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8.3.16
Iphigénie en Tauride no S. Carlos
Iphigénie en Tauride no S. Carlos
Henrique Silveira – Crítico
Crítica rápida e curta saiu originalmente no "O Diabo", seguir-se-á, após o final das récitas, uma crítica mais alongada.
Música de Christoph Willibald Ritter (Cavaleiro) Gluck - 1714 – 1787. Estreia em 1779 em Paris. Direcção musical: David Peter Bates, Encenação: James Darrah, Cenografia e desenho de luz: Emily MacDonald Cameron Mock, Figurinos: Chrisi Karvonides, Iphigénie: Alexandra Deshorties, soprano, Orestes: William Berger, Bbarítono, Pylade: Anthony Gregory, tenor, Thoa: John Moore, barítono. Coro do Teatro Nacional de São Carlos Maestro titular: Giovanni Andreoli, Orquestra Sinfónica Portuguesa. Tragédia em quatro actos, Libreto de Nicolas-François Guillard. Sala quase cheia, estreia a 5 de Março pelas 20h.
Esta será uma crítica rápida que será rematada dentro de algumas edições com reflexões post mortem mais elaboradas.
A encenação foi extremamente pensada, inteligente e eficaz. O drama psicológico de Ifigénia e de Orestes é tremendo, a relação de amizade profunda, que raia a ambiguidade homossexual, aliás natural nos gregos antigos, é complexa e subtil e junta um elemento de complexidade que foi jogado com enorme subtileza. A direcção de actores foi notável, com marcações a raiar a perfeição e momentos estéticos de grande impacto visual, com todas as movimentações em palco a obedecerem a um plano que serve constantemente a acção. Como em tudo na vida esta visão teve defeitos, Thoas a subir paredes é excessivo, alguma gesticulação absurda de Ifigénia é apatetada, mas a criação de seis espectros é engenhosa, são criaturas do submundo tão caras a Gluck, representações simbólicas das sombras que rodeiam Ifigénia, e seu irmão Orestes, e quando estes se reconhecem dá-se uma transferência entre estes dois dos espectros, num momento subtil mas também de clarividência. Toda a leitura é lógica, a intemporalidade de uma fábrica abandonada gera um nível de abstracção que não se fixa numa época particular e não é meramente gratuita, a tragédia de Orestes, que matou a mãe por instigação de Electra, ou de Ifigénia, que quase foi sacrificada pelo pai e se tornou uma assassina ritual, é eterna e revela factos que a psicanálise nunca se cansou de explorar. As luzes foram perfeitas sublinhando com a cor a acção e o drama psicológico e a cenografia simples jogou com um imenso disco suspenso sobre o palco, um disco entre o solar e o lunar que centrou a cena no ponto do clímax da acção, exactamente na razão dourada da duração da obra! Conseguiu-se o económico sem ser ordinário. Os figurinos poéticos evocaram-me imagens de Bilal e das suas bandas desenhadas com plasticidade e intemporalidade.
As vozes são, em geral, de grande qualidade, apesar de uma Deshorties de voz curta, de agudos pobres de harmónicos e graves pouco densos, cansada ao longo da récita mas com grande trabalho cénico e uma enorme preparação na interpretação musical. Um Berger de voz pujante, bela e rutilante, algo exagerado nos gritos de interjeição mas de bom gosto vocal, bem assim como Gregory, um tenor de voz bonita e elegante e um denso Moore, figura muito bela e bem trabalhada pelo encenador e figurinistas.
Um coro péssimo nos homens, e sofrível nas mulheres e um lindíssimo oboé, naipe que salvou a récita diversas vezes, juntamente com restantes madeiras, metais pouco idiomáticos mas com alguns momentos interessantes gerando as trompas belos timbres. Primeiros violinos perdidos e segundos violinos inexistentes com outras cordas débeis, em que se salvaram apenas os contrabaixos, arruinaram o tecido orquestral. A direcção é idiomática mas pouco eficaz na gestualidade e na segurança, preparou o estilo mas não deu segurança musical a coro e cordas e foi pouco incisivo nas entradas dos cantores. Talvez a orquestra melhore com as récitas seguintes, recomendo vivamente pela encenação, vozes e música excelente de Gluck.
Reservoir Dogs é o primeiro filme de Quentin Tarantino que data de 1992. Não seriam necessárias grandes prelecções para afirmar que este realizador viria a tornar-se num dos grandes prodígios da sétima arte, como se veio a confirmar.
Estávamos perante um homem raro com uma criatividade transcendental e, atrevo-me a ir mais longe,com a capacidade de reinventar o cinema e criar um novo género cinematográfico que gosto de designar como o "género Tarantino". Os elementos distintivos da sua obra cinematográfica estão reunidos de uma forma exemplar em Reservoir Dogs e que irão ser incorporados, posteriormente, em todo o seu trabalho.
O humor negro, cáustivo, corrosivo; a violência sem limites; a banda sonora são alguns dos elementos que figuram nas narrativas nada lineares de Tarantino que se conjugam sempre na perfeição.
O elenco é sempre escolhido ao detalhe; por vezes basta uma característica específica, um pormenor físico dos actores para deslumbrar de imediato Tarantino. Em Reservoir Dogs, os eleitos foram: Harvey Keitel, Steve Buscemi, Michael Madsen, Tim Roth, Chris Penn, e o próprio Tarantino.
O filme transporta-nos para um universo completamente alucinante e alucinado. A trama gira à volta de cinco homens que não se conhecem e que se juntam para planear e executar um roubo de diamantes que não irá correr bem. Este falhanço é o mote para uma aventura cheia de peripécias que leva o espectador ao rubro.
Nunca sabemos os seus verdadeiros nomes. Referem-se uns aos outros através de alcunhas que versam um mundo muito colorido, designadamente, Mr. White (Harvey Keitel), Mr. Orange (Tim Roth), Mr. Blonde (Michael Madsen), Mr. Pink (Steve Buscemi) e Mr. Brown (Quentin Tarantino) que, como seria de esperar, irá gerar uma série de trocadilhos inteligentes e com muito humor.
É muito difícil eleger o melhor filme de Tarantino, mas arrisco a dizer que Reservoir Dogs é o meu favorito. Provavelmente por ter sido o primeiro da sua carreira e me ter conquistado de imediato. Foi, sem dúvida, um daqueles casos de amor à primeira vista.
E não me enganei. Fiquei eternamente apaixonada por Tarantino e essa paixão dura até aos dias de hoje! Um verdadeiro fenómeno!
