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28.7.05

Ballet Gulbenkian 

Apesar de me encontrar na Alemanha, entre outras coisas para estar no Festival de Bayreuth, recebi este email que não posso deixar de transcrever aqui:

Domingo, no Teatro Camões

A Mayra Becker, a São Castro, a Mónica Gomes, a Barbara Griggi, a Sofia Inácio, a Wubkje Kuindersma, a Laura Marín, a Daniela Neugebauer, a Cláudia Nóvoa, a Ana Cláudia Ribeiro, a Sylvia Rijmer, a Iolanda Rodrigues, a Sandra Rosado, a Ana Sendas, a Teresa Alves da Silva, a Ann De Vos, a Lindanor Xavier, o Jordi Alguacil, o Allan Falieri, o Bernardo Gama, o Bruno Guilloré, o Hillel Kogan, o Danilo Mazzotta, o Pedro Mendes, o Carlos Prado, o Rui Reis, o Romeu Runa, o Jermaine Maurice Spivey e o Rodrigo Vieira, reunir-se-ão por uma última vez em palco, no próximo domingo dia 31 de Julho, pelas 19h00, no Teatro Camões.

Gozarão o prazer de estarem juntos em palco, fazendo com paixão aquilo que mais gostam e melhor sabem: DANÇAR! Com esta oportunidade pretendem, uma vez mais, transmitir, a todos os que a eles se queiram juntar, esse sonho de se exprimirem com movimento, sensações capazes de despertar no corpo de todos nós viagens sem fim…

Mauro Bigonzetti, coreógrafo de Cantata, e todos os seus co-autores, ofereceram os direitos para que esta obra seja, de novo, apresentada. O complemento será servido com uma pequena surpresa que contará com a presença ao vivo dos Danças Ocultas.

As entradas gratuitas serão distribuídas no Teatro Camões, no domingo, dia 31 de Julho, a partir das 15h00.

Um antecipado agradecimento a todos os que queiram estar presentes.



21.7.05

O Público de Ópera - O Falhanço de Wagner 

Mazzucato in Boito na Segunda Edição do Grove: "Musica e ópera são palavras sinónimas, ninguém se preocupa senão com o que foi executado com sucesso no Scala. Bach, Beethoven, Mozart, Mendelssohn, Schumann, são tão desconhecidos como se não tivessem nascido. Tão tarde como em 1876, a única cópia das sinfonias de Beethoven que se podia encontrar estava na biblioteca do Conservatório [de Milão] era uma edição barata impressa em Mendrisio, e tão cheia de erros que em algumas partes era incompreensível."
Era evidente também que a ópera era uma forma totalmente ultrapassada de expressão artística, a ópera em números é um conceito ultrapassado, "e geralmente reconhecido por artistas sérios", diz Wagner em Ópera e Drama, " a ária é apenas uma evolução da canção folclórica e é apenas uma forma dos cantores se exibirem". Mas a revolução da ópera apenas se poderá fazer, explica Wagner, se o público mudar radicalmente. "O público de ópera apenas pretende divertir-se". Como diz Gerald Abraham no seu livro de 1938 (!) "Wagner numa das mais espantosas caminhadas da história da arte consegue criar uma obra de arte totalmente nova, unificada, consegue criar o teatro perfeito para a sua realização, consegue formar artistas para a sua execução, mas o público nunca conseguiu formar." Uma das mais extraordinárias caminhadas da história da arte desperdiçada num público hedonista (como Wagner tinha afirmado). É esta a filosofia do público de ópera de hoje. É evidente que não falo das senhoras que apenas mostram casacos de pele nas récitas ou dos senhores que vão à ópera porque parece bem e que acham Wagner muito longo e aborrecido. Escrevo mesmo sobre os que gostam de ópera genuinamente, e são considerados eruditos no assunto, e que sabem tudo sobre o soprano XX ou o Tenor YY. E que dão notícias de última hora: "sabes que fulana tal emagreceu 55 quilos e colocou uma banda gástrica". E o maestro tal que foi para a cama com o soprano ZZ ou com o baixo WW? Já sabias? E a fulana que não deu o dó em Paris porque está velha, e o Met aqui e acoli, e blá blá blá, num repositório ridículo de nulidades. "E o meu preferido no D. Giovanni é este ou aquele mas prefiro o Böhm na gravação quejanda", e têm fotografias de tenores ou de sopranos, e babam-se por uma récita que meta o ídolo a ou b... Enfim, gente para quem a música e a poesia, o drama e filosofia, o devir e o sofrimento nos argumentos apenas estimulam o apetite para mais um dó de peito ou umas sensações emotivas de identificação doentia com este ou aquele cantor em certas árias esperadas com ansiedade. Encenação confundida com cenário, marcações com roupas e jóias, e mesmo quando falam de música resumem tudo ao canto, a particularidades da voz e esquecem o discurso, a construção, o drama.
Discutimos hoje ainda duas opções: A Milão do século XIX ou os seis anos mágicos em que Wagner não compõe para repensar tudo (a partir de 1848)?
Será que o mundo não mudou nas pobres cabeças das chamadas classes "operáticas"?
Creio mesmo que não, infelizmente, Wagner falhou e muito, basta constatar em meia dúzia de sites de fãs de ópera, sobretudo altares de cantores, ou de blogues sobre o assunto. É evidente que se é livre para adorar ídolos, este texto apenas é uma reflexão sobre o assunto, deploro sem condenar expondo a minha perspectiva.

