13.7.05
Gulbenkian- uma nota
Apesar da cortina negra que se abate sobre qualquer visibilidade interna sobre a Fundação Gulbenkian há que pensar algumas coisas:
O último relatório e contas da Fundação que encontro é o de 2000 e num resumo muito parcial. Não sei se existe algum posterior que esteja publicado. Agradeço que quem conheça algum destes relatórios que me informe. A minha mais forte convicção é que a Fundação tem regredido nas suas fontes de receita. Que não tem expandido a colossal herança de Calouste Gulbenkian nem tem tido qualquer estratégia empresarial digna desse nome no que diz respeito aos seus proventos. Confesso que é apenas uma ideia que vou alicerçando na observação da redução da intervenção da Fundação a nível cultural. De qualquer modo a Fundação gere um património que foi legado sobretudo aos povos português e arménio. A Fundação tem responsabilidades públicas que saem da sua esfera meramente privada.
A Fundação tem recrutado para a sua Administração gente oriunda da vida política e "banqueiros" (melhor seria dizer gestores bancários): Isabel Mota, Teresa Gouveia, Marçal Grilo, André Gonçalves Pereira, Artur Santos Silva, Diogo Lucena, Rui Vilar. Nenhum destes gestores tem a menor sensibilidade ou currículo académico na área cultural. Alguns são apreciadores de arte mas não passam de meros diletantes na melhor das hipóteses. Nem sequer têm capacidade de apreciação do que são as correntes estéticas no domínio da música ou da dança. São pois facilmente influenciáveis por opiniões enviesadas de colaboradores ou de pessoas com influência na área e que estão interessadas em canalizar fundos para outras áreas, muito sectoriais, dentro das correntes estéticas existentes actualmente.
A FCG tem actuado como motor do desenvolvimento em Portugal, tem sido uma espécie de Ministério da Cultura e tem substituído o Estado, que também se tem demitido sistematicamente da sua missão de desenvolvimento cultural, sobretudo em áreas que nunca se podem pagar com teorias liberais, ou seja: à custa dos capitais dos empresários e gestores portugueses que como é sabido são dos mais grunhos empresários e gestores do mundo. Tem subsidiado e tem tido intervenção directa. Parece que ambas as componentes se têm reduzido, nomeadamente na área científica e na área musical (redução drástica dos serviços de ciência, desaparecimento do órgão na programação, quase extinção da música antiga, desaparecimento da música contemporânea, extinção do Ballet). Não é lógico que uma Fundação tenha apenas uma componente, ou seja a atribuição de subsídios, como se tem dito por aí. Seria a pura e simples retirada da Fundação da cultura portuguesa a médio prazo. Nos primeiros anos existirá apoio, mas a minha previsão, e espero estar errado, é a demissão gradual da Fundação na área indicada.
A teoria de que se virá a gastar o mesmo orçamento no apoio à dança é trocar o certo pelo incerto, creio mesmo que será o caminho para o total desinvestimento a pouco e pouco na área, e uma poupança de fundos que os administradores não têm tido capacidade, nem imaginação, nem competência, de produzir, ou pelo menos de aumentar fortemente, o que poderia ter sido feito ao longo dos anos de crescimento económico e ainda poderia ser feito com mais arrojo e capacidade de iniciativa na área estritamente empresarial da Fundação. O que é certo é que olhando para os actuais gestores, olhando para total ausência de transparência da gestão, olhando para os métodos usados para a extinção de uma companhia de dança, olhando para um comunicado opaco e arrogante, observando a história recente de desinvestimento da Fundação, verificando o encerramento da FCG sobre si própria, como se tratasse de um estado dentro do estado, a recusa de enfrentar com coragem e assumindo dificuldades, recusando qualquer hipótese de ajuda exterior tendo como base o próprio autismo que não enfrenta a mudança, funcionando como tivesse ainda de se defender, encerrando-se mas trabalhando bem, de um regime totalitário. Acaba a FCG finalmente em regime democrático, a trabalhar mal, como se estivesse a viver na prosperidade habitual, o que não é manifestamente verdade.
É incrível a deselegância, a falta de respeito e mesmo falta de educação da Administração ao acabar com uma temporada programada, anunciada e à venda! É uma falta de respeito e de responsabilidade social da Administração para com funcionários, e sobretudo para com o público e a sociedade fazer como fez. Uma Administração que faz como faz, esconde as coisas como esconde, não merece respeito ou o benefício da dúvida. Cavalheiros não agem assim.
Se a FCG estivesse empresarialmente saudável não só teria mantido a companhia de bailado como teria conseguido crescer de forma a apoiar outras áreas de forma complementar, basta ver o que aconteceu ao BCP nos anos em que a Fundação andou a demitir-se de projecto atrás de projecto. A solução é mudar, é transparência, é realizar mudanças na Administração (quase impossíveis face aos estatutos!), é admitir ou pelo menos não dar azo à suspeita com comportamento suspeito, é criar parcerias, é obter sponsors e patrocínios, é negociar com o Estado para não destruir gratuitamente um património único e indispensável a troco de interesses enviesados e pouco claros. É também exigir ao Estado, que representa a sociedade, uma rigorosa vigilância do que se passa dentro das portas cerradas de instituições como a Gulbenkian. O tempo de Salazar versus Azeredo Perdigão passou à história e os titãs já morreram com Prometeu.
