
28.6.11
Um feliz aniversário
Texto Publicado originalmente no jornal "O Diabo"
Henrique Silveira – crítico
Concerto de aniversário da Orquestra Metropolitana de Lisboa, 9 de Junho no Grande Auditório do CCB com casa a três quartos, abertura Egmont, concerto op. 64 para violino e orquestra de Mendelssohn com Augustin Dumay no violino, sinfonia nº6, pastoral, de Beethoven; direcção de Michael Zilm.
Este concerto foi uma celebração de aniversário que reuniu Zilm de novo à Metropolitana de Lisboa, o trabalho que este director tem realizado com a orquestra tem sido de grande nível e as suas qualidades são evidentes, foi mais uma vez com grande prazer que assistimos à sua direcção eficaz e directa, sem gestos excessivos mas com evidente paixão e um profundo conhecimento das partituras que acompanha e dá segurança aos músicos. Zilm trabalha o incontornável Beethoven com uma excelência rara, todos os detalhes da partitura estão lá: todos os crescendos e diminuendos, todos as acentuações, com Zilm não há pequenas e grandes notas. Mas o mais importante é a poesia que coloca no fraseado e a qualidade da massa e da coesão sonora e orquestral. É uma lição ver Zilm dirigir e isso reflecte-se na prestação orquestral.
Assim Egmont, apesar de uma entrada desatenta da orquestra acabou com grande força e energia, própria de Beethoven.
Seguiu-se um concerto de Mendelssohn com um homem também muito ligado à Metropolitana, Dumay, tem uma excelente técnica do violino e um grande som, apenas tenho a apontar a falta de nuance no seu som, Dumay toca entre o meio-forte e o fortíssimo, abusando da sonoridade e sendo às vezes demasiado agreste na sua sonoridade que poderia ser mais aveludada nos momentos de maior recolhimento. De resto dois andamentos rápidos com grande força e energia e um andamento central com uma excelente entoação mas com alguma falta de matizes subtis.
A obra final, a “Pastoral” de Beethoven teve da parte de Zilm algum deleite no som, gostámos do segundo andamento, “cena à beiro do regato”, em que o fluir dos violoncelos em soli e restantes cordas, embalou o canto das madeiras, seguiu-se uma “alegre reunião de camponeses” divertida e vigorosa interrompida por uma violenta “tempestade” e rematada por um andamento final em que as sombras se dissiparam e a alegria regressou após a violência da tempestade. A orquestra correspondeu bem às solicitações do maestro e houve ligação.
A leitura de Zilm apenas pecou por alguma parcimónia nos tempos, faltando um certo elemento de surpresa e tensão, por outro lado a leitura agreste de Dumay e alguns deslizes pequenos nas trompas impediram que este concerto fosse perfeito, ficando ao nível do muito bom.
Espera-se que a Metropolitana continue por muitos anos, para além dos 19 anos festejados, livre de problemas financeiros que ainda a afectam e que continue a contribuir para a música em Portugal como o tem feito até aqui.
****
Henrique Silveira – crítico
Concerto de aniversário da Orquestra Metropolitana de Lisboa, 9 de Junho no Grande Auditório do CCB com casa a três quartos, abertura Egmont, concerto op. 64 para violino e orquestra de Mendelssohn com Augustin Dumay no violino, sinfonia nº6, pastoral, de Beethoven; direcção de Michael Zilm.
Este concerto foi uma celebração de aniversário que reuniu Zilm de novo à Metropolitana de Lisboa, o trabalho que este director tem realizado com a orquestra tem sido de grande nível e as suas qualidades são evidentes, foi mais uma vez com grande prazer que assistimos à sua direcção eficaz e directa, sem gestos excessivos mas com evidente paixão e um profundo conhecimento das partituras que acompanha e dá segurança aos músicos. Zilm trabalha o incontornável Beethoven com uma excelência rara, todos os detalhes da partitura estão lá: todos os crescendos e diminuendos, todos as acentuações, com Zilm não há pequenas e grandes notas. Mas o mais importante é a poesia que coloca no fraseado e a qualidade da massa e da coesão sonora e orquestral. É uma lição ver Zilm dirigir e isso reflecte-se na prestação orquestral.
Assim Egmont, apesar de uma entrada desatenta da orquestra acabou com grande força e energia, própria de Beethoven.
Seguiu-se um concerto de Mendelssohn com um homem também muito ligado à Metropolitana, Dumay, tem uma excelente técnica do violino e um grande som, apenas tenho a apontar a falta de nuance no seu som, Dumay toca entre o meio-forte e o fortíssimo, abusando da sonoridade e sendo às vezes demasiado agreste na sua sonoridade que poderia ser mais aveludada nos momentos de maior recolhimento. De resto dois andamentos rápidos com grande força e energia e um andamento central com uma excelente entoação mas com alguma falta de matizes subtis.
