25.6.08
Artigo de Luís Miguel Cintra no "O Público"
Reproduzo com a devida vénia o artigo de Luís Miguel Cintra no Jornal "O Público". Vale a pena ler...
A ex-ministra e a Cinemateca
25.06.2008, Luís Miguel Cintra, Actor e encenador
A obra de Bénard da Costa é um dos poucos aspectos da política cultural de que nos podemos sentir orgulhosos
Apatética ignorância, inconsciência e arrogância com que a dra. Isabel Pires de Lima, a pretexto da defesa da criação de um pólo da Cinemateca na cidade do Porto, insulta o dr. João Bénard da Costa, como director da Cinemateca Portuguesa, no artigo que publicou no PÚBLICO de 6.5.08, obriga-me a duas palavras em sua defesa.
A obra do dr. João Bénard à frente da Cinemateca Portuguesa é um dos poucos aspectos da política cultural em que nos podemos sentir orgulhosos de sermos portugueses. Não é com certeza o actual Teatro Nacional, a que a sua acção como ministra deu origem e onde se pratica um teatro de características comerciais, ou uma programação baseada em critérios de gestão que nada têm a ver com critérios artísticos e comandada por um caricato marketing, que o consegue. Nem tão-pouco a decadência do nosso Teatro de Ópera, o S. Carlos, a que conduziu a substituição, ordenada por si, da anterior direcção. Por estranho que pareça, a nossa Cinemateca é uma das melhores cinematecas da Europa e talvez do Mundo. A sua programação e os critérios que lhe presidem, a função que tem desempenhado na preservação dos filmes, é um modelo de defesa e preservação de uma Arte de suporte técnico particularmente frágil e delicado. Mas essa obra, financiada pelo Estado, tem uma cara, um autor, o dr. João Bénard da Costa. Só porque existe essa pessoa com a inteligência, o saber, o amor pelo Cinema e os conhecimentos técnicos que tem ou que conseguiu reunir através da equipa que tem escolhido para o ajudar, a nossa Cinemateca é assim. Parece-me inacreditável que uma pessoa que há tão pouco tempo era responsável pela condução da política do Estado para a Cultura tenha a veleidade, e passe pela vergonha, de pôr em causa a acção do dr. João Bénard da Costa como director da Cinemateca, para defender a criação de um "pólo" da Cinemateca com o simplório argumento de que os habitantes do Porto vêem poucos filmes antigos. Não passará pela cabeça da antiga ministra que talvez as razões do dr. João Bénard para não aceitar fazê-lo possam ser mais responsáveis, mais sabedoras e menos superficiais que a conclusão a que chegou olhando para uma qualquer estatística? A dra. Pires de Lima será tão ignorante que não tenha sequer consciência da sua incompetência para falar destes assuntos perante a autoridade de uma pessoa como o dr. Bénard da Costa? E não esteve nas suas mãos como ministra obrigar o dr. João Bénard a fundar o tal "pólo"? Porque não o pôs na rua como fez ao dr. Pinamonti e não arranjou outro director capaz de fundar o "pólo" da Cinemateca para exibir filmes antigos para os portuenses? Porque não fez obra e não fundou a Cinemateca do Porto? Não terá a dra. Isabel Pires de Lima consciência de que pôr a funcionar uma Cinemateca a sério não consiste apenas em ir a um catálogo e pôr filmes antigos a correr? Achará que é a mesma coisa ver um filme nas mais próximas condições possíveis daquelas