
4.6.11
A a Z
Texto Publicado originalmente no jornal "O Diabo"
Henrique Silveira – crítico
É uma crítica inabitual, vem a propósito da publicação de um CD na ACCENT pelo Collegium 1704, instrumental e vocal, sob a direcção de Václav Luks das obras de Jan Dismas Zelenka dedicadas à morte do seu “mestre” Augusto o Forte, soberano da Saxónia e da Polónia. Inabitual porque é sobretudo uma “Apologia a Zelenka” e menos uma crítica.
Conhecido dos amantes da música antiga e muito celebrado na República Checa desde os anos sessenta do séc. XX, é pouco conhecido fora dos círculos eruditos. Nascido em 16 de Outubro de 1679 na Boémia e falecido dois dias antes do Natal de 1745, na capital da Saxónia, Zelenka teve formação jesuíta, sendo o seu instrumento o Violone, uma viola da gamba contrabaixo que daria origem ao contrabaixo moderno. Depois de viver em Praga foi para Dresden em 1710 onde se tornou músico da corte e mais tarde segundo mestre de capela sob a direcção de Heinichen mas, após a morte deste, nunca viria a ser nomeado para o seu lugar, ficando como compositor de música católica, uma vez que era esta a sua confissão. Dresden vivia na esquizofrenia religiosa, uma vez que Augusto tinha passado de luterano a católico para poder ser eleito rei da Polónia, tendo até afirmado que “umas missas valem bem o título de rei da Polónia!”. A corte continuava a ser luterana mas todas as cerimónias passaram a ser celebradas segundo a liturgia católica e teve de se improvisar uma igreja católica nas instalações da antiga ópera de Dresden.
Zelenka e Bach conheciam-se, Dreden e Leipzig estão perto, e há documentos que provam a alta consideração mútua de dois homens castigados pelo seu tempo. Zelenka acabou por morrer só e deprimido e com muita da sua música ainda por escutar. No entanto grande parte da sua obra, comprada após a morte do compositor pela monarquia de Dresden conservou-se quase intacta e bem conservada até hoje.
O CD citado reúne duas das obras mais espantosas do estilo de Zelenka, o “Ofício dos Defuntos” e o “Requiem em Ré”, ambas de 1733, data de morte de Augusto, toda a maestria do compositor é evidente: um domínio total das tensões orquestrais recorrendo a um pujante baixo, o dramatismo e o impacto de grandes massas sonoras, o uso de cores inusitadas, com charamelas (clarinetes), trompetes e trompas, além dos habituais oboés e flautas. Uma linha de baixo extraordinária, uma harmonia de uma constante inovação e variação, o uso do contraponto coral e instrumental. O recurso de elementos de um modernismo espantoso a par com o canto gregoriano e arcaicismos dignos do século XVI. Zelenka era um homem de todos os recursos e isso transparece de forma vigorosa nestas obras “escritas a grande velocidade” para os funerais de um soberano importante e amado pelo seu povo.
Interpretado por um dos maiores conhecedores de Zelenka este não é um disco totalmente perfeito, mas o equilíbrio entre uma orquestra de alto nível, um coro muito respeitável e belas vozes solistas tornam este CD um documento importante na descoberta da música viva de um homem que merece ser ouvido e respeitado na sua paixão pela música. Simplesmente brilhante.
*****
Henrique Silveira – crítico
É uma crítica inabitual, vem a propósito da publicação de um CD na ACCENT pelo Collegium 1704, instrumental e vocal, sob a direcção de Václav Luks das obras de Jan Dismas Zelenka dedicadas à morte do seu “mestre” Augusto o Forte, soberano da Saxónia e da Polónia. Inabitual porque é sobretudo uma “Apologia a Zelenka” e menos uma crítica.
Conhecido dos amantes da música antiga e muito celebrado na República Checa desde os anos sessenta do séc. XX, é pouco conhecido fora dos círculos eruditos. Nascido em 16 de Outubro de 1679 na Boémia e falecido dois dias antes do Natal de 1745, na capital da Saxónia, Zelenka teve formação jesuíta, sendo o seu instrumento o Violone, uma viola da gamba contrabaixo que daria origem ao contrabaixo moderno. Depois de viver em Praga foi para Dresden em 1710 onde se tornou músico da corte e mais tarde segundo mestre de capela sob a direcção de Heinichen mas, após a morte deste, nunca viria a ser nomeado para o seu lugar, ficando como compositor de música católica, uma vez que era esta a sua confissão. Dresden vivia na esquizofrenia religiosa, uma vez que Augusto tinha passado de luterano a católico para poder ser eleito rei da Polónia, tendo até afirmado que “umas missas valem bem o título de rei da Polónia!”. A corte continuava a ser luterana mas todas as cerimónias passaram a ser celebradas segundo a liturgia católica e teve de se improvisar uma igreja católica nas instalações da antiga ópera de Dresden.
Zelenka e Bach conheciam-se, Dreden e Leipzig estão perto, e há documentos que provam a alta consideração mútua de dois homens castigados pelo seu tempo. Zelenka acabou por morrer só e deprimido e com muita da sua música ainda por escutar. No entanto grande parte da sua obra, comprada após a morte do compositor pela monarquia de Dresden conservou-se quase intacta e bem conservada até hoje.
O CD citado reúne duas das obras mais espantosas do estilo de Zelenka, o “Ofício dos Defuntos” e o “Requiem em Ré”, ambas de 1733, data de morte de Augusto, toda a maestria do compositor é evidente: um domínio total das tensões orquestrais recorrendo a um pujante baixo, o dramatismo e o impacto de grandes massas sonoras, o uso de cores inusitadas, com charamelas (clarinetes), trompetes e trompas, além dos habituais oboés e flautas. Uma linha de baixo extraordinária, uma harmonia de uma constante inovação e variação, o uso do contraponto coral e instrumental. O recurso de elementos de um modernismo espantoso a par com o canto gregoriano e arcaicismos dignos do século XVI. Zelenka era um homem de todos os recursos e isso transparece de forma vigorosa nestas obras “escritas a grande velocidade” para os funerais de um soberano importante e amado pelo seu povo.
Interpretado por um dos maiores conhecedores de Zelenka este não é um disco totalmente perfeito, mas o equilíbrio entre uma orquestra de alto nível, um coro muito respeitável e belas vozes solistas tornam este CD um documento importante na descoberta da música viva de um homem que merece ser ouvido e respeitado na sua paixão pela música. Simplesmente brilhante.
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Etiquetas: Crítica de discos, Zelenka
7.4.11
O sabor amargo do Café Zimmermann
Publicado originalmente no Jornal "O Diabo"
Café Zimmermann – Bach – Concerts avec plusiers instruments – V – Edições Alpha 168
Henrique Silveira – crítico
O famoso café de Leipzig onde Telemann e Kunhau reuniam o seu Collegium Musicum, posteriormente retomado por Bach de 1729 a 1737, dá nome a um agrupamento barroco.