A obra final, a “Pastoral” de Beethoven teve da parte de Zilm algum deleite no som, gostámos do segundo andamento, “cena à beiro do regato”, em que o fluir dos violoncelos em soli e restantes cordas, embalou o canto das madeiras, seguiu-se uma “alegre reunião de camponeses” divertida e vigorosa interrompida por uma violenta “tempestade” e rematada por um andamento final em que as sombras se dissiparam e a alegria regressou após a violência da tempestade. A orquestra correspondeu bem às solicitações do maestro e houve ligação.
A leitura de Zilm apenas pecou por alguma parcimónia nos tempos, faltando um certo elemento de surpresa e tensão, por outro lado a leitura agreste de Dumay e alguns deslizes pequenos nas trompas impediram que este concerto fosse perfeito, ficando ao nível do muito bom.
Espera-se que a Metropolitana continue por muitos anos, para além dos 19 anos festejados, livre de problemas financeiros que ainda a afectam e que continue a contribuir para a música em Portugal como o tem feito até aqui.
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Etiquetas: Beethoven, Crítica de Concertos, Orquestra Metropolitana, Zilm
Mestre de capela incógnito
Texto Publicado originalmente no jornal "O Diabo"
Henrique Silveira – crítico
Programa de encher o olho com abertura de Fidelio, recitativo e ária de concerto Ah! Perfido!... e sinfonia nº9 em ré menor, tudo obras de Beethoven, na Fundação Gulbenkian a 3 de Junho com casa cheia, direcção de Bertrand de Billy. Coro e orquestra Gulbenkian. Solistas: Adina Aaron, soprano, cantou ária e sinfonia, Adrineh Simonian, meio soprano, Charles Reid, tenor e Boaz Daniel, barítono.
A primeira parte era apenas um aquecimento, a abertura de Fidelio foi tocada com energia e convicção mas com um vibrato nas cordas algo excessivo. Seguiu-se uma obra da juventude de Beethoven, inspirada fortemente no modelo mozarteano. A soprano Adina Aaron mostrou uma voz muito bonita, com grande densidade nos graves e brilho nos agudos, foi enérgica e entusiástica. No entanto, a sua interpretação pecou por ser demasiado enfática e melodramática e por abusar de um vibrato pesadão e de um estilo mais apropriado ao romantismo tardio do que a Beethoven. O seu entusiasmo juvenil levou-a a perder a linha do tom num momento crucial do allegro final e a gritar de forma excessiva. Mais contenção e domínio da respiração também se exigem. Adina Aaron mostrou que tem um grande futuro como cantora verdiana, repertório que, aliás, já aborda.
A nona sinfonia de Beethoven começou de forma agreste com um falhanço brutal da segunda trompa logo na entrada e uma interpretação pesadíssima e muito arrastada do allegro ma non troppo, un poco maestoso que mais parecia a marcha fúnebre de um paquiderme falecido no jardim zoológico do que um andamento que deve ser rápido mas não demasiado. Notei que o naipe de trompas esteve particularmente inseguro, sobretudo as trompas graves, andando a 4ª trompa sempre a coxear atrás das notas ao longo de toda a sinfonia.
Depois de um scherzo com energia e muito bem sublinhado pelos sopros e onde as cordas foram particularmente coesas passámos para o andamento lento que se queria poético mas que nos pareceu apenas rotineiro: faltou definição nos planos sonoros, nas articulações e nos jogos de subtileza.
O final, com o grandioso hino à alegria de Schiller, foi tocado com empenho e denodo quer pela orquestra, quer pelo gigantesco coro Gulbenkian. No meu entender em número excessivo para a obra e as dimensões da sala e orquestra. O que se notou aqui foi a falta de preparação dos detalhes, sobretudo nas partes muito rápidas, que acabaram por ser ofegantes e tumultuosas, em vez de serem enérgicas e com grande precisão. Penso que faltaram ensaios para se apurar com perfeição esta obra que é de um enorme grau de dificuldade técnica e artística.
Os solistas estiveram relativamente bem, mas sem se poder afirmar que foram perfeitos, o que atendendo à dificuldade das suas partes já é um feito.
O maestro que preparou o coro nem veio agradecer ao palco, nem figura qualquer menção sobre o seu nome e currículo no programa. Quem foi? Fica uma palavra para o seu trabalho de qualidade ao conseguir dar coesão a um grupo tão grande de cantores.
