez não estivesse nos seus melhores dias mas a orquestra, com Foster à cabeça, estava mesmo nos seus piores momentos de todos os tempos a portar-se de forma paquidérmica e sem a menor sensibilidade para o compositor. Desacerto nos tempos e nos ataques." O mesmo público que vota nas eleições de domingo bateu palmas e exigiu orelha, com muitos a baterem palmas de pé. Lá veio a orelha sob a forma de um extra mozartiano, aqui sim tenho a certeza, e que foi melhorzito. Intervalo, muito interessante este intervalo com uma meia de leite muito bem tirada. O Boulez que se seguiu foi o melhor do dia com a flautista CLAUDIA STEIN-CORNAZ com uma leitura muito bela da obra de Boulez. A seguir tivemos Haydn, a orquestra saiu toda para a reorganização do palco. Toda? Não, espera lá... ficaram dois fagotes a dar umas notas. Falta de espírito de corpo? Falta de coesão na orquestra? Indisciplina? Não, nada disso, devem ter ficado a estudar a sinfonia de Haydn, não devem ter tido tempo e parece que ficaram no palco a estudar uma ou outra passagem mais difícil enquanto os colegas iam lá fora apanhar ar e os senhores da direcção de cena andavam a colocar estantes e reposicionar as cadeiras dos músicos. Isso é que é brio dos fagotistas que aproveitam todos os momentos para preparar a música que se segue. A sinfonia 95 de Haydn neste caso. Lá veio a sinfonia, um certo peso excessivo nos violinos, falta de estilo clássico nas cordas com uns vibratos de arrepiar até as cabeleiras empoadas de Haydn e Mozart. Um par de trompetes clássicos tocados excelentemente e a dar cor ao som da orquestra, contrabalançados pelas trompas duplas modernaças a dar uma cor local e contemporânea. Soma-se a sonoridade histérica dos violinos modernos a puxar pelo brilho do instrumento em vez de puxar pela suavidade e doçura clássicas, com articulações pesadas e com contrastes excessivos e temos uma sinfonia de Haydn ao melhor nível possível pela orquestra Gulbenkian. Um minuete divertido e bem tocado ajudou a quebrar a monotonia e um final empolgante, em que Foster deu tudo e os músicos corresponderam. Um concertino que toca com excesso de sonoridade mesmo os pizzicatti mais delicados e que, do lugar onde estava, me pareceu tocar sempre um pouco antes do tempo todas as passagens. Um concerto para 6 na primeira parte e 13 na segunda.
Henrique Silveira
Uma peça altamente desinteressante de Emanuel Nunes, cheia de efeitos e empastelamento repetitivo das mesmas ideias até à exaustão da devolução. Uma devolução aliás eloquente e não necessariamente má, uma espécie de regurgitação com sabor pós moderno através de uma dupla negação tanto cognitiva como onírica do universo aparente, criando estruturas subjacentes de uma poética vaga e instável. Nunes não deixa margem para dúvidas epistemológicas mas também não é escatológico. Passámos depois a um inacreditável concerto para piano e orquestra. Como não quero que me chamem "bota-abaixo" passo adiante e nem dou o nome do pianista, parecia o concerto nº 20 mas não tenho a certeza, muitas das notas eram do concerto nº 20. Talvez fosse uma releitura de algum compositor contemporâneo da obra para combinar com o Nunes e o Boulez. Se fosse o concerto de Mozart diria: "Péssima a orquestra, desconcentrado e desastradíssimo o pianista. Desacerto total entre orquestra e o que o pianista queria dizer, excesso de som e de dinâmica sobre a suavidade que se pretendia inefável a transformar-se crescentemente em trapalhada irritada do pianista... Primeiro trompa fanhoso a falhar notas agudas. O pianista talvez não estivesse nos seus melhores dias mas a orquestra, com Foster à cabeça, estava mesmo nos seus piores momentos de todos os tempos a portar-se de forma paquidérmica e sem a menor sensibilidade para o compositor. Desacerto nos tempos e nos ataques." O mesmo público que vota nas eleições de domingo bateu palmas e exigiu orelha, com muitos a baterem palmas de pé. Lá veio a orelha sob a forma de um extra mozartiano, aqui sim tenho a certeza, e que foi melhorzito. Intervalo, muito interessante este intervalo com uma meia de leite muito bem tirada. O Boulez que se seguiu foi o melhor do dia com a flautista CLAUDIA STEIN-CORNAZ com uma leitura muito bela da obra de Boulez. A seguir tivemos Haydn, a orquestra saiu toda para a reorganização do palco. Toda? Não, espera lá... ficaram dois fagotes a dar umas notas. Falta de espírito de corpo? Falta de coesão na orquestra? Indisciplina? Não, nada disso, devem ter ficado a estudar a sinfonia de Haydn, não devem ter tido tempo e parece que ficaram no palco a estudar uma ou outra passagem mais difícil enquanto os colegas iam lá fora apanhar ar e os senhores da direcção de cena andavam a colocar estantes e reposicionar as cadeiras dos músicos. Isso é que é brio dos fagotistas que aproveitam todos os momentos para preparar a música que se segue. A sinfonia 95 de Haydn neste caso. Lá veio a sinfonia, um certo peso excessivo nos violinos, falta de estilo clássico nas cordas com uns vibratos de arrepiar até as cabeleiras empoadas de Haydn e Mozart. Um par de trompetes clássicos tocados excelentemente e a dar cor ao som da orquestra, contrabalançados pelas trompas duplas modernaças a dar uma cor local e contemporânea. Soma-se a sonoridade histérica dos violinos modernos a puxar pelo brilho do instrumento em vez de puxar pela suavidade e doçura clássicas, com articulações pesadas e com contrastes excessivos e temos uma sinfonia de Haydn ao melhor nível possível pela orquestra Gulbenkian. Um minuete divertido e bem tocado ajudou a quebrar a monotonia e um final empolgante, em que Foster deu tudo e os músicos corresponderam. Um concertino que toca com excesso de sonoridade mesmo os pizzicatti mais delicados e que, do lugar onde estava, me pareceu tocar sempre um pouco antes do tempo todas as passagens. Um concerto para 6 na primeira parte e 13 na segunda.