Goodfellas é mais um exemplo da genialidade de Martin Scorsese. Baseado em factos verídicos, a narrativa é centrada num retrato profundo da máfia nova-iorquina dos anos 50, 60 e 70, em que o protagonista é Henry Hill. Scorsese tranporta-nos para um universo vicioso, mas, no entanto, tão deslumbrante, acompanhando os primeiros passos de Hill nas ruas de Nova Iorque até à sua ascensão e subsequente queda nos anos setenta.
É Ray Liota quem assume o leme nesta viagem com um ritmo alucinante e frenético no papel de Henry Hill. A frase de abertura proferida por Hill, "As far back as I can remember I've always wanted to be a gangster" denuncia de imediato que iremos embarcar numa aventura repleta de contrastes, em que o glamour e o submundo irão andar lado a lado.
A forma como o olhar de Scorsece capta estas realidades tão distintas é soberba. Assistimos a um verdadeiro espectáculo num confronto entre o lado sonhador de Hill, a ilusão da figura do gangster que só um universo como a Máfia lhe pode proporcionar e o lado obscuro e amoral que desfaz, dilacera e mata sem dó nem piedade.
Para espelhar estes contrastes, há um elemento fundamental nesta trama, Nova Iorque, que é explorada de uma forma exímia, retratada no seu maior esplendor. A cidade que nunca dorme serve de palco às cenas mais terríficas, onde prevalecem imagens de uma cidade obscura e tumultuosa, em contraponto com a a sua atmosfera intensa e cosmopolita. A banda sonora é extraordinária, conferindo uma dinâmica brutal a esta obra-prima.
Mas nada disto seria possível sem o elenco de luxo que dá vida a esta ficção tão apaixonante, com um humor negro e sarcástico, Robert De Niro, Ray Liotta e Joe Pesci que brindam o espectador com interpretações absolutamente notáveis. Destaque também para Lorraine Bracco que é algo de transcendental no papel do grande amor de Hill.
O fillme levanta diversas questões sobre valores morais, sem nunca ser moralista. É esse o seu grande mérito. Cabe a cada um encontrar as respostas.
Pela minha parte, continuarei a idolatrar estes Goodfellas.
David Fincher é um daqueles casos à parte. É exemplar na forma como filma e a sua criatividade é algo de transcendental. Fico sempre com grandes expectativas quando se trata de um filme deste realizador. Com Fincher no comando, espera-nos sempre uma experiência inesquecível. E Gone Girl não é excepção.
A forma como Fincher explora o poder dos media é brutal e, infelizmente, tão actual, revelador de uma sociedade infestada de vermes que aniquilam, através do seu jogo sujo, os seus alvos! Uma justiça mediática amoral que nos torna a todos vulneráveis e reféns. Um caminho muito perigoso e deveras assustador!
A narrativa é digna de um filme de suspense de outras eras cinematográficas, com requintes de malvadez, a fazer lembrar que este é um género que não é para todos.
Nunca gostei de Ben Affleck, apesar de se ter revelado uma boa surpresa em Argo. Aqui, tem um desempenho competente, mas não chega. Este é um filme que exigia mais talento a este nível. Penso que, com outro actor no seu lugar, teria gostado ainda mais. Estou a lembrar-me, por exemplo, de Ryan Gosling ou do mestre DiCaprio, mas isso já sou eu a divagar...pelo contrário, Rosamund Pike sobressai, construíndo um personagem complexo e de grande densidade.
Birdman, realizado por Alejandro González Iñárritu, retrata a história de Riggan Thomson (Michael Keaton), um actor em decadência, que protagonizou ao longo da sua carreira um personagem de um super-herói (Birdman) que o levou à fama e ao estrelato, tornando-se numa figura mediática, endeusado pelos fãs. O início da sua queda começa quando Thomson recusa participar no quarto filme da saga. Numa tentativa de relançar a sua carreira, decide imergir no universo da Broadway, adaptando uma peça para teatro, onde assume os papéis de encenador e actor.
Este é o início de uma jornada difícil e penosa. Thomson é um homem perturbado, numa luta diária com um passado problemático. Será possível cortar a ligação visceral com o seu segundo "EU" (Birdman) e ser aceite num universo completamente estranho onde o elistismo é manifesto?!
Iñárritu é criativo na sua abordagem, na forma como capta uma estória que poderia, facilmente, cair na banalidade e tornar-se assim num fracasso total e absoluto. Tudo aqui é exagerado. É suposto ser! Os longos e desmedidos planos filmados nos bastidores do teatro imprimem um ritmo frenético à narrativa que em nada distraem o espectador. Muito pelo contrário, adensa ainda mais a trama.
A juntar a tudo isto, um elenco notável. Mike Shiner (Edward Norton), Lesley (Naomi Watts), Laura (Andrea Riseborough) e Sam (Emma Stone). Não gosto de Michael Keaton. Na minha opinião, é neste filme que se destaca pela primeira vez. Só por isso, Iñatirru merecia um Óscar! Edward Norton está magnífico (como sempre) num registo atípico... arrancou-me algumas gargalhadas, também neste caso, pelo exagero que confere ao seu personagem.
Birdman é um dos meus favoritos na corrida aos Óscares deste ano, no entanto pressinto que ainda não será desta que a Academia me irá surpreender!
O tema escolhido por David Cronenberg indiciava que iríamos embarcar numa viagem alucinante, ou não fosse Hollywood uma das terras mais apetecíveis do mundo, onde, no entanto, nada é o que parece. E Cronenberg desconstrói todo o glamour associado a este universo de uma forma aterradora.
É certo que nos mostra o lado mais decadente, obscuro e perverso dos bastidores desta Indústria ou não fosse Cronenberg um realizador complexo, nada linear, que cria estórias, para alguns, sem sentido, que vão para além dos padrões da normalidade.
Maps to the Stars é mais um exemplo da mestria do realizador. Conta com um elenco de luxo. Todos os actores, sem excepção, são peças fundamentais nesta trama, profundamente deprimente, em que a solidão é o que mais sobressai ao longo do filme.
Não podia deixar de referir Julianne Moore, uma das minhas actrizes favoritas, que tem aqui mais uma interpretação de cortar a respiração.
Continuam as peripécias do folhetim Paolo Pinamonti. Este homem ubíquo não se sabe bem que funções desempenha em Portugal, agora será talvez (ex) putativo consultor artístico do Teatro Nacional de S. Carlos, que, aliás, é uma figura inexistente no quadro legal da instituição, em negociações para continuar a exercer funções, de que apresentou demissão, de uma forma “contratual” ou “extra-contratual”.