***
Henrique Silveira – crítico
Programa de encher o olho com abertura de Fidelio, recitativo e ária de concerto Ah! Perfido!... e sinfonia nº9 em ré menor, tudo obras de Beethoven, na Fundação Gulbenkian a 3 de Junho com casa cheia, direcção de Bertrand de Billy. Coro e orquestra Gulbenkian. Solistas: Adina Aaron, soprano, cantou ária e sinfonia, Adrineh Simonian, meio soprano, Charles Reid, tenor e Boaz Daniel, barítono.
A primeira parte era apenas um aquecimento, a abertura de Fidelio foi tocada com energia e convicção mas com um vibrato nas cordas algo excessivo. Seguiu-se uma obra da juventude de Beethoven, inspirada fortemente no modelo mozarteano. A soprano Adina Aaron mostrou uma voz muito bonita, com grande densidade nos graves e brilho nos agudos, foi enérgica e entusiástica. No entanto, a sua interpretação pecou por ser demasiado enfática e melodramática e por abusar de um vibrato pesadão e de um estilo mais apropriado ao romantismo tardio do que a Beethoven. O seu entusiasmo juvenil levou-a a perder a linha do tom num momento crucial do allegro final e a gritar de forma excessiva. Mais contenção e domínio da respiração também se exigem. Adina Aaron mostrou que tem um grande futuro como cantora verdiana, repertório que, aliás, já aborda.
A nona sinfonia de Beethoven começou de forma agreste com um falhanço brutal da segunda trompa logo na entrada e uma interpretação pesadíssima e muito arrastada do allegro ma non troppo, un poco maestoso que mais parecia a marcha fúnebre de um paquiderme falecido no jardim zoológico do que um andamento que deve ser rápido mas não demasiado. Notei que o naipe de trompas esteve particularmente inseguro, sobretudo as trompas graves, andando a 4ª trompa sempre a coxear atrás das notas ao longo de toda a sinfonia.
Depois de um scherzo com energia e muito bem sublinhado pelos sopros e onde as cordas foram particularmente coesas passámos para o andamento lento que se queria poético mas que nos pareceu apenas rotineiro: faltou definição nos planos sonoros, nas articulações e nos jogos de subtileza.
O final, com o grandioso hino à alegria de Schiller, foi tocado com empenho e denodo quer pela orquestra, quer pelo gigantesco coro Gulbenkian. No meu entender em número excessivo para a obra e as dimensões da sala e orquestra. O que se notou aqui foi a falta de preparação dos detalhes, sobretudo nas partes muito rápidas, que acabaram por ser ofegantes e tumultuosas, em vez de serem enérgicas e com grande precisão. Penso que faltaram ensaios para se apurar com perfeição esta obra que é de um enorme grau de dificuldade técnica e artística.
Os solistas estiveram relativamente bem, mas sem se poder afirmar que foram perfeitos, o que atendendo à dificuldade das suas partes já é um feito.
O maestro que preparou o coro nem veio agradecer ao palco, nem figura qualquer menção sobre o seu nome e currículo no programa. Quem foi? Fica uma palavra para o seu trabalho de qualidade ao conseguir dar coesão a um grupo tão grande de cantores.
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Etiquetas: Beethoven, Coro Gulbenkian, Crítica de Concertos, Gulbenkian, Orquestra Gulbenkian
29.2.08
Épico - Deslumbrante - Mágico
Depois de uns dias ausentes em Nápoles e depois de uma violenta gripe cá estou de novo a escrever. Mas hoje não é um dia qualquer: acabei de escutar a incrível gravação da sétima de Beethoven por Jos van Immerseel a dirigir a orquestra Anima Eterna incluída na integral que acaba de sair. Devo dizer que a sensação de maravilhamento e encantamento pela força épica da música de Beethoven ainda me percorre todos os vasos do corpo. Não há palavras que consigam descrever a forma como o génio de Beethoven nos pode atingir através desta música e desta interpretação arrebatada e transcendente. É de ouvir e deixar a comoção entrar...
Se o resto for assim não vou dormir esta noite e esta será certamente a melhor integral das sinfonias de Beethoven.
Se o resto for assim não vou dormir esta noite e esta será certamente a melhor integral das sinfonias de Beethoven.
Etiquetas: Beethoven, Immerseel, Integral
16.6.07
Thielemann dirige Brahms e Beethoven
Um disco com a primeira sinfonia de Brahms e a abertura Egmont de Beethoven, toca a Filarmónica de Munique.
Logo a abrir o peso paquidérmico de um Brahms empastelado e ultra-romântico, um andante cheio de rubatto piroso e massa no cordame, lentíssimo. O gracioso do Allegretto esbarra nas âncoras de pizzicati carregados nos graves e no excesso de velocidade que transforma a graça numa correria desenfreada sem tempo para respiração, a entrada do último andamento é um desenrolar de clichês sem imaginação nem estrutura, sempre com a sonoridade pesada das cordas e com esforçandos pesadíssimos, o resto é uma massa informe.