Henrique Silveira
E se alguma luz brilhou
"E se alguma luz brilhou nestas provas foi porque alguém se esqueceu da luz acesa e da porta da casa de banho aberta no fundo da sala!" José Pinto Peixoto no final de provas para investigador coordenador do extinto INIC em que era presidente do júri.
As palavras do insigne cientista e dos homens mais brilhantes que Portugal conheceu, e ao qual quase ninguém conhece ou reconhece, aplicam-se com total propriedade a esta campanha eleitoral para as Autárquicas. E vou escrevendo isto enquanto Siegfried forja a sua espada sob a direcção da batuta de Karajan e vou pensando: a grandeza desta música, ou da música em geral, a possibilidade de redenção que a música oferece, a visão do inominável que a música traz face à ignominia humana de um país em ruínas.
Fátima Felgueiras eleita, Valentim eleito, Isaltino eleito. Três eleitorados diferentes, o mesmo país.
Nota zero a Carrilho, sem necessidade de explicações, um professor universitário também ele espelho de um país. Um peralvilho oco vindo de Viseu, terra aliás ilustre, que tenta disfarçar, com muita intelectualidade postiça e uma barbie pós moderna, a espinha gelatinosa. Brilhante a análise de António José Saraiva hoje no Expresso.
Nota muito má a João Soares em Sintra, nem passou as ideias, nem se livrou da fama de menino da mamã e do papá. Um demagogo pouco inteligente. Espera-se que perca para Fernando Seara, outro demagogo bem mais inteligente e, logo, bem mais perigoso.
"Isto precisa de uma insurgência!" Mas de quem? Já ninguém se insurge...
As palavras do insigne cientista e dos homens mais brilhantes que Portugal conheceu, e ao qual quase ninguém conhece ou reconhece, aplicam-se com total propriedade a esta campanha eleitoral para as Autárquicas. E vou escrevendo isto enquanto Siegfried forja a sua espada sob a direcção da batuta de Karajan e vou pensando: a grandeza desta música, ou da música em geral, a possibilidade de redenção que a música oferece, a visão do inominável que a música traz face à ignominia humana de um país em ruínas.
Fátima Felgueiras eleita, Valentim eleito, Isaltino eleito. Três eleitorados diferentes, o mesmo país.
Nota zero a Carrilho, sem necessidade de explicações, um professor universitário também ele espelho de um país. Um peralvilho oco vindo de Viseu, terra aliás ilustre, que tenta disfarçar, com muita intelectualidade postiça e uma barbie pós moderna, a espinha gelatinosa. Brilhante a análise de António José Saraiva hoje no Expresso.
Nota muito má a João Soares em Sintra, nem passou as ideias, nem se livrou da fama de menino da mamã e do papá. Um demagogo pouco inteligente. Espera-se que perca para Fernando Seara, outro demagogo bem mais inteligente e, logo, bem mais perigoso.
"Isto precisa de uma insurgência!" Mas de quem? Já ninguém se insurge...