Este ano vou estar em Bayreuth, é uma espécie de peregrinação, mas que encaro com muito cepticismo. O chamado templo não deixa de ser igual a cada casa de ópera do mundo em termos de público, creio que os wagnerianos não serão muito diferentes do padrão universal. Embora se encontre gente muito interessante entre os wagnerianos convictos, a massa é a mesma. Wagner falhou redondamente na sua tentativa de criação de um novo público, pensante, abarcador, conhecedor, preparado para a obra de arte total.
Um novo Tristan e um Parsifal velho de um ano, Tannhäuser, Lohengrin e Holandês; o novo drama e a velha ópera. Creio que as ideias do Patriarca já não entram na cabeça dura de um neto de Wagner (Wolfgang) demasiado conservador, demasiado enquistado, demasiado medíocre, demasiado pró nazi (sei que dizer isto não é politicamente correcto) para ter percebido o que o avô queria dizer; ao contrário do irmão, Wieland, falecido prematuramente nos anos sessenta que sendo nazi era ao mesmo tempo um génio. Mas continua a ser o templo e temos de nos preparar, respeitando o que Wagner dizia. Partituras prontas, livros em dia, Bayreuth segue dentro de poucos dias. Com Debussy e Vianna da Motta, não sei porquê recordo sobretudo as peregrinações destes últimos a Bayreuth, faço as malas e tento não pensar no falhanço de Wagner relativamente ao público.
Escuto algumas gravações, sem olhar a nomes de cantores, pensando nas concepções globais, nos maestros, nas orquestras, nos discursos dramáticos e preparo-me. Leio velhos livros e vou pensando neste mundo...



20.7.05

Notas bibliográficas sobre Rui Vilar 

A propósito da entrevista de Rui Vilar, presidente da Fundação Gulbenkian, pelos 50 anos da morte do fundador em 1955, publico a nota biográfica que se encontra no próprio site da Gulbenkian.

Emílio Rui Vilar nasceu no Porto a 17 de Maio de 1939. Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra em 1961, é Presidente do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian desde 2 de Maio de 2002, tendo sido Administrador desde 1996. É Presidente da Partex Oil and Gas (Holdings) Corporation desde 16 de Julho de 2002.
Cumpriu serviço militar entre 1962 e 1965. No ano seguinte entrou para a Função Pública, onde esteve até 1969. Nesse ano assumiu as funções de Director do Banco Português do Atlântico, onde permaneceu até 1973.
A sua carreira política começa em 1974 como Secretário de Estado do Comércio Externo e Turismo do I Governo Provisório. No mesmo ano é-lhe confiada a tutela do ministério da Economia dos II e III Governos Provisórios (1974/75). Foi Vice-Governador do Banco de Portugal entre 1975 e 1984. Assumiu funções de Deputado em 1976. Entre 1976 e 1978 foi Ministro dos Transportes e Comunicações do I Governo Constitucional.
Emílio Rui Vilar presidiu à Comissão de Fiscalização do Teatro Nacional de São Carlos (1980-86), foi Presidente do Conselho de Gestão do Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa (1985/86) e Director-Geral da Comissão das Comunidades Europeias (Bruxelas, 1986-89).
Foi Comissário-Geral para a Europália entre 1989 e 1992, Presidente do Conselho de Administração da Caixa Geral de Depósitos (1989-1995), e presidiu ao Grupo Europeu dos Bancos de Poupança (1991-94). Entre 1989 e 1990 foi ainda Vice-Presidente da Fundação de Serralves.
É Presidente do Conselho de Auditoria do Banco de Portugal desde 1996 . Foi Administrador do Porto 2001, SA em 1999 e Presidente do Conselho de Administração da GalpEnergia, entre 2001 e 2002.


