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8.3.16

Iphigénie en Tauride no S. Carlos 

Iphigénie en Tauride no S. Carlos
Henrique Silveira – Crítico
Crítica rápida e curta saiu originalmente no "O Diabo", seguir-se-á,  após o final das récitas, uma crítica mais alongada.
Música de Christoph Willibald Ritter (Cavaleiro) Gluck - 1714 – 1787. Estreia em 1779 em Paris. Direcção musical: David Peter Bates, Encenação: James Darrah, Cenografia e desenho de luz: Emily MacDonald Cameron Mock, Figurinos: Chrisi Karvonides, Iphigénie: Alexandra Deshorties, soprano, Orestes: William Berger, Bbarítono, Pylade: Anthony Gregory, tenor, Thoa: John Moore, barítono. Coro do Teatro Nacional de São Carlos Maestro titular: Giovanni Andreoli, Orquestra Sinfónica Portuguesa. Tragédia em quatro actos, Libreto de Nicolas-François Guillard. Sala quase cheia, estreia a 5 de Março pelas 20h.


Esta será uma crítica rápida que será rematada dentro de algumas edições com reflexões post mortem mais elaboradas.


A encenação foi extremamente pensada, inteligente e eficaz. O drama psicológico de Ifigénia e de Orestes é tremendo, a relação de amizade profunda, que raia a ambiguidade homossexual, aliás natural nos gregos antigos, é complexa e subtil e junta um elemento de complexidade que foi jogado com enorme subtileza. A direcção de actores foi notável, com marcações a raiar a perfeição e momentos estéticos de grande impacto visual, com todas as movimentações em palco a obedecerem a um plano que serve constantemente a acção. Como em tudo na vida esta visão teve defeitos, Thoas a subir paredes é excessivo, alguma gesticulação absurda de Ifigénia é apatetada, mas a criação de seis espectros é engenhosa, são criaturas do submundo tão caras a Gluck, representações simbólicas das sombras que rodeiam Ifigénia, e seu irmão Orestes, e quando estes se reconhecem dá-se uma transferência entre estes dois dos espectros, num momento subtil mas também de clarividência. Toda a leitura é lógica, a intemporalidade de uma fábrica abandonada gera um nível de abstracção que não se fixa numa época particular e não é meramente gratuita, a tragédia de Orestes, que matou a mãe por instigação de Electra, ou de Ifigénia, que quase foi sacrificada pelo pai e se tornou uma assassina ritual, é eterna e revela factos que a psicanálise nunca se cansou de explorar. As luzes foram perfeitas sublinhando com a cor a acção e o drama psicológico e a cenografia simples jogou com um imenso disco suspenso sobre o palco, um disco entre o solar e o lunar que centrou a cena no ponto do clímax da acção, exactamente na razão dourada da duração da obra! Conseguiu-se o económico sem ser ordinário. Os figurinos poéticos evocaram-me imagens de Bilal e das suas bandas desenhadas com plasticidade e intemporalidade.


As vozes são, em geral, de grande qualidade, apesar de uma Deshorties de voz curta, de agudos pobres de harmónicos e graves pouco densos, cansada ao longo da récita mas com grande trabalho cénico e uma enorme preparação na interpretação musical. Um Berger de voz pujante, bela e rutilante, algo exagerado nos gritos de interjeição mas de bom gosto vocal, bem assim como Gregory, um tenor de voz bonita e elegante e um denso Moore, figura muito bela e bem trabalhada pelo encenador e figurinistas.


Um coro péssimo nos homens, e sofrível nas mulheres e um lindíssimo oboé, naipe que salvou a récita diversas vezes, juntamente com restantes madeiras, metais pouco idiomáticos mas com alguns momentos interessantes gerando as trompas belos timbres. Primeiros violinos perdidos e segundos violinos inexistentes com outras cordas débeis, em que se salvaram apenas os contrabaixos, arruinaram o tecido orquestral. A direcção é idiomática mas pouco eficaz na gestualidade e na segurança, preparou o estilo mas não deu segurança musical a coro e cordas e foi pouco incisivo nas entradas dos cantores. Talvez a orquestra melhore com as récitas seguintes, recomendo vivamente pela encenação, vozes e música excelente de Gluck.

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