Sabemos, no entanto, que em Espanha é director do teatro da Zarzuela de Madrid e que neste país contratou 1.003, ou talvez um pouco menos, cantores a uma particular agência artística de Madrid. O leitor ficou confuso? É razão para isso. A embrulhada arranjada pelo actual titular da pasta de cultura deu origem a uma espécie de folhetim manhoso que não parece ter fim à vista.
Vamos tentar explicar o que se passou no mundo atribulado do S. Carlos desde o início desta história. Paolo Pinamonti foi director artístico do S. Carlos desde 2001 até ser despedido em 2007 por Mário Vieira de Carvalho das funções que começou por exercer de forma titubeante mas que terminou com algum sucesso relativo, facto apreciado pelo autor destas linhas que até ajudou a organizar um jantar de despedida e desagravo num espaço privado da sociedade comercial Theotónio Pereira, juntando críticos e jornalistas culturais portugueses, alguns desavindos há muito tempo mas unidos, finalmente, numa causa comum. Pinamonti fez a sua travessia do deserto, foi director do festival da Coruña e do Festival Terras sem Sombra, no Alentejo, finalmente foi convidado para dirigir o teatro da Zarzuela de Madrid como director artístico.
Depois da saída de Martin André, último director artístico do S. Carlos, houve um hiato de alguns meses em que Portugal percebeu que existia conhecimento e capacidade em Lisboa, nomeadamente no conselho de Administração do OPART, órgão que tutela o S. Carlos, que conseguiu ir montando algumas óperas, produção a produção, sem temporada definida a longo prazo, com escassíssimos recursos e valendo-se do excelente naipe de cantores nacionais existentes e cada vez melhor preparados.
Finalmente, Barreto Xavier resolveu ter a ideia peregrina de contratar um funcionário dos Filipes de Espanha para ser “consultor artístico” do teatro de S. Carlos. Era Paolo Pinamonti que era repescado, reciclado e desagravado daquilo que o PS lhe tinha feito e, numa versão recauchutada e em part-time, passaria a dirigir, do seu gabinete junto do palácio real de Madrid, o teatro de S. Carlos.
Era uma solução péssima. Pinamonti, que mal tem tempo para dirigir um teatro madrileno em actividade plena, teria de montar uma temporada de ópera completa em Lisboa, escolhia títulos, cantores, maestros com toda a componente artística da temporada, juntando a programação de concertos sinfónicos, de actividade de música de câmara e ainda o Festival ao Largo.
Uma ideia peregrina de Barreto Xavier, que bem demonstra a insignificância do personagem e a subserviência cultural relativamente a Espanha. Barreto Xavier viu o S. Carlos como uma espécie de apêndice menor do teatro da Zarzuela, afinal o orçamento que lhe deu era ridículo e até em part-time se poderia montar a insignificante temporada lisboeta.
E se o próprio secretário de Estado via a programação como algo que pudesse ser feito nos intervalos do despacho de Madrid, como poderia Pinamonti pensar e agir de outra forma?
Os resultados foram, naturalmente, desastrosos, a temporada lisboeta passou a incluir “espanholadas”, zarzuelas incluídas, veio uma armada de cantores espanhóis de péssima qualidade, os maestros espanhóis ignorantes e boçais sucederam-se, os cantores portugueses, de qualidade muito superior foram afastados ou relegados para papéis de sorvete.
Todos os cantores estrangeiros passaram a ser agenciados pela mesma agência de Madrid, onde parece que Pinamonti tem conta corrente. Apenas uma reposição de um Werther feito muitos anos antes pelo mesmo Pinamonti, uma espécie de ovo de Colombo, teve algum sucesso relativo entre os títulos programados pelo italiano.
Acrescente-se a isto a eliminação total de qualquer referencial cultural português: não foi programado um único título de compositores portugueses ao contrário dos títulos espanhóis de qualidade miserável e com cantores piores dos que usados em Madrid, uma espécie de segunda divisão, que tivemos de suportar por mérito de Pinamonti ver Lisboa como uma espécie de colónia de Madrid.
Pinamonti apresentou a demissão porque o contrato entretanto assinado a 5 de Novembro, depois de inúmeras trapalhadas em que se incluía uma dívida de 14.000 euros à nossa segurança social, não regularizada pelo próprio, era incompatível com o lugar da Zarzuela.
O patrão espanhol, Filipe VI em última instância, não gostava que o Sr. Pinamonti perdesse nem cinco minutos por dia a pensar no S. Carlos. O Senhor Secretário de Estado entrou em fúria e exigiu a cabeça do OPART, como se a ideia do Pinamonti não fosse uma teimosia sua, isso ou a (re)contratação de Pinamonti agora noutra forma legal qualquer que deixasse de ser incompatível.
A 21 de Dezembro era este o ponto da situação, Pinamonti aceitava conversar com o OPART, a ordens do senhor Barreto Xavier, para “poder ficar em Lisboa”, algo que para o italiano poderá ter uma componente fortemente lucrativa, mas que é ineficaz, artisticamente irrelevante e humilhante para quem pensa que Portugal é um Estado soberano com gente competente que se sabe dirigir, sem a necessidade de um Messias de segunda ordem em part-time.
Nestas questões Deus tem escrito direito com linhas tortas e espera-se que Madrid não deixe que a situação se arraste por muito tempo, porque nestas questões os espanhóis têm mais pundonor do que aquele que existe no governo de Portugal com as suas bandeirinhas na lapela.
Há pessoas que nos marcam de variadíssimas formas. Esta é uma realidade incontornável. Até aqui, nada de novo. Outras passam sem deixar rasto.
Robin Wiliams pertencia a um grupo muito restrito. Era um daqueles casos em que a genialidade era demonstrada em cada passo que dava através da sua arte.
Robin Williams era um grande actor, com um sentido de humor, raro nos dias que correm.
Robin Wiiliams conquistava o público com as suas interpretações.
Robin Williams tinha o talento e a versatilidade dos Gigantes.
Robin Williams ia sempre mais além.
Robin Williams, o personagem, era um performer nato. Fazia, acima de tudo, rir multidões. Paradoxalmente, Robin Williams, o homem, esse, era triste. Irónico…
É impossível eleger o filme da vida dele. Foram tantos…
O mais relevante é que Robin Williams era um homem bom.
É esta a importância de ser Robin Williams.
Até Sempre O’Captain! My Captain! Não me esquecerei de "Seize the Day"… farei por isso!
Confesso a minha resistência em relação ao cinema português, no entanto resolvi explorar este universo totalmente desconhecido para mim.