Este o perfil de um homem que se confunde com uma carreira. Falta dizer que nunca se distinguiu através de qualquer reflexão ou texto sobre cultura, nem sequer uma ideia. Não tem currículo académico admissível em qualquer país para um cargo como o de presidente da Gulbenkian. Como se diria nos Estados Unidos: não concluiu os estudos académicos, não chegou ao doutoramento. Mas Gulbenkian também não, mesmo descontando os tempos. O que é importante é o que Vilar poderia ter feito e não fez. Poderia ter relançado a CGD e apenas a manteve à tona de água. Poderia ter relançado a política empresarial da Fundação a que preside e apenas destruiu o capital de respeito que a FCG detinha na sociedade e na cultura portuguesa. Em vez de termos hoje uma Fundação a comportar-se como gente de bem, temos o que temos: uma espécie de empresa que tem como modelo uma fábrica têxtil do Vale do Ave na sua relação com o pessoal e o público. É claro que o respeito pelos outros e pela sociedade não se ensina nas escolas para políticos ou nos bancos da Assembleia da República ou mesmo nos conselhos de Administração dos múltiplos lugares para onde se foi designado.
Leio na entrevista ao DN que se ponderava a decisão de acabar com o Ballet Gulbenkian há meses. No segredo de uma administração segregada do mundo e sem prestar contas a quem quer que seja. Chegando ao ponto de deixar anunciar e vender bilhetes para uma temporada que se sabe de antemão que virá a ser exterminada.
Uma série de cargos de natureza política assinala a vida de mais um mito criado não se sabe bem porquê. Creio mesmo que a sua única qualidade assinalável é que me parece ser honesto, facto que deveria ser natural num político (ou ex-político) mas que é raríssimo. Provavelmente a origem do Mito Vilar provém dessa raridade e não de outra qualquer qualidade oculta e misteriosa que não se vislumbra. Vilar: O Mito que renunciou à reforma da Caixa. Sempre que se fala de Vilar é sempre esse o argumento final que, como Deux Ex Machina, acaba com a discussão! Mas é muito pouco...
Vilar reduziu em 40% o pessoal da Gulbenkian, mas mantiveram-se no lugar os nove bonzos da Administração! O mínimo que se exigia era a redução na mesma proporção do número de administradores. Mas percebe-se bem do texto do DN que a única coisa que interessa perpetuar é mesmo a Administração... Tudo o resto é sacrificável. Mesmo o património de todos gerido por nove cooptados com poder absoluto.

18.7.05

Hoje deu-me para ouvir Marais 

Um disco de 1999, século passado, Paolo Pandolfo na viola da gamba ou melhor em basse de viole, Mitzi Meyerson no cravo, Thomas Boysen na tiorba e na guitarra barroca, Alba Fresno na segunda viola, Pedro Estevan na percussão e François Fauché como recitador. Uma gravação feita na mítica Cuenca, Junho de 1999. Mítica porque substitui Santiago como cidade destino nas peregrinações do final do Inverno dos amantes da música antiga.


Marin Marais o velho senhor, o calmo francês do antigo regime, 1656-1728. Época de calmas reflexões, num tempo suspenso e quase perpétuo, mas tão instável que ainda em sua vida a viola da Gamba já declinava, François Couperin e Forqueray ainda compuseram para a viola, mas os prenúncios de outros sons já ecoavam no ocaso da vida tranquila de Marais.
Não era sobre a vida de Marais que eu queria escrever. O que me impressiona na obra de Marais é uma subtileza profunda, uma riqueza de timbres, a exploração de ressonâncias, ao mesmo tempo tão próprias do seu tempo, mas que o transcendem para atingir o infinito. A obra de Marais não é fácil, não sei se todo o público poderá apreciar aos primeiros contactos a musicalidade de Marais. Mas depois de entrar no labirinto penso que ninguém mais quererá sair.
Longe do virtuosismo imediato de Forqueray o "Prélude en Harpegement" constitui só por si, pela calma serena do seu som, pela ênfase da sua circulação rítmica, um abandono deste tempo, um murmúrio que nos diz que estamos vivos. Um segredo que Marais nos transmite desde há trezentos anos atrás, mas Marais também é tumultuoso, a "Marche Persane Dite La Savigny" é uma tremenda força em arpejos furiosos...

Mergulhar na densidade do Labirinto de Marais é perder a noção do tempo e amar a música para além das definições, até o infinito, eternamente...

17.7.05

The Red Wall 




Ainda o bailalado e a demagogia 

Já se falou muito sobre o Ballet Gulbenkian, escrevi um texto sobre o assunto para a próxima revista FOCUS, de modo que não queria voltar a bater demasiado no assunto.
O que está agora na ordem do dia é a "compra" por Santana Lopes da companhia do BG. Devo dizer que não acredito nas intenções deste demagogo compulsivo, desta espécie de ilusionista que vai tirando coelhos coloridos do saco esperando sempre que o coelho seguinte faça esquecer as promessas que o coelho anterior fez. Foi assim com os arquitectos que foram aparecendo, foi assim com o Casino, o Parque Mayer, etc, etc, etc... Aquele que foi o pior primeiro ministro de Portugal de sempre, vem agora prometer aquilo que nunca lhe sairá dos bolsos, Santana na Câmara de Lisboa tem mais dois meses com Agosto pelo meio, não pode fazer nada e ele sabe-o bem. Prometer assim não custa. Por outro lado o tal milhão e duzentos mil euros do orçamento camarário sairá de onde? Será que acaba o apoio para as pequenas companhias de Lisboa? A companhia de Dança de Lisboa e a excelente companhia de Vasco Wellemkamp (Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo). Companhias que custam uma fracção do valor oferecido agora, milagre, por Lopes. A Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo foi abandonada pelo ministério da cultura de forma vergonhosa, ainda no consuladado do PSD. Existe e trabalha, produz obra de grande qualidade sem casa para ensaiar, sem sede para trabalhar, sem um escritório para o seu director.