5.10.05
5 de Outubro
Os juizes portugueses não são melhores do que a maioria dos restantes portugueses. São uma amostra. E se o país é atrasado e provinciano e analfabeto, os juizes reflectem isso mesmo. A magistratura é evidentemente uma das maiores causas do colapso do Estado de Direito em Portugal que aliás não existe desde 1910. Os juizes estão a par dos políticos e dos bandidos que assassinaram D. Carlos e seu Filho ou dos oportunistas que implantaram a república no dia trágico de 5 de Outubro de 1910 e acabaram com a democracia monárquica, no momento mesmo em que o país se curava ainda das feridas das guerras liberais, para instalar uma partidocracia de onde o povo foi excluído, como a de hoje. Quase cem anos depois da inenarrável primeira república e depois de muitos anos de atraso salazarista temos uma terceira república em crepúsculo, onde pontificam nos titulares dos órgãos de soberania políticos corruptos, incompetentes e gananciosos e inefáveis juizes formalistas, tacanhos e, por seu turno, incapazes. Tal como os médicos e jornalistas e professores e canalizadores e electricistas e taxistas e fiscais da câmara e etc., etc. Schopenhauer ensinou-nos que o homem era mesmo assim mas Portugal é demasiado assim. Hoje em dia será disparatado ser monárquico, é impossível regressar atrás, mas este século de república que se avizinha é um século terrível. Independentemente dos Vitais Moreira que se anunciam numa tal de comissão do centenário da república. Comemorar o quê? Analfabetismo? Atraso? Alcoolismo e droga? Exclusão social? Corrupção? Decadência? Guerra colonial? O Soldado Milhões que depois da I Guerra Mundial foi limpar latrinas? A sopa do Sidónio? Salazar? Os discursos do Sampaio? E devemos ter mais um hoje...
P.S. Para escrever um artigo sobre José Relvas na FOCUS que saiu ontem e que está nas bancas, tive de estudar a personalidade do homem que serviu de instrumento para a proclamação da república, isto porque era credibilizante pela sua riqueza de terratenente rural ribatejano e por ter o estatuto de filho de um destacado membro da Casa Real. Visitei a sua casa dos Patudos em Alpiarça num dia glorioso de sol e de esperança, e encontrei àparte um refinado bom gosto e um espírito de grande amor a causas e ao país, muita desilusão, morbidez e mesmo morte. Encontrei a casa de um homem descontente com a sua sorte e a sorte de uma república podre, de um homem retirado e sem sonhos. Ao ler a entrevista de João Ferreira a Jorge Morais a propósito do seu recente livro, entevista que saiu na mesma edição da Revista FOCUS, encontro cada vez mais pontos de reflexão para um entendimento do terrível período que foi o tempo e a vivência da primeira república. José Relvas que proclamou a república foi mais uma das suas vítimas. Ingénuo foi usado por interesses e ganâncias várias em propósitos que, como sempre, implicavam a traição a Portugal por interesses estrangeiros na ânsia de deitar a mão a mais umas migalhas do que sobejava. Magalhães Lima o grão mestre do grande oriente lusitano ao tempo de Relvas é uma das sombras negras deste período e do qual pouco se fala, apenas se conhece Miguel de Vasconcelos e esse foi defenestrado no século XVII... Teremos tempo de voltar ao assunto.
P.S. Para escrever um artigo sobre José Relvas na FOCUS que saiu ontem e que está nas bancas, tive de estudar a personalidade do homem que serviu de instrumento para a proclamação da república, isto porque era credibilizante pela sua riqueza de terratenente rural ribatejano e por ter o estatuto de filho de um destacado membro da Casa Real. Visitei a sua casa dos Patudos em Alpiarça num dia glorioso de sol e de esperança, e encontrei àparte um refinado bom gosto e um espírito de grande amor a causas e ao país, muita desilusão, morbidez e mesmo morte. Encontrei a casa de um homem descontente com a sua sorte e a sorte de uma república podre, de um homem retirado e sem sonhos. Ao ler a entrevista de João Ferreira a Jorge Morais a propósito do seu recente livro, entevista que saiu na mesma edição da Revista FOCUS, encontro cada vez mais pontos de reflexão para um entendimento do terrível período que foi o tempo e a vivência da primeira república. José Relvas que proclamou a república foi mais uma das suas vítimas. Ingénuo foi usado por interesses e ganâncias várias em propósitos que, como sempre, implicavam a traição a Portugal por interesses estrangeiros na ânsia de deitar a mão a mais umas migalhas do que sobejava. Magalhães Lima o grão mestre do grande oriente lusitano ao tempo de Relvas é uma das sombras negras deste período e do qual pouco se fala, apenas se conhece Miguel de Vasconcelos e esse foi defenestrado no século XVII... Teremos tempo de voltar ao assunto.
Festival de Mafra II - Programa do próximo Fim de Semana
Programação
No próximo fim de semana o Festival Internacional de Música de Mafra (sempre no Edifício Real de Mafra) inclui na sua programação música que vai do século XVII ao século XXI o que desdiz de alguma forma a ênfase na música antiga que se reencontra noutros fins de semana. No sábado dia 2 apresenta-se o excelente pianista Artur Pizarro, provavelmente o melhor pianista português em exercício, e no dia seguinte, dia 9 de Outubro há dois concertos. Recordo que o bilhete para dois concertos custa o mesmo que o bilhete para um concerto na Biblioteca, 10€, o que ainda torna mais aliciante uma ida a Mafra para passar uma tarde, ouvir boa música e visitar o Palácio.