em que foi concebido pelo seu autor, como a Cinemateca "do" dr. João Bénard faz, que ver DVD projectados num ecrã? Não terá consciência do que é a responsabilidade de "programar"? Pensará a dra. que abrir "um pólo" de uma Cinemateca noutra cidade é a mesma coisa que abrir outra FNAC noutro centro comercial? Não tem vergonha de confundir uma Cinemateca com "oferta" de cinema? Se o que pretende para o Porto é uma sala onde possa ir sair à noite e conviver com o pretexto da projecção de um filme antigo, para depois ir beber um copo, é fácil. Basta fazer uma sala confortável, arranjar um projeccionista, máquina de projectar e um programador que faça uma escolha variada para todos os gostos. Há tanto filme "clássico" à venda em formato DVD na Internet! E para isso não precisa do dr. Bénard da Costa. Mas um "pólo" desses não é a acção de uma Cinemateca. Não terá a senhora consciência de que uma Cinemateca de DVD seria como um museu em que se exibissem as reproduções dos quadros e não os quadros que os pintores pintaram? Além disso, não reparou ainda que a sua tão defendida descentralização corresponde apenas a um ponto de vista de mero consumidor? Para si, a descentralização cultural é apenas exportar para a província o que se vê na capital? Não preferia que a sua cidade e todas as outras cidades de província gerassem Cultura? Não terá ainda sentido como é difícil criar na população uma verdadeira prática cultural inteligente, responsável? E que mais do que transformar a Cultura em mercado o que importa é formar, é não perder a oportunidade de ainda aprender com quem sabe, não baixar a fasquia? Se assim é, envergonha-me profundamente ser cidadão de um país que a teve como ministra da Cultura.
Temo que as verdadeiras razões que estão na origem do artigo de Isabel Pires de Lima sejam menos filantrópicas que aquilo que querem aparentar. O seu irresponsável ataque ao dr. Bénard da Costa a reboque de uma saudável petição para a criação de uma Cinemateca no Porto não será apenas uma patética tentativa de ficar bem vista na cidade a que voltou depois do passeio de camelo? O Porto está por certo mais vivo culturalmente do que a dra. Pires de Lima esteve como ministra. Assim o Estado ou a própria cidade lhe dessem meios para existir. Já se esqueceram do que aconteceu ao Rivoli? Oxalá se consiga transformar a prometida Casa Manoel de Oliveira na Casa do Cinema de que o Porto precisa. Com a defesa, a preservação, o respeito, a exaltação do Cinema como Arte a que a obra de um tão grande cineasta obriga a sua cidade. E a verdadeira prática cultural que daí possa advir.
Como talvez dissesse, e infelizmente já não pode dizer, outro grande cineasta português, João César Monteiro, à dra. Isabel: "Sois belle et tais toi!".
A ex-ministra e a Cinemateca
25.06.2008, Luís Miguel Cintra, Actor e encenador
A obra de Bénard da Costa é um dos poucos aspectos da política cultural de que nos podemos sentir orgulhosos
Apatética ignorância, inconsciência e arrogância com que a dra. Isabel Pires de Lima, a pretexto da defesa da criação de um pólo da Cinemateca na cidade do Porto, insulta o dr. João Bénard da Costa, como director da Cinemateca Portuguesa, no artigo que publicou no PÚBLICO de 6.5.08, obriga-me a duas palavras em sua defesa.