Estranhamente, cedo me apercebi que Tabu, realizado por Miguel Gomes, me iria encantar. Esqueci a língua, esqueci os actores, esqueci que estava perante um filme português.
Um argumento brilhantemente conduzido por Miguel Gomes. Tal como em "Amour" de Michael Haneke, esta é uma belíssima história de amor, com outros protagonistas, numa outra época, num outro ponto do globo. Não me interessa avaliar se há pormenores menos conseguidos ou se existem algumas incongruências...
Filmado a preto e branco, Miguel Gomes oferece-nos cenários deslumbrantes, acompanhados por uma banda sonora extraordinária. Estes três elementos conjugados imprimem um romantismo arrebatador à narrativa.
Será que o cinema português irá deixar de ser um tabu para mim?
Boardwalk Empire é uma série (já na quinta Temporada) com a assinatura da HBO. O seu criador é Terence Winter que produziu uma das melhores séries de todos os tempos, "Os Sopranos" com o enorme James Gandolfini. Destaque para o primeiro espisódio de Boardwalk Empire que foi realizado pelo mestre Martin Scorsese.
Filmada em Atlantic City, New Jersey, a acção desenrola-se no período de Lei Seca. A figura central desta trama é Nucky (Steve Buscemi), o tesoureiro da cidade, corrupto convicto que assume o controlo num jogo de interesses promíscuo entre os poderes instalados.
Com ele acompanhamos os primeiros anos de alguns dos mafiosos mais emblemáticos de sempre como são o caso de Al Capone e Lucky Luciano.
Os cenários retratam de uma forma notável a época e o elenco é abolutamente extraordinário. Steve Buscemi é colossal!
Broadchurch serve de cenário a esta mini-série inglesa de 8 episódios. Uma pacata vila, com gentes simples. Inicialmente, esta é uma comunidade que parece unida, feliz, no entanto o homicídio de um jovem (Danny Price) irá provar que afinal nem tudo é como parece.
À medida que a acção se vai desenrolando, apercebemo-nos que a realidade é outra completamente diferente e que afinal todos têm os seus pecadilhos.
O que mais atrai nesta série é a forma como a história é contada. A realização é competente. São incríveis as imagens captadas no final de cada episódio. A câmara vai-nos "levando", lentamente, de lar em lar, com planos certeiros adensando ainda mais a trama.
O último episódio funciona como uma espécie de redenção numa explosão de sentimentos a que é impossível ficar indiferente.
Destaque para os dois detectives interpretados pelos actores Olivia Colman e David Tennant.
Resolvi imergir no universo de João Canijo através do filme Sangue do meu Sangue.
Como pano de fundo, João Canijo mostra-nos as vidas miseráveis, vividas num bairro social por aqueles, os excluídos, que não têm possibilidade de escolha, olhados de soslaio por uma sociedade viciosa e sem contemplações. Uma realidade, em nada ficcionada, sobre as dificuldades e tormentas que uma família enfrenta e, paralelamente, sobre o amor incondicional de uma mãe por uma filha.
Um elenco surpreendente. Os actores encarnam os personagens com grande competência.
Um olhar duríssimo sobre uma sociedade cada vez mais indiferente. Viver foi há muito relegado para segundo plano... o mais importante é sobreviver.
A Gaiola Dourada foi um dos filmes mais vistos pelos portugueses em 2013, tendo sido aclamado pela crítica. Confesso a minha perplexidade perante este fenómeno!
Realizado pelo luso-descendente Ruben Alves, o filme retrata a história de dois emigrantes portugueses em França, tendo como protagonistas Rita Blanco, uma porteira e Joaquim de Almeida, um empreiteiro que vivem há muitos anos em Paris.
Fiz um esforço enorme para chegar ao fim. O argumento é medíocre. Os actores são péssimos, com excepção de Rita Blanco. Na minha opinião, o realizador revelou-se um fracasso na forma como explora alguns dos comportamentos e tiques dos portugueses.
É suposto ser exagerado!
É suposto ser ridículo!
É suposto rirmos de nós próprios!
É suposto rirmos desta caricatura!
Esta Gaiola Dourada não conseguiu arrancar-me um único sorriso, uma única gargalhada.
Um filme absolutamente deprimente, pelas razões que referi, e de um amadorismo confrangedor.
Norma,
ópera composta por Bellini (1801-1835) com libreto de Romani
(1788-1865) em dois actos, Teatro Nacional de S. Carlos, TNSC, 4 de
Junho, estreia. Orquestra Sinfónica Portuguesa (OSP), Coro do Teatro
Nacional de S. Carlos (CSC), direcção de Speranza Scappucci,
maestro de Coro: Giovanni Andreolli. Pollione: Alejandro Rey, tenor
espanhol, Oroveso: Wojtek Gierlach, baixo polaco, Norma: Dimitra
Theodossiou, soprano grego, Adalgisa: Patrizia Biccirè, soprano
italiano, Clotilde: Cátia Moreso, meio-soprano português e Flavio:
Bruno Almeida, tenor português. Versão de concerto, sala a três
quartos.
Uma
nota inicial: fomos a S. Carlos contrariados, não é do nosso agrado
escutar ópera, nomeadamente a belíssima obra de Bellini e Romani,
em versão de concerto, nem é função do TNSC ter uma temporada de
ópera com três versões de concerto. Por isso vetámos as duas
versões anteriores, até por serem de compositores relativamente
menores. A curiosidade venceu no caso desta Norma, primeiro a música
é muito boa, em segundo lugar não escutávamos o soprano grego há
alguns anos. Sempre tivemos dúvidas sobre as suas qualidades e
queríamos comprovar a evolução da cantora, apresentada pelo
consultor artístico Pinamonti como se fosse uma espécie de grande
diva mundial. É certo que uma ópera em versão de concerto nunca
poderá concorrer com o verdadeiro produto teatral, nunca podendo
aspirar a uma total satisfação do público. Norma constituía assim
um grande risco, sendo uma obra complexa do ponto de vista musical e
extremamente difícil para cantores medíocres apenas poderia
resultar interessante com intérpretes superlativos.