A directora do Palácio de Mafra, Margarida Montenegro, que lidera a organização do Festival, com os já citados directores artísticos Jorge e João Miguel Gil, organiza visitas guiadas para as primeiras 25 pessoas que se apresentem uma hora antes dos concertos de 22 de Outubro (data do 275ª aniversário da sagração de Mafra). Vejamos a programação:
Sábado, 8 de Outubro, 18h.
Artur Pizarro - Piano
Obras de Chopin, Brahms, Debussy, Vianna da Motta e Albéniz.
Domingo há dois concertos:
Domingo, 9 de Outubro, 16h.Entre Buenos Aires e Lisboa, de Astor Piazzolla a Vasco Mendonça (*)
Astor Piazzolla - Estaciones Porteñas: Invierno, para flauta de bisel, violoncelo & piano
Ryhoei Hirose (1930) - Hymn, para flauta de bisel (1979–1982)
Fernando Lopes-Graça (1906–1994)- Página esquecida, para violoncelo e piano
Astor Piazzolla - Estaciones Porteñas: Verano, para flauta, violoncelo & piano
Bernt Simen Lund - Regines ti taer, para flauta & violoncelo (2003)
Sérgio Azevedo (1968) - 12 Bagatelas (2004) & Omaggio a G. Ligeti, para piano
Astor Piazolla - Estaciones Porteñas: Otoño, para flauta, violoncelo & piano
Jacques Ibert (1890–1962) - Ghirlarzana, para violoncelo
Virgílio Melo (1961) - Remember, para flauta (2001)
Astor Piazzolla - Estaciones Porteñas: Primavera, para flauta, violoncelo & piano
Vasco Mendonça (1977) - peça encomendada em composição, para flauta, violoncelo & piano
Piazzolla - Lisboa
António Carrilho, flautas de bisel
Edoardo Sbaffi, violoncelo
Paulo Pacheco, piano
(*) – Obra encomendada pelo Festival Internacional de Música de Mafra
Domingo, 9 de Outubro, 18h.
Árias para Farinelli
Nos 300 anos sobre o seu nascimento
Árias virtuosas e peças instrumentais
Obras de Johann Adolf Hasse (1699-1783), Attilio Ariosti (1666 -1729), Nicola Antonio Porpora (1686-1768), Carlo Broschi Farinelli (1705-1782) e Giuseppe Sellitto (1700-1777).
Ensemble LA TEMPESTA
Alberto Sanna, violino
Marco Ligas, violino
Alessandro Puggioni, viola
Marco Testori, violoncelo
Paolo Zuccheri, contrabaixo
Stefano Demicheli, cravo e direcção musical
Max Emanuel Cencic, contratenor
Continua (com a programação dos fins de semana seguintes)
No próximo fim de semana o Festival Internacional de Música de Mafra (sempre no Edifício Real de Mafra) inclui na sua programação música que vai do século XVII ao século XXI o que desdiz de alguma forma a ênfase na música antiga que se reencontra noutros fins de semana. No sábado dia 2 apresenta-se o excelente pianista Artur Pizarro, provavelmente o melhor pianista português em exercício, e no dia seguinte, dia 9 de Outubro há dois concertos. Recordo que o bilhete para dois concertos custa o mesmo que o bilhete para um concerto na Biblioteca, 10€, o que ainda torna mais aliciante uma ida a Mafra para passar uma tarde, ouvir boa música e visitar o Palácio.
A directora do Palácio de Mafra, Margarida Montenegro, que lidera a organização do Festival, com os já citados directores artísticos Jorge e João Miguel Gil, organiza visitas guiadas para as primeiras 25 pessoas que se apresentem uma hora antes dos concertos de 22 de Outubro (data do 275ª aniversário da sagração de Mafra). Vejamos a programação:
Sábado, 8 de Outubro, 18h.
Artur Pizarro - Piano
Obras de Chopin, Brahms, Debussy, Vianna da Motta e Albéniz.