O Egmont ainda é pior, lentíssimo, sem alma nem chama, de uma pretensão sem limites, com um som de estarrecer e um vibrato dos violinos que já nem se percebe se não é sempre feito em sforzando; uma interpretação kitch do pior que já ouvi. Escapa um pouco a parte subsequente à morte de Egmont, que tem um pouco mais de força, mas que mantém os erros já mencionados.
Uma interpretação pesada, espessa, carregada do vibrato. Como é possível que uma orquestra tão boa, ao ser dirigida por uma batuta tão pesada e estúpida consiga tocar de forma tão arrastada e datada?
Thielemann tenta contrariar a tendência da direcção que ele considera "light" de Rattle, que o alemão gostaria de substituir como director da Berliner. Esta direcção, à procura de um som alemão que não existe, não é inteligente, é uma reacção, é um exagero, uma caricatura de Karajan.
Basta ler Wagner, no seu pequeno texto sobre direcção de orquestra, para perceber quanto Thielemann está errado. No tempo em que Wagner dirigia Beethoven ainda se tocava com trompas naturais e cordas de tripa. É uma erro dizer que Thielemann dirige como se dirigisse Wagner. Wagner reclama vivamente, no seu livro, contra interpretações arrastadas, pomposas, sem força interior, lentas, sem vivacidade e energia, absurdamente pesadas nos andamentos lentos. A forma como se tolera o Wagner mal tocado de hoje, e se acha que "tocar à Wagner" é a porcaria que Thielemann faz neste Beethoven e Brahms, está a anos luz (melhor dizendo: séculos) do que o próprio pretendia para a sua música, é uma afirmação grosseira e carregada de preconceito, é irresponsável porque labora num erro e leva o leitor a manter esse erro no seu inconsciente. Existem (literalmente) milhares de anotações do próprio Wagner, nas instruções de ensaio da Tetralogia, para não parar, não arrastar, levar a música para a frente, ser leve, não sobrecarregar. No caso wagneriano, como em muitos outros, existem dois tipos de interpretações: as inspiradas e que vivem a música e as outras. Neste disco Thielemann está na segunda divisão.
Um disco que não vale a pena dissecar, estudar, detalhar mais, aliás Thielemann também não o faz, o som espesso é a sua meta, o peso e a pomposidade sonora são o resultado. Horrendo.
Recomendo que não se compre este disco. Bola preta. O melómano com interesse neste tipo de interpretações deve recorrer a Karajan, um celebrante muitíssimo mais inspirado do que este ressabiado Thielemann.
Um disco da multinacional Universal Music, o label é o aviltado Deutsche G
Logo a abrir o peso paquidérmico de um Brahms empastelado e ultra-romântico, um andante cheio de rubatto piroso e massa no cordame, lentíssimo. O gracioso do Allegretto esbarra nas âncoras de pizzicati carregados nos graves e no excesso de velocidade que transforma a graça numa correria desenfreada sem tempo para respiração, a entrada do último andamento é um desenrolar de clichês sem imaginação nem estrutura, sempre com a sonoridade pesada das cordas e com esforçandos pesadíssimos, o resto é uma massa informe.
O Egmont ainda é pior, lentíssimo, sem alma nem chama, de uma pretensão sem limites, com um som de estarrecer e um vibrato dos violinos que já nem se percebe se não é sempre feito em sforzando; uma interpretação kitch do pior que já ouvi. Escapa um pouco a parte subsequente à morte de Egmont, que tem um pouco mais de força, mas que mantém os erros já mencionados.
Uma interpretação pesada, espessa, carregada do vibrato. Como é possível que uma orquestra tão boa, ao ser dirigida por uma batuta tão pesada e estúpida consiga tocar de forma tão arrastada e datada?
Thielemann tenta contrariar a tendência da direcção que ele considera "light" de Rattle, que o alemão gostaria de substituir como director da Berliner. Esta direcção, à procura de um som alemão que não existe, não é inteligente, é uma reacção, é um exagero, uma caricatura de Karajan.
Basta ler Wagner, no seu pequeno texto sobre direcção de orquestra, para perceber quanto Thielemann está errado. No tempo em que Wagner dirigia Beethoven ainda se tocava com trompas naturais e cordas de tripa. É uma erro dizer que Thielemann dirige como se dirigisse Wagner. Wagner reclama vivamente, no seu livro, contra interpretações arrastadas, pomposas, sem força interior, lentas, sem vivacidade e energia, absurdamente pesadas nos andamentos lentos. A forma como se tolera o Wagner mal tocado de hoje, e se acha que "tocar à Wagner" é a porcaria que Thielemann faz neste Beethoven e Brahms, está a anos luz (melhor dizendo: séculos) do que o próprio pretendia para a sua música, é uma afirmação grosseira e carregada de preconceito, é irresponsável porque labora num erro e leva o leitor a manter esse erro no seu inconsciente. Existem (literalmente) milhares de anotações do próprio Wagner, nas instruções de ensaio da Tetralogia, para não parar, não arrastar, levar a música para a frente, ser leve, não sobrecarregar. No caso wagneriano, como em muitos outros, existem dois tipos de interpretações: as inspiradas e que vivem a música e as outras. Neste disco Thielemann está na segunda divisão.
