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12.7.05

Uma certa imagem, um certo estilo - Narciso no tempo de Maximilian I 



Albrecth Durer - Auto Retrato

É assim, no tempo de bombas banais, que nos temos recusado a comentar precisamente para não cedermos à banalização do terror ou à histeria do medo que atribui mais valor a uma vida em Londres do que a mil em Bagdad, acabamos por reflectir sobre um assunto que merece calma e não o stress da avidez de informação que afecta cada mais os "informados" ou muitos "bloggers" do nosso tempo.
Afinal uma tela de Dürer, em que se retrata a si próprio como um ideal estético masculino do século XVI leva-nos a reflectir depois de repousar os olhos nos olhos e nas mãos do artista no quanto mudou o tempo. A evolução da guerra como actividade primeiro nobre e sentimental, em que a barbárie também entra mas de forma temperada, que ainda era no século XVI, e que se vai tornando na luta cruel provinda de ódios avassaladores que começam em 1618 em trinta anos de loucura religiosa assassina que termina na indústria de morte que a guerra de hoje se tornou. E a guerra dos trinta anos também é fruto da boa qualidade da indústria e da metalurgia sueca no século XVII! Assistimos a uma deslocalização também na guerra e a um aumento da esquizofrenia na arte. A arte deixou de ser a apolínea contemplação dos renascentistas, a descoberta da procura dos afectos do maneiristas, deixou mesmo de ser a planificada loucura de Guernica e tornou-se numa imagem desestruturada dos nossos tempos.
Dürer, calmo e meticuloso, encontrava tempo para se retratar, para olhar e representar o mundo, e nós nem gostamos particularmente deste quadro: a mão numa pose demasiadamente estudada irrita-nos um pouco. É na contemplação do seus olhos que viram um tempo tão diferente que encontramos a paz para comentar a morte de pessoas pobres e indefesas em todos os cantos deste mundo. As mesmas que morreram na guerra dos trinta anos, um terço da população das cidades do centro da Europa, mais de 40% no campo... E a pouco e pouco esquecemos as banais bombas de Londres nas lembranças de outras guerras de outras mortes em que morreram sempre os pobres e os despojados, sempre. Por motivos diferentes dos que levam os jornais e as televisões a esquecer a banalidade da morte seis dias depois, somos capazes de tanto e de tão pouco...

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