Certamente o leitor já apanhou desilusões na sua vida. Uma das minhas maiores desilusões foi ter assistido a dois concertos deste agrupamento e ter percebido que o que eu entendia por quatro bons CDs de música de Johann Sebastian Bach não tinha a menor correspondência com o agrupamento em si, pelo menos à primeira vista.
Constatei que um dos directores do grupo, Pablo Valleti, tem uma técnica pobre e aflitiva no seu violino, e que apesar de se arrogar ser defensor da prática do violino barroco do início do século XVIII, não prescinde da queixeira, inventada apenas no século XIX por Ludwig Spohr, e do vibrato, técnica utilizada sobretudo a partir do século XX. Por outro lado a sua direcção é inexistente em concerto, preocupado com os aspectos técnicos do seu instrumento e deixando ao deus dará o resto do conjunto, que no caso de serem grande músicos lá se vão aguentando, mas no caso habitual, provavelmente para poupar, e como se trata de uma formação sem uma base fixa, acaba por redundar em desastre. A outra directora do agrupamento, Céline Frisch, é uma pobre cravista ao vivo.
Depois desta constatação a recepção de um novo disco deste agrupamento será sempre olhada com um sabor amargo. E assim acontece com este quinto CD da colecção dedicada aos concertos com vários instrumentos de Bach, que inclui a obra solística, os concertos duplos, triplos e quádruplos e ainda os concertos de Brandenburg do compositor alemão. Começa o CD com a suite nº3, os tempos são vigorosos mas sente-se insegurança na entoação, a rapidez excessiva esconde a insegurança que os membros do grupo têm na retórica musical de Bach. A famosa ária é apenas mais uma banalidade de filme de pacotilha, no seu pobre enunciar das linhas, som magro e falta de nobreza no final das frases. Cada frase parece que vai acabar o texto musical e nunca anuncia nada de novo. É feito a despachar e o belo eterno de Bach banaliza-se na conversa da treta. Cada nota sustentada pelos violinos e violas é uma tortura infindável apesar de apressada por um agrupamento nervoso. A suite arrasta-se pelos trompetes falsamente naturais onde vai sempre faltando qualquer coisa e onde os trios conclusivos soam sempre deselegantes.
Segue-se o concerto para cravo em fá menor BWV 1056, com uma interpretação pouco inspirada de Frisch e um acompanhamento a uma voz por parte algo tristonho.
O pior do disco é o concerto Brandeburguês nº6, onde a desafinação de Valetti e das restantes cordas é constante numa constante sopa de notas acabando o último andamento, um allegro, numa queda para o abismo da pobreza sonora. Um concerto demasiado difícil e fora do alcance técnico e estético deste grupo. Nem os gurus da pós-produção da Alpha conseguem disfarçar o mau produto de base, simplesmente vergonhoso.
O triplo concerto BWV 1063 para três cravos, agora com Dick Boerner e Anna Fontana adicionados a Frisch, termina menos mal um CD fraco. Creio que a o facto de aqui a direcção ser de Frisch em vez do pobre Valetti dá um pouco mais de cor a um conjunto pouco conseguido.
*
o - Mau, * - sofrível, ** - interessante, *** - bom, **** - muito bom, ***** - excepcional.
Café Zimmermann – Bach – Concerts avec plusiers instruments – V – Edições Alpha 168
Henrique Silveira – crítico
O famoso café de Leipzig onde Telemann e Kunhau reuniam o seu Collegium Musicum, posteriormente retomado por Bach de 1729 a 1737, dá nome a um agrupamento barroco.
Certamente o leitor já apanhou desilusões na sua vida. Uma das minhas maiores desilusões foi ter assistido a dois concertos deste agrupamento e ter percebido que o que eu entendia por quatro bons CDs de música de Johann Sebastian Bach não tinha a menor correspondência com o agrupamento em si, pelo menos à primeira vista.
Constatei que um dos directores do grupo, Pablo Valleti, tem uma técnica pobre e aflitiva no seu violino, e que apesar de se arrogar ser defensor da prática do violino barroco do início do século XVIII, não prescinde da queixeira, inventada apenas no século XIX por Ludwig Spohr, e do vibrato, técnica utilizada sobretudo a partir do século XX. Por outro lado a sua direcção é inexistente em concerto, preocupado com os aspectos técnicos do seu instrumento e deixando ao deus dará o resto do conjunto, que no caso de serem grande músicos lá se vão aguentando, mas no caso habitual, provavelmente para poupar, e como se trata de uma formação sem uma base fixa, acaba por redundar em desastre. A outra directora do agrupamento, Céline Frisch, é uma pobre cravista ao vivo.
Depois desta constatação a recepção de um novo disco deste agrupamento será sempre olhada com um sabor amargo. E assim acontece com este quinto CD da colecção dedicada aos concertos com vários instrumentos de Bach, que inclui a obra solística, os concertos duplos, triplos e quádruplos e ainda os concertos de Brandenburg do compositor alemão. Começa o CD com a suite nº3, os tempos são vigorosos mas sente-se insegurança na entoação, a rapidez excessiva esconde a insegurança que os membros do grupo têm na retórica musical de Bach. A famosa ária é apenas mais uma banalidade de filme de pacotilha, no seu pobre enunciar das linhas, som magro e falta de nobreza no final das frases. Cada frase parece que vai acabar o texto musical e nunca anuncia nada de novo. É feito a despachar e o belo eterno de Bach banaliza-se na conversa da treta. Cada nota sustentada pelos violinos e violas é uma tortura infindável apesar de apressada por um agrupamento nervoso. A suite arrasta-se pelos trompetes falsamente naturais onde vai sempre faltando qualquer coisa e onde os trios conclusivos soam sempre deselegantes.
Segue-se o concerto para cravo em fá menor BWV 1056, com uma interpretação pouco inspirada de Frisch e um acompanhamento a uma voz por parte algo tristonho.
O pior do disco é o concerto Brandeburguês nº6, onde a desafinação de Valetti e das restantes cordas é constante numa constante sopa de notas acabando o último andamento, um allegro, numa queda para o abismo da pobreza sonora. Um concerto demasiado difícil e fora do alcance técnico e estético deste grupo. Nem os gurus da pós-produção da Alpha conseguem disfarçar o mau produto de base, simplesmente vergonhoso.
O triplo concerto BWV 1063 para três cravos, agora com Dick Boerner e Anna Fontana adicionados a Frisch, termina menos mal um CD fraco. Creio que a o facto de aqui a direcção ser de Frisch em vez do pobre Valetti dá um pouco mais de cor a um conjunto pouco conseguido.
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o - Mau, * - sofrível, ** - interessante, *** - bom, **** - muito bom, ***** - excepcional.
Etiquetas: Café Zimmermann review, Crítica de discos, Johann Sebastian Bach, Música
10.3.11
A Fúria Criadora
Crítica a CD
Henrique Silveira – crítico
Johann Sebastian Bach – Passio Secundum Johannem, La Chapelle Rhénane com direcção de Benoit Haller. Zig Zag Territoires.