Domingo há dois concertos:
Domingo, 9 de Outubro, 16h.Entre Buenos Aires e Lisboa, de Astor Piazzolla a Vasco Mendonça (*)
Astor Piazzolla - Estaciones Porteñas: Invierno, para flauta de bisel, violoncelo & piano
Ryhoei Hirose (1930) - Hymn, para flauta de bisel (1979–1982)
Fernando Lopes-Graça (1906–1994)- Página esquecida, para violoncelo e piano
Astor Piazzolla - Estaciones Porteñas: Verano, para flauta, violoncelo & piano
Bernt Simen Lund - Regines ti taer, para flauta & violoncelo (2003)
Sérgio Azevedo (1968) - 12 Bagatelas (2004) & Omaggio a G. Ligeti, para piano
Astor Piazolla - Estaciones Porteñas: Otoño, para flauta, violoncelo & piano
Jacques Ibert (1890–1962) - Ghirlarzana, para violoncelo
Virgílio Melo (1961) - Remember, para flauta (2001)
Astor Piazzolla - Estaciones Porteñas: Primavera, para flauta, violoncelo & piano
Vasco Mendonça (1977) - peça encomendada em composição, para flauta, violoncelo & piano
Piazzolla - Lisboa
António Carrilho, flautas de bisel
Edoardo Sbaffi, violoncelo
Paulo Pacheco, piano
(*) – Obra encomendada pelo Festival Internacional de Música de Mafra
Domingo, 9 de Outubro, 18h.
Árias para Farinelli
Nos 300 anos sobre o seu nascimento
Árias virtuosas e peças instrumentais
Obras de Johann Adolf Hasse (1699-1783), Attilio Ariosti (1666 -1729), Nicola Antonio Porpora (1686-1768), Carlo Broschi Farinelli (1705-1782) e Giuseppe Sellitto (1700-1777).
Ensemble LA TEMPESTA
Alberto Sanna, violino
Marco Ligas, violino
Alessandro Puggioni, viola
Marco Testori, violoncelo
Paolo Zuccheri, contrabaixo
Stefano Demicheli, cravo e direcção musical
Max Emanuel Cencic, contratenor
Continua (com a programação dos fins de semana seguintes)
Festival de Mafra - I
Introdução e contexto da música antiga em Portugal hoje, divagações
Recomeçou o Festival de Mafra. A direcção artística é de Jorge Gil e de João Miguel Gil, que anteriormente realizaram de forma notável os concertos "Em Órbita".
O programa de Mafra deslocou a sua centralidade para a área da música antiga, o que está dentro do conhecimento e gosto dos dois directores. Deve acrescentar-se que muito se saúda esta incursão no campo da música antiga. Em Portugal a Música Antiga continua a ser marginal em termos de programação regular das grandes instituições. Veja-se por exemplo a Gulbenkian, que numa programação imensa conta apenas com sete concertos dedicados à música antiga, onde inclui Bach e Handel por exemplo. Afinal onde cabem as centenas de anos de música anteriores a 1750 face aos 150 anos seguintes? Por outro lado a música antiga é metida toda no mesmo saco, distinções entre sacro e profano, orquestral e de câmara, vocal e instrumental? Não se fazem, no caso da música posterior a 1750 encontramos ciclos disto e daquilo: câmara, contemporânea, canto, piano, orquestras e grandes orquestras mundiais, retira-se da música antiga a Orquestra Barroca de Friburgo que passa a ser "Grande Orquestra Mundial" como se o nome queimasse e como se a Cecilia Bartoli lhe assentasse mal o epíteto. Mas Bartoli não faz música antiga?
Ópera barroca? Não existe, de 1600 a 1782 parece que não se passou nada. O S. Carlos e a sua direcção centram toda a sua actividade no período subsequente ao Rapto do Serralho. Ópera Barroca não existe aqui.
Sobra a Festa da Música que de vez em quando se desloca ao barroco. A Casa da Música que inicia amanhã o festival À volta do Barroco (promete-se comentário ao programa num próximo post) e alguns Festivais dos quais o da Póvoa do Varzim que se destaca pela qualidade da programação no campo da música antiga à mistura com alguns pianistas como Sequeira Costa. Os Festivais mais antigos como o do Estoril ou o de Sintra, têm uma tradição e um capital diferentes, o do Estoril muito virado para a música contemporânea não esquece o passado com alguns concertos de música barroca, relembro por exemplo Rinaldo Alessandrini, o Festival de Sintra nem sequer considera a música antiga. O Festival dos Capuchos está em relançamento e depois da morte prematura de Adelino Tacanho, seu anterior director, ainda não tem uma trave mestra de programação.
Na região de Lisboa sobra o Festival de Mafra que envereda por um caminho difícil, o público português anda desfasado e deprimido, nota-se nos concertos uma apatia que não será alheia à crise nacional, à falta de soluções para este atoleiro estrutural português. A este medo de existir que nos consome. Enquanto no mundo a música antiga já está enraizada, os instrumentos originais são naturais, as programações já se estabilizaram, no burgo lusitano continuamos a olhar para música antiga com instrumentos originais como se se tratasse de uma bizarria. Quem ouviu o último programa do Joel Costa na Antena 2, percebeu dando muitas gargalhadas (o sentido de humor de Costa é notável) que o reaccionário típico (que Joel Costa representa na perfeição) vê os instrumentos originais e a ópera barroca por exemplo, como ofensas ao seu gosto preestabelecido de Wagner e Verdi, ou da forma de cantar Gluck ou Mozart ou Handel como se tratasse de Belini. Como se os dois campos se excluíssem mutuamente. Como se fosse impossível gostar da música de Wagner (com ou sem instrumentos originais e espera-se ainda que se faça com instrumentos originais e a técnica musical do seu tempo) e ao mesmo tempo ser apreciador convicto de Monteverdi ou Sartorio.