A obra do dr. João Bénard à frente da Cinemateca Portuguesa é um dos poucos aspectos da política cultural em que nos podemos sentir orgulhosos de sermos portugueses. Não é com certeza o actual Teatro Nacional, a que a sua acção como ministra deu origem e onde se pratica um teatro de características comerciais, ou uma programação baseada em critérios de gestão que nada têm a ver com critérios artísticos e comandada por um caricato marketing, que o consegue. Nem tão-pouco a decadência do nosso Teatro de Ópera, o S. Carlos, a que conduziu a substituição, ordenada por si, da anterior direcção. Por estranho que pareça, a nossa Cinemateca é uma das melhores cinematecas da Europa e talvez do Mundo. A sua programação e os critérios que lhe presidem, a função que tem desempenhado na preservação dos filmes, é um modelo de defesa e preservação de uma Arte de suporte técnico particularmente frágil e delicado. Mas essa obra, financiada pelo Estado, tem uma cara, um autor, o dr. João Bénard da Costa. Só porque existe essa pessoa com a inteligência, o saber, o amor pelo Cinema e os conhecimentos técnicos que tem ou que conseguiu reunir através da equipa que tem escolhido para o ajudar, a nossa Cinemateca é assim. Parece-me inacreditável que uma pessoa que há tão pouco tempo era responsável pela condução da política do Estado para a Cultura tenha a veleidade, e passe pela vergonha, de pôr em causa a acção do dr. João Bénard da Costa como director da Cinemateca, para defender a criação de um "pólo" da Cinemateca com o simplório argumento de que os habitantes do Porto vêem poucos filmes antigos. Não passará pela cabeça da antiga ministra que talvez as razões do dr. João Bénard para não aceitar fazê-lo possam ser mais responsáveis, mais sabedoras e menos superficiais que a conclusão a que chegou olhando para uma qualquer estatística? A dra. Pires de Lima será tão ignorante que não tenha sequer consciência da sua incompetência para falar destes assuntos perante a autoridade de uma pessoa como o dr. Bénard da Costa? E não esteve nas suas mãos como ministra obrigar o dr. João Bénard a fundar o tal "pólo"? Porque não o pôs na rua como fez ao dr. Pinamonti e não arranjou outro director capaz de fundar o "pólo" da Cinemateca para exibir filmes antigos para os portuenses? Porque não fez obra e não fundou a Cinemateca do Porto? Não terá a dra. Isabel Pires de Lima consciência de que pôr a funcionar uma Cinemateca a sério não consiste apenas em ir a um catálogo e pôr filmes antigos a correr? Achará que é a mesma coisa ver um filme nas mais próximas condições possíveis daquelas em que foi concebido pelo seu autor, como a Cinemateca "do" dr. João Bénard faz, que ver DVD projectados num ecrã? Não terá consciência do que é a responsabilidade de "programar"? Pensará a dra. que abrir "um pólo" de uma Cinemateca noutra cidade é a mesma coisa que abrir outra FNAC noutro centro comercial? Não tem vergonha de confundir uma Cinemateca com "oferta" de cinema? Se o que pretende para o Porto é uma sala onde possa ir sair à noite e conviver com o pretexto da projecção de um filme antigo, para depois ir beber um copo, é fácil. Basta fazer uma sala confortável, arranjar um projeccionista, máquina de projectar e um programador que faça uma escolha variada para todos os gostos. Há tanto filme "clássico" à venda em formato DVD na Internet! E para isso não precisa do dr. Bénard da Costa. Mas um "pólo" desses não é a acção de uma Cinemateca. Não terá a senhora consciência de que uma Cinemateca de DVD seria como um museu em que se exibissem as reproduções dos quadros e não os quadros que os pintores pintaram? Além disso, não reparou ainda que a sua tão defendida descentralização corresponde apenas a um ponto de vista de mero consumidor? Para si, a descentralização cultural é apenas exportar para a província o que se vê na capital? Não preferia que a sua cidade e todas as outras cidades de província gerassem Cultura? Não terá ainda sentido como é difícil criar na população uma verdadeira prática cultural inteligente, responsável? E que mais do que transformar a Cultura em mercado o que importa é formar, é não perder a oportunidade de ainda aprender com quem sabe, não baixar a fasquia? Se assim é, envergonha-me profundamente ser cidadão de um país que a teve como ministra da Cultura.
Temo que as verdadeiras razões que estão na origem do artigo de Isabel Pires de Lima sejam menos filantrópicas que aquilo que querem aparentar. O seu irresponsável ataque ao dr. Bénard da Costa a reboque de uma saudável petição para a criação de uma Cinemateca no Porto não será apenas uma patética tentativa de ficar bem vista na cidade a que voltou depois do passeio de camelo? O Porto está por certo mais vivo culturalmente do que a dra. Pires de Lima esteve como ministra. Assim o Estado ou a própria cidade lhe dessem meios para existir. Já se esqueceram do que aconteceu ao Rivoli? Oxalá se consiga transformar a prometida Casa Manoel de Oliveira na Casa do Cinema de que o Porto precisa. Com a defesa, a preservação, o respeito, a exaltação do Cinema como Arte a que a obra de um tão grande cineasta obriga a sua cidade. E a verdadeira prática cultural que daí possa advir.