Começamos
pela direcção musical. A italiana Scarappuci é franzina mas tem
gestos duros e feios, a sua postura no pódio é agreste e angulosa,
tem o péssimo hábito de bater com o pé, de forma percussiva e
violenta o que é tremendamente incomodativo, quer do ponto de vista
estético, quer do ponto de vista da violenta pancada que se sente
momentos antes de mais um acorde intenso um fortíssimo do coro ou
uma entrada dos metais. Parece que Bellini não escreveu para bombo,
tímpanos e… “sapatadas de maestro” quando assinalou os
compassos da percussão. Acontecem assim sucessivos anticlímaxes nos
pontos em que Bellini procura efeitos de contraste e surpresa,
resulta muito estranho, a meio de um pianíssimo dos violinos,
escutarmos as patadas vigorosas da maestrina antecedendo um forte
súbito que aparece uns instantes depois, estragada a surpresa pela
violenta cacetada. Constatando esta idiossincrasia da senhora logo na
sinfonia inicial percebemos que a elegância musical iria estar
arredada da interpretação pela pose da artista, o que se confirmou
ao longo da noite. Não é com patadas de natureza hípica que se
dirige a extraordinária melodia e o belíssimo legato com que
Bellini, compositor inspiradíssimo, dotou a sua música. Outro
aspecto verdadeiramente negativo foi o facto de a maestrina não
dirigir os cantores mas, pelo contrário, ser dirigida por estes. Uma
coisa é saber escutar as vozes e dar-lhes tempo de respiração,
outra é arrastar e parar a evolução musical sempre que há uma
nota mais aguda em que um tenor vaidoso gosta de se ouvir ou um
soprano de ego monstruoso se quer deliciar deleitada com os seus
dotes de diva. Bellini apenas constrói coloraturas ao serviço do
discurso verbal e do fluxo dramático, não há cadências espúrias,
parar em cada nota mais exibicional, tipo guitarristas a acompanhar o
fadista em cada final de fado, final que se repete centenas de vezes,
dando tempo ao cantor de exibir vaidades pouco consentâneas com as
suas reais capacidades e destruindo a propulsão musical e o discurso
rítmico e melódico, arrasando cantar natural da musicalidade do
poema ao serviço da presunção dos divos é destruir a ideia da
obra e o génio de Bellini. Espalhafato gratuito, deselegância
musical, fortíssimos desproporcionados, falta de equilíbrio dos
planos sonoros, direcção pesadona, arrastamento constante nas
passagens lentas e em muitas que deviam ser rápidas, entradas em
falso, todos estes factos contribuíram para uma confrangedora falta
de nexo musical, de fluxo dramático e de ausência de tensão que
arrasaram negativamente a música de Bellini.
A
soprano Dimitra Theodossiou contribuiu para a enorme falta de gosto
desta Norma. Nem discutimos o facto de parecer um mostruário de
berloques e brilhantes, facto que deixamos para outros críticos mais
mundanos. O que interessa é a falta de qualquer elegância vocal,
agudos pesados e baços e médios feios, vibrato monstruoso e voz
aparentemente envelhecida, a única justificação para as tremendas
dificuldades de respiração poderia ser um problema de saúde que a
soprano pareceu invocar assoando-se de forma falsamente recolhida. É
inadmissível que uma cantora, vendida como se fosse a diva das
divas, se apresente a cantar “casta diva” sem conseguir concluir
de forma fluida uma única frase completa. Respirando a meio das
palavras, sem conseguir sustentar o legato, parando para se deleitar
com alguns agudos, a cantora foi uma sombra musical do que parece ter
sido há alguns anos. Junte-se a isto uma géstica histérica e
desproporcionada, mais a fazer-se ao gosto fácil de um público
pouco exigente, abrindo desabridamente os braços, num estilo que
deixaria Amália Rodrigues corada de embaraço, Dimitra Theodossiou
foi um modelo de exuberante espalhafato quando se pedia contenção,
um personagem sem evolução, que não passou a figura hierática
inicial para a mortal encarnação do frágil eterno feminino no
desfecho fatal a que se condenou. Theodossiou foi uma má Norma que,
mesmo assim, convenceu o ignorante público presente que aplaudiu a
pretensa diva de forma ostensiva.
O
espanhol que cantou Pollione foi grosseiro e incapaz de nuance apesar
da voz grande e do peito farto. Cometeu o erro de entrar no despique
dinâmico com uma sempre pronta para a gritaria Theodossiou no
terceto final do primeiro acto, apagando completamente a voz bonita,
mas pequena, da Biccirè, facto que se repetiu nos duetos com esta,
demonstrando falta de companheirismo e de inteligência artística.
Resulta muito mais musical e lógico no contexto dramático manter o
equilíbrio vocal com a ingénua a quem seduz, depois de ter feito
dois filhos a Norma a quem traiu de forma canalha. Provavelmente o
tenor também não seria capaz de moderar a voz, uma vez que não tem
um grande domínio sobre o seu poderoso instrumento, cantando sempre
em poder e nunca em subtileza, o tenor espanhol precisa de reformar o
seu canto, deve procurar um bom professor de canto que lhe ensine
elegância e subtileza pois a voz, a plenos pulmões, é bela e o
instrumento tem qualidades.
A
Adalgiza de última hora, uma vez que substituiu uma cantora incapaz
que ou foi mal escolhida ou adoeceu (versão oficial), foi correcta.
Tendo a elegância que faltou a todos os outros titulares, Bicciré
foi inteligente, delicada e suave, conseguiu sustentar um dueto de
alto nível com a desbragada Theodossiou que, pelo menos aqui, foi ao
encontro da soprano italiana.
O
cantor polaco Gierlach cantou sistematicamente de pernas abertas e
mostrou-se particularmente boçal do ponto de vista musical, apesar
de mostrar bons agudos e consistência na emissão, precisaria de
outra direcção para moderar a deselegância natural.
Os
portugueses Cátia Moreso e Bruno Almeida estiveram muitíssimo bem,
ela densa e consistente mostrou uma voz aveludada e boa presença,
apesar de uns sapatos ruidosos que faziam estremecer todo o teatro
quando entrava e saía. Bruno Almeida esteve também excelente com
uma voz quente e bonita nos agudos, muito bem colocada, a mostrar um
belíssimo trabalho de fundo.
A
orquestra não comprometeu, mostrando bons sopros e cordas graves, a
banda de palco portou-se de forma regular e o coro foi muito bem
preparado para esta produção por Giovanni Andreolli, apesar de
algum excesso de volume. Rápida e incisiva foi a invocação
“Guerra”, tratou-se de um lenitivo no arrastamento global imposto pela
batuta de chumbo da maestrina.
