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27.3.07

O Salazarito que há em nós 

Não, não é impune um país que durante cinquenta anos viu os seus filhos devorados pelo tempo.
Não, não é impune o medo de viver, o medo de existir. Não é impune a cólera surda da ignorância e da humilhação nos anões do Portugal de hoje.
Os Portugueses são senhores de um poder que não existe, num país de faz de conta, fugaz alucinação de esperança logo submersa pela inveja lamacenta e viscosa. Portugal é o paraíso da inveja: senhores de uma inveja notável os portugueses afundam-se uns aos outros e a quem cai na alçada dos detentores do poder imaginário, um poder que, se usado para servir os outros, ainda poderia ter alguma utilidade mas que apenas é usado para destruir e destruir e destruir.
A grande obra de arte deste Portugal de hoje é a mesquinha incapacidade de fazer e a inveja de quem pouco faz. Portugal que, mesmo assim, vai conseguindo subsistir milagrosamente como país de pedintes choramingas em negociações internacionais. Medíocres incapazes ou corruptos cúpidos, os portugueses são o espelho da miséria mesquinha de quem os governou durante séculos, são o barro moldado pelo rotativismo, pela primeira república, pelo salazarismo e pela incompetência e corrupção democráticas. Dá cá o meu, o primeiro lema, não sei e tenho raiva a quem sabe, o segundo lema de todo o "bom português". Todo lusito age e reage, sobretudo reage, por estes bons e consagrados lemas. Quem ousa pensar, sair do esquema, está perdido, condenado.
A hierarquia vinda dos tempos do Salazar, onde vigora o princípio da não discussão das ordens dos sargentos de segunda que nos têm governado, e que vão pisando, de acordo com as suas frustações, quem pensa pela sua cabeça, é a instituição mais sagrada. Não importa se uma discussão é válida, se as ideias dos outros são boas, se os governantes têm decidido a favor do Estado e dos cidadãos ou contra. Cidadãos esses que, bem seja dito, também se estão nas tintas para a maior parte das decisões.
O que se passa em Portugal é simples, os salazaritos de terceira decidem: "fomos eleitos para isso" e "ninguém deve discutir".
Quem sabe mais dos assuntos e quer analisar, discutir, informar o público das "ordens superiores" deve antes de tudo calar o bico, senão está a pôr em causa a "hierarquia" e a "desautorizar os chefes". Não se pode mexer na ordem podre desta gente medíocre que não tem coragem de dizer o que quer, e como quer, a quem lhes paga os ordenados do dinheiro dos impostos, porque não tem coragem para explicar o nada, nem tem autoridade moral e intelectual para discutir, com argumentos válidos, o que quer que seja.
Na cultura a única autoridade, com 0.1% do PIB nas mãos, é para destruir, não existe capacidade objectiva (e subjectiva, como se tem visto) de fazer.
Paolo Pinamonti foi corrido de forma grosseira do teatro Nacional de S. Carlos, estando o italiano disponível para continuar após seis anos a provar ter altas capacidades para o cargo, apenas porque discutiu as "ordens" dos tais senhores da hierarquia. Quem o descartou lesou gravemente o Estado e os cidadãos em termos da qualidade e referência internacional mas também em termos financeiros objectivos: Pinamonti estava na sua produtividade máxima e em tempo integral em Lisboa, Dammann vem em part-time a ganhar o mesmo.
Finalmente, quem decide assim lesa-se a si próprio e não é capaz de o enxergar. Será que os especialistas na utilização da palavra "hermenêutica" serão os piores a interpretar a expressão "balde do lixo da história"?

Compreendo perfeitamente porque Salazar ganhou o concurso do Maior Português. Salazar é o grande modelo dos portugueses: uns admitem, outros imitam. Creio que são preferíveis os assumidos aos recalcados. Apesar de merecida a sua vitória (ele é o modelo de todo um país), também não deixo de incluir António de Oliveira Salazar no "Grande Balde do Lixo da História Portuguesa", tem o prémio de ter conseguido deixar o país destruído e atrasado mais de cem anos e foi, obviamente uma grande figura a fazê-lo. As figuras ainda menos meritórias de Mário Vieira de Carvalho, julgando que tudo sabe, ou Isabel Pires de Lima, que anda a leste de tudo o que não acontece num raio de três quilómetros do Bolhão, não passam de figurinhas transitórias e ficam no "pequeníssimo balde do lixo da história portuguesa". Serão notas de notas de rodapé, ficarão apenas conhecidos pelas asneiras. Serão figuras incontroversas (ao contrário de Salazar) da calinada. Quem era aquele secretário de Estado que demitiu Pinamonti, o melhor director do S. Carlos no início do século XXI?

