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1.10.05

Evolução - Terramoto e Tempestade 

Ontem pelas 21h, mais um concerto da Orquestra Sinfónica Portuguesa, Renzeti dirigiu.
No programa a 4ª e a 6ª sinfonias de Beethoven.
Nota-se evolução positiva na orquestra, os violinos na quarta sinfonia estavam um pouco melhor do que na semana anterior mas continua a faltar trabalho de corpo. Se os concertinos anunciados ficarem em Lisboa, se trabalharem com o naipe, se fizerem ensaios para melhoria da qualidade de som e de afinação, de coesão, ou seja: um trabalho profundo, pode ser que haja esperança. No concerto de ontem continuou a notar-se uma sonoridade magra, mesmo nos fortíssimos, sem densidade, pouco profunda.
Algum trabalho na quarta sinfonia notou-se no último andamento, muito complicado, e que resultou razoável. Nota-se também uma grande debilidade estrutural nos segundos violinos, que sempre que são solicitados em passagens mais exigentes é com grande desconforto que se escutam, é como se estivessem sobre brasas, o som treme... Continuam notas trocadas nos violinos e enquanto assim for a situação será sempre de análise técnica, a parte musical e artística só se pode discutir depois. É pena que uma única grande (em número) orquestra sinfónica em Portugal ainda esteja a discutir aspectos técnicos elementares, mas que a pouco e pouco parecem evoluir, um trabalho com um concertino estável e de bom nível poderá ajudar bastante.
As violas sentiram-se de forma acertada, com ligeiros problemas de coesão, muito menos evidentes do que nos violinos e os violoncelos estiveram espessos e coesos em termos sonoros, interessante o trabalho na sexta, com sonoridade rica e quente. O segundo andamento, sempre em divisi, mostrou uma belíssima primeira estante. Pena é o estilo relativamente indiferente dos celli nas passagens de suporte harmónico em que poderiam ser o motor dos baixos e fundação harmónica da orquestra, em vez de pilares os violoncelos surgem sempre em atraso imperceptível, o que não dará muita segurança ao restante conjunto, creio que está a faltar mais carisma ao naipe nesse sentido. Acabam por ser os contrabaixos que actuam como motores e pilares do suporte rítmico e harmónico, geralmente bem a tempo são as pedras motrizes, nota-se um ligeiro desfazamento que pode ter efeitos globais. Seria interessante melhorar este aspecto de maior incisão no naipe dos violoncelos. Fica aqui uma ideia para trabalho vinda de quem ouve na plateia.
Cordas analisadas passemos aos sopros: trompetes bem, as sinfonias de Beethoven não foram feitas para trompetes modernos, as passagens são relativamente simples e correram muito bem, bom som.
Trompas, àparte um lapso tremendo em que num solo confiante e de sonoridade de grande nível se esborrachou tudo, água no instrumento (?), mas que se esquece face ao resto, foi bonito escutar o naipe das trompas, a sonoridade do trompa solo é muito rica e o músico tem grande musicalidade, a falha que se escutou surgiu precisamente da grande confiança e denodo do músico, foi fortuita e só acontece aos melhores. Apenas um músico que toca à defesa não está sujeito a errar, quem tem coragem não merece que um momento mau ensombre toda uma prestação de bom nível.
Oboés bastante bem, creio que o primeiro oboé poderia ter mais volume de som, mas é um estilo, e dentro do estilo o naipe esteve muito bem.
Flauta com sonoridade anémica e pobre e estilo demasiado próprio para se enquadrar numa orquestra, musicalidade fraca, ritmo impreciso, paragem do tempo para se escutar dificultando a progressão motriz da obra e esquecendo que uma sinfonia de Beethoven não é um concerto para flauta mesmo que tenha uns solitos aqui e ali, nota técnica média, som escolar e nota artística fraca.
Clarinete muitíssimo bem, creio que é o mesmo que escutámos com uma sonoridade algo agreste anteriormente, não foi o caso de ontem, notável em musicalidade e em sonoridade, solos de grande poesia, um grande trabalho, quer nos solos quer nos acompanhamentos deste naipe.
Fagotes muito bem, impressivo o solo stacatto e a descoberto no final da quarta de Beethoven.
Tímbales à procura do som certo para concha acústica e muito melhor, a esse nível, ontem do que no concerto precedente em que participou Elisabeth Davies.
Orquestra à procura de um conjunto reequilibrado e de um som adaptado à nova acústica produzida pela concha, creio que os sopros saem beneficiados pelo novo aparato técnico. Devem ser feitas mais experiências, pode ser que o som anémico dos violinos também tenha a sua quota parte numa falta de reverberação do som produzido no ponto em que se situam. É importante afinar a posição do dispositivo acústico mas parece à primeira vista (audição) que o efeito é positivo.
Renzeti face ao contexto mostra que é um maestro de qualidade e poesia, é difícil produzir mais do que mera enunciação correcta do tecido musical face ao contexto dos violinos da OSP.

O TERRAMOTO

A Tempestade da sexta fica excluída desta crítica para não se dizer que sou bota abaixo, eu diria que foi mais um terramoto e fico por aqui.


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