Como talvez dissesse, e infelizmente já não pode dizer, outro grande cineasta português, João César Monteiro, à dra. Isabel: "Sois belle et tais toi!".
Etiquetas: Cinemateca, Luís Miguel Cintra, Pires de Lima
20.6.08
Alemanha - Portugal 3-2
A diferença entre Alemanha e Portugal não passa só pelo Football: a Alemanha tem um ministro da cultura nós temos um ribeiro seco.
Ah! e temos o Sol.
Agora que acabou a ilusão nacional pergunto: onde pára a temporada do S. Carlos para o ano? É que na Alemanha eu sei as temporadas de todos os teatros para 2008/2009 e muitos para 2009/2010. Será a nova característica Dammann? O anúncio da temporada para depois desta acontecer? Uma novidade tedesca com mais Chelsey Schill e Duisburg? Neste caso até nem me parece, julgo que é mais uma peculiaridade do vácuo ministerial deste pinto, que nunca mais chega a galo, que acontece na cultura portuguesa.
Ah! e temos o Ronaldo.
No ensino alemão os meninos têm de aprender: se estão a ter maus resultados aumenta-se o número de aulas, fazem-se programas especiais e estudam mais, mas não se baixa o grau de exigência. O objectivo é a formação, é a preparação. Em Portugal quando os meninos chumbam muito fazem-se exames mais fáceis.
Ah! e temos o Sol.
Agora que acabou a ilusão nacional pergunto: onde pára a temporada do S. Carlos para o ano? É que na Alemanha eu sei as temporadas de todos os teatros para 2008/2009 e muitos para 2009/2010. Será a nova característica Dammann? O anúncio da temporada para depois desta acontecer? Uma novidade tedesca com mais Chelsey Schill e Duisburg? Neste caso até nem me parece, julgo que é mais uma peculiaridade do vácuo ministerial deste pinto, que nunca mais chega a galo, que acontece na cultura portuguesa.
Ah! e temos o Ronaldo.
No ensino alemão os meninos têm de aprender: se estão a ter maus resultados aumenta-se o número de aulas, fazem-se programas especiais e estudam mais, mas não se baixa o grau de exigência. O objectivo é a formação, é a preparação. Em Portugal quando os meninos chumbam muito fazem-se exames mais fáceis.
Etiquetas: António Pinto Ribeiro, Vácuo na Cultura
9.6.08
Vitória de Portugal no Football
A seleção de football ganhou aos turcos, fumei um puro havano, bebi um Porto com cem anos, sorri em silêncio e lamentei um país perdido, desliguei a televisão e dei um passeio até à velha estação de comboios e tentei escutar um rouxinol, um velho amigo meu, que costuma cantar à meia noite, não o consegui ouvir...
4.6.08
No reino da fantasia
Na notícia da Lusa, que reproduzo mais abaixo, Christoph Dammann, o director artístico em part time do Teatro Nacional de S. Carlos, dá-nos uma lição de fantasia e de autismo. Esquecendo os castings miseráveis, as escolhas desastrosas de cantores e maestros, o fiasco absoluto de Das Märchen (catalogada de "obra prima") as novas produções inenarráveis, esquecíveis e invendáveis, um Rigoletto na antologia do desastre e uma nona de Beethoven num concerto de "gala" onde se reinventou o conceito de massacre musical a par de uma enorme série de lixo esquecível, Dammann disserta sobre uma das piores temporadas do S. Carlos de sempre, arrisco eu sem grande margem para errar.