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15.3.07

Amigos do S. Carlos apelam a Sócrates 

Não acredito que Sócrates sequer leia o que os Amigos do S. Carlos lhe pedem. O autismo governativo de Sócrates relativamente à cultura e ao saber têm origuem, segundo creio numa análise que tenho vindo a fazer desde há algum tempo, nos complexos de inferioridade cultural e académica do primeiro minstro. Sócrates em termos culturais é um desastre, um carreirista político que foi construindo a sua vida política através da pequena manobra e não alicerçado em qualquer feito académico, científico, empresarial, cultural ou mesmo político de fundo. José Sócrates Pinto de Sousa nem sequer é engenheiro, e o seu percurso académico é nebuloso, nunca escreveu uma linha de doutrina política ou um texto relevante. Os seus discursos são genéricos e sem qualquer substrato profundo. As suas aparições em eventos culturais são escassas e apenas representativas, não se lhe conhece gosto pela música. Não tem qualquer sensibilidade para a cultura como se viu pelos orçamentos de Estado. Está-se nas tintas para o assunto, sobra-lhe apenas alguma determinação e faro político para a manobra da baixa política. É óbvio que usa como modelo Salazar, mas este último era licenciado e doutorado por uma Universidade de prestígio e tinha carreira académica e currículo político na área das finanças e era superiormente inteligente; mesmo tendo em conta que Salazar foi um tacanho de visão limitada por opção filosófica e também por complexos de origem, Sócrates ainda consegue ser mais limitado e com mais falta de Mundo. Até no gosto pela música lhe faltam as referências que o ditador de Santa Comba Dão tinha. Salazar sempre acarinhou o S. Carlos e as orquestras portuguesas. Sócrates apesar de eleito democraticamente e de ser um candidato a ditador em democracia não passa de um amador ingnorante, inculto e primário, um salazareco de segunda. Nunca se preocupará com questões que não achar importantes para a manutenção e reforço do seu projecto de poder pessoal: é óbvio que o S. Carlos não passa por aí.
Os aparatchniks da Ajuda estão livres para fazerem o que quiserem no capítulo destruição do que existe, porque construir, caros leitores, isso só com dinheiro. E o Sócrates e o Teixeira dos Santos para a cultura não dão (nem para a Educação dão).
Do mal o menos, o Santos ainda tem currículo académico e sabe-se onde tirou os cursos, é aluno de Salazar no qual se especializou academicamente, e não esconde as suas doutrinas e a origem das suas políticas financeiras, mas desprezando o exemplo de mandar dar o cachet à Guilhermina Suggia. Sobra a Casa da Música, que por ser no Porto, recebe a fatia maior do Orçamento da cultura para piorar escandalosamente a sua programação, e veremos o que o futuro nos reserva, mas começo a duvidar de uma programação melhor a longo prazo e a uma apresentação atempada da mesma.
Por agora teremos que ficar com o Dammann, que tem tido críticas muito fortes em Colónia e que veria a sua renovação em risco nesta cidade, a fazer um part-time em Lisboa até 2008 segundo umas fontes e 2009 segundo outrs, ganhando um vencimento de 10.000 euros por mês. Hoje saberemos mais detalhes na conferência de imprensa de apresentação.

Segue notícia do Expresso Online.


Afastamento de Pinamonti em causa
Amigos do São Carlos apelam ao primeiro-ministro
Luciana Leiderfarb

Descontente com processo de afastamento de Paolo Pinamonti da direcção artística do São Carlos, a direcção da associação de amigos do teatro lisboeta apela à intervenção de José Sócrates.


Amigos do São Carlos apelam ao primeiro-ministro
Nuno Botelho
O afastamento de Paolo Pinamonti está a preocupar os Amigos do São Carlos

18:21 | quarta-feira, 14 MAR 07

A direcção dos Amigos do São Carlos qualificou de "abrupta e desrespeitosa" a forma como se processou o afastamento de Paolo Pinamonti da direcção daquele Teatro e apelou a uma "intervenção pessoal do primeiro-ministro".
Num comunicado à imprensa, assinado pelo musicólogo Rui Vieira Nery, manifesta-se preocupação pelo "vazio de poder agora criado no São Carlos, com o anúncio da contratação de um director ausente, que pouco mais poderá assegurar do que uma função de programador itinerante". A esta situação soma-se o facto de o vazio acontecer "num momento crucial da fusão do teatro com a Companhia Nacional de Bailado no quadro do novo figurino orgânico da Opart (Organismo de Produção Artística), cujas linhas gerais ainda se desconhecem".
No mesmo documento, os Amigos do São Carlos confessam-se "apreensivos" no que toca às linhas gerais esboçadas pelo Ministério da Cultura para o futuro do único teatro lírico do país: "Os objectivos de um teatro nacional português integrado na rede europeia de produção operática não podem confundir-se com a missão específica de um espaço de formação avançada e profissionalização para jovens intérpretes".
Recorde-se que o secretário de Estado da Cultura, Mário Vieira de Carvalho, referiu, numa conferência de imprensa realizada ontem em Lisboa, pretender "a captação de novos públicos" e "oportunidades para jovens artistas", apostando "nos portugueses que ainda não chegaram à ópera".
Por fim, critica-se a vontade expressa da tutela de multiplicar o número de récitas, o que "só seria possível com meios orçamentais que consabidamente o Ministério não está em condições de garantir, a não ser à custa da degradação acentuada do nível qualitativo das produções".

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