Ou será que Santana o ilusionista vai instalar uma fábrica de dinheiro nas obras do túnel? Onde esteve Santana Lopes quando as companhias pequenas de Lisboa desesperavam para sobreviver, quase como mendigos? E a parceria com a Metropolitana, de onde virá o dinheiro para pagar o ballet (a metade restante) se a AMEC vive em grande dificuldade e necessita de uma reorientação estratégica de fundo.

Finalmente a Companhia Nacional de Bailado seria expulsa da Vítor Cordon para dar lugar à nova companhia oriunda do Ballet Gulbenkian! E o S. Luiz albergaria o Novo Ballet Gulbenkian!

Os delírios de Santana não têm fim. O problema são as falsas expectativas criadas nos artistas que acreditam facilmente nas poucas tábuas de salvação que lhes são estendidas. Mas qualquer espírito que conheça Santana Lopes já percebeu que as tábuas que Santana estende estão podres e desfazem-se ao menor contacto. É pena, porque o Bailado Gulbenkian precisa de uma solução. O que dirá Carrilho a isto tudo? A mesma coisa?


16.7.05

Festival do Estoril - Arranca hoje 

Manifesto desde já o meu conflito de interesses, colaborei com o Festival do Estoril deste ano. Não ao nível da programação, como é evidente da autoria do professor Piñeiro Nagy, mas ao nível da comunicação.
Creio, sem falsas modéstias, que o Festival tem boa qualidade e é interessante para um público muito vasto.
Deixo o link Festival do Estoril.

Tem 17 concertos, tem os discos dos trinta anos com gravações históricas e ainda um lançamento de um livro que mostra uma visão completa com altos e baixos, com a crítiva positiva e negativa e até os cancelamentos que ocorreram naturalmente em 30 anos de história. Uma exposição sobre os trinta anos do Festival inaugura-se hoje com a presença do PR, 19h no Centro de Congressos do Estoril, seguida de um concerto que tem também um jantar com I Fagiolini, felizmente ou infelizmente, totalmente esgotado.


Também por email - Póvoa 


Uma vez que pode ser do interesse dos seus leitores, aqui vai o link com o
endereço do programa do 27º Festival Internacional de Música da Póvoa de
Varzim.
Já começou no dia 8 e dura até final do mês.
Os meus conhecimentos musicais não permitem que possa aferir da qualidade do
Festival, embora conheça alguns nomes. De minha parte conto ir ver, pelo
menos, o Jordi Savall no dia 19:

Leitor identificado

Festival da Póvoa

A Póvoa mistura alguns dos melhores intérpretes do mundo na música antiga, com alguns pianistas portugueses e conferências de elevado nível. Jordi Savall que ultimamente se tem aproximado da completa fraude musical também se apresenta, espero que num programa sério. Infelizmente "Vilancicos do século de ouro" não me parece que seja o programa forte do catalão. Como não vou estar presente espero que a crítica também nos informe devidamente do nível do concerto. O que é certo é que apelo ao sentido crítico do público, e a uma documentação prévia, para perceber se o programa é realmente uma reconstrução séria das partituras ou uma invenção adocicada, popularucha e imaginativa de Savall.


Actividades para hoje para quem gosta de cultura 

Recebido por email:

Boa noite. O meu nome é Nuno Abreu, sou violoncelista do Quarteto Tacet,
vencedor na passada edição do Prémio Jovens Músicos. Venho por este meio,
tendo em conta a popularidade do seu blog no meio musical, pedir que publicitem
o concerto que iremos dar no Festival de Sintra, dia 16 Julho às 17h.
Pretendemos obviamente que assistam o maior número de pessoas, e que partilhem
connosco o prazer da música.
Muito obrigado pela atenção.
Nuno

__________________

Ver mais Informações em Programa completo do Festival de Sintra

17h00
Quinta da Regaleira
QUARTETO TACET
VÍTOR VIEIRA | VIOLINO
JUAN MAGGIORANI | VIOLINO
JANO LISBOA | VIOLA
NUNO ABREU | VIOLONCELO

Erwin Schulhoff
Cinco Peças para Quarteto de Cordas (1923)

Dmitri Chostakovitch
Quarteto para Cordas nº 3, em Fá Maior, op. 73 (1946)

Antonin Dvorák
Quarteto para Cordas nº 13, em Sol Maior, op. 106 (1895)


14.7.05

Gulbenkian - memória 

Os grandes vultos de Azeredo e Madalena Perdigão foram os motores de uma instituição com um prestígio e dignidade notáveis. O amor pelas pessoas e pela cultura de Azeredo Perdigão obrigava a preços muito económicos nos concertos, Perdigão se visse pessoas à porta do grande auditório sem bilhete, muitas vezes jovens sem dinheiro, dizia aos porteiros: “deixem entrar toda a gente, não fica ninguém à porta na Fundação Gulbenkian”. Longe estão os dias de Azeredo Perdigão, longe está a elegância e a qualidade do homem que fez da instituição o verdadeiro ministério da cultura de Portugal. Hoje em dia a administração da Gulbenkian decide acabar com um património, que já não é pertença de uma instituição mas universal, de um dia para o outro, sem reflexão pública, de forma autoritária e como se tratasse de uma empresa que se quer deslocalizar. O respeito pelo público e pelos artistas foi o primeiro património a desaparecer o que se seguirá?