No meu entender o grande destaque é mesmo a inabilidade para a escolha de cantores, maestros e encenadores e, sobretudo, o desconhecimento do mercado onde se encontram cantores muito melhores a preços mais baixos do que os apresentados no S. Carlos em 2007/2008. Elisabete Matos e Vaneev foram as únicas estrelas dignas de alguma nomeada numa temporada inteira. Eu diria que este desconhecimento não é marca de más escolhas artísticas ou de apostas erradas mas até interessantes à partida. Este errar sistemático é grave porque demonstra ignorância e, portanto, incapacidade para o cargo, dou como exemplo o brasileiro Bauer: qualquer especialista ou mesmo qualquer melómano informado sabia que o cantor era incapaz para Cavaradossi, apenas o sr. Dammann e o seu "director de elencos" não o deviam imaginar...
Sabendo eu que, para Lisboa, com perseverança e negociando de forma profissional, é possível obter bons cantores a preços inferiores ao mercado internacional, vá-se lá saber porquê mas é o que todos os agentes com que tenho falado me dizem (algo que tem a ver com a história do teatro e o charme da cidade), o que espanta é o cinzentismo bizonho do tal "director de elencos" Sven Müller, uma criatura que me parece um dos principais problemas do Tactual eatro de S. Carlos a par de um director artístico fruto da mente de um grande artista da intelectualidade nacional, essa luminária da política portuguesa que dá pelo nome de Mário Vieira de Carvalho, mas até os homens de grande estatura se podem equivocar...
Ontem lá fui ver mais uma Tosca, e sem Elisabete Matos e Vladimir Vaneev, o segundo elenco apresentava um tenor estrangulado, uma Tosca teatralmente tosca e sem carisma com voz anasalada e vibrato horrível sem controlo vocal nem emissão uniforme e um Scarpia que, sem ser maligno, era pouco convincente na sua brutalidade a destruir as linhas vocais de Puccini numa desafinação gritada e contínua e numa representação grosseira, o malvado do Scarpia tornava-se assim risível. O pobre do tenor enrouquecido lá gritava como podia e aquilo arrastava-se no meio do bombardeamento orquestral produzido por um maestro sem capacidade de nuance, possuído pela ânsia do barulho pelo barulho... Desastroso dia, o de ontem, se o primeiro elenco aguentou razoavelmente bem a carga do minúsculo koenigs, o elenco de quinta linha de ontem soçobrou diante da barreira sonora gratuita produzida no fosso da orquestra, orquestra da qual me dispenso a falar mas que também não foi perfeita, apesar de sonoridades belas como no solo de clarinete...
Entretanto a encenação de Carsen resistindo ao tempo mostra-se digna naquela que foi a única produção digna de algum registo da temporada, mas aqui parece que a escolha foi de Pinamonti.
E sobre o Ring nem uma palavra: uma temporada hermenêutica sem Wagner.
Para o ano há mais mas mais uma vez estamos em Junho e nada de nova temporada. Eu sei o que acontece no mundo inteiro excepto em Lisboa. Em Salzburg tenho reservas para 2009 e 2010 e prepararo-me para escolhar 2011...
Ópera: Dammann elogia "Das Märchen" e diz-se "satisfeito" com temporada
03 de Junho de 2008, 14:29
Lisboa, 03 Jun (Lusa) - O director artístico do São Carlos, Christoph Dammann, afirmou que a estreia da ópera "Das Märchen" deu ao teatro "uma notoriedade significativa no panorama internacional", num balanço da temporada lírica que termina sábado e o deixou "satisfeito".
"Tendo em conta as circunstâncias da transição e as limitações para a sua preparação, estou satisfeito com os resultados no que se refere às produções apresentadas, aos artistas contratados e à resposta do público", disse à Lusa Dammann, num balanço da primeira temporada em que dirigiu o teatro lírico nacional.
Sobre a polémica estreia, em Janeiro, da ópera do compositor português Emmanuel Nunes "Das Märchen", que tinha sido apontada como uma das grandes apostas do São Carlos para esta temporada, o director disse que não se pode afirmar que "tenha corrido mal".
