15.1.07
Novo Podcast 0005
Texto Base do Podcast005
Em 1692 Francesco II d’Este casa com Margherita Farnese. Francesco Antonio Mamiliano Pistocchi, compositor e cantor siciliano nascido em Palermo em 1659 (e falecido em Bologna em 1726) trabalha para Ranuccio Farnese, duque de Parma e primo de Margherita.
Os esponsais têm lugar em Modena, para as celebrações, que decorrem entre Julho e Agosto, estreia-se uma ópera no teatro Fontanelli de Modena em Julho. É o L’Ingresso Alla Gioventù de Claudio Nerone de Antonio Gianettini.
Pistocchio contracena como contralto ao lado do célebre castrato Siface.
Em Agosto de 1692 é a vez de Pistocchi estrear a sua Oratória Il Martirio de Santo Adriano, também em Modena, onde também canta o papel do Santo.
É uma Oratória em duas partes, com uma sinfonia a iniciar cada uma. Prossegue numa sucessão de recitativos e árias, sendo encerrada cada uma das partes por uma peça de conjunto: um dueto e um duplo dueto cantado intercaladamente. O tema é, bem entendido, a fidelidade conjugal e a constância da fé. A Oratória esconde alguma da mais bela música que se fazia em Itália na altura, ao melhor nível de um Bononcini.
Os intérpretes, na única gravação existente, são o soprano Patrizia Vacari em Natalia mulher do Santo, o contralto masculino Alessandro Carmignani (que se tem destacado pela tentativa de utilizar um timbre mais próximo do tenoril no seu canto) no papel que Pistocchi encarnou: o de Santo Adriano, o tenor Gianluca Ferrarini no papel de Claudio, ministro da corte de Massimiano, e amigo do Santo, e finalmente o baixo Sergio Foresti encarna o Imperador Maximiano que ordena a morte de Adriano. Adriano é um oficial romano que se converteu o catolicismo e que se recusa a abandonar a sua nova fé, mesmo quando instado a fazê-lo pelo seu amigo Claudio.
A cena decorre no século III. O libreto é do Poeta Romano Silvio Stampiglia homem da Arcádia, tão em voga na Europa do seu tempo.
Dirige Francesco Baroni. Uma gravação de 2002 que já não se encontra à venda em Portugal, vá-se saber porquê, da etiqueta SYMPHONIA.
A oratória decorre entre a cela onde Santo Adriano espera o martírio e a Sala de despacho do imperador. Nesta ária Natalia, mulher do Santo, também ela secretamente cristã, dedica-lhe toda a fé e apoio na hora díficil que atravessam... mas a sua fé triunfará sobre o tirano. Numa meditação pungente sobre a natureza do amor, Pistocchi dá-nos um fino retrato psicológico do amor que une o Santo e a sua amada mulher.
Claudio chega, o amigo do Santo tenta convencê-lo a renegar, fala-lhe na força incomensurável da Liberdade, do que se pode fazer com a mesma. A Ária Libertà é um hino que Pistocchi dedica à liberdade: Oh! Liberdade, quem não te preza!
A instrumentação desta oratória é em cinco partes, com as duas partes habituais de violino, duas partes de viola, alto e tenor, e baixo contínuo, aqui ricamente executado por dois violoncelos, dois violones, lirone, órgão, cravo (onde se senta Francesco Baroni – também o director desta produção), e duas tiorbas. O compositor utiliza ricamente esta exuberante orquestração, não só nas duas sinfonias, mas também nos recitativos, intensos e líricos, que não são apenas uma seca declamação dramática, mas antes belos trechos que tendem para o arioso, que encantam quem escuta como poucos numa obra da época. Ficamos de seguida com a sequência da segunda sinfonia, recitativo entre Claudio e Adriano e ária Como un Signo Dolente, entregue ao Santo que compara a suas dores às de um cisne que enfrenta a morte. Pistocchi constrói uma ária deslumbrante, uma obra prima de contenção e dor, que ele próprio cantou na estreia em 1692. Aqui o acompanhamento foi reduzido, os violinos calam-se e deixam dois violoncelos solistas dialogar com o Santo. Como em toda a obra, Pistocchi revela-se aqui um colorista refinado.
Como chora o cisne dolente
Quando sente,
Que o seu espírito p’ra morte caminha,
Assim geme est’alma minha;
A sua dor, a minha pena é infinda,
Mas são lágrimas de diversa sorte,
Ele chora, porque a morte é vinda,
E eu choro, porque anseio a morte.
Silvio Stampiglia 1664-1725
E o texto continua no podcast0005...
