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5.10.05

5 de Outubro 

Os juizes portugueses não são melhores do que a maioria dos restantes portugueses. São uma amostra. E se o país é atrasado e provinciano e analfabeto, os juizes reflectem isso mesmo. A magistratura é evidentemente uma das maiores causas do colapso do Estado de Direito em Portugal que aliás não existe desde 1910. Os juizes estão a par dos políticos e dos bandidos que assassinaram D. Carlos e seu Filho ou dos oportunistas que implantaram a república no dia trágico de 5 de Outubro de 1910 e acabaram com a democracia monárquica, no momento mesmo em que o país se curava ainda das feridas das guerras liberais, para instalar uma partidocracia de onde o povo foi excluído, como a de hoje. Quase cem anos depois da inenarrável primeira república e depois de muitos anos de atraso salazarista temos uma terceira república em crepúsculo, onde pontificam nos titulares dos órgãos de soberania políticos corruptos, incompetentes e gananciosos e inefáveis juizes formalistas, tacanhos e, por seu turno, incapazes. Tal como os médicos e jornalistas e professores e canalizadores e electricistas e taxistas e fiscais da câmara e etc., etc. Schopenhauer ensinou-nos que o homem era mesmo assim mas Portugal é demasiado assim. Hoje em dia será disparatado ser monárquico, é impossível regressar atrás, mas este século de república que se avizinha é um século terrível. Independentemente dos Vitais Moreira que se anunciam numa tal de comissão do centenário da república. Comemorar o quê? Analfabetismo? Atraso? Alcoolismo e droga? Exclusão social? Corrupção? Decadência? Guerra colonial? O Soldado Milhões que depois da I Guerra Mundial foi limpar latrinas? A sopa do Sidónio? Salazar? Os discursos do Sampaio? E devemos ter mais um hoje...

P.S. Para escrever um artigo sobre José Relvas na FOCUS que saiu ontem e que está nas bancas, tive de estudar a personalidade do homem que serviu de instrumento para a proclamação da república, isto porque era credibilizante pela sua riqueza de terratenente rural ribatejano e por ter o estatuto de filho de um destacado membro da Casa Real. Visitei a sua casa dos Patudos em Alpiarça num dia glorioso de sol e de esperança, e encontrei àparte um refinado bom gosto e um espírito de grande amor a causas e ao país, muita desilusão, morbidez e mesmo morte. Encontrei a casa de um homem descontente com a sua sorte e a sorte de uma república podre, de um homem retirado e sem sonhos. Ao ler a entrevista de João Ferreira a Jorge Morais a propósito do seu recente livro, entevista que saiu na mesma edição da Revista FOCUS, encontro cada vez mais pontos de reflexão para um entendimento do terrível período que foi o tempo e a vivência da primeira república. José Relvas que proclamou a república foi mais uma das suas vítimas. Ingénuo foi usado por interesses e ganâncias várias em propósitos que, como sempre, implicavam a traição a Portugal por interesses estrangeiros na ânsia de deitar a mão a mais umas migalhas do que sobejava. Magalhães Lima o grão mestre do grande oriente lusitano ao tempo de Relvas é uma das sombras negras deste período e do qual pouco se fala, apenas se conhece Miguel de Vasconcelos e esse foi defenestrado no século XVII... Teremos tempo de voltar ao assunto.


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