Bach chegou a Leipzig em 1723, é certo que em 1724 dirigiu a sua primeira Paixão, segundo S. João, nesta cidade. Era então um homem maduro, com 38 anos, com um domínio técnico total da sua arte e com uma fúria criativa verdadeiramente notável.
A Paixão segundo S. João terá provavelmente grande parte do seu texto da própria lavra de Bach, seguindo ainda o Evangelho de João. Bach utiliza o recitativo e os coros de forma extremamente viva para nos dar, de forma dramática, a narração da Paixão de Cristo, os coros são o retrato da multidão. Os corais (não confundir com os coros) luteranos e as árias comentam, de forma apaixonada, os eventos que se sucedem. O coro inicial é um fresco notável da Fé de Bach na persistência do Sol grave repetido até à exaustão pelos contrabaixos e pelo órgão gerando uma harmonia de grande complexidade que se renova sistematicamente sobre o tal sol grave, representando a renovação da Fé. O sofrimento de Cristo, os espinhos e aos pregos, são representados nas desconfortáveis notas agudas em oboés e flautas, e pelo fluxo interminável do tempo, em notas ondulantes das cordas, enquanto o coro arrasa pelos gritos de Senhor, Senhor, Nosso Senhor, o teu Nome é glorificado em todos as naçõe. Pela tua Paixão mostraste que és o verdadeiro Filho de Deus, para todos os tempos,e mesmo na maior humilhação foste glorificado!
É uma obra de amor exaltado que Benoit Haller nos traz, e é essa visão é também verdadeiramente o aspecto musical mais impressionante desta gravação que recorda a versão de 1725 com algumas árias para nós desconhecidas nas versões habituais da obra.
As vozes de Nenoit Arnoult em Jesus, Dominik Wörner em Pedro e Pilatos, Tanya Aspelmeier, Salomé Haller, Julien Freymuth, Pascal Bertin, Michael Feyfar, Philippe Froeliger e, sobretudo Julien Prégardien num evangelista tocante de uma voz colorida, jovem e rica, são jovens e vibrantes e fazem um coro de apenas oito vozes, de um brilho e uma força sem par.
A orquestra da Capela Renana com um poderoso órgão, e não um anémico positivo, enriquecida com um contrafagote e duas violas da gamba, dá uma sonoridade belíssima e cheia, com um baixo contínuo de um vigor irreprensível. O coro inicial, sobre o qual toda a obra irradia, é simplesmente arrasador na construção natural de um contraponto que serve apenas uma fianalidade: “Apenas a Glória de Deus”.
Simplesmente brilhante.
****
o - Mau, * - sofrível, ** - interessante, *** - bom, **** - excepcional
Henrique Silveira – crítico
Johann Sebastian Bach – Passio Secundum Johannem, La Chapelle Rhénane com direcção de Benoit Haller. Zig Zag Territoires.
Bach chegou a Leipzig em 1723, é certo que em 1724 dirigiu a sua primeira Paixão, segundo S. João, nesta cidade. Era então um homem maduro, com 38 anos, com um domínio técnico total da sua arte e com uma fúria criativa verdadeiramente notável.
A Paixão segundo S. João terá provavelmente grande parte do seu texto da própria lavra de Bach, seguindo ainda o Evangelho de João. Bach utiliza o recitativo e os coros de forma extremamente viva para nos dar, de forma dramática, a narração da Paixão de Cristo, os coros são o retrato da multidão. Os corais (não confundir com os coros) luteranos e as árias comentam, de forma apaixonada, os eventos que se sucedem. O coro inicial é um fresco notável da Fé de Bach na persistência do Sol grave repetido até à exaustão pelos contrabaixos e pelo órgão gerando uma harmonia de grande complexidade que se renova sistematicamente sobre o tal sol grave, representando a renovação da Fé. O sofrimento de Cristo, os espinhos e aos pregos, são representados nas desconfortáveis notas agudas em oboés e flautas, e pelo fluxo interminável do tempo, em notas ondulantes das cordas, enquanto o coro arrasa pelos gritos de Senhor, Senhor, Nosso Senhor, o teu Nome é glorificado em todos as naçõe. Pela tua Paixão mostraste que és o verdadeiro Filho de Deus, para todos os tempos,e mesmo na maior humilhação foste glorificado!
É uma obra de amor exaltado que Benoit Haller nos traz, e é essa visão é também verdadeiramente o aspecto musical mais impressionante desta gravação que recorda a versão de 1725 com algumas árias para nós desconhecidas nas versões habituais da obra.
As vozes de Nenoit Arnoult em Jesus, Dominik Wörner em Pedro e Pilatos, Tanya Aspelmeier, Salomé Haller, Julien Freymuth, Pascal Bertin, Michael Feyfar, Philippe Froeliger e, sobretudo Julien Prégardien num evangelista tocante de uma voz colorida, jovem e rica, são jovens e vibrantes e fazem um coro de apenas oito vozes, de um brilho e uma força sem par.
A orquestra da Capela Renana com um poderoso órgão, e não um anémico positivo, enriquecida com um contrafagote e duas violas da gamba, dá uma sonoridade belíssima e cheia, com um baixo contínuo de um vigor irreprensível. O coro inicial, sobre o qual toda a obra irradia, é simplesmente arrasador na construção natural de um contraponto que serve apenas uma fianalidade: “Apenas a Glória de Deus”.
Simplesmente brilhante.
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o - Mau, * - sofrível, ** - interessante, *** - bom, **** - excepcional
Etiquetas: Bach, Crítica de discos
30.3.09
Paradoxos
Robert King foi preso por pedofilia, cumpre agora a sua pena de quase quatro anos a que foi condenado em 2007.
Paul McCreesh gravou um disco com música de Handel para a DG com Rolando Villazón, parece que nenhum deles foi preso, pelo menos até agora...
Paul McCreesh gravou um disco com música de Handel para a DG com Rolando Villazón, parece que nenhum deles foi preso, pelo menos até agora...
Etiquetas: Crítica de discos, Ironias
11.1.09
Melhores discos de 2008
Procurei citar discos realmente saídos em 2008 e não discos saídos nas datas mais díspares, como 2007, que receberam menções na nossa imprensa. Considero o projecto Immerseel das Sinfonias de Beethoven o melhor conseguido pela envergadura da obra e pela qualidade musical e da gravação. Simplesmente notável. Todos os outros são mencionados sem ordem de preferências.
Integral das Sinfonias de Beethoven, dir. Jos Van Immerseel, orq. Anima Eterna. Editora Zig Zag.
Firenze, 1616, Le Poème Harmonique, direcção Vincent Dumestre. Editora Alpha.
Francesco Geminiani, Sonates pour violoncelle avec la basse continue, Bruno Cocset & Les Basses Reunies. Editora Alpha.
Robert Schumann Klavierwerke & Kammermusik - IV, Eric Le Sage. Editora Alpha.
Lamentatio Jeremiae Prophetae, Agricola, Morales, Arcadelt & Lassus, EGIDIUS KWARTET. Editora Et'cetera.
Vivaldi, Les Quatre Saisons & Autres Concerts, Gli Incognitì, Amandine Beyer. Editora Zig Zag.