Nota
muito positiva para o programa de sala com belos textos, apesar de
não existir uma crítica e um distanciamento aos pontos débeis na
dramaturgia, que os há, e ao lado superficial que orientava o
divertimento para as emoções dos burgueses que era a indústria da
ópera no início do século XIX. Existe um lado deliberadamente
kitsch – já no seu tempo – a puxar ao sentimentalismo, em que é
paradigmática, por exemplo, a ária final de Norma destinada à
lágrima fácil, mostrando o saber inteligente de Bellini na sua
relação com o seu público, facto que não é explorado no
programa. Felizmente há outras leituras subjacentes dentro da
partitura e, no capítulo das leituras secundárias, o programa é
muito feliz.
É impossível não nos apaixonarmos por Simon, um miúdo de 12 anos, interpretado por Kacey Mottet Klein, na luta pela sua sobrevivência e da "irmã", Louise (Léa Seydoux).
A acção desenrola-se-se numa estância de esqui de luxo na Suíça. É aqui que Simon rouba aos turistas tudo o que está ao seu alcance. A partir do momento em que Louise perde o emprego o seu "ofício" torna-se um imperativo.
Um filme profundamente duro, com momentos comoventes e profundamente tristes. Uma inversão de papéis que jamais deveria acontecer.
Belíssimo e apaixonante este "L'Enfant d'en Haut", realizado por Ursula Meier.
Becky (Dreama Walker) é uma rapariga comum que trabalha num restaurante de fast food. Vê-se envolvida numa situação terrífica no momento em que é acusada de roubar dinheiro a uma cliente. Esta acusação é feita por um alegado polícia através de um simples telefonema.
A gerente, Sandra (Ann Dowd), vai-se limitando a seguir as suas ordens, começando por revistar Becky. A partir daqui, a trama evolui para um autêntico pesadelo.
Baseado numa história verídica (existiram cerca de 70 casos semelhantes nos EUA) este é um filme que suscita uma série de questões éticas e morais. Quais os nossos limites e tolerância quando confrontados perante a autoridade?
Realizado por Craig Zobe, Compliance é um filme que explora o comportamento humano e as suas fragilidades numa perspectiva bastante interessante.
Barney's Version, realizado por Richard J. Lewis, é um filme de uma ternura inquietante.
Baseado na obra de Mordecai Richler, Barney's Version retrata a história de Barney Panofsky (Paul Giamatti) e o seu percurso de vida atribulado, repleto de altos e baixos, com três casamentos e dois filhos.
Barney é confrontado, cedo demais, com uma doença que lhe afectará a memória, o raciocínio. A morte é sempre um golpe duro, mas a perda das capacidades neurológicas é algo avassalador. É uma morte lenta, profundamente dolorosa...
A interpretação de Paul Giamatti é absolutamente magnífica.
Alejandro González Iñárritu leva-nos ao sub-mundo de Barcelona através de Javier Bardem (Uxbal) no melhor desempenho da sua carreira.
Biutiful retrata a história de Uxbal que vive à margem da lei tendo um único objectivo, assegurar a subsistência dos seus dois filhos. Uma família à beira do colapso, confrontada com uma realidade de uma dureza sem paralelo.
A maior atenção ao olhar de Bardem... sofrido, duro, meigo. A câmara capta-o de uma forma inigualável.
Mike Leigh a provar que é um dos grandes realizadores da actualidade. É impossível esquecer, por exemplo, Secrets & Lies ou Vera Drake.
Another Year é um belíssimo filme que retrata de uma forma notável vidas simples.
O espectador facilmente se identifica com os personagens. São pessoas normais com as suas idiossincrasias. Leigh utiliza as estações do ano para simbolizar os diversos ciclos da vida num turbilhão de emoções, contrastando com a própria narrativa que nos embala.
De uma sensibilidade extraordinária, a solidão é uma constante neste filme.
Baseado numa história verídica, Moneyball, realizado por Bennett Miller, leva-nos ao mundo do basebol onde o protagonista, Brad Pitt, encarna o papel de Billy Beane, o director desportivo da equipa de Oakland.
Confesso que este não é uma tema que me cative, no entanto é interessante observar como Billy Bean revoluciou todas as teorias estabelecidas há décadas, provando a todos os cépticos que as suas técnicas iriam revolucionar para sempre este desporto.
Destaque para as três estrelas deste filme, Brad Pitt, Jonah Hill e Philip Seymour Hoffman que contribuem em larga medida para o sucesso desta narrativa.
Realizado por Atom Egoyan, Chloe é um filme sobre as relações humanas. Os medos, inseguranças que cercam um casal de meia-idade num confronto entre dois grandes actores, Liam Neeson e Julianne Moore. É ela que tem o melhor desempenho, num papel credível e consistente.
Chloe é Amanda Seyfried que protagoniza o elemento principal desta trama. Um registo completamente diferente daquele que assistimos em Mamma Mia.
Adivinhava-se um thriller psicológico, porém, à medida que a câmara vai avançando, o efeito desejado vai-se perdendo. Apesar de Egoyan nos oferecer planos muito bem filmados, subtis, criando alguns momentos de tensão e suspense, não consegue ir mais além.
Julianne Moore é sem dúvida o elemento mais forte nesta narrativa, salvando o filme do fracasso total.
Colin Clark, é um jovem assistente de produção que colaborou no filme The Prince and the Showgirl com Marilyn Monroe (Michelle Williams) e Sir Laurence Olivier (Kenneth Branagh). Monroe encontrava-se nesta época em lua-de-mel com seu novo marido, o dramaturgo Arthur Miller. Quase 40 anos mais tarde, Clark publica o diário de Miller, intitulado The Prince, The Showgirl and Me, no entanto havia uma lacuna nesta obra. Havia um hiato de uma semana que não constava. Essa semana foi publicada, mais tarde, também por Clark, com o título My Week With Marilyn.
Realizado por Simon Curtis, My Week with Marilyn é um filme mediano, longe de alcançar a verdadeira beleza de Marilyn Monroe.
Michelle Williams assume uma candura na contrução do personagem, no entanto com falhas impressionantes. Michelle Williams é demasiado perfeita. Um rosto imaculado, desvirtuando a verdadeira essência de Marilyn Monroe. A sua ingenuidade, inseguranças, fragilidades são demasiado forçadas e mal exploradas por Williams que é demasiado artificial na sua abordagem. Pelo contrário, Judi Dench no papel de Dame Sybil Thorndike e Kenneth Branagh como Sir Laurence Olivier presenteiam-nos com duas interpretações excepcionais.
Quando se trata de cinema ou de televisão rejeito de imediato um argumento que envolva mortos-vivos, zombies e afins. Não é um género de ficção que aprecie, no entanto um amigo convenceu-me que a série The Walking Dead era obrigatória.