Devo acrescentar que o Festival de Mafra nem por isso cai apenas no campo da música antiga e até inclui estreias mundiais de obras de compositores nascidos depois de 1970, além de uma estreia mundial moderna de uma ária de Farinelli, falarei do assunto no próximo post.
Recomeçou o Festival de Mafra. A direcção artística é de Jorge Gil e de João Miguel Gil, que anteriormente realizaram de forma notável os concertos "Em Órbita".
O programa de Mafra deslocou a sua centralidade para a área da música antiga, o que está dentro do conhecimento e gosto dos dois directores. Deve acrescentar-se que muito se saúda esta incursão no campo da música antiga. Em Portugal a Música Antiga continua a ser marginal em termos de programação regular das grandes instituições. Veja-se por exemplo a Gulbenkian, que numa programação imensa conta apenas com sete concertos dedicados à música antiga, onde inclui Bach e Handel por exemplo. Afinal onde cabem as centenas de anos de música anteriores a 1750 face aos 150 anos seguintes? Por outro lado a música antiga é metida toda no mesmo saco, distinções entre sacro e profano, orquestral e de câmara, vocal e instrumental? Não se fazem, no caso da música posterior a 1750 encontramos ciclos disto e daquilo: câmara, contemporânea, canto, piano, orquestras e grandes orquestras mundiais, retira-se da música antiga a Orquestra Barroca de Friburgo que passa a ser "Grande Orquestra Mundial" como se o nome queimasse e como se a Cecilia Bartoli lhe assentasse mal o epíteto. Mas Bartoli não faz música antiga?
Ópera barroca? Não existe, de 1600 a 1782 parece que não se passou nada. O S. Carlos e a sua direcção centram toda a sua actividade no período subsequente ao Rapto do Serralho. Ópera Barroca não existe aqui.
Sobra a Festa da Música que de vez em quando se desloca ao barroco. A Casa da Música que inicia amanhã o festival À volta do Barroco (promete-se comentário ao programa num próximo post) e alguns Festivais dos quais o da Póvoa do Varzim que se destaca pela qualidade da programação no campo da música antiga à mistura com alguns pianistas como Sequeira Costa. Os Festivais mais antigos como o do Estoril ou o de Sintra, têm uma tradição e um capital diferentes, o do Estoril muito virado para a música contemporânea não esquece o passado com alguns concertos de música barroca, relembro por exemplo Rinaldo Alessandrini, o Festival de Sintra nem sequer considera a música antiga. O Festival dos Capuchos está em relançamento e depois da morte prematura de Adelino Tacanho, seu anterior director, ainda não tem uma trave mestra de programação.
Na região de Lisboa sobra o Festival de Mafra que envereda por um caminho difícil, o público português anda desfasado e deprimido, nota-se nos concertos uma apatia que não será alheia à crise nacional, à falta de soluções para este atoleiro estrutural português. A este medo de existir que nos consome. Enquanto no mundo a música antiga já está enraizada, os instrumentos originais são naturais, as programações já se estabilizaram, no burgo lusitano continuamos a olhar para música antiga com instrumentos originais como se se tratasse de uma bizarria. Quem ouviu o último programa do Joel Costa na Antena 2, percebeu dando muitas gargalhadas (o sentido de humor de Costa é notável) que o reaccionário típico (que Joel Costa representa na perfeição) vê os instrumentos originais e a ópera barroca por exemplo, como ofensas ao seu gosto preestabelecido de Wagner e Verdi, ou da forma de cantar Gluck ou Mozart ou Handel como se tratasse de Belini. Como se os dois campos se excluíssem mutuamente. Como se fosse impossível gostar da música de Wagner (com ou sem instrumentos originais e espera-se ainda que se faça com instrumentos originais e a técnica musical do seu tempo) e ao mesmo tempo ser apreciador convicto de Monteverdi ou Sartorio.
Devo acrescentar que o Festival de Mafra nem por isso cai apenas no campo da música antiga e até inclui estreias mundiais de obras de compositores nascidos depois de 1970, além de uma estreia mundial moderna de uma ária de Farinelli, falarei do assunto no próximo post.
1.10.05
Evolução - Terramoto e Tempestade
Ontem pelas 21h, mais um concerto da Orquestra Sinfónica Portuguesa, Renzeti dirigiu.
No programa a 4ª e a 6ª sinfonias de Beethoven.