Um disco que não vale a pena dissecar, estudar, detalhar mais, aliás Thielemann também não o faz, o som espesso é a sua meta, o peso e a pomposidade sonora são o resultado. Horrendo.
Recomendo que não se compre este disco. Bola preta. O melómano com interesse neste tipo de interpretações deve recorrer a Karajan, um celebrante muitíssimo mais inspirado do que este ressabiado Thielemann.
Um disco da multinacional Universal Music, o label é o aviltado Deutsche G
Etiquetas: Beethoven, Brahms, Deutsche Grammophon, Münchner Philharmoniker, Thielemann, Wagner
5.6.07
Uma voz por parte
Tenho entre as minhas mãos o CD alpha 79. Um disco já antigo de 2005. Um disco de perplexidades, como diria o outro. Arthur Schoonderwoerd, um pianista de grande talento e sensibilidade num instrumento de mecânica vienense de Johann Fritz, um instrumento cuja datação se situa entre 1807 e 1810. A orquestra Cristofori e Schoonderwoerd, em instrumentos originais, tocam os dois últimos concertos para piano e orquestra de Beethoven, dirige o próprio pianista.
Um disco algo estranho, a orquestra está reduzida a dois míseros violinos, primeiro e segundo, duas violas, dois violoncelos e um contrabaixo, sete cordas. Os sopros seguem a orquestração de Beethoven,
É um disco estranho, as sonoridades são verdadeiramente belas mas de câmara, o segundo andamento do concerto op. 58 é um maravilhoso mundo de sombras e nuances, não se vislumbra a força bruta que tantas vezes se opõe ao piano num duelo entre um bruto e Orfeu. Dir-se-ia antes um diálogo de sonhos sombrios e de sonoridades frágeis.
Tenho ouvido este disco nestes últimos dias, a par da maravilhosa missa em si menor de Bach por Frieder Bernius. Acho a música de Beethoven incrivelmente bem tocada neste disco, o ritmo é propulsivo sem correr desenfreadamente, a respiração faz viver a música, o piano tem um som lindíssimo, a mecânica é delicada e sensível, o som do piano é doce mas... ouvir os diálogos entre o piano e o primeiro violino, ou o segundo? Ouvir uma orquestra sem massa? E ir descobrindo, por outro lado, a filigrana transparente de toda a estrutura. Os sopros são perfeitos, os tímbales soam perfeitos mas há realmente algo que falta, falta o dramatismo, falta a presença dos violinos. Eu sei que um piano destes mal se ouve numa grande sala, que uma orquestra grande abafaria o piano, mas não foi Beethoven quem se queixou toda a vida do débil som que os seus instrumentos produziam?
E como o disco lá está a tocar, mais uma vez, ouço agora, e de novo, os diálogos com os sopros, flautas, oboés, fagotes, que beleza, que trompa! Momentos de um riqueza tímbrica sem par, e logo a seguir a "orquestra" no seu peso total e, mais uma vez, a insatisfação... falta algo, falta aquilo a que habitualmente chamamos Beethoven, é o próprio Beethoven que falta. É o respeito pelo homem e pelo artista que falta aqui, não, este disco é apenas uma bela, maravilhosa, oportunidade perdida.
Sei que a sala onde se estreou o concerto apenas tinhas lugar para 23, 24 instrumentistas, nesta gravação estão 21 (op. 58) e 22 (op. 73), contando com o piano. Mas não será fundamentalismo tonto querer levar o rigor histórico ao exagero de fazer estas obras, sobretudo no concerto op. 73 que é uma obra monumental, com dois violinos? É evidente que na altura de Beethoven as cordas graves estavam mais presentes do que hoje, em proporção bem entendido, mas fazer esta gravação com dois violinos? Ouço agora os primeiros compassos do concerto op. 73, o piano realiza o baixo contínuo nos tutti, os sons são belíssimos, os instrumentistas notáveis, mas onde está a lógica disto tudo? Mais três violinos e a gravação seria um paradigma, resta um acto falhado, apesar da beleza do som, apesar do piano, apesar da interpretação subtil de Schoonderwoerd, apesar das sonoridades históricas.