O último relatório e contas da Fundação que encontro é o de 2000 e num resumo muito parcial. Não sei se existe algum posterior que esteja publicado. Agradeço que quem conheça algum destes relatórios que me informe. A minha mais forte convicção é que a Fundação tem regredido nas suas fontes de receita. Que não tem expandido a colossal herança de Calouste Gulbenkian nem tem tido qualquer estratégia empresarial digna desse nome no que diz respeito aos seus proventos. Confesso que é apenas uma ideia que vou alicerçando na observação da redução da intervenção da Fundação a nível cultural. De qualquer modo a Fundação gere um património que foi legado sobretudo aos povos português e arménio. A Fundação tem responsabilidades públicas que saem da sua esfera meramente privada.
A Fundação tem recrutado para a sua Administração gente oriunda da vida política e "banqueiros" (melhor seria dizer gestores bancários): Isabel Mota, Teresa Gouveia, Marçal Grilo, André Gonçalves Pereira, Artur Santos Silva, Diogo Lucena, Rui Vilar. Nenhum destes gestores tem a menor sensibilidade ou currículo académico na área cultural. Alguns são apreciadores de arte mas não passam de meros diletantes na melhor das hipóteses. Nem sequer têm capacidade de apreciação do que são as correntes estéticas no domínio da música ou da dança. São pois facilmente influenciáveis por opiniões enviesadas de colaboradores ou de pessoas com influência na área e que estão interessadas em canalizar fundos para outras áreas, muito sectoriais, dentro das correntes estéticas existentes actualmente.
A FCG tem actuado como motor do desenvolvimento em Portugal, tem sido uma espécie de Ministério da Cultura e tem substituído o Estado, que também se tem demitido sistematicamente da sua missão de desenvolvimento cultural, sobretudo em áreas que nunca se podem pagar com teorias liberais, ou seja: à custa dos capitais dos empresários e gestores portugueses que como é sabido são dos mais grunhos empresários e gestores do mundo. Tem subsidiado e tem tido intervenção directa. Parece que ambas as componentes se têm reduzido, nomeadamente na área científica e na área musical (redução drástica dos serviços de ciência, desaparecimento do órgão na programação, quase extinção da música antiga, desaparecimento da música contemporânea, extinção do Ballet). Não é lógico que uma Fundação tenha apenas uma componente, ou seja a atribuição de subsídios, como se tem dito por aí. Seria a pura e simples retirada da Fundação da cultura portuguesa a médio prazo. Nos primeiros anos existirá apoio, mas a minha previsão, e espero estar errado, é a demissão gradual da Fundação na área indicada.
A teoria de que se virá a gastar o mesmo orçamento no apoio à dança é trocar o certo pelo incerto, creio mesmo que será o caminho para o total desinvestimento a pouco e pouco na área, e uma poupança de fundos que os administradores não têm tido capacidade, nem imaginação, nem competência, de produzir, ou pelo menos de aumentar fortemente, o que poderia ter sido feito ao longo dos anos de crescimento económico e ainda poderia ser feito com mais arrojo e capacidade de iniciativa na área estritamente empresarial da Fundação. O que é certo é que olhando para os actuais gestores, olhando para total ausência de transparência da gestão, olhando para os métodos usados para a extinção de uma companhia de dança, olhando para um comunicado opaco e arrogante, observando a história recente de desinvestimento da Fundação, verificando o encerramento da FCG sobre si própria, como se tratasse de um estado dentro do estado, a recusa de enfrentar com coragem e assumindo dificuldades, recusando qualquer hipótese de ajuda exterior tendo como base o próprio autismo que não enfrenta a mudança, funcionando como tivesse ainda de se defender, encerrando-se mas trabalhando bem, de um regime totalitário. Acaba a FCG finalmente em regime democrático, a trabalhar mal, como se estivesse a viver na prosperidade habitual, o que não é manifestamente verdade.
É incrível a deselegância, a falta de respeito e mesmo falta de educação da Administração ao acabar com uma temporada programada, anunciada e à venda! É uma falta de respeito e de responsabilidade social da Administração para com funcionários, e sobretudo para com o público e a sociedade fazer como fez. Uma Administração que faz como faz, esconde as coisas como esconde, não merece respeito ou o benefício da dúvida. Cavalheiros não agem assim.
Se a FCG estivesse empresarialmente saudável não só teria mantido a companhia de bailado como teria conseguido crescer de forma a apoiar outras áreas de forma complementar, basta ver o que aconteceu ao BCP nos anos em que a Fundação andou a demitir-se de projecto atrás de projecto. A solução é mudar, é transparência, é realizar mudanças na Administração (quase impossíveis face aos estatutos!), é admitir ou pelo menos não dar azo à suspeita com comportamento suspeito, é criar parcerias, é obter sponsors e patrocínios, é negociar com o Estado para não destruir gratuitamente um património único e indispensável a troco de interesses enviesados e pouco claros. É também exigir ao Estado, que representa a sociedade, uma rigorosa vigilância do que se passa dentro das portas cerradas de instituições como a Gulbenkian. O tempo de Salazar versus Azeredo Perdigão passou à história e os titãs já morreram com Prometeu.
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