Tartini, Sonate a violino solo, Aria del Tasso, Chiara Banchini, violino e Patrizia Bovi, soprano. Editora Zig Zag.
Handel - Organ Concertos op. IV, Lorenzo Ghielmi e La Divina Armonia. Editora Passacaille.
Zelenka, Missa votiva zwv 18, Collegium 1704 e Collegium Vocale 1704, dir. Václav Luks. Editora ZIG ZAG.
Margerit, Francesco Spinacino, Emanuela Galli, soprano, Gabriele Palomba e Franco Pavan, alaúdes, Josuè Melendes, corneto, Paolo Zucheri, viola da gamba. E Lucevan le Stelle.
Graffiti (Just Forms), Six Portraits of Pain, Acting Out António Pinho Vargas, Remix e ONP. Editora Numérica.
Erik Satie - Claire Chevallier piano Erard. Editora Zig Zag.
Grandes Descobertas
Ganassi, Sylvestro, Io amai Sempre, Venise 1540, Madrigais, Motets, Toccatas e Fantasias. Pierre Boragno, flautas, Massimo Moscardo, alaúdes e guitarras, Marianne Mudler, violas, François Saint-Yves, órgão e cravo. Editora Zig Zag.
Bohuslav Matěj Černohorský Laudetur Jesus Christus. Hipocondria Ensemble, Societas Icognitorum. Editora Arta.
Chant de L'eglise de Rome - VI - XIII siècles. Ensemble Organum, dir. Marcel Pérès. Um disco surpreendente. Editora Zig Zag.
Julius Röntgen, Complete Cello Concerts. Arturo Muruzabal, Orquestra Sinfónica da Rádio da Holanda, Filarmónica de Câmara da Rádio da Holanda. Maestros: Paul Watson e Henrik Schaefer. Editora Et'cetera.
Nota:
Estou à espera de "Le jeu de Robin et Marion" da Zig Zag, com a Patrizia Bovi, que ainda não vi por cá em Lisboa. Pela lista de prémios recebiods deve ser muito bom.
A Melhor reedição
Masters of Flanders, dir. Eric Van Nevel, Capilla Saint Michaelis, Currende Consort. 10 CD's. Editora Et'cetera.
À excepção da tal caixa reedição dos 33 discos da Decca com as gravações de Bayreuth, não considero interessantes as propostas no domínio da ópera para serem consideradas nesta lista.
Integral das Sinfonias de Beethoven, dir. Jos Van Immerseel, orq. Anima Eterna. Editora Zig Zag.
Firenze, 1616, Le Poème Harmonique, direcção Vincent Dumestre. Editora Alpha.
Francesco Geminiani, Sonates pour violoncelle avec la basse continue, Bruno Cocset & Les Basses Reunies. Editora Alpha.
Robert Schumann Klavierwerke & Kammermusik - IV, Eric Le Sage. Editora Alpha.
Lamentatio Jeremiae Prophetae, Agricola, Morales, Arcadelt & Lassus, EGIDIUS KWARTET. Editora Et'cetera.
Vivaldi, Les Quatre Saisons & Autres Concerts, Gli Incognitì, Amandine Beyer. Editora Zig Zag.
Tartini, Sonate a violino solo, Aria del Tasso, Chiara Banchini, violino e Patrizia Bovi, soprano. Editora Zig Zag.
Handel - Organ Concertos op. IV, Lorenzo Ghielmi e La Divina Armonia. Editora Passacaille.
Zelenka, Missa votiva zwv 18, Collegium 1704 e Collegium Vocale 1704, dir. Václav Luks. Editora ZIG ZAG.
Margerit, Francesco Spinacino, Emanuela Galli, soprano, Gabriele Palomba e Franco Pavan, alaúdes, Josuè Melendes, corneto, Paolo Zucheri, viola da gamba. E Lucevan le Stelle.
Graffiti (Just Forms), Six Portraits of Pain, Acting Out António Pinho Vargas, Remix e ONP. Editora Numérica.
Erik Satie - Claire Chevallier piano Erard. Editora Zig Zag.
Grandes Descobertas
Ganassi, Sylvestro, Io amai Sempre, Venise 1540, Madrigais, Motets, Toccatas e Fantasias. Pierre Boragno, flautas, Massimo Moscardo, alaúdes e guitarras, Marianne Mudler, violas, François Saint-Yves, órgão e cravo. Editora Zig Zag.
Bohuslav Matěj Černohorský Laudetur Jesus Christus. Hipocondria Ensemble, Societas Icognitorum. Editora Arta.
Chant de L'eglise de Rome - VI - XIII siècles. Ensemble Organum, dir. Marcel Pérès. Um disco surpreendente. Editora Zig Zag.
Julius Röntgen, Complete Cello Concerts. Arturo Muruzabal, Orquestra Sinfónica da Rádio da Holanda, Filarmónica de Câmara da Rádio da Holanda. Maestros: Paul Watson e Henrik Schaefer. Editora Et'cetera.
Nota:
Estou à espera de "Le jeu de Robin et Marion" da Zig Zag, com a Patrizia Bovi, que ainda não vi por cá em Lisboa. Pela lista de prémios recebiods deve ser muito bom.
A Melhor reedição
Masters of Flanders, dir. Eric Van Nevel, Capilla Saint Michaelis, Currende Consort. 10 CD's. Editora Et'cetera.
À excepção da tal caixa reedição dos 33 discos da Decca com as gravações de Bayreuth, não considero interessantes as propostas no domínio da ópera para serem consideradas nesta lista.
Etiquetas: Crítica de discos
14.5.08
Motetes de Bach
A Raumklang, pequena editora alemã, lança mais um trabalho de excelência absoluta. Escrevo sobre o disco dos Trinity Baroque com a direcção de Julian Podger no disco "Motetten" (disco RC2601 da Raumklang).
A interpretação é de uma vibração extraordinária, o baixo contínuo de uma profundidade imensa, utilizando um grande órgão histórico. As frases, as vogais, as ressonâncias, os detalhes mais ínfimos são explorados de uma forma tão perfeita que este disco, além de uma extraordinária revelação, passa imediatamente a ser uma referência incontornável nestas obras de Bach. A excepcionalidade deste disco não é ensombrada por se tratar de uma interpretação a uma voz por parte. O próprio autor do projecto, Podger, reconhece que estes motetes deveriam ser interpretados por um coro, mas a realização musical e retórica é tão forte e tão bem realizada que esta experiência, como os autores lhe chamam, resulta numa trabalho onde se atinge a perfeição.
A comprar, a ouvir, a reouvir, a pensar e repensar.
A interpretação é de uma vibração extraordinária, o baixo contínuo de uma profundidade imensa, utilizando um grande órgão histórico. As frases, as vogais, as ressonâncias, os detalhes mais ínfimos são explorados de uma forma tão perfeita que este disco, além de uma extraordinária revelação, passa imediatamente a ser uma referência incontornável nestas obras de Bach. A excepcionalidade deste disco não é ensombrada por se tratar de uma interpretação a uma voz por parte. O próprio autor do projecto, Podger, reconhece que estes motetes deveriam ser interpretados por um coro, mas a realização musical e retórica é tão forte e tão bem realizada que esta experiência, como os autores lhe chamam, resulta numa trabalho onde se atinge a perfeição.