E estava certo! Confesso que nos dois primeiros episódios não consegui alhear-me dos mortos-vivos (walkers). A partir do terceiro, esse "pormenor" deixou de ter importância. Esta é uma série sobre a dimensão humana.
The Walking Dead retrata a história de um pequeno grupo de sobreviventes que se vê confrontado com uma praga de mortos-vivos que invadiu o planeta. A acção desenrola-se nos arredores de Atlanta e, mais tarde, no norte da Georgia.
A primeira e segunda Temporadas funcionam como uma espécie de transição, na medida em que se começam a criar laços com os personagens e com os seus dramas pessoais. A partir daqui, o espectador pode esperar tudo.
O grande mérito desta série reside na forma como explora o comportamento humano numa luta titânica pela sobrevivência. Onde estão afinal os nossos limites?
O espectador é confrontado com inúmeras questões éticas e morais. Não mergulhei nesta série mais cedo, como referi, por não gostar desta temática, mas, a partir de um certo ponto abstraímo-nos por completo dos mortos-vivos... não são eles seguramente a maior ameaça!
Hannah Arendt (Barbara Sukowa), filósofa política alemã de origem judaica é convidada pelo jornal The New Yorker para fazer a cobertura do julgamento do nazi Adolf Eichmann. A reportagem gera grande polémica, na medida em que Arendt tenta desmistificar a ideia que nem todos os que cometeram crimes de guerra deveriam ser julgados da mesma forma. Alguns desses homens, segundo Arendt, não eram agentes pensantes e por essa razão limitavam-se a cumprir ordens. Arendt acrescenta ainda um dado novo que irá causar revolta no seio da comunidade judaica quando afirma que alguns judeus não estavam isentos de culpa, uma vez que colaboraram, juntamente com os alemães, na exterminação do povo judeu.
Todos nós conhecemos a História e confesso que a figura de Hannah Arendt me provocou sentimentos contraditórios. Se, por um lado, reconhecemos em Arendt predicados como sejam a inteligência, coragem, tenacidade, por outro sentimos nela uma certa arrogância e houve momentos em que a olhamos como alguém desprovida de afectos. Evito ao máximo fazer julgamentos de valor, mas acho que pela importância do tema torna-se inevitável.
Mas este é um filme demasiado complexo para ser analisado em breves linhas... continuo a pensar nele e nas questões que levanta. Não é de todo linear. Não estamos perante uma dialéctica entre bons e maus. Será que Arendt alguma vez se considerou judia? É um facto que não consigo esquecer a sua posição em relação aos seus (seriam assim tão seus?). Está em causa o maior genocídio da História, o que me incapacita, limita, impossibilita de ter uma abordagem racional, tanto em relação à temática como à forma como ela é retratada.
O pensamento ou a falta dele justifica as nossas acções? Um caminho demasiado perigoso e por isso tão assustador.
Estas são apenas algumas reflexões, inquietações que o filme me provocou. Uma interpretação extraordinária de Barbara Sukowa. O mesmo não se pode afirmar em relação ao filme, realizado por Margarethe von Trotta.
Blue Valentine, realizado por Derek Cianfrance, é um filme marcante. Retrata sem pudor o poder de uma relação a dois desde o seu início, a fase da paixão, em que tudo é perfeito, o amor é tão profundo que dói a alma. Surge depois a fase final, as rotinas instaladas, as dúvidas, a decadência.
O cenário vai alternando entre o presente e o passado. Afinal o que correu mal?
Uma história que retrata na perfeição a complexidade do ser humano... afinal ansiamos todos por aquele amor de Dean e Cindy da fase inicial.
Ryan Gosling e Michelle Williams presenteiam o espectador com duas interpretações arrebatadoras!
Destaque para a magnífica banda sonora... "You Always Hurt the One You Love..."
The Ides of March, realizado por George Clooney, transporta-nos para os bastidores da política e as suas negociatas e jogos pouco transparentes.
Assistimos ao desempenho de uma dupla de sucesso, o Governador Mike Morris (George Clooney), candidato à presidência dos Estados Unidos da América e Stephen Meyers (Ryan Gosling), um jovem idealista, director de campanha de Morris que tem como missão levar o seu candidato à vitória num confronto permanente com dilemas éticos e morais...
Apesar do contraste das suas personalidades, a dinâmica criada entre os dois funciona em pleno, encantando o espectador. O final não é linear, mas, na minha opinião, Ryan Gosling é engolido pelo sistema, sucumbindo às teias do poder.
Ao longo da trama, o filme vai-se tornando cada vez mais monótono, com um final demasiado previsível. Em nada comparável a Good Night and Good Luck do mesmo realizador.
Philip Seymour Hoffman oferece-nos mais uma interpretação extraordinária.
Philip Seymour Hoffman (1967 - 2014) - o tributo que faltou no dia 2 de Março de 2014
Para que não restem quaisquer tipo de dúvidas, não me considero uma pessoa pretensiosa (muito pelo contrário), mas gostaria de ter sido actriz. Tinha algum jeito! A minha mãe inscreveu-me no Conservatório, mas foi sol de pouca dura. Naqueles tempos, um pai severo considerou que actriz não seria uma profissão digna de mulher honrada.
E ainda bem! Porque para conseguir ser realmente boa na arte de representar, teria que ter estudado no estrangeiro onde o teatro e o cinema são levados realmente à séria.
E qual a razão que me leva a escrever este desabafo (afinal é disto que se trata). Porque o cinema é uma extensão de mim. O cinema nasceu comigo e acreditem que não se trata de um eufemismo. Foi através dele que descobri um universo encantado onde tenho vivido os melhores tempos da minha vida! E não estou a brincar!
O que pretendo transmitir com esta missiva é algo muito simples. Não lido bem com a perda (acho que ninguém). Assim, quando alguém que admiro, oriundo da sétima arte, parte, deprimo-me até às últimas. A emoção leva a melhor, sofro e comovo-me até às lágrimas.
E qual a razão para este desespero?
Porque considero-os meus "amigos".
Porque fazem parte da minha "família".
Porque esta é a minha forma de estar na vida.
Posto isto, tenho que deixar aqui o meu grito de revolta contra uma Academia desprovida de afectos que esqueceu Philip Seymour Hoffman. Na última edição dos Óscares que decorreu no dia 2 de Março de 2014, Hoffman teve direito apenas a uma imagem numa tradição já muito antiga "In Memoriam" em que são recordados todos aqueles que morreram no ano que precede a cerimónia. Alguns acharão esta minha crítica injusta e egoísta. Admito que sim! Qual a razão para Hoffman ser alvo de uma homenagem quando tantos outros nos deixaram...