Em 1692 Francesco II d’Este casa com Margherita Farnese. Francesco Antonio Mamiliano Pistocchi, compositor e cantor siciliano nascido em Palermo em 1659 (e falecido em Bologna em 1726) trabalha para Ranuccio Farnese, duque de Parma e primo de Margherita.
Os esponsais têm lugar em Modena, para as celebrações, que decorrem entre Julho e Agosto, estreia-se uma ópera no teatro Fontanelli de Modena em Julho. É o L’Ingresso Alla Gioventù de Claudio Nerone de Antonio Gianettini.
Pistocchio contracena como contralto ao lado do célebre castrato Siface.
Em Agosto de 1692 é a vez de Pistocchi estrear a sua Oratória Il Martirio de Santo Adriano, também em Modena, onde também canta o papel do Santo.
É uma Oratória em duas partes, com uma sinfonia a iniciar cada uma. Prossegue numa sucessão de recitativos e árias, sendo encerrada cada uma das partes por uma peça de conjunto: um dueto e um duplo dueto cantado intercaladamente. O tema é, bem entendido, a fidelidade conjugal e a constância da fé. A Oratória esconde alguma da mais bela música que se fazia em Itália na altura, ao melhor nível de um Bononcini.
Os intérpretes, na única gravação existente, são o soprano Patrizia Vacari em Natalia mulher do Santo, o contralto masculino Alessandro Carmignani (que se tem destacado pela tentativa de utilizar um timbre mais próximo do tenoril no seu canto) no papel que Pistocchi encarnou: o de Santo Adriano, o tenor Gianluca Ferrarini no papel de Claudio, ministro da corte de Massimiano, e amigo do Santo, e finalmente o baixo Sergio Foresti encarna o Imperador Maximiano que ordena a morte de Adriano. Adriano é um oficial romano que se converteu o catolicismo e que se recusa a abandonar a sua nova fé, mesmo quando instado a fazê-lo pelo seu amigo Claudio.
A cena decorre no século III. O libreto é do Poeta Romano Silvio Stampiglia homem da Arcádia, tão em voga na Europa do seu tempo.
Dirige Francesco Baroni. Uma gravação de 2002 que já não se encontra à venda em Portugal, vá-se saber porquê, da etiqueta SYMPHONIA.
A oratória decorre entre a cela onde Santo Adriano espera o martírio e a Sala de despacho do imperador. Nesta ária Natalia, mulher do Santo, também ela secretamente cristã, dedica-lhe toda a fé e apoio na hora díficil que atravessam... mas a sua fé triunfará sobre o tirano. Numa meditação pungente sobre a natureza do amor, Pistocchi dá-nos um fino retrato psicológico do amor que une o Santo e a sua amada mulher.
Claudio chega, o amigo do Santo tenta convencê-lo a renegar, fala-lhe na força incomensurável da Liberdade, do que se pode fazer com a mesma. A Ária Libertà é um hino que Pistocchi dedica à liberdade: Oh! Liberdade, quem não te preza!
A instrumentação desta oratória é em cinco partes, com as duas partes habituais de violino, duas partes de viola, alto e tenor, e baixo contínuo, aqui ricamente executado por dois violoncelos, dois violones, lirone, órgão, cravo (onde se senta Francesco Baroni – também o director desta produção), e duas tiorbas. O compositor utiliza ricamente esta exuberante orquestração, não só nas duas sinfonias, mas também nos recitativos, intensos e líricos, que não são apenas uma seca declamação dramática, mas antes belos trechos que tendem para o arioso, que encantam quem escuta como poucos numa obra da época. Ficamos de seguida com a sequência da segunda sinfonia, recitativo entre Claudio e Adriano e ária Como un Signo Dolente, entregue ao Santo que compara a suas dores às de um cisne que enfrenta a morte. Pistocchi constrói uma ária deslumbrante, uma obra prima de contenção e dor, que ele próprio cantou na estreia em 1692. Aqui o acompanhamento foi reduzido, os violinos calam-se e deixam dois violoncelos solistas dialogar com o Santo. Como em toda a obra, Pistocchi revela-se aqui um colorista refinado.
Como chora o cisne dolente
Quando sente,
Que o seu espírito p’ra morte caminha,
Assim geme est’alma minha;
A sua dor, a minha pena é infinda,
Mas são lágrimas de diversa sorte,
Ele chora, porque a morte é vinda,
E eu choro, porque anseio a morte.
Silvio Stampiglia 1664-1725
E o texto continua no podcast0005...
Etiquetas: Crítica de discos, Óratoria, Pistocchi, Podcast, Poesia
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