A comprar, a ouvir, a reouvir, a pensar e repensar.
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8.5.08
Gottfried Finger
Nasceu nos anos cinquenta, do século XVII bem entendido, na bela cidade morava de Olmütz, hoje Olomouc. Gambista de elevado nível viajou pela Europa tendo assentado em Londres onde foi contemporâneo de Henry Purcell escrevendo a ode "Weep ye muses" aquando da morte deste último...
Depois de um concurso infeliz para a escolha do melhor compositor de ópera em Londres (1701), em que ficou em quarto lugar, abandonou a Inglaterra e viajou por Viena, Berlim, Breslau, (actualmente Wroclaw), Innsbruck, Heidelberg acabando por se fixar em Mannheim, seguindo a corte do duque de Karl Phillipe von Neuberg, onde foi acumulando postos. Conheceu Telemann e Heinichen. Morreu em 1730.
Descobri um disco deste compositor. Tenho adquirido alguns discos de editoras checas ultimamente, devo dizer que este Finger foi uma das pérolas mais interessantes desta pescaria.
Trata-se de um trabalho do ensemble Turbillon com Petr Wagner na viola da gamba. Conhecendo o ensemble Turbillon não me espanta o cuidado na interpretação e a qualidade musical do CD. O que me espanta mesmo é a variedade e força da música de Finger num estilo muito livre, ora num estilo tipicamente alemão, ora num estilo mais italianizante, ora afrancesado, ora boémio, onde Biber se cruza com Marais e onde Purcell não deixa de ter a sua marca, ora a solo, ora com baixo contínuo, a gamba discursa de forma livre e apaixonada mas o melhor é mesmo o stylus phantasticus tão germânico. Na música de Finger perpassa todo o seu cosmopolitismo ao qual não é indiferente a constante peregrinação do compositor por toda a Europa. Todos os estilos de Finger se fundem de forma verdadeiramente encantadora.
Junte-se a isto um bom texto de Robert Rawson, no qual aprendi algumas das coisas que aqui retransmito, e obtemos um CD de muito bom nível.
Finger é um compêndio do barroco. Este disco, chamado pura e simplesmente, "Gottfried Finger" (Sonatae, Baletti scordati, Aria et variationes) da editora ARTA tocou-me com o dedo de Finger.
P.S. Curiosamente Finger atravessou uma série de cidades que eu tanto estimo, desde Olomouc com as suas duas praças barrocas gémeas e que visitei ainda em tempos de fronteiras complicadas e depois revisitei em tempos menos carregados, sempre um pouco abandonada e com erva a crescer entre as pedras das vastas praças da antiga e florescente capital da Morávia imperial, hoje reduzida à condição de pequena cidade de província, até Innsbruck com o seu pequeno centro medieval rodeada por coroas de montanhas cobertas de neve, passando pela Mannheim que eu associo a um Inverno gélido com montanhas de neve atravessada a pé com dez graus abaixo de zero à procura de uma ópera que teimava em deixar-se ficar ao longe, passando pela linda Heidelberg com a sua Universidade onde físicos diligentes estudam, ainda hoje, a dissonância numa perspectiva matemática, passando por Londres e Viena, onde passei dias felizes ou, ainda, pela estranha Breslau, terra de um primo alemão sem pátria, sem cidade, apátrida na sua própria terra, órfão e desenraizado, Wroclaw de terra calcinada pela guerra e vandalizada pelos blocos horríveis das construções em série do "socialismo polaco"... Este Finger tem realmente um dedo que me toca.
Depois de um concurso infeliz para a escolha do melhor compositor de ópera em Londres (1701), em que ficou em quarto lugar, abandonou a Inglaterra e viajou por Viena, Berlim, Breslau, (actualmente Wroclaw), Innsbruck, Heidelberg acabando por se fixar em Mannheim, seguindo a corte do duque de Karl Phillipe von Neuberg, onde foi acumulando postos. Conheceu Telemann e Heinichen. Morreu em 1730.
Descobri um disco deste compositor. Tenho adquirido alguns discos de editoras checas ultimamente, devo dizer que este Finger foi uma das pérolas mais interessantes desta pescaria.
Trata-se de um trabalho do ensemble Turbillon com Petr Wagner na viola da gamba. Conhecendo o ensemble Turbillon não me espanta o cuidado na interpretação e a qualidade musical do CD. O que me espanta mesmo é a variedade e força da música de Finger num estilo muito livre, ora num estilo tipicamente alemão, ora num estilo mais italianizante, ora afrancesado, ora boémio, onde Biber se cruza com Marais e onde Purcell não deixa de ter a sua marca, ora a solo, ora com baixo contínuo, a gamba discursa de forma livre e apaixonada mas o melhor é mesmo o stylus phantasticus tão germânico. Na música de Finger perpassa todo o seu cosmopolitismo ao qual não é indiferente a constante peregrinação do compositor por toda a Europa. Todos os estilos de Finger se fundem de forma verdadeiramente encantadora.
Junte-se a isto um bom texto de Robert Rawson, no qual aprendi algumas das coisas que aqui retransmito, e obtemos um CD de muito bom nível.
Finger é um compêndio do barroco. Este disco, chamado pura e simplesmente, "Gottfried Finger" (Sonatae, Baletti scordati, Aria et variationes) da editora ARTA tocou-me com o dedo de Finger.
P.S. Curiosamente Finger atravessou uma série de cidades que eu tanto estimo, desde Olomouc com as suas duas praças barrocas gémeas e que visitei ainda em tempos de fronteiras complicadas e depois revisitei em tempos menos carregados, sempre um pouco abandonada e com erva a crescer entre as pedras das vastas praças da antiga e florescente capital da Morávia imperial, hoje reduzida à condição de pequena cidade de província, até Innsbruck com o seu pequeno centro medieval rodeada por coroas de montanhas cobertas de neve, passando pela Mannheim que eu associo a um Inverno gélido com montanhas de neve atravessada a pé com dez graus abaixo de zero à procura de uma ópera que teimava em deixar-se ficar ao longe, passando pela linda Heidelberg com a sua Universidade onde físicos diligentes estudam, ainda hoje, a dissonância numa perspectiva matemática, passando por Londres e Viena, onde passei dias felizes ou, ainda, pela estranha Breslau, terra de um primo alemão sem pátria, sem cidade, apátrida na sua própria terra, órfão e desenraizado, Wroclaw de terra calcinada pela guerra e vandalizada pelos blocos horríveis das construções em série do "socialismo polaco"... Este Finger tem realmente um dedo que me toca.
