25.10.05
A nulidade e a diluição
Divagação 1
Vejo a chamada blogosfera política e o que ressalta? Um imenso vazio. A essência, o âmago das questões? Nada, uma pobreza absoluta. Um bando de intriguistas, táctica sem estratégia. A ideologia sem sentido de discussões vácuas sobre este ou aquele. Cavaco ou Soares? Ambos ocos de ideias para um regime sem sentido num país sem sentido.
Este Portugal é um cadáver, o Quinto Império de Pessoa é afinal o império dos vermes no cadáver de Portugal.
Valera a pena qualquer razão para preocupações neste oceano de nada que reflecte o imenso vazio do país? Infelizmente creio bem que não.
Que resta quando não há nada para dizer? Dizer nada, creio.
Razões para votar? Não há razões para votar, e infelizmente já nem me sobra a inacção do desinteresse e do egoísmo mesquinho tão típicas do povo português. Falta mesmo a vontade. Não, não é a vontade de representação de Schopenhauer, numenal kantianna ou não. Nem a vontade de poder de Nietsche. Falta mesmo a vontade consciente de uma reflexão profunda. É uma imensa ausência de opções num deserto de ideias alicerçado num cepticismo total. O homem político português, e não só português, quando não é vazio, estúpido, ignorante, incompetente, preguiçoso, vendido, inculto e sem rasgo, o que é mais frequente, é ganancioso e velhaco. Não é culpa deles, coitados, é mesmo culpa nossa, ou do barro primordial, o ser humano é assim. Será a matéria tão amoral como isso? Será que a agregação na vida é inócua em termos morais ou será este o sentido da criação? Acreditar num Deus ou num Diabo criador? Uma pergunta já feita anteriormente cujo alcance nem sequer quero abarcar aqui.
Divagação 2
Resta uma saída para o nada, o verdadeiro nada redentor que nos dá a esperança da diluição eterna. A mesma diluição do final de Tristan, o mesmo crepúsculo do final do Ring. Será que Schopenhauer socorre sempre os amargurados com o mundo? Será a retirada do mundo o único devir de quem sofre com o século e esperou dele tudo?
Lembro, nesta divagação, o célebre artigo de Wagner, 1849 segundo creio, Judeísmo na Música (Das Judentum in der Musik), um artigo execrável, repugnante mesmo. Poderá ser Alberich esse judeu desprezado pelo Wagner mesquinho e insignificante dos seus escritos políticos?
Não o creio, não creio que a força motriz do mundo que encerra na sua maldição o cataclismo cósmico que destruirá a raça dos senhores, com Wotan à cabeça, possa ser a encarnação escarninha de um desprezado, por Wagner, judeu. Alberich é o lado negro de Wotan. Alberich vive em cada um de nós. Só o poderemos matar se nos diluirmos no nada. Mas será que o queremos matar? Foi o que Schopenhauer disse através do eterno da música de Wagner: apesar de tudo subsiste a música, para além do bem e do mal que é o que menos interessa.
Subsiste uma luz, a da diluição no nada, no eterno nada.
Henrique Silveira
Vejo a chamada blogosfera política e o que ressalta? Um imenso vazio. A essência, o âmago das questões? Nada, uma pobreza absoluta. Um bando de intriguistas, táctica sem estratégia. A ideologia sem sentido de discussões vácuas sobre este ou aquele. Cavaco ou Soares? Ambos ocos de ideias para um regime sem sentido num país sem sentido.
Este Portugal é um cadáver, o Quinto Império de Pessoa é afinal o império dos vermes no cadáver de Portugal.
Valera a pena qualquer razão para preocupações neste oceano de nada que reflecte o imenso vazio do país? Infelizmente creio bem que não.
Que resta quando não há nada para dizer? Dizer nada, creio.
Razões para votar? Não há razões para votar, e infelizmente já nem me sobra a inacção do desinteresse e do egoísmo mesquinho tão típicas do povo português. Falta mesmo a vontade. Não, não é a vontade de representação de Schopenhauer, numenal kantianna ou não. Nem a vontade de poder de Nietsche. Falta mesmo a vontade consciente de uma reflexão profunda. É uma imensa ausência de opções num deserto de ideias alicerçado num cepticismo total. O homem político português, e não só português, quando não é vazio, estúpido, ignorante, incompetente, preguiçoso, vendido, inculto e sem rasgo, o que é mais frequente, é ganancioso e velhaco. Não é culpa deles, coitados, é mesmo culpa nossa, ou do barro primordial, o ser humano é assim. Será a matéria tão amoral como isso? Será que a agregação na vida é inócua em termos morais ou será este o sentido da criação? Acreditar num Deus ou num Diabo criador? Uma pergunta já feita anteriormente cujo alcance nem sequer quero abarcar aqui.
Divagação 2
Resta uma saída para o nada, o verdadeiro nada redentor que nos dá a esperança da diluição eterna. A mesma diluição do final de Tristan, o mesmo crepúsculo do final do Ring. Será que Schopenhauer socorre sempre os amargurados com o mundo? Será a retirada do mundo o único devir de quem sofre com o século e esperou dele tudo?
Lembro, nesta divagação, o célebre artigo de Wagner, 1849 segundo creio, Judeísmo na Música (Das Judentum in der Musik), um artigo execrável, repugnante mesmo. Poderá ser Alberich esse judeu desprezado pelo Wagner mesquinho e insignificante dos seus escritos políticos?
Não o creio, não creio que a força motriz do mundo que encerra na sua maldição o cataclismo cósmico que destruirá a raça dos senhores, com Wotan à cabeça, possa ser a encarnação escarninha de um desprezado, por Wagner, judeu. Alberich é o lado negro de Wotan. Alberich vive em cada um de nós. Só o poderemos matar se nos diluirmos no nada. Mas será que o queremos matar? Foi o que Schopenhauer disse através do eterno da música de Wagner: apesar de tudo subsiste a música, para além do bem e do mal que é o que menos interessa.
Subsiste uma luz, a da diluição no nada, no eterno nada.
Henrique Silveira
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