Um Adeus Português 

Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz dos ombros pura e a sombra
duma angústia já purificada

Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensanguentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor

Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver

Não podias ficar nesta casa comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual

Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta pequena dor à portuguesa
tão mansa quase vegetal

Mas tu não mereces esta cidade não mereces
esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser

Não tu és da cidade aventureira
da cidade onde o amor encontra as suas ruas
e o cemitério ardente
da sua morte
tu és da cidade onde vives por um fio
de puro acaso
onde morres ou vives não de asfixia
mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
sem a moeda falsa do bem e do mal

Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti

Alexandre O'Neill


Pessoa - O Final da Mensagem 


NEVOEIRO

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer —
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...


É a Hora!

13.7.05

Alberto João Jardim - Terrorismo - Ministra da Cultura 

Este país tem uma ministra da cultura que não comenta nem dá a sua opinião sobre a extinção do Ballet Gulbenkian. Supostamente esta insigne professora universitária deveria ser o exemplo, o modelo para as elites culturais, o paradigma da coragem e da afirmação política... Afinal o paradigma a seguir é mesmo o Alberto João Jardim, esse ao menos tem a coragem de dizer o que pensa. Consegue dizer as maiores barbaridades, continuando a ser amado e votado! A Isabel Pires de Lima exigia-se não a barbaridade mas a equidade e a verdade, sobrou a cobardia política, nem para elogiar nem para criticar, uma ministra que não sabe de nada do que se passa dentro da FCG e que não dialoga com a maior fundação "cultural e de beneficência" do país.
Acho que está tudo errado e o que se passa é mesmo uma total inversão de valores: Rui Vilar tem razão, Teresa Gouveia tem toda a razão, Alberto João Jardim tem razão. O mundo é deles. Educação? Formação? Apenas gargalhada de desprezo...
Aos cobardes resta o carpir de mágoas, frustações e desilusões. Portugal é assim, pouco resta para fazer, que é como quem diz: para destruir.
Pior que qualquer terrorismo é este medo pestilento de afirmação que asfixia e mata este país. A única coisa que me apraz dizer é que Portugal é a cobardia da inexistência face à coragem da iniquidade. O que é de bom e bem feito destrói-se, havendo dinheiro, supostamente para manter e melhorar, o que é de mau promove-se. Já "não se sabe o que é mal e o que é bem"...



Gulbenkian- uma nota 

Apesar da cortina negra que se abate sobre qualquer visibilidade interna sobre a Fundação Gulbenkian há que pensar algumas coisas:

O último relatório e contas da Fundação que encontro é o de 2000 e num resumo muito parcial. Não sei se existe algum posterior que esteja publicado. Agradeço que quem conheça algum destes relatórios que me informe. A minha mais forte convicção é que a Fundação tem regredido nas suas fontes de receita. Que não tem expandido a colossal herança de Calouste Gulbenkian nem tem tido qualquer estratégia empresarial digna desse nome no que diz respeito aos seus proventos. Confesso que é apenas uma ideia que vou alicerçando na observação da redução da intervenção da Fundação a nível cultural. De qualquer modo a Fundação gere um património que foi legado sobretudo aos povos português e arménio. A Fundação tem responsabilidades públicas que saem da sua esfera meramente privada.

A Fundação tem recrutado para a sua Administração gente oriunda da vida política e "banqueiros" (melhor seria dizer gestores bancários): Isabel Mota, Teresa Gouveia, Marçal Grilo, André Gonçalves Pereira, Artur Santos Silva, Diogo Lucena, Rui Vilar. Nenhum destes gestores tem a menor sensibilidade ou currículo académico na área cultural. Alguns são apreciadores de arte mas não passam de meros diletantes na melhor das hipóteses. Nem sequer têm capacidade de apreciação do que são as correntes estéticas no domínio da música ou da dança. São pois facilmente influenciáveis por opiniões enviesadas de colaboradores ou de pessoas com influência na área e que estão interessadas em canalizar fundos para outras áreas, muito sectoriais, dentro das correntes estéticas existentes actualmente.