Etiquetas: Crítica de discos, Gottfried Finger
5.6.07
Uma voz por parte
Tenho entre as minhas mãos o CD alpha 79. Um disco já antigo de 2005. Um disco de perplexidades, como diria o outro. Arthur Schoonderwoerd, um pianista de grande talento e sensibilidade num instrumento de mecânica vienense de Johann Fritz, um instrumento cuja datação se situa entre 1807 e 1810. A orquestra Cristofori e Schoonderwoerd, em instrumentos originais, tocam os dois últimos concertos para piano e orquestra de Beethoven, dirige o próprio pianista.
Um disco algo estranho, a orquestra está reduzida a dois míseros violinos, primeiro e segundo, duas violas, dois violoncelos e um contrabaixo, sete cordas. Os sopros seguem a orquestração de Beethoven,
É um disco estranho, as sonoridades são verdadeiramente belas mas de câmara, o segundo andamento do concerto op. 58 é um maravilhoso mundo de sombras e nuances, não se vislumbra a força bruta que tantas vezes se opõe ao piano num duelo entre um bruto e Orfeu. Dir-se-ia antes um diálogo de sonhos sombrios e de sonoridades frágeis.
Tenho ouvido este disco nestes últimos dias, a par da maravilhosa missa em si menor de Bach por Frieder Bernius. Acho a música de Beethoven incrivelmente bem tocada neste disco, o ritmo é propulsivo sem correr desenfreadamente, a respiração faz viver a música, o piano tem um som lindíssimo, a mecânica é delicada e sensível, o som do piano é doce mas... ouvir os diálogos entre o piano e o primeiro violino, ou o segundo? Ouvir uma orquestra sem massa? E ir descobrindo, por outro lado, a filigrana transparente de toda a estrutura. Os sopros são perfeitos, os tímbales soam perfeitos mas há realmente algo que falta, falta o dramatismo, falta a presença dos violinos. Eu sei que um piano destes mal se ouve numa grande sala, que uma orquestra grande abafaria o piano, mas não foi Beethoven quem se queixou toda a vida do débil som que os seus instrumentos produziam?
E como o disco lá está a tocar, mais uma vez, ouço agora, e de novo, os diálogos com os sopros, flautas, oboés, fagotes, que beleza, que trompa! Momentos de um riqueza tímbrica sem par, e logo a seguir a "orquestra" no seu peso total e, mais uma vez, a insatisfação... falta algo, falta aquilo a que habitualmente chamamos Beethoven, é o próprio Beethoven que falta. É o respeito pelo homem e pelo artista que falta aqui, não, este disco é apenas uma bela, maravilhosa, oportunidade perdida.
Sei que a sala onde se estreou o concerto apenas tinhas lugar para 23, 24 instrumentistas, nesta gravação estão 21 (op. 58) e 22 (op. 73), contando com o piano. Mas não será fundamentalismo tonto querer levar o rigor histórico ao exagero de fazer estas obras, sobretudo no concerto op. 73 que é uma obra monumental, com dois violinos? É evidente que na altura de Beethoven as cordas graves estavam mais presentes do que hoje, em proporção bem entendido, mas fazer esta gravação com dois violinos? Ouço agora os primeiros compassos do concerto op. 73, o piano realiza o baixo contínuo nos tutti, os sons são belíssimos, os instrumentistas notáveis, mas onde está a lógica disto tudo? Mais três violinos e a gravação seria um paradigma, resta um acto falhado, apesar da beleza do som, apesar do piano, apesar da interpretação subtil de Schoonderwoerd, apesar das sonoridades históricas.
Mesmo tendo em conta que este disco é, para mim, uma oportunidade perdida, prefiro o trabalho sério de Schoonderwoerd à anedota musical Lang Lang. E páro de escrever para escutar de novo, e com mais atenção, o primeiro andamento do op. 73. Uma voz por parte: que absurdo, mas tão bem tocado!
Um disco algo estranho, a orquestra está reduzida a dois míseros violinos, primeiro e segundo, duas violas, dois violoncelos e um contrabaixo, sete cordas. Os sopros seguem a orquestração de Beethoven,
É um disco estranho, as sonoridades são verdadeiramente belas mas de câmara, o segundo andamento do concerto op. 58 é um maravilhoso mundo de sombras e nuances, não se vislumbra a força bruta que tantas vezes se opõe ao piano num duelo entre um bruto e Orfeu. Dir-se-ia antes um diálogo de sonhos sombrios e de sonoridades frágeis.
Tenho ouvido este disco nestes últimos dias, a par da maravilhosa missa em si menor de Bach por Frieder Bernius. Acho a música de Beethoven incrivelmente bem tocada neste disco, o ritmo é propulsivo sem correr desenfreadamente, a respiração faz viver a música, o piano tem um som lindíssimo, a mecânica é delicada e sensível, o som do piano é doce mas... ouvir os diálogos entre o piano e o primeiro violino, ou o segundo? Ouvir uma orquestra sem massa? E ir descobrindo, por outro lado, a filigrana transparente de toda a estrutura. Os sopros são perfeitos, os tímbales soam perfeitos mas há realmente algo que falta, falta o dramatismo, falta a presença dos violinos. Eu sei que um piano destes mal se ouve numa grande sala, que uma orquestra grande abafaria o piano, mas não foi Beethoven quem se queixou toda a vida do débil som que os seus instrumentos produziam?
E como o disco lá está a tocar, mais uma vez, ouço agora, e de novo, os diálogos com os sopros, flautas, oboés, fagotes, que beleza, que trompa! Momentos de um riqueza tímbrica sem par, e logo a seguir a "orquestra" no seu peso total e, mais uma vez, a insatisfação... falta algo, falta aquilo a que habitualmente chamamos Beethoven, é o próprio Beethoven que falta. É o respeito pelo homem e pelo artista que falta aqui, não, este disco é apenas uma bela, maravilhosa, oportunidade perdida.
Sei que a sala onde se estreou o concerto apenas tinhas lugar para 23, 24 instrumentistas, nesta gravação estão 21 (op. 58) e 22 (op. 73), contando com o piano. Mas não será fundamentalismo tonto querer levar o rigor histórico ao exagero de fazer estas obras, sobretudo no concerto op. 73 que é uma obra monumental, com dois violinos? É evidente que na altura de Beethoven as cordas graves estavam mais presentes do que hoje, em proporção bem entendido, mas fazer esta gravação com dois violinos? Ouço agora os primeiros compassos do concerto op. 73, o piano realiza o baixo contínuo nos tutti, os sons são belíssimos, os instrumentistas notáveis, mas onde está a lógica disto tudo? Mais três violinos e a gravação seria um paradigma, resta um acto falhado, apesar da beleza do som, apesar do piano, apesar da interpretação subtil de Schoonderwoerd, apesar das sonoridades históricas.
Mesmo tendo em conta que este disco é, para mim, uma oportunidade perdida, prefiro o trabalho sério de Schoonderwoerd à anedota musical Lang Lang. E páro de escrever para escutar de novo, e com mais atenção, o primeiro andamento do op. 73. Uma voz por parte: que absurdo, mas tão bem tocado!