Mesmo tendo em conta que este disco é, para mim, uma oportunidade perdida, prefiro o trabalho sério de Schoonderwoerd à anedota musical Lang Lang. E páro de escrever para escutar de novo, e com mais atenção, o primeiro andamento do op. 73. Uma voz por parte: que absurdo, mas tão bem tocado!
Um disco algo estranho, a orquestra está reduzida a dois míseros violinos, primeiro e segundo, duas violas, dois violoncelos e um contrabaixo, sete cordas. Os sopros seguem a orquestração de Beethoven,
É um disco estranho, as sonoridades são verdadeiramente belas mas de câmara, o segundo andamento do concerto op. 58 é um maravilhoso mundo de sombras e nuances, não se vislumbra a força bruta que tantas vezes se opõe ao piano num duelo entre um bruto e Orfeu. Dir-se-ia antes um diálogo de sonhos sombrios e de sonoridades frágeis.
Tenho ouvido este disco nestes últimos dias, a par da maravilhosa missa em si menor de Bach por Frieder Bernius. Acho a música de Beethoven incrivelmente bem tocada neste disco, o ritmo é propulsivo sem correr desenfreadamente, a respiração faz viver a música, o piano tem um som lindíssimo, a mecânica é delicada e sensível, o som do piano é doce mas... ouvir os diálogos entre o piano e o primeiro violino, ou o segundo? Ouvir uma orquestra sem massa? E ir descobrindo, por outro lado, a filigrana transparente de toda a estrutura. Os sopros são perfeitos, os tímbales soam perfeitos mas há realmente algo que falta, falta o dramatismo, falta a presença dos violinos. Eu sei que um piano destes mal se ouve numa grande sala, que uma orquestra grande abafaria o piano, mas não foi Beethoven quem se queixou toda a vida do débil som que os seus instrumentos produziam?
E como o disco lá está a tocar, mais uma vez, ouço agora, e de novo, os diálogos com os sopros, flautas, oboés, fagotes, que beleza, que trompa! Momentos de um riqueza tímbrica sem par, e logo a seguir a "orquestra" no seu peso total e, mais uma vez, a insatisfação... falta algo, falta aquilo a que habitualmente chamamos Beethoven, é o próprio Beethoven que falta. É o respeito pelo homem e pelo artista que falta aqui, não, este disco é apenas uma bela, maravilhosa, oportunidade perdida.
Sei que a sala onde se estreou o concerto apenas tinhas lugar para 23, 24 instrumentistas, nesta gravação estão 21 (op. 58) e 22 (op. 73), contando com o piano. Mas não será fundamentalismo tonto querer levar o rigor histórico ao exagero de fazer estas obras, sobretudo no concerto op. 73 que é uma obra monumental, com dois violinos? É evidente que na altura de Beethoven as cordas graves estavam mais presentes do que hoje, em proporção bem entendido, mas fazer esta gravação com dois violinos? Ouço agora os primeiros compassos do concerto op. 73, o piano realiza o baixo contínuo nos tutti, os sons são belíssimos, os instrumentistas notáveis, mas onde está a lógica disto tudo? Mais três violinos e a gravação seria um paradigma, resta um acto falhado, apesar da beleza do som, apesar do piano, apesar da interpretação subtil de Schoonderwoerd, apesar das sonoridades históricas.
Mesmo tendo em conta que este disco é, para mim, uma oportunidade perdida, prefiro o trabalho sério de Schoonderwoerd à anedota musical Lang Lang. E páro de escrever para escutar de novo, e com mais atenção, o primeiro andamento do op. 73. Uma voz por parte: que absurdo, mas tão bem tocado!
Etiquetas: Alpha, Beethoven, Crítica de discos, Scoonderwoerd
25.5.07
Com atraso mas boa vontade - Salzburg na Páscoa e Lang Lang em Lisboa
Crónicas atrasadas do Festival de Salzburg
Bronfmam perfeito
Dia 1 de Abril. Salzburg, Rattle dirigiu a Filarmónica de Berlim. Tivemos o privilégio de escutar Efim Bronfmam no terceiro concerto de Rachmaninoff.
Espantou o diálogo ímpar entre a orquestra de Berlim e o pianista. Este exibiu um toucher delicadíssimo, de uma suavidade imperceptível no ataque, que mantém, quer nos pianíssimos, quer nos fortíssimos, em que ombreia com a orquestra em termos de pura potência sonora. Belíssimo andamento lento, cheio de poesia com sopros em plano elevadíssimo. Nos andamentos rápidos espantou a coordenação entre o fraseado do pianista e da orquestra, num diálogo igual e excelente.