A estreia da primeira ópera de Emmanuel Nunes, uma encomenda do São Carlos, da Casa da Música e da Fundação Gulbenkian e que teve um orçamento de um milhão de euros, foi transmitida em directo para 14 cine-teatros em todo o país, com escassos espectadores a ficarem nas salas até ao final da apresentação.
No próprio São Carlos, parte do público também saiu antes da ópera terminar e as críticas foram igualmente desfavoráveis à obra, aguardada com expectativa.
"Não podemos afirmar que a estreia tenha corrido mal. Os teatros líricos, e não só, também devem apoiar e estimular a criação de novas óperas. Das Märchen, de Nunes, é, sem dúvida, uma obra-prima, e ao mesmo tempo uma ópera complexa e hermética, de difícil compreensão", sublinhou Dammann, que respondeu por escrito às perguntas da Lusa.
"O São Carlos é um teatro nacional e por isso tem por missão apresentar com alguma regularidade produções que não se inscrevam automaticamente no gosto do público. É importante criar um espaço para a apresentação de óperas menos dirigidas a audiências alargadas em equilíbrio com os grandes títulos do repertório lírico", continuou.
Para Dammann, "com esta estreia o São Carlos atingiu uma notoriedade significativa no panorama lírico internacional".
A obra de Emmanuel Nunes recebeu "críticas internacionais muito positivas", assinalou, acrescentando que "foi uma produção difícil em que todos os que nela participaram fizeram um excelente trabalho".
Uma das novidades do primeiro ano desta direcção foi a criação das "Matinées Famílias", com espectáculos de algumas óperas escolhidas (três nesta temporada) a preços reduzidos para famílias com crianças ou jovens, iniciativa que Dammann considerou "um sucesso".
"A adesão do público foi motivação suficiente para manter o projecto vivo para a próxima temporada", prometeu.
O alemão Christoph Dammann foi anunciado em Março de 2007 como o sucessor de Paolo Pinamonti para dirigir o São Carlos, depois de o musicólogo italiano ter entrado em divergência com o Governo devido ao corte orçamental que enfrentou nesse ano e à criação da OPART, a entidade empresarial criada para gerir conjuntamente o teatro lírico e a Companhia Nacional de Bailado.
A temporada de ópera do São Carlos termina sábado com a última récita de "Tosca".
EO.
Lusa/fim
No meu entender o grande destaque é mesmo a inabilidade para a escolha de cantores, maestros e encenadores e, sobretudo, o desconhecimento do mercado onde se encontram cantores muito melhores a preços mais baixos do que os apresentados no S. Carlos em 2007/2008. Elisabete Matos e Vaneev foram as únicas estrelas dignas de alguma nomeada numa temporada inteira. Eu diria que este desconhecimento não é marca de más escolhas artísticas ou de apostas erradas mas até interessantes à partida. Este errar sistemático é grave porque demonstra ignorância e, portanto, incapacidade para o cargo, dou como exemplo o brasileiro Bauer: qualquer especialista ou mesmo qualquer melómano informado sabia que o cantor era incapaz para Cavaradossi, apenas o sr. Dammann e o seu "director de elencos" não o deviam imaginar...
Sabendo eu que, para Lisboa, com perseverança e negociando de forma profissional, é possível obter bons cantores a preços inferiores ao mercado internacional, vá-se lá saber porquê mas é o que todos os agentes com que tenho falado me dizem (algo que tem a ver com a história do teatro e o charme da cidade), o que espanta é o cinzentismo bizonho do tal "director de elencos" Sven Müller, uma criatura que me parece um dos principais problemas do Tactual eatro de S. Carlos a par de um director artístico fruto da mente de um grande artista da intelectualidade nacional, essa luminária da política portuguesa que dá pelo nome de Mário Vieira de Carvalho, mas até os homens de grande estatura se podem equivocar...