Etiquetas: Alpha, Beethoven, Crítica de discos, Scoonderwoerd
4.6.07
Missa em Si menor
Uma obra que me toca profundamente, Bach não recicla, não parodia, Bach constrói uma espécie de obra de vida. Os palimpsestos, riscados de novo para a missa, oriundos de obras pré-existentes, são seleccionados pela sua qualidade. Creio que nesta obra Bach fala para o futuro, realiza, por força das circunstâncias e dos momentos da sua vida, a obra conceptual, impossível de escutar e realizar no seu tempo pela dimensão, pelo facto se se ter tornado anacrónica no exacto momento em que foi acabada.
Nem o príncipe de Dresden, Augusto o Forte falecido em 1733, nem Frederico Augusto II, deram a Bach o valor que este sabia ter. Bach está desiludido, deprimido, insatisfeito com a sua condição social, recordo a célebre carta de 1730 em que fala da sua despromoção social ao deixar de ser Mestre de Capela em Cöthen para passar a ser um simples director da música de Igreja de Leipzig, Cantor de Leipzig. Em 1733 Bach sente-se humilhado pelas desconsiderações do conselho municipal. Escreve na carta dedicada a Augusto que tem sofrido, aqui e ali, ofensas várias em Leipzig. A obra é parcialmente executada em Dresden (1734) mas o príncipe Augusto II (Augusto III da Polónia), não comparece.
A obra só vem a concluir-se em 1748/9. Bach morre pouco depois.
Saiu uma nova interpretação desta missa pela Carus, não seria novidade se não fosse a "última interpretação". O Kammerchor Stuttgart e a Barockoechester Stuttgart sob a direcção de Frieder Bernius, trazem-nos uma interpretação incomensurável da obra. O elemento mais visível do trabalho de Bernius é um baixo contínuo de uma força telúrica. Uma subtileza no tratamento da articulação, uma respiração e uma dignidade absolutas. O som é perfeito. Estou siderado com esta interpretação da missa em si menor.
Os cantores são Mechthild Bach, Daniel Taylor, Marcus Ullmann e Raimond Nolte. Não consigo destacar nada nem ninguém, talvez o Chiste Eleison, talvez o Benedictus nos transportem a uma dimensão superior... O Ossana dedicado a Augusto, o credo com o seu vivificante baixo contínuo e na sua estrutura arcaica. Fragmentos de eternidade por Bach na interpretação última, igual poderá haver, melhor é impossível. Creio que a concepção da obra de Bernius dá a este disco uma força, uma dignidade, uma coerência e unidade que são ofuscantes.
Circulam espirais no universo formados pelas notas iniciais do Christe que nunca se fecham a não ser nas ondas de colcheias do contraponto do Dona Nobis Pacem. Cordeiro de Deus: Dona nobis pacem. Bach: dai-nos a Paz.
Nem o príncipe de Dresden, Augusto o Forte falecido em 1733, nem Frederico Augusto II, deram a Bach o valor que este sabia ter. Bach está desiludido, deprimido, insatisfeito com a sua condição social, recordo a célebre carta de 1730 em que fala da sua despromoção social ao deixar de ser Mestre de Capela em Cöthen para passar a ser um simples director da música de Igreja de Leipzig, Cantor de Leipzig. Em 1733 Bach sente-se humilhado pelas desconsiderações do conselho municipal. Escreve na carta dedicada a Augusto que tem sofrido, aqui e ali, ofensas várias em Leipzig. A obra é parcialmente executada em Dresden (1734) mas o príncipe Augusto II (Augusto III da Polónia), não comparece.
A obra só vem a concluir-se em 1748/9. Bach morre pouco depois.
Saiu uma nova interpretação desta missa pela Carus, não seria novidade se não fosse a "última interpretação". O Kammerchor Stuttgart e a Barockoechester Stuttgart sob a direcção de Frieder Bernius, trazem-nos uma interpretação incomensurável da obra. O elemento mais visível do trabalho de Bernius é um baixo contínuo de uma força telúrica. Uma subtileza no tratamento da articulação, uma respiração e uma dignidade absolutas. O som é perfeito. Estou siderado com esta interpretação da missa em si menor.
Os cantores são Mechthild Bach, Daniel Taylor, Marcus Ullmann e Raimond Nolte. Não consigo destacar nada nem ninguém, talvez o Chiste Eleison, talvez o Benedictus nos transportem a uma dimensão superior... O Ossana dedicado a Augusto, o credo com o seu vivificante baixo contínuo e na sua estrutura arcaica. Fragmentos de eternidade por Bach na interpretação última, igual poderá haver, melhor é impossível. Creio que a concepção da obra de Bernius dá a este disco uma força, uma dignidade, uma coerência e unidade que são ofuscantes.
Circulam espirais no universo formados pelas notas iniciais do Christe que nunca se fecham a não ser nas ondas de colcheias do contraponto do Dona Nobis Pacem. Cordeiro de Deus: Dona nobis pacem. Bach: dai-nos a Paz.
Etiquetas: Bach, bwv232, Crítica de discos, Frieder Bernius, Johann Sebastian Bach, Messe in h-Moll, Missa em si menor
15.1.07
Novo Podcast 0005
Texto Base do Podcast005
Em 1692 Francesco II d’Este casa com Margherita Farnese. Francesco Antonio Mamiliano Pistocchi, compositor e cantor siciliano nascido em Palermo em 1659 (e falecido em Bologna em 1726) trabalha para Ranuccio Farnese, duque de Parma e primo de Margherita.
Os esponsais têm lugar em Modena, para as celebrações, que decorrem entre Julho e Agosto, estreia-se uma ópera no teatro Fontanelli de Modena em Julho. É o L’Ingresso Alla Gioventù de Claudio Nerone de Antonio Gianettini.
Pistocchio contracena como contralto ao lado do célebre castrato Siface.
Em Agosto de 1692 é a vez de Pistocchi estrear a sua Oratória Il Martirio de Santo Adriano, também em Modena, onde também canta o papel do Santo.
É uma Oratória em duas partes, com uma sinfonia a iniciar cada uma. Prossegue numa sucessão de recitativos e árias, sendo encerrada cada uma das partes por uma peça de conjunto: um dueto e um duplo dueto cantado intercaladamente. O tema é, bem entendido, a fidelidade conjugal e a constância da fé. A Oratória esconde alguma da mais bela música que se fazia em Itália na altura, ao melhor nível de um Bononcini.
Os intérpretes, na única gravação existente, são o soprano Patrizia Vacari em Natalia mulher do Santo, o contralto masculino Alessandro Carmignani (que se tem destacado pela tentativa de utilizar um timbre mais próximo do tenoril no seu canto) no papel que Pistocchi encarnou: o de Santo Adriano, o tenor Gianluca Ferrarini no papel de Claudio, ministro da corte de Massimiano, e amigo do Santo, e finalmente o baixo Sergio Foresti encarna o Imperador Maximiano que ordena a morte de Adriano. Adriano é um oficial romano que se converteu o catolicismo e que se recusa a abandonar a sua nova fé, mesmo quando instado a fazê-lo pelo seu amigo Claudio.