Bronfmam é um pianista pouco conhecido em Portugal, mais dado aos Pollini, Kissin ou Sokolov que nos visitam regularmente. Tem havido uma tremenda lacuna dos nossos programadores ao esquecerem-se do pianista israelita de origem russa. Ao cuidado da Fundação Gulbenkian, da Casa da Música e do CCB.
Lang Lang: e lá matou o Prokofiev mais uma vez
A 2 de Abril foi a vez de Lang Lang, se apresentar com o terceiro concerto de Prokofiev. Foi dito, pela crítica internacional, que Lang Lang é um pianista virtuoso mas maquinal, a nossa impressão é ainda pior, Lang Lang é uma espécie de boneco articulado que dá pulinhos ao piano e abana a cabeça mantendo sempre um sorriso irritante, olhando para o público de vez em quando sempre com ar de que aquilo é tudo muito trivial e que ele domina a coisa sem necessidade sequer de estar atento ao que toca. Tudo isso seria dispiciendo se o resultado não fosse confrangedor, Lang Lang não tem envergadura física para o volume sonoro necessário a ombrear com uma orquestra de plena formação sinfónica, toca... toca, mas não se ouve. No andamento mais poético, o segundo Andantino, Lang Lang foi frio e não teve capacidade para transmitir a tortuosa linha de Prokofiev. No último andamento aconteceu o pior, Lang Lang chegou mesmo a andar desfasado da orquestra, correndo a um ritmo estranho e despropositado nas partes mais expostas o que a um nível destes é surpreendente. O público foi muito menos caloroso do que com Bronfmam, mas acabou por ser entusiasta, não é só em Portugal que o público é demasiado generoso...
Um concerto que acabou em beleza com a sinfonieta de Janacek, com um impressinante banda suplementar de metais que enriqueceu o som da Filarmónica de Berlim e contribuiu para um final verdadeiramente empolgante.
Os concertos de câmara, aos preços muito mais módicos de vinte euros, no Mozarteum, foram um complemento excelente de um Festival de altíssimo nível.
Para o ano que vem há mais, com a Valquíria como cabeça de cartaz.
P.S.: Vem este texto que reciclei do meu diário a propósito de Lang Lang ontem na Gulbenkian, se Lang Lang assassinou denodadamente o pobre do Prokofiev em Salzburg, ontem o desgraçado do Beethoven foi massacrado, estralhaçado, cortado em postas e espalhado aos quatro ventos. Uma técnica de dedilhação invejável, um sentido rítmico inacreditável (soluçante e sem fluxo discursivo), falta de domínio do pedal (serve mais para bater o compasso), retórica desconexa, soluções extemporâneas apenas pelo efeito fácil e a surpresa de circo, esforçandos apalermados e a despropósito, escalas sem uniformidade feitas a acelerar sem nexo, falta de cultura musical e de sentido estilístico, habilidades de macaco amestrado e gestos inúteis. Depois seguem-se Rubatos imbecis e tempos errados nos solos, cadências foleiras. Falta de som, agressividade nas pancadas dadas no teclado que soam agrestes, trilos que soam a lata a chocalhar. Falta de presença dos dedos no teclados com ataques francamente maus. Pianíssimos que às vezes pareciam dizer coisas bonitas rapidamente assassinados por uma manobra kitsch ou um sforzano caído do céu aos trambolhões.
Simplesmente horrível, um dos piores concertos a que assisti nos últimos anos. Lang Lang bola preta, muito pior do que em Salzburg, Foster colaborou na palhaçada e a orquestra Gulbenkian lá foi andando aos soluços à frente e atrás das excentricidades rítmicas do rapaz, inacreditável a barulheira das trompas no concerto nº 5 de Beethoven, terceiro andamento, autêntica feira popular.
Valeu o facto de tudo ter sido extremamente divertido o que nos fez sair do concerto bem dispostos. Lang Lang pode tocar muito mal, e falo sempre do lado estilístico, mas tem um lado simpático e comunicativo que até depois das maiores asneiras nos deixa felizes. Virá daí a sua popularidade? Isto apesar de ser habitualmente arrasado pela crítica.
Na sinfonia clássica de Prokofiev a coisa correu razoável mas sem fluidez, mostrando a orquestra os seus limites: interpretação pesada, mastigada ritmicamente e com falhas de afinação nas cordas.
Bronfmam perfeito
Dia 1 de Abril. Salzburg, Rattle dirigiu a Filarmónica de Berlim. Tivemos o privilégio de escutar Efim Bronfmam no terceiro concerto de Rachmaninoff.
Espantou o diálogo ímpar entre a orquestra de Berlim e o pianista. Este exibiu um toucher delicadíssimo, de uma suavidade imperceptível no ataque, que mantém, quer nos pianíssimos, quer nos fortíssimos, em que ombreia com a orquestra em termos de pura potência sonora. Belíssimo andamento lento, cheio de poesia com sopros em plano elevadíssimo. Nos andamentos rápidos espantou a coordenação entre o fraseado do pianista e da orquestra, num diálogo igual e excelente.