Ontem lá fui ver mais uma Tosca, e sem Elisabete Matos e Vladimir Vaneev, o segundo elenco apresentava um tenor estrangulado, uma Tosca teatralmente tosca e sem carisma com voz anasalada e vibrato horrível sem controlo vocal nem emissão uniforme e um Scarpia que, sem ser maligno, era pouco convincente na sua brutalidade a destruir as linhas vocais de Puccini numa desafinação gritada e contínua e numa representação grosseira, o malvado do Scarpia tornava-se assim risível. O pobre do tenor enrouquecido lá gritava como podia e aquilo arrastava-se no meio do bombardeamento orquestral produzido por um maestro sem capacidade de nuance, possuído pela ânsia do barulho pelo barulho... Desastroso dia, o de ontem, se o primeiro elenco aguentou razoavelmente bem a carga do minúsculo koenigs, o elenco de quinta linha de ontem soçobrou diante da barreira sonora gratuita produzida no fosso da orquestra, orquestra da qual me dispenso a falar mas que também não foi perfeita, apesar de sonoridades belas como no solo de clarinete...
Entretanto a encenação de Carsen resistindo ao tempo mostra-se digna naquela que foi a única produção digna de algum registo da temporada, mas aqui parece que a escolha foi de Pinamonti.
E sobre o Ring nem uma palavra: uma temporada hermenêutica sem Wagner.
Para o ano há mais mas mais uma vez estamos em Junho e nada de nova temporada. Eu sei o que acontece no mundo inteiro excepto em Lisboa. Em Salzburg tenho reservas para 2009 e 2010 e prepararo-me para escolhar 2011...
Ópera: Dammann elogia "Das Märchen" e diz-se "satisfeito" com temporada
03 de Junho de 2008, 14:29
Lisboa, 03 Jun (Lusa) - O director artístico do São Carlos, Christoph Dammann, afirmou que a estreia da ópera "Das Märchen" deu ao teatro "uma notoriedade significativa no panorama internacional", num balanço da temporada lírica que termina sábado e o deixou "satisfeito".
"Tendo em conta as circunstâncias da transição e as limitações para a sua preparação, estou satisfeito com os resultados no que se refere às produções apresentadas, aos artistas contratados e à resposta do público", disse à Lusa Dammann, num balanço da primeira temporada em que dirigiu o teatro lírico nacional.
Sobre a polémica estreia, em Janeiro, da ópera do compositor português Emmanuel Nunes "Das Märchen", que tinha sido apontada como uma das grandes apostas do São Carlos para esta temporada, o director disse que não se pode afirmar que "tenha corrido mal".
A estreia da primeira ópera de Emmanuel Nunes, uma encomenda do São Carlos, da Casa da Música e da Fundação Gulbenkian e que teve um orçamento de um milhão de euros, foi transmitida em directo para 14 cine-teatros em todo o país, com escassos espectadores a ficarem nas salas até ao final da apresentação.
No próprio São Carlos, parte do público também saiu antes da ópera terminar e as críticas foram igualmente desfavoráveis à obra, aguardada com expectativa.
"Não podemos afirmar que a estreia tenha corrido mal. Os teatros líricos, e não só, também devem apoiar e estimular a criação de novas óperas. Das Märchen, de Nunes, é, sem dúvida, uma obra-prima, e ao mesmo tempo uma ópera complexa e hermética, de difícil compreensão", sublinhou Dammann, que respondeu por escrito às perguntas da Lusa.
"O São Carlos é um teatro nacional e por isso tem por missão apresentar com alguma regularidade produções que não se inscrevam automaticamente no gosto do público. É importante criar um espaço para a apresentação de óperas menos dirigidas a audiências alargadas em equilíbrio com os grandes títulos do repertório lírico", continuou.
Para Dammann, "com esta estreia o São Carlos atingiu uma notoriedade significativa no panorama lírico internacional".
A obra de Emmanuel Nunes recebeu "críticas internacionais muito positivas", assinalou, acrescentando que "foi uma produção difícil em que todos os que nela participaram fizeram um excelente trabalho".