Nota-se evolução positiva na orquestra, os violinos na quarta sinfonia estavam um pouco melhor do que na semana anterior mas continua a faltar trabalho de corpo. Se os concertinos anunciados ficarem em Lisboa, se trabalharem com o naipe, se fizerem ensaios para melhoria da qualidade de som e de afinação, de coesão, ou seja: um trabalho profundo, pode ser que haja esperança. No concerto de ontem continuou a notar-se uma sonoridade magra, mesmo nos fortíssimos, sem densidade, pouco profunda.
Algum trabalho na quarta sinfonia notou-se no último andamento, muito complicado, e que resultou razoável. Nota-se também uma grande debilidade estrutural nos segundos violinos, que sempre que são solicitados em passagens mais exigentes é com grande desconforto que se escutam, é como se estivessem sobre brasas, o som treme... Continuam notas trocadas nos violinos e enquanto assim for a situação será sempre de análise técnica, a parte musical e artística só se pode discutir depois. É pena que uma única grande (em número) orquestra sinfónica em Portugal ainda esteja a discutir aspectos técnicos elementares, mas que a pouco e pouco parecem evoluir, um trabalho com um concertino estável e de bom nível poderá ajudar bastante.
As violas sentiram-se de forma acertada, com ligeiros problemas de coesão, muito menos evidentes do que nos violinos e os violoncelos estiveram espessos e coesos em termos sonoros, interessante o trabalho na sexta, com sonoridade rica e quente. O segundo andamento, sempre em divisi, mostrou uma belíssima primeira estante. Pena é o estilo relativamente indiferente dos celli nas passagens de suporte harmónico em que poderiam ser o motor dos baixos e fundação harmónica da orquestra, em vez de pilares os violoncelos surgem sempre em atraso imperceptível, o que não dará muita segurança ao restante conjunto, creio que está a faltar mais carisma ao naipe nesse sentido. Acabam por ser os contrabaixos que actuam como motores e pilares do suporte rítmico e harmónico, geralmente bem a tempo são as pedras motrizes, nota-se um ligeiro desfazamento que pode ter efeitos globais. Seria interessante melhorar este aspecto de maior incisão no naipe dos violoncelos. Fica aqui uma ideia para trabalho vinda de quem ouve na plateia.
Cordas analisadas passemos aos sopros: trompetes bem, as sinfonias de Beethoven não foram feitas para trompetes modernos, as passagens são relativamente simples e correram muito bem, bom som.
Trompas, àparte um lapso tremendo em que num solo confiante e de sonoridade de grande nível se esborrachou tudo, água no instrumento (?), mas que se esquece face ao resto, foi bonito escutar o naipe das trompas, a sonoridade do trompa solo é muito rica e o músico tem grande musicalidade, a falha que se escutou surgiu precisamente da grande confiança e denodo do músico, foi fortuita e só acontece aos melhores. Apenas um músico que toca à defesa não está sujeito a errar, quem tem coragem não merece que um momento mau ensombre toda uma prestação de bom nível.
Oboés bastante bem, creio que o primeiro oboé poderia ter mais volume de som, mas é um estilo, e dentro do estilo o naipe esteve muito bem.
Flauta com sonoridade anémica e pobre e estilo demasiado próprio para se enquadrar numa orquestra, musicalidade fraca, ritmo impreciso, paragem do tempo para se escutar dificultando a progressão motriz da obra e esquecendo que uma sinfonia de Beethoven não é um concerto para flauta mesmo que tenha uns solitos aqui e ali, nota técnica média, som escolar e nota artística fraca.
Clarinete muitíssimo bem, creio que é o mesmo que escutámos com uma sonoridade algo agreste anteriormente, não foi o caso de ontem, notável em musicalidade e em sonoridade, solos de grande poesia, um grande trabalho, quer nos solos quer nos acompanhamentos deste naipe.
Fagotes muito bem, impressivo o solo stacatto e a descoberto no final da quarta de Beethoven.
Tímbales à procura do som certo para concha acústica e muito melhor, a esse nível, ontem do que no concerto precedente em que participou Elisabeth Davies.
Orquestra à procura de um conjunto reequilibrado e de um som adaptado à nova acústica produzida pela concha, creio que os sopros saem beneficiados pelo novo aparato técnico. Devem ser feitas mais experiências, pode ser que o som anémico dos violinos também tenha a sua quota parte numa falta de reverberação do som produzido no ponto em que se situam. É importante afinar a posição do dispositivo acústico mas parece à primeira vista (audição) que o efeito é positivo.
Renzeti face ao contexto mostra que é um maestro de qualidade e poesia, é difícil produzir mais do que mera enunciação correcta do tecido musical face ao contexto dos violinos da OSP.
O TERRAMOTO
A Tempestade da sexta fica excluída desta crítica para não se dizer que sou bota abaixo, eu diria que foi mais um terramoto e fico por aqui.
No programa a 4ª e a 6ª sinfonias de Beethoven.
