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8.5.08

Gottfried Finger 

Nasceu nos anos cinquenta, do século XVII bem entendido, na bela cidade morava de Olmütz, hoje Olomouc. Gambista de elevado nível viajou pela Europa tendo assentado em Londres onde foi contemporâneo de Henry Purcell escrevendo a ode "Weep ye muses" aquando da morte deste último...
Depois de um concurso infeliz para a escolha do melhor compositor de ópera em Londres (1701), em que ficou em quarto lugar, abandonou a Inglaterra e viajou por Viena, Berlim, Breslau, (actualmente Wroclaw), Innsbruck, Heidelberg acabando por se fixar em Mannheim, seguindo a corte do duque de Karl Phillipe von Neuberg, onde foi acumulando postos. Conheceu Telemann e Heinichen. Morreu em 1730.
Descobri um disco deste compositor. Tenho adquirido alguns discos de editoras checas ultimamente, devo dizer que este Finger foi uma das pérolas mais interessantes desta pescaria.
Trata-se de um trabalho do ensemble Turbillon com Petr Wagner na viola da gamba. Conhecendo o ensemble Turbillon não me espanta o cuidado na interpretação e a qualidade musical do CD. O que me espanta mesmo é a variedade e força da música de Finger num estilo muito livre, ora num estilo tipicamente alemão, ora num estilo mais italianizante, ora afrancesado, ora boémio, onde Biber se cruza com Marais e onde Purcell não deixa de ter a sua marca, ora a solo, ora com baixo contínuo, a gamba discursa de forma livre e apaixonada mas o melhor é mesmo o stylus phantasticus tão germânico. Na música de Finger perpassa todo o seu cosmopolitismo ao qual não é indiferente a constante peregrinação do compositor por toda a Europa. Todos os estilos de Finger se fundem de forma verdadeiramente encantadora.
Junte-se a isto um bom texto de Robert Rawson, no qual aprendi algumas das coisas que aqui retransmito, e obtemos um CD de muito bom nível.
Finger é um compêndio do barroco. Este disco, chamado pura e simplesmente, "Gottfried Finger" (Sonatae, Baletti scordati, Aria et variationes) da editora ARTA tocou-me com o dedo de Finger.

P.S. Curiosamente Finger atravessou uma série de cidades que eu tanto estimo, desde Olomouc com as suas duas praças barrocas gémeas e que visitei ainda em tempos de fronteiras complicadas e depois revisitei em tempos menos carregados, sempre um pouco abandonada e com erva a crescer entre as pedras das vastas praças da antiga e florescente capital da Morávia imperial, hoje reduzida à condição de pequena cidade de província, até Innsbruck com o seu pequeno centro medieval rodeada por coroas de montanhas cobertas de neve, passando pela Mannheim que eu associo a um Inverno gélido com montanhas de neve atravessada a pé com dez graus abaixo de zero à procura de uma ópera que teimava em deixar-se ficar ao longe, passando pela linda Heidelberg com a sua Universidade onde físicos diligentes estudam, ainda hoje, a dissonância numa perspectiva matemática, passando por Londres e Viena, onde passei dias felizes ou, ainda, pela estranha Breslau, terra de um primo alemão sem pátria, sem cidade, apátrida na sua própria terra, órfão e desenraizado, Wroclaw de terra calcinada pela guerra e vandalizada pelos blocos horríveis das construções em série do "socialismo polaco"... Este Finger tem realmente um dedo que me toca.

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