Uma das novidades do primeiro ano desta direcção foi a criação das "Matinées Famílias", com espectáculos de algumas óperas escolhidas (três nesta temporada) a preços reduzidos para famílias com crianças ou jovens, iniciativa que Dammann considerou "um sucesso".
"A adesão do público foi motivação suficiente para manter o projecto vivo para a próxima temporada", prometeu.
O alemão Christoph Dammann foi anunciado em Março de 2007 como o sucessor de Paolo Pinamonti para dirigir o São Carlos, depois de o musicólogo italiano ter entrado em divergência com o Governo devido ao corte orçamental que enfrentou nesse ano e à criação da OPART, a entidade empresarial criada para gerir conjuntamente o teatro lírico e a Companhia Nacional de Bailado.
A temporada de ópera do São Carlos termina sábado com a última récita de "Tosca".
EO.
Lusa/fim
Etiquetas: Christoph Dammann, Crítica de Ópera, S. Carlos
3.6.08
O cossaco
Nicolas Medtner
Seis Contos de Fadas
Modest Mussorgsky:
Uma noite no Monte Calvo
Quadros de uma Exposição
Boris Berezovsky veio à Gulbenkian martelar o piano. As obras de Ravel (e antes Liszt) foram retiradas do programa e ficaram apenas peças desinteressantes de um menoríssimo Medtner, tocado aliás desconcentradamente e de forma trapalhona, e umas peças de salão de Mussorgsky.
Boris martelou, massacrou o instrumento, deu notas erradas sobre notas erradas, e desrespeitou o público trocando a parte verdadeiramente interessante do programa pela música que, no meu entender, apenas servia de complemento... Eu se soubesse que o Ravel tinha ficado em casa nunca teria posto os pés no recital.
Ficaram uns sforzandi interessantes e alguma digitação interessante de vez em quando mas até as articulações eram feitas ao sabor do vento, de forma diferente sempre que a mesma frase aparecia e o pianista foi muito irregular no próprio domínio do teclado. Berezovsky é muito irregular e parece estar mesmo numa fase pobre da sua carreira, tentando tocar obras de grande dificuldade técnica que, claramente, lhe escapam ao domínio: imagine-se um malabarista do circo que tenta fazer subir dezenas e dezenas de pratos no ar, parece espectacular mas, de repente, vai caindo um prato e outro e outro... assim foi Berezovsky ontem.
Concerto para bola preta.
Seis Contos de Fadas
Modest Mussorgsky:
Uma noite no Monte Calvo
Quadros de uma Exposição
Boris Berezovsky veio à Gulbenkian martelar o piano. As obras de Ravel (e antes Liszt) foram retiradas do programa e ficaram apenas peças desinteressantes de um menoríssimo Medtner, tocado aliás desconcentradamente e de forma trapalhona, e umas peças de salão de Mussorgsky.
Boris martelou, massacrou o instrumento, deu notas erradas sobre notas erradas, e desrespeitou o público trocando a parte verdadeiramente interessante do programa pela música que, no meu entender, apenas servia de complemento... Eu se soubesse que o Ravel tinha ficado em casa nunca teria posto os pés no recital.
Ficaram uns sforzandi interessantes e alguma digitação interessante de vez em quando mas até as articulações eram feitas ao sabor do vento, de forma diferente sempre que a mesma frase aparecia e o pianista foi muito irregular no próprio domínio do teclado. Berezovsky é muito irregular e parece estar mesmo numa fase pobre da sua carreira, tentando tocar obras de grande dificuldade técnica que, claramente, lhe escapam ao domínio: imagine-se um malabarista do circo que tenta fazer subir dezenas e dezenas de pratos no ar, parece espectacular mas, de repente, vai caindo um prato e outro e outro... assim foi Berezovsky ontem.
Concerto para bola preta.
Etiquetas: Boris Berezovsky, Crítica de Recitais
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