A FCG tem actuado como motor do desenvolvimento em Portugal, tem sido uma espécie de Ministério da Cultura e tem substituído o Estado, que também se tem demitido sistematicamente da sua missão de desenvolvimento cultural, sobretudo em áreas que nunca se podem pagar com teorias liberais, ou seja: à custa dos capitais dos empresários e gestores portugueses que como é sabido são dos mais grunhos empresários e gestores do mundo. Tem subsidiado e tem tido intervenção directa. Parece que ambas as componentes se têm reduzido, nomeadamente na área científica e na área musical (redução drástica dos serviços de ciência, desaparecimento do órgão na programação, quase extinção da música antiga, desaparecimento da música contemporânea, extinção do Ballet). Não é lógico que uma Fundação tenha apenas uma componente, ou seja a atribuição de subsídios, como se tem dito por aí. Seria a pura e simples retirada da Fundação da cultura portuguesa a médio prazo. Nos primeiros anos existirá apoio, mas a minha previsão, e espero estar errado, é a demissão gradual da Fundação na área indicada.

A teoria de que se virá a gastar o mesmo orçamento no apoio à dança é trocar o certo pelo incerto, creio mesmo que será o caminho para o total desinvestimento a pouco e pouco na área, e uma poupança de fundos que os administradores não têm tido capacidade, nem imaginação, nem competência, de produzir, ou pelo menos de aumentar fortemente, o que poderia ter sido feito ao longo dos anos de crescimento económico e ainda poderia ser feito com mais arrojo e capacidade de iniciativa na área estritamente empresarial da Fundação. O que é certo é que olhando para os actuais gestores, olhando para total ausência de transparência da gestão, olhando para os métodos usados para a extinção de uma companhia de dança, olhando para um comunicado opaco e arrogante, observando a história recente de desinvestimento da Fundação, verificando o encerramento da FCG sobre si própria, como se tratasse de um estado dentro do estado, a recusa de enfrentar com coragem e assumindo dificuldades, recusando qualquer hipótese de ajuda exterior tendo como base o próprio autismo que não enfrenta a mudança, funcionando como tivesse ainda de se defender, encerrando-se mas trabalhando bem, de um regime totalitário. Acaba a FCG finalmente em regime democrático, a trabalhar mal, como se estivesse a viver na prosperidade habitual, o que não é manifestamente verdade.

É incrível a deselegância, a falta de respeito e mesmo falta de educação da Administração ao acabar com uma temporada programada, anunciada e à venda! É uma falta de respeito e de responsabilidade social da Administração para com funcionários, e sobretudo para com o público e a sociedade fazer como fez. Uma Administração que faz como faz, esconde as coisas como esconde, não merece respeito ou o benefício da dúvida. Cavalheiros não agem assim.

Se a FCG estivesse empresarialmente saudável não só teria mantido a companhia de bailado como teria conseguido crescer de forma a apoiar outras áreas de forma complementar, basta ver o que aconteceu ao BCP nos anos em que a Fundação andou a demitir-se de projecto atrás de projecto. A solução é mudar, é transparência, é realizar mudanças na Administração (quase impossíveis face aos estatutos!), é admitir ou pelo menos não dar azo à suspeita com comportamento suspeito, é criar parcerias, é obter sponsors e patrocínios, é negociar com o Estado para não destruir gratuitamente um património único e indispensável a troco de interesses enviesados e pouco claros. É também exigir ao Estado, que representa a sociedade, uma rigorosa vigilância do que se passa dentro das portas cerradas de instituições como a Gulbenkian. O tempo de Salazar versus Azeredo Perdigão passou à história e os titãs já morreram com Prometeu.

12.7.05

Assim não - Berezovsky desilude em Cascais 

Concerto na Cidadela de Cascais num barracão de plástico, tochas e lâmpadas. Cheiro horrível a petróleo queimado, chão ruidoso de placards de madeira rangente.
Programa a três euros, não existe folha de sala.
Ao piano Boris Berezovsky, um pianista de técnica brilhante.
Prova de fogo: a sonata opus 58 de Chopin. Pianista de técnica superior que se percebe em detalhes de dedilhação, na paleta dinâmica dos pianíssimos aos fortíssimos em cambiantes infinitos. A sonoridade é o forte do pianista. Infelizmente todos estes recursos apareceram ontem de forma mal aproveitada, apareceu um Berezovsky que se delicia em efeitos e em recortes de estilo e se esquece de estudar as passagens mais complexas, que esmaga notas, que arruina completamente o último andamento por falta clara de estudo e de falta de preparação. Que nos dá um andamento lento (o largo) muito desligado, cheio de solavancos rítmicos e de rubato excessivo, agressivo, de mau gosto, banal e intrusivo. Mão esquerda indistinta.
O primeiro andamento, o Allegro Maestoso, foi o melhor da primeira parte, a exploração das ressonâncias e das sonoridades deste andamento correspondeu a uma visão de Chopin quase sinfónica que se foi perdendo no decorrer da obra.
Uma sonata desligada com um pianista claramente fora da obra.
Seguiram-se os estudos originais do opus 10, os nºs 1,4,6 e 12, cada um seguido da transcrição de Godovsky. Pode-se dizer que Berezovsky aqui esteve algo melhor, as obras eram mais técnica e menos arquitectura. Devo dizer que já escutei deste pianista os estudos 4 e 6 na versão transcrita. O 4 esteve a um nível muito inferior ao escutado anteriormente. A transcrição para mão esquerda do estudo nº 6 foi notável no recorte entre voz superior e inferior. Simplesmente deslumbrante, curisamente o célebre estudo nº 12 teve falhas graves na mão esquerda na versão original e esteve a bom nível na versão transcrita!
A Noite no Monte Calvo, traduzido no programa para "Uma Noite na Montanha Desprotegida" de Mussorgsky foi tocada de forma brilhante. A peça de inspiração popular de Balakirev seria dispensável nas suas escalas repetitivas mas necessária aos gritos histéricos e ao bater palmas em pé que se seguiu. A ignorância musical do público é cada vez mais pungente, mas enfim...
Seguiram-se dois extras que não teriam história se não fosse a lamentável interpretação do último extra de Chopin, uma valsa, em que a clareza do fraseado foi destruída pelo pianista a recrear-se a inventar uma articulação de técnica dificílima em que sincopou toda a melodia da mão direita desfasando os tempos de ataque, isto feito a uma velocidade estonteante. Habilidade mais de circo que musical e que mesmo assim não saiu perfeita, como não podia deixar de ser. Mais histeria do público e saí da barraca sem saber se houve mais extras que estava farto de ouvir Chopin a ser assassinado.
Um concerto em que o muito bom ombreou com o fracote e se notou falta de preparação do pianista. Atendendo ao que já se ouviu do pianista pode-se dizer que houve desilusão em Cascais.