Nota-se evolução positiva na orquestra, os violinos na quarta sinfonia estavam um pouco melhor do que na semana anterior mas continua a faltar trabalho de corpo. Se os concertinos anunciados ficarem em Lisboa, se trabalharem com o naipe, se fizerem ensaios para melhoria da qualidade de som e de afinação, de coesão, ou seja: um trabalho profundo, pode ser que haja esperança. No concerto de ontem continuou a notar-se uma sonoridade magra, mesmo nos fortíssimos, sem densidade, pouco profunda.
Algum trabalho na quarta sinfonia notou-se no último andamento, muito complicado, e que resultou razoável. Nota-se também uma grande debilidade estrutural nos segundos violinos, que sempre que são solicitados em passagens mais exigentes é com grande desconforto que se escutam, é como se estivessem sobre brasas, o som treme... Continuam notas trocadas nos violinos e enquanto assim for a situação será sempre de análise técnica, a parte musical e artística só se pode discutir depois. É pena que uma única grande (em número) orquestra sinfónica em Portugal ainda esteja a discutir aspectos técnicos elementares, mas que a pouco e pouco parecem evoluir, um trabalho com um concertino estável e de bom nível poderá ajudar bastante.
As violas sentiram-se de forma acertada, com ligeiros problemas de coesão, muito menos evidentes do que nos violinos e os violoncelos estiveram espessos e coesos em termos sonoros, interessante o trabalho na sexta, com sonoridade rica e quente. O segundo andamento, sempre em divisi, mostrou uma belíssima primeira estante. Pena é o estilo relativamente indiferente dos celli nas passagens de suporte harmónico em que poderiam ser o motor dos baixos e fundação harmónica da orquestra, em vez de pilares os violoncelos surgem sempre em atraso imperceptível, o que não dará muita segurança ao restante conjunto, creio que está a faltar mais carisma ao naipe nesse sentido. Acabam por ser os contrabaixos que actuam como motores e pilares do suporte rítmico e harmónico, geralmente bem a tempo são as pedras motrizes, nota-se um ligeiro desfazamento que pode ter efeitos globais. Seria interessante melhorar este aspecto de maior incisão no naipe dos violoncelos. Fica aqui uma ideia para trabalho vinda de quem ouve na plateia.
Cordas analisadas passemos aos sopros: trompetes bem, as sinfonias de Beethoven não foram feitas para trompetes modernos, as passagens são relativamente simples e correram muito bem, bom som.
Trompas, àparte um lapso tremendo em que num solo confiante e de sonoridade de grande nível se esborrachou tudo, água no instrumento (?), mas que se esquece face ao resto, foi bonito escutar o naipe das trompas, a sonoridade do trompa solo é muito rica e o músico tem grande musicalidade, a falha que se escutou surgiu precisamente da grande confiança e denodo do músico, foi fortuita e só acontece aos melhores. Apenas um músico que toca à defesa não está sujeito a errar, quem tem coragem não merece que um momento mau ensombre toda uma prestação de bom nível.
Oboés bastante bem, creio que o primeiro oboé poderia ter mais volume de som, mas é um estilo, e dentro do estilo o naipe esteve muito bem.
Flauta com sonoridade anémica e pobre e estilo demasiado próprio para se enquadrar numa orquestra, musicalidade fraca, ritmo impreciso, paragem do tempo para se escutar dificultando a progressão motriz da obra e esquecendo que uma sinfonia de Beethoven não é um concerto para flauta mesmo que tenha uns solitos aqui e ali, nota técnica média, som escolar e nota artística fraca.
Clarinete muitíssimo bem, creio que é o mesmo que escutámos com uma sonoridade algo agreste anteriormente, não foi o caso de ontem, notável em musicalidade e em sonoridade, solos de grande poesia, um grande trabalho, quer nos solos quer nos acompanhamentos deste naipe.
Fagotes muito bem, impressivo o solo stacatto e a descoberto no final da quarta de Beethoven.
Tímbales à procura do som certo para concha acústica e muito melhor, a esse nível, ontem do que no concerto precedente em que participou Elisabeth Davies.
Orquestra à procura de um conjunto reequilibrado e de um som adaptado à nova acústica produzida pela concha, creio que os sopros saem beneficiados pelo novo aparato técnico. Devem ser feitas mais experiências, pode ser que o som anémico dos violinos também tenha a sua quota parte numa falta de reverberação do som produzido no ponto em que se situam. É importante afinar a posição do dispositivo acústico mas parece à primeira vista (audição) que o efeito é positivo.
Renzeti face ao contexto mostra que é um maestro de qualidade e poesia, é difícil produzir mais do que mera enunciação correcta do tecido musical face ao contexto dos violinos da OSP.
O TERRAMOTO
A Tempestade da sexta fica excluída desta crítica para não se dizer que sou bota abaixo, eu diria que foi mais um terramoto e fico por aqui.
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