A cena decorre no século III. O libreto é do Poeta Romano Silvio Stampiglia homem da Arcádia, tão em voga na Europa do seu tempo.
Dirige Francesco Baroni. Uma gravação de 2002 que já não se encontra à venda em Portugal, vá-se saber porquê, da etiqueta SYMPHONIA.
A oratória decorre entre a cela onde Santo Adriano espera o martírio e a Sala de despacho do imperador. Nesta ária Natalia, mulher do Santo, também ela secretamente cristã, dedica-lhe toda a fé e apoio na hora díficil que atravessam... mas a sua fé triunfará sobre o tirano. Numa meditação pungente sobre a natureza do amor, Pistocchi dá-nos um fino retrato psicológico do amor que une o Santo e a sua amada mulher.
Claudio chega, o amigo do Santo tenta convencê-lo a renegar, fala-lhe na força incomensurável da Liberdade, do que se pode fazer com a mesma. A Ária Libertà é um hino que Pistocchi dedica à liberdade: Oh! Liberdade, quem não te preza!
A instrumentação desta oratória é em cinco partes, com as duas partes habituais de violino, duas partes de viola, alto e tenor, e baixo contínuo, aqui ricamente executado por dois violoncelos, dois violones, lirone, órgão, cravo (onde se senta Francesco Baroni – também o director desta produção), e duas tiorbas. O compositor utiliza ricamente esta exuberante orquestração, não só nas duas sinfonias, mas também nos recitativos, intensos e líricos, que não são apenas uma seca declamação dramática, mas antes belos trechos que tendem para o arioso, que encantam quem escuta como poucos numa obra da época. Ficamos de seguida com a sequência da segunda sinfonia, recitativo entre Claudio e Adriano e ária Como un Signo Dolente, entregue ao Santo que compara a suas dores às de um cisne que enfrenta a morte. Pistocchi constrói uma ária deslumbrante, uma obra prima de contenção e dor, que ele próprio cantou na estreia em 1692. Aqui o acompanhamento foi reduzido, os violinos calam-se e deixam dois violoncelos solistas dialogar com o Santo. Como em toda a obra, Pistocchi revela-se aqui um colorista refinado.
Como chora o cisne dolente
Quando sente,
Que o seu espírito p’ra morte caminha,
Assim geme est’alma minha;
A sua dor, a minha pena é infinda,
Mas são lágrimas de diversa sorte,
Ele chora, porque a morte é vinda,
E eu choro, porque anseio a morte.
Silvio Stampiglia 1664-1725
E o texto continua no podcast0005...
Em 1692 Francesco II d’Este casa com Margherita Farnese. Francesco Antonio Mamiliano Pistocchi, compositor e cantor siciliano nascido em Palermo em 1659 (e falecido em Bologna em 1726) trabalha para Ranuccio Farnese, duque de Parma e primo de Margherita.
Os esponsais têm lugar em Modena, para as celebrações, que decorrem entre Julho e Agosto, estreia-se uma ópera no teatro Fontanelli de Modena em Julho. É o L’Ingresso Alla Gioventù de Claudio Nerone de Antonio Gianettini.
Pistocchio contracena como contralto ao lado do célebre castrato Siface.
Em Agosto de 1692 é a vez de Pistocchi estrear a sua Oratória Il Martirio de Santo Adriano, também em Modena, onde também canta o papel do Santo.
É uma Oratória em duas partes, com uma sinfonia a iniciar cada uma. Prossegue numa sucessão de recitativos e árias, sendo encerrada cada uma das partes por uma peça de conjunto: um dueto e um duplo dueto cantado intercaladamente. O tema é, bem entendido, a fidelidade conjugal e a constância da fé. A Oratória esconde alguma da mais bela música que se fazia em Itália na altura, ao melhor nível de um Bononcini.
Os intérpretes, na única gravação existente, são o soprano Patrizia Vacari em Natalia mulher do Santo, o contralto masculino Alessandro Carmignani (que se tem destacado pela tentativa de utilizar um timbre mais próximo do tenoril no seu canto) no papel que Pistocchi encarnou: o de Santo Adriano, o tenor Gianluca Ferrarini no papel de Claudio, ministro da corte de Massimiano, e amigo do Santo, e finalmente o baixo Sergio Foresti encarna o Imperador Maximiano que ordena a morte de Adriano. Adriano é um oficial romano que se converteu o catolicismo e que se recusa a abandonar a sua nova fé, mesmo quando instado a fazê-lo pelo seu amigo Claudio.
A cena decorre no século III. O libreto é do Poeta Romano Silvio Stampiglia homem da Arcádia, tão em voga na Europa do seu tempo.
Dirige Francesco Baroni. Uma gravação de 2002 que já não se encontra à venda em Portugal, vá-se saber porquê, da etiqueta SYMPHONIA.
A oratória decorre entre a cela onde Santo Adriano espera o martírio e a Sala de despacho do imperador. Nesta ária Natalia, mulher do Santo, também ela secretamente cristã, dedica-lhe toda a fé e apoio na hora díficil que atravessam... mas a sua fé triunfará sobre o tirano. Numa meditação pungente sobre a natureza do amor, Pistocchi dá-nos um fino retrato psicológico do amor que une o Santo e a sua amada mulher.
Claudio chega, o amigo do Santo tenta convencê-lo a renegar, fala-lhe na força incomensurável da Liberdade, do que se pode fazer com a mesma. A Ária Libertà é um hino que Pistocchi dedica à liberdade: Oh! Liberdade, quem não te preza!
A instrumentação desta oratória é em cinco partes, com as duas partes habituais de violino, duas partes de viola, alto e tenor, e baixo contínuo, aqui ricamente executado por dois violoncelos, dois violones, lirone, órgão, cravo (onde se senta Francesco Baroni – também o director desta produção), e duas tiorbas. O compositor utiliza ricamente esta exuberante orquestração, não só nas duas sinfonias, mas também nos recitativos, intensos e líricos, que não são apenas uma seca declamação dramática, mas antes belos trechos que tendem para o arioso, que encantam quem escuta como poucos numa obra da época. Ficamos de seguida com a sequência da segunda sinfonia, recitativo entre Claudio e Adriano e ária Como un Signo Dolente, entregue ao Santo que compara a suas dores às de um cisne que enfrenta a morte. Pistocchi constrói uma ária deslumbrante, uma obra prima de contenção e dor, que ele próprio cantou na estreia em 1692. Aqui o acompanhamento foi reduzido, os violinos calam-se e deixam dois violoncelos solistas dialogar com o Santo. Como em toda a obra, Pistocchi revela-se aqui um colorista refinado.
Como chora o cisne dolente
Quando sente,
Que o seu espírito p’ra morte caminha,
Assim geme est’alma minha;
A sua dor, a minha pena é infinda,
Mas são lágrimas de diversa sorte,
Ele chora, porque a morte é vinda,
E eu choro, porque anseio a morte.
Silvio Stampiglia 1664-1725
E o texto continua no podcast0005...
Etiquetas: Crítica de discos, Óratoria, Pistocchi, Podcast, Poesia
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