P.S. Não referi o barulho infernal que atormentou todo o recital, provavelmente produzido por um gerador ou um aparelho de ar condicionado, os pianos e pianíssimos totalmente apagado pelo som que agride os ouvidos. Um local de concerto assim não reune as menores condições de audição e de concentração para o pianista ou de fruição para o público. Um recital de piano numa barraca de plástico, com chão a ranger, petróleo queimado e um gerador a fazser barulho? Quando reflito mais um pouco chego à conclusão que seria quase impossível o pianista ter conseguido mais do que produziu pese embora o facto de Berezovsky parecer algo impreparado...

Uma certa imagem, um certo estilo - Narciso no tempo de Maximilian I 



Albrecth Durer - Auto Retrato

É assim, no tempo de bombas banais, que nos temos recusado a comentar precisamente para não cedermos à banalização do terror ou à histeria do medo que atribui mais valor a uma vida em Londres do que a mil em Bagdad, acabamos por reflectir sobre um assunto que merece calma e não o stress da avidez de informação que afecta cada mais os "informados" ou muitos "bloggers" do nosso tempo.
Afinal uma tela de Dürer, em que se retrata a si próprio como um ideal estético masculino do século XVI leva-nos a reflectir depois de repousar os olhos nos olhos e nas mãos do artista no quanto mudou o tempo. A evolução da guerra como actividade primeiro nobre e sentimental, em que a barbárie também entra mas de forma temperada, que ainda era no século XVI, e que se vai tornando na luta cruel provinda de ódios avassaladores que começam em 1618 em trinta anos de loucura religiosa assassina que termina na indústria de morte que a guerra de hoje se tornou. E a guerra dos trinta anos também é fruto da boa qualidade da indústria e da metalurgia sueca no século XVII! Assistimos a uma deslocalização também na guerra e a um aumento da esquizofrenia na arte. A arte deixou de ser a apolínea contemplação dos renascentistas, a descoberta da procura dos afectos do maneiristas, deixou mesmo de ser a planificada loucura de Guernica e tornou-se numa imagem desestruturada dos nossos tempos.
Dürer, calmo e meticuloso, encontrava tempo para se retratar, para olhar e representar o mundo, e nós nem gostamos particularmente deste quadro: a mão numa pose demasiadamente estudada irrita-nos um pouco. É na contemplação do seus olhos que viram um tempo tão diferente que encontramos a paz para comentar a morte de pessoas pobres e indefesas em todos os cantos deste mundo. As mesmas que morreram na guerra dos trinta anos, um terço da população das cidades do centro da Europa, mais de 40% no campo... E a pouco e pouco esquecemos as banais bombas de Londres nas lembranças de outras guerras de outras mortes em que morreram sempre os pobres e os despojados, sempre. Por motivos diferentes dos que levam os jornais e as televisões a esquecer a banalidade da morte seis dias depois, somos capazes de tanto e de tão pouco...

10.7.05

Ballet Gulbenkian - Contrariar o Medo De Existir 

Recebido por email:

Encontro de cidadania contra a extinção do Ballet Gulbenkian.
Nos jardins da Fundação Calouste Gulbenkian, Av.de Berna, 4.ªfeira, 13 de Julho, pelas 19h30.