Bronfmam é um pianista pouco conhecido em Portugal, mais dado aos Pollini, Kissin ou Sokolov que nos visitam regularmente. Tem havido uma tremenda lacuna dos nossos programadores ao esquecerem-se do pianista israelita de origem russa. Ao cuidado da Fundação Gulbenkian, da Casa da Música e do CCB.
Lang Lang: e lá matou o Prokofiev mais uma vez
A 2 de Abril foi a vez de Lang Lang, se apresentar com o terceiro concerto de Prokofiev. Foi dito, pela crítica internacional, que Lang Lang é um pianista virtuoso mas maquinal, a nossa impressão é ainda pior, Lang Lang é uma espécie de boneco articulado que dá pulinhos ao piano e abana a cabeça mantendo sempre um sorriso irritante, olhando para o público de vez em quando sempre com ar de que aquilo é tudo muito trivial e que ele domina a coisa sem necessidade sequer de estar atento ao que toca. Tudo isso seria dispiciendo se o resultado não fosse confrangedor, Lang Lang não tem envergadura física para o volume sonoro necessário a ombrear com uma orquestra de plena formação sinfónica, toca... toca, mas não se ouve. No andamento mais poético, o segundo Andantino, Lang Lang foi frio e não teve capacidade para transmitir a tortuosa linha de Prokofiev. No último andamento aconteceu o pior, Lang Lang chegou mesmo a andar desfasado da orquestra, correndo a um ritmo estranho e despropositado nas partes mais expostas o que a um nível destes é surpreendente. O público foi muito menos caloroso do que com Bronfmam, mas acabou por ser entusiasta, não é só em Portugal que o público é demasiado generoso...
Um concerto que acabou em beleza com a sinfonieta de Janacek, com um impressinante banda suplementar de metais que enriqueceu o som da Filarmónica de Berlim e contribuiu para um final verdadeiramente empolgante.
Os concertos de câmara, aos preços muito mais módicos de vinte euros, no Mozarteum, foram um complemento excelente de um Festival de altíssimo nível.
Para o ano que vem há mais, com a Valquíria como cabeça de cartaz.
P.S.: Vem este texto que reciclei do meu diário a propósito de Lang Lang ontem na Gulbenkian, se Lang Lang assassinou denodadamente o pobre do Prokofiev em Salzburg, ontem o desgraçado do Beethoven foi massacrado, estralhaçado, cortado em postas e espalhado aos quatro ventos. Uma técnica de dedilhação invejável, um sentido rítmico inacreditável (soluçante e sem fluxo discursivo), falta de domínio do pedal (serve mais para bater o compasso), retórica desconexa, soluções extemporâneas apenas pelo efeito fácil e a surpresa de circo, esforçandos apalermados e a despropósito, escalas sem uniformidade feitas a acelerar sem nexo, falta de cultura musical e de sentido estilístico, habilidades de macaco amestrado e gestos inúteis. Depois seguem-se Rubatos imbecis e tempos errados nos solos, cadências foleiras. Falta de som, agressividade nas pancadas dadas no teclado que soam agrestes, trilos que soam a lata a chocalhar. Falta de presença dos dedos no teclados com ataques francamente maus. Pianíssimos que às vezes pareciam dizer coisas bonitas rapidamente assassinados por uma manobra kitsch ou um sforzano caído do céu aos trambolhões.
Simplesmente horrível, um dos piores concertos a que assisti nos últimos anos. Lang Lang bola preta, muito pior do que em Salzburg, Foster colaborou na palhaçada e a orquestra Gulbenkian lá foi andando aos soluços à frente e atrás das excentricidades rítmicas do rapaz, inacreditável a barulheira das trompas no concerto nº 5 de Beethoven, terceiro andamento, autêntica feira popular.
Valeu o facto de tudo ter sido extremamente divertido o que nos fez sair do concerto bem dispostos. Lang Lang pode tocar muito mal, e falo sempre do lado estilístico, mas tem um lado simpático e comunicativo que até depois das maiores asneiras nos deixa felizes. Virá daí a sua popularidade? Isto apesar de ser habitualmente arrasado pela crítica.
Na sinfonia clássica de Prokofiev a coisa correu razoável mas sem fluidez, mostrando a orquestra os seus limites: interpretação pesada, mastigada ritmicamente e com falhas de afinação nas cordas.
Etiquetas: Beethoven, Bronfmam, Crítica de Concertos, Foster, Lang Lang, Orquestra Gulbenkian, Prokofiev
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