Porque Hoffman é um daqueles casos à parte.
Porque Hoffman faz-me falta.
Porque Hoffman tinha ainda tantos papéis para representar.
Porque Hoffman deixou um vazio tão grande.
Porque Hoffman, como James Gandolfini, partiu cedo demais.
Deixo-vos com o tributo que faltou no dia 2 de Março de 2014 a este gigante!
Não posso afirmar que Frances Ha é um mau filme, talvez mediano. O que mais sobressai na narrativa de Noah Baumbach é a personalidade da protagonista que é sem dúvida contagiante. Sonhadora, sensível, insegura, frágil. Respira vida!
Há momentos em que nos revemos nela.
Há momentos em que sonhamos ser como ela.
Há momentos em que desejamos que o mundo dela fosse o nosso mundo!
A cena com Bowie a cantar Modern Love é um assombro. Mas são apenas momentos... houve alturas em que se tornou um pouco penoso continuar, talvez por achar que Greta Gerwig (Frances Ha) vai perdendo a espontaneidade ao longo da trama. Os seus gestos, as suas expressões vão-se tornando demasiado forçados e artificiais.
No final, fiquei com espécie de sensação de vazio sem perceber muito bem porquê. Sensação estranha porque este filme encerra um universo afectivo com o qual me identifico...
A grande falha neste filme reside no encantamento que se vai dissipando... o brilho inicial de Frances Ha que nos deslumbra vai desaparecendo à medida que a câmara vai avançando, acabando por escorregar em algo demasiado exagerado e pouco genuíno.
Estava com uma enorme curiosidade em relação a este Spring Breakers. Irritou-me profundamente. Um filme vazio, inconsistente e de um amadorismo assustador.
Para recriar o espírito de uma tradição dos jovens americanos - "As férias da Primavera" - Harmony Korine centra a narrativa num grupo de 4 raparigas e a sua ligação com um "dealer". Estas 4 adolescentes irão viver a experiência das suas vidas. Nesta pausa escolar, tudo é permitido (sexo, drogas, álcool).
Na minha opinião é um fracasso, tornando-se patético. As frases que vão surgindo ao longo do filme sobre o sentido das suas existências, ainda tão curtas, típicas da fase da adolescência, como uma espécie de flashes (e.g. "I don't belong here..." e outras tantas) revelam-se ridículas.
Um elenco de terceira categoria e, apesar de não apreciar o trabalho de James Franco, tenho que admitir que encarna o personagem com alguma competência.
Um autêntico desastre e o grande culpado é, sem dúvida, Korine que não teve a capacidade de explorar esta temática com a inteligência que era exigida, ficando assim completamente à deriva.
The Bridge retrata de uma forma muito fidedigna a realidade que se vive na fronteira maldita (EUA e México). O que mais impressiona é o hiato existente entre aquelas duas cidades fronteiriças com contextos tão díspares! Assim que se atravessa a “ponte” de El Paso para Juarez deparamo-nos com um cenário de puro terror, a contrastar com a quietude de El Paso. Juarez é dominada pelos grandes cartéis da droga, onde o crime e a corrupção predominam de uma forma explícita, ostensiva, onde se cometem as maiores desumanidades.
Diane Kruger (Sonya) e Demian Birchir (Marco), os protagonistas desta trama, encarnam dois detectives que tentam apanhar uma assassino em série que opera em ambos os lados da fronteira, presenteando-nos com duas interpretações extraordinárias.
Dois personagens com grande densidade, com personalidades tão diferentes e sobretudo muito credíveis.
Esta é uma série que vive de contrastes. Os seus criadores (Elwood Reid, Björn Stein e Meredith Stiehm) tiveram o mérito de explorá-los de uma forma astuciosa a todos os níveis.
HER, realizado por Spike Jonze, é um filme de uma beleza transcendental!
É dificil transmitir através das palavras a infinidade de "elementos" que esta narrativa encerra. Apesar de se sentir uma certa serenidade, que é uma constante ao longo do filme, há também uma tristeza profunda, mas há sobretudo uma "realidade ficcionada" em que a solidão é avassaladora!
É um filme poético... uma elegia ao amor. Joaquin Phoenix é notável. A "invisível" Scarlett Johansson é extraordinária. Uma realização magistral. E que dizer da Banda Sonora? Um assombro!
Em HER é imperativo absorver cada milésimo de segundo, desde o primeiro momento em que a câmara começa a filmar, até ao seu último suspiro.
Quando se trata de Steve McQueen, espera-se a perfeição, na medida em que, como referi numa das críticas que escrevi, este génio tem já no seu currículo duas obras notáveis "Shame" e "Hunger". Não foi o caso do tão aclamado 12 years a slave, provavelmente, porque o tema em causa tem sido demasiado explorado através do universo da sétima arte. E ainda bem! Nunca é demais relembrar as atrocidades cometidas no tempo da escravatura.
O que mais impressiona em 12 years a slave é, uma vez mais, a violência (intencional) pura, crua, dura, filmada sem qualquer tipo de filtros, que se tornou já uma das marcas distintivas de McQueen. Outro denominador comum na sua obra é Michael Fassbender, um dos melhores actores de sempre.
Caso não existissem Fassbender e Chiwetel Ejiofor, com duas interpretações assombrosas, 12 years a slave seria apenas um filme... é por causa destes dois actores que McQueen convence, mas, infelizmente, não surpreende.
Estranhamente, 12 years a slave está na corrida aos Óscares. Estranhamente, porque o povo americano tende a esconder os seus pecadilhos... duvido sempre destas boas intenções. E, por isso, pressinto que este filme será o grande vencedor dos Óscares. Duvido que uma cultura como a americana, em que a falsa moral tem sido a cartilha ao longo da sua História, desperdice esta oportunidade para mostrar ao mundo o quão são bons samaritanos. Seria necessário um milagre para impedir esta "tragédia". Infelizmente, não acredito em milagres...
Espírito que passas, quando o vento
Adormece no mar e surge a Lua,
Filho esquivo da noite que flutua,
Tu só entendes bem o meu tormento...
Como um canto longínquo - triste e lento -
Que voga e subtilmente se insinua,
Sobre o meu coração, que tumultua,
Tu vertes pouco a pouco o esquecimento...
A ti confio o sonho em que me leva
Um instinto de luz, rompendo a treva,
Buscando, entre visões, o eterno Bem.
E tu entendes o meu mal sem nome,
A febre de Ideal, que me consome,
Tu só, Génio da Noite, e mais ninguém!