Parece-me bem, o Ballet Gulbenkian já não pertence a 9 membros de um conselho de Administração, pela sua história já é um património Português e Mundial. Pelo facto de uma Fundação ser privada não lhe assiste o direito moral para a destruição gratuita de algo que é de todos. Existem limites para a barbárie. Aliás qualquer conselho de Administração é apenas isso, um conselho de Administração. A decisão destes 9 bonzos que se pretendem hieráticos, mas que actuam de forma visivelmente incompetente não só afecta a Fundação Gulbenkian como o país e o mundo e é apenas a decisão de um grupo de ex-políticos reformados e de ex-banqueiros sem visão e sem rasgo que nem sequer sabem manter o legado que lhes foi transmitido como o desbaratam e destroem. Repare-se que apenas Mikhael Essayan e Eduardo Lourenço não estão na categoria dos gestores profissionais ou de políticos reformados. Todos os restantes membros passaram pela política ou tiveram como profissão pertencer a conselhos de administração de empresas e bancos.
Dir-se-há que a lógica política e empresarial presidiu à decisão da destruição. Mas não se percebe que não se pode aplicar a algo como o Ballet Gulbenkian uma lógica empresarial? O corte indiscriminado dos ramos de uma árvore como a Gulbenkian, seja por falta de imaginação, seja por falta de capacidade de gestão, levará invariavelmente à destruição da mesma Fundação.
Evidentemente que os senhores administradores serão os últimos a perder o ordenado e as prebendas que subirão invariavelmente todos os anos.
Desconfio largamente de gente como Isabel Mota (que tem um penteado magnífico), Teresa Gouveia (que prima pela ausência de penteado), Marçal Grilo (parece que anda bem de bicicleta), Rui Vilar (nunca percebi se este senhor percebe alguma coisa de cultura) ou do engenheiro-economista-etc Diogo de Lucena (ex- Banco Mello) como administradores executivos ou André Gonçalves Pereira (fazia umas festas porreiras no Algarve) e Artur Santos Silva (um dos (i)responsáveis do tristemente célebre Porto 2001) como administradores não executivos. Infelizmente os tempos de Azeredo Perdigão já passaram à história, como se percebe pela composição actual da administração da Fundação. A lógica que percebo na administração de uma Fundação que acaba por ser património de Portugal e do Mundo é de gente que pertence a um esquema que tem destruido o país e o levado para o abismo. São exactamente os mesmos em todo o lado, os miasmas do pântano invadiram toda a cúpula da sociedade portuguesa.

Em Portugal o tempo dos leões também já passou à história, hoje em dia é mais o tempo das hienas. E permanece o nevoeiro.

P.S. E se a Fundação Gulbenkian resolvesse vender os quadros do seu museu ou do Centro de Arte Moderna num leilão para financiar os jovens pintores e as novas correntes da arte? Para financiar a rapaziada que sai da Escola de Artes? E já agora aproveitava a receita para assegurar ordenados ao conselho de administração por mais cinquenta anos? Quadros que seriam espalhados pelas quatro partes do mundo? Será que a Fundação tinha esse direito? Será que o Governo poderia intervir? Não seria um escândalo?


6.7.05

O luto mais negro - Ballet Gulbenkian uma morte anunciada 

Enquanto se anunciam mais obras pelo governo, a Fundação Gulbenkian acaba com a sua companhia de bailado.
Ver Notícia do Público de Hoje. Pode-se dizer que seria a única companhia de grande nível e grande estrutura que Portugal tinha no domínio do ballet contemporâneo. Sobra o trabalho infatigável de alguns lutadores como Vasco Wellemkamp e a sua companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo, e um mastodonte improdutivo como a Companhia Nacional de Bailado.
A morte continua a ensombrar Portugal. Todas as desculpas são de um mau pagador que já não tem dinheiro. Os governos continuam a apostar em futebol e cimento e Portugal vai morrendo em cada dia que passa, secando, definhando através de cada um de nós. Mesmo daqueles que nem sabem o que é ou foi o Balett Gulbenkian. Viva Portugal, o absurdo de dizer "viva" a uma não existência.

P.S. "O Público": cuidado com os erros ortográficos nos nomes, o coreógrafo chama-se Wellemkamp. Às vezes também sofro do mesmo mal...

5.7.05

Uma lógica estranha 

Esta a do betão, 25 000 milhões de euros para se poupar uma hora entre Lisboa e Porto e para mais um aeroporto para o qual não há dinheiro. Será que isso vai tornar os nossos jovens mais inteligentes e mais cultos e mais instruídos?
Projectos que mobilizam? Projectos que geram engenho e arte? Projectos que criam emprego? Que se inserem numa lógica estratégica em termos europeus?
De facto a lógica de políticos medíocres, sem capacidade para fazer além do betão, além da obra pontual e ocasional. É isto um plano? É isto que vai tirar Portugal do atoleiro? Como a Expo e a ponte Vasco da Gama?

Será que estamos a construir uma imensa mentira e vivemos nessa mentira em que muitos fingem acreditar e em que outros acreditam mesmo e que quando a verdade dura e crua, nua e branca, espectral, se erguer vamos ver que essa mesma verdade nos vai dizer que afinal já estamos mortos. Somos um país de Esteves da Tabacaria, cadáveres adiados que já nem procriam...


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