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25.5.07

Com atraso mas boa vontade - Salzburg na Páscoa e Lang Lang em Lisboa 

Crónicas atrasadas do Festival de Salzburg

Bronfmam perfeito

Dia 1 de Abril. Salzburg, Rattle dirigiu a Filarmónica de Berlim. Tivemos o privilégio de escutar Efim Bronfmam no terceiro concerto de Rachmaninoff.
Espantou o diálogo ímpar entre a orquestra de Berlim e o pianista. Este exibiu um toucher delicadíssimo, de uma suavidade imperceptível no ataque, que mantém, quer nos pianíssimos, quer nos fortíssimos, em que ombreia com a orquestra em termos de pura potência sonora. Belíssimo andamento lento, cheio de poesia com sopros em plano elevadíssimo. Nos andamentos rápidos espantou a coordenação entre o fraseado do pianista e da orquestra, num diálogo igual e excelente.
Bronfmam é um pianista pouco conhecido em Portugal, mais dado aos Pollini, Kissin ou Sokolov que nos visitam regularmente. Tem havido uma tremenda lacuna dos nossos programadores ao esquecerem-se do pianista israelita de origem russa. Ao cuidado da Fundação Gulbenkian, da Casa da Música e do CCB.

Lang Lang: e lá matou o Prokofiev mais uma vez

A 2 de Abril foi a vez de Lang Lang, se apresentar com o terceiro concerto de Prokofiev. Foi dito, pela crítica internacional, que Lang Lang é um pianista virtuoso mas maquinal, a nossa impressão é ainda pior, Lang Lang é uma espécie de boneco articulado que dá pulinhos ao piano e abana a cabeça mantendo sempre um sorriso irritante, olhando para o público de vez em quando sempre com ar de que aquilo é tudo muito trivial e que ele domina a coisa sem necessidade sequer de estar atento ao que toca. Tudo isso seria dispiciendo se o resultado não fosse confrangedor, Lang Lang não tem envergadura física para o volume sonoro necessário a ombrear com uma orquestra de plena formação sinfónica, toca... toca, mas não se ouve. No andamento mais poético, o segundo Andantino, Lang Lang foi frio e não teve capacidade para transmitir a tortuosa linha de Prokofiev. No último andamento aconteceu o pior, Lang Lang chegou mesmo a andar desfasado da orquestra, correndo a um ritmo estranho e despropositado nas partes mais expostas o que a um nível destes é surpreendente. O público foi muito menos caloroso do que com Bronfmam, mas acabou por ser entusiasta, não é só em Portugal que o público é demasiado generoso...

Um concerto que acabou em beleza com a sinfonieta de Janacek, com um impressinante banda suplementar de metais que enriqueceu o som da Filarmónica de Berlim e contribuiu para um final verdadeiramente empolgante.
Os concertos de câmara, aos preços muito mais módicos de vinte euros, no Mozarteum, foram um complemento excelente de um Festival de altíssimo nível.
Para o ano que vem há mais, com a Valquíria como cabeça de cartaz.

P.S.: Vem este texto que reciclei do meu diário a propósito de Lang Lang ontem na Gulbenkian, se Lang Lang assassinou denodadamente o pobre do Prokofiev em Salzburg, ontem o desgraçado do Beethoven foi massacrado, estralhaçado, cortado em postas e espalhado aos quatro ventos. Uma técnica de dedilhação invejável, um sentido rítmico inacreditável (soluçante e sem fluxo discursivo), falta de domínio do pedal (serve mais para bater o compasso), retórica desconexa, soluções extemporâneas apenas pelo efeito fácil e a surpresa de circo, esforçandos apalermados e a despropósito, escalas sem uniformidade feitas a acelerar sem nexo, falta de cultura musical e de sentido estilístico, habilidades de macaco amestrado e gestos inúteis. Depois seguem-se Rubatos imbecis e tempos errados nos solos, cadências foleiras. Falta de som, agressividade nas pancadas dadas no teclado que soam agrestes, trilos que soam a lata a chocalhar. Falta de presença dos dedos no teclados com ataques francamente maus. Pianíssimos que às vezes pareciam dizer coisas bonitas rapidamente assassinados por uma manobra kitsch ou um sforzano caído do céu aos trambolhões.
Simplesmente horrível, um dos piores concertos a que assisti nos últimos anos. Lang Lang bola preta, muito pior do que em Salzburg, Foster colaborou na palhaçada e a orquestra Gulbenkian lá foi andando aos soluços à frente e atrás das excentricidades rítmicas do rapaz, inacreditável a barulheira das trompas no concerto nº 5 de Beethoven, terceiro andamento, autêntica feira popular.
Valeu o facto de tudo ter sido extremamente divertido o que nos fez sair do concerto bem dispostos. Lang Lang pode tocar muito mal, e falo sempre do lado estilístico, mas tem um lado simpático e comunicativo que até depois das maiores asneiras nos deixa felizes. Virá daí a sua popularidade? Isto apesar de ser habitualmente arrasado pela crítica.

Na sinfonia clássica de Prokofiev a coisa correu razoável mas sem fluidez, mostrando a orquestra os seus limites: interpretação pesada, mastigada ritmicamente e com falhas de afinação nas cordas.

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