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4.6.08

No reino da fantasia 

Na notícia da Lusa, que reproduzo mais abaixo, Christoph Dammann, o director artístico em part time do Teatro Nacional de S. Carlos, dá-nos uma lição de fantasia e de autismo. Esquecendo os castings miseráveis, as escolhas desastrosas de cantores e maestros, o fiasco absoluto de Das Märchen (catalogada de "obra prima") as novas produções inenarráveis, esquecíveis e invendáveis, um Rigoletto na antologia do desastre e uma nona de Beethoven num concerto de "gala" onde se reinventou o conceito de massacre musical a par de uma enorme série de lixo esquecível, Dammann disserta sobre uma das piores temporadas do S. Carlos de sempre, arrisco eu sem grande margem para errar.

No meu entender o grande destaque é mesmo a inabilidade para a escolha de cantores, maestros e encenadores e, sobretudo, o desconhecimento do mercado onde se encontram cantores muito melhores a preços mais baixos do que os apresentados no S. Carlos em 2007/2008. Elisabete Matos e Vaneev foram as únicas estrelas dignas de alguma nomeada numa temporada inteira. Eu diria que este desconhecimento não é marca de más escolhas artísticas ou de apostas erradas mas até interessantes à partida. Este errar sistemático é grave porque demonstra ignorância e, portanto, incapacidade para o cargo, dou como exemplo o brasileiro Bauer: qualquer especialista ou mesmo qualquer melómano informado sabia que o cantor era incapaz para Cavaradossi, apenas o sr. Dammann e o seu "director de elencos" não o deviam imaginar...

Sabendo eu que, para Lisboa, com perseverança e negociando de forma profissional, é possível obter bons cantores a preços inferiores ao mercado internacional, vá-se lá saber porquê mas é o que todos os agentes com que tenho falado me dizem (algo que tem a ver com a história do teatro e o charme da cidade), o que espanta é o cinzentismo bizonho do tal "director de elencos" Sven Müller, uma criatura que me parece um dos principais problemas do Tactual eatro de S. Carlos a par de um director artístico fruto da mente de um grande artista da intelectualidade nacional, essa luminária da política portuguesa que dá pelo nome de Mário Vieira de Carvalho, mas até os homens de grande estatura se podem equivocar...

Ontem lá fui ver mais uma Tosca, e sem Elisabete Matos e Vladimir Vaneev, o segundo elenco apresentava um tenor estrangulado, uma Tosca teatralmente tosca e sem carisma com voz anasalada e vibrato horrível sem controlo vocal nem emissão uniforme e um Scarpia que, sem ser maligno, era pouco convincente na sua brutalidade a destruir as linhas vocais de Puccini numa desafinação gritada e contínua e numa representação grosseira, o malvado do Scarpia tornava-se assim risível. O pobre do tenor enrouquecido lá gritava como podia e aquilo arrastava-se no meio do bombardeamento orquestral produzido por um maestro sem capacidade de nuance, possuído pela ânsia do barulho pelo barulho... Desastroso dia, o de ontem, se o primeiro elenco aguentou razoavelmente bem a carga do minúsculo koenigs, o elenco de quinta linha de ontem soçobrou diante da barreira sonora gratuita produzida no fosso da orquestra, orquestra da qual me dispenso a falar mas que também não foi perfeita, apesar de sonoridades belas como no solo de clarinete...
Entretanto a encenação de Carsen resistindo ao tempo mostra-se digna naquela que foi a única produção digna de algum registo da temporada, mas aqui parece que a escolha foi de Pinamonti.
E sobre o Ring nem uma palavra: uma temporada hermenêutica sem Wagner.
Para o ano há mais mas mais uma vez estamos em Junho e nada de nova temporada. Eu sei o que acontece no mundo inteiro excepto em Lisboa. Em Salzburg tenho reservas para 2009 e 2010 e prepararo-me para escolhar 2011...


Ópera: Dammann elogia "Das Märchen" e diz-se "satisfeito" com temporada
03 de Junho de 2008, 14:29

Lisboa, 03 Jun (Lusa) - O director artístico do São Carlos, Christoph Dammann, afirmou que a estreia da ópera "Das Märchen" deu ao teatro "uma notoriedade significativa no panorama internacional", num balanço da temporada lírica que termina sábado e o deixou "satisfeito".

"Tendo em conta as circunstâncias da transição e as limitações para a sua preparação, estou satisfeito com os resultados no que se refere às produções apresentadas, aos artistas contratados e à resposta do público", disse à Lusa Dammann, num balanço da primeira temporada em que dirigiu o teatro lírico nacional.

Sobre a polémica estreia, em Janeiro, da ópera do compositor português Emmanuel Nunes "Das Märchen", que tinha sido apontada como uma das grandes apostas do São Carlos para esta temporada, o director disse que não se pode afirmar que "tenha corrido mal".

A estreia da primeira ópera de Emmanuel Nunes, uma encomenda do São Carlos, da Casa da Música e da Fundação Gulbenkian e que teve um orçamento de um milhão de euros, foi transmitida em directo para 14 cine-teatros em todo o país, com escassos espectadores a ficarem nas salas até ao final da apresentação.

No próprio São Carlos, parte do público também saiu antes da ópera terminar e as críticas foram igualmente desfavoráveis à obra, aguardada com expectativa.

"Não podemos afirmar que a estreia tenha corrido mal. Os teatros líricos, e não só, também devem apoiar e estimular a criação de novas óperas. Das Märchen, de Nunes, é, sem dúvida, uma obra-prima, e ao mesmo tempo uma ópera complexa e hermética, de difícil compreensão", sublinhou Dammann, que respondeu por escrito às perguntas da Lusa.

"O São Carlos é um teatro nacional e por isso tem por missão apresentar com alguma regularidade produções que não se inscrevam automaticamente no gosto do público. É importante criar um espaço para a apresentação de óperas menos dirigidas a audiências alargadas em equilíbrio com os grandes títulos do repertório lírico", continuou.

Para Dammann, "com esta estreia o São Carlos atingiu uma notoriedade significativa no panorama lírico internacional".

A obra de Emmanuel Nunes recebeu "críticas internacionais muito positivas", assinalou, acrescentando que "foi uma produção difícil em que todos os que nela participaram fizeram um excelente trabalho".

Uma das novidades do primeiro ano desta direcção foi a criação das "Matinées Famílias", com espectáculos de algumas óperas escolhidas (três nesta temporada) a preços reduzidos para famílias com crianças ou jovens, iniciativa que Dammann considerou "um sucesso".

"A adesão do público foi motivação suficiente para manter o projecto vivo para a próxima temporada", prometeu.

O alemão Christoph Dammann foi anunciado em Março de 2007 como o sucessor de Paolo Pinamonti para dirigir o São Carlos, depois de o musicólogo italiano ter entrado em divergência com o Governo devido ao corte orçamental que enfrentou nesse ano e à criação da OPART, a entidade empresarial criada para gerir conjuntamente o teatro lírico e a Companhia Nacional de Bailado.

A temporada de ópera do São Carlos termina sábado com a última récita de "Tosca".

EO.

Lusa/fim

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