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16.6.07

Thielemann dirige Brahms e Beethoven 

Um disco com a primeira sinfonia de Brahms e a abertura Egmont de Beethoven, toca a Filarmónica de Munique.
Logo a abrir o peso paquidérmico de um Brahms empastelado e ultra-romântico, um andante cheio de rubatto piroso e massa no cordame, lentíssimo. O gracioso do Allegretto esbarra nas âncoras de pizzicati carregados nos graves e no excesso de velocidade que transforma a graça numa correria desenfreada sem tempo para respiração, a entrada do último andamento é um desenrolar de clichês sem imaginação nem estrutura, sempre com a sonoridade pesada das cordas e com esforçandos pesadíssimos, o resto é uma massa informe.
O Egmont ainda é pior, lentíssimo, sem alma nem chama, de uma pretensão sem limites, com um som de estarrecer e um vibrato dos violinos que já nem se percebe se não é sempre feito em sforzando; uma interpretação kitch do pior que já ouvi. Escapa um pouco a parte subsequente à morte de Egmont, que tem um pouco mais de força, mas que mantém os erros já mencionados.

Uma interpretação pesada, espessa, carregada do vibrato. Como é possível que uma orquestra tão boa, ao ser dirigida por uma batuta tão pesada e estúpida consiga tocar de forma tão arrastada e datada?
Thielemann tenta contrariar a tendência da direcção que ele considera "light" de Rattle, que o alemão gostaria de substituir como director da Berliner. Esta direcção, à procura de um som alemão que não existe, não é inteligente, é uma reacção, é um exagero, uma caricatura de Karajan.
Basta ler Wagner, no seu pequeno texto sobre direcção de orquestra, para perceber quanto Thielemann está errado. No tempo em que Wagner dirigia Beethoven ainda se tocava com trompas naturais e cordas de tripa. É uma erro dizer que Thielemann dirige como se dirigisse Wagner. Wagner reclama vivamente, no seu livro, contra interpretações arrastadas, pomposas, sem força interior, lentas, sem vivacidade e energia, absurdamente pesadas nos andamentos lentos. A forma como se tolera o Wagner mal tocado de hoje, e se acha que "tocar à Wagner" é a porcaria que Thielemann faz neste Beethoven e Brahms, está a anos luz (melhor dizendo: séculos) do que o próprio pretendia para a sua música, é uma afirmação grosseira e carregada de preconceito, é irresponsável porque labora num erro e leva o leitor a manter esse erro no seu inconsciente. Existem (literalmente) milhares de anotações do próprio Wagner, nas instruções de ensaio da Tetralogia, para não parar, não arrastar, levar a música para a frente, ser leve, não sobrecarregar. No caso wagneriano, como em muitos outros, existem dois tipos de interpretações: as inspiradas e que vivem a música e as outras. Neste disco Thielemann está na segunda divisão.

Um disco que não vale a pena dissecar, estudar, detalhar mais, aliás Thielemann também não o faz, o som espesso é a sua meta, o peso e a pomposidade sonora são o resultado. Horrendo.

Recomendo que não se compre este disco. Bola preta. O melómano com interesse neste tipo de interpretações deve recorrer a Karajan, um celebrante muitíssimo mais inspirado do que este ressabiado Thielemann.


Um disco da multinacional Universal Music, o label é o aviltado Deutsche G


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