22.1.07
Wozzeck arrasador
A ópera de Alban Berg foi levada à cena no CCB pelo Teatro Nacional de S. Carlos.
Em brevíssimas palavras:
Encenação perfeita, inteligente e sóbria de Stéphane Braunschweig.
Naipe de cantores/actores excelente, sem excepção, um pequeno erro de casting com Lefebvre, o tenor francês que fez de capitão, mas o que faltou em voz sobrou em caracterização e representação.
A Marie de Brigitte Pinter foi simplemente notável, cada vez mais a aproximar-se do registo de soprano dramático e a afastar-se do mezzo. Notável a dicção, notável o pensamento e a arte do sprechstimme, notável a facilidade de articulação de um papel que vai do mib grave ao dó# agudo, com frases que se articulam em duas oitavas e meia, caso da frase em que contempla o pedaço de espelho, escrito "molto legero" e foi realmente molto legero, a facilidade de articulação e representação de Pinter demonstram um profissionalismo e entrega seríssima ao trabalho.
Também o excelente Wozzeck de Dietrich Henschel foi notável: foi um Wozzeck frágil, atormentado, psicogicamente debilitado, com uma voz seca e áspera, no limite da voz e no limite da representação, sem exceder a fronteira da contenção necessária à verosimilhança do papel. Interpretação musical notável, encarnou Wozzeck no topo do imaginável.
Todo o elenco foi de alto nível, a representação foi muito boa. Uma nota para o texto: foi sempre dito e cantado de forma claríssima, mesmo os portugueses a italiana o checo e o francês, estiveram todos excelentes.
Sobre o elenco pouco mais há a dizer: Margita foi imperioso no tambor-Mor, Johann Werner Prein foi um excepcional Médico, um papel pequeno servido por um enorme cantor, Carlos Guilherme em Andres esteve muitíssimo bom, qualidade a que nos tem habituado desde há muito tempo e que nos deu tão bem no Nariz, Claudia Nicole Bandera foi uma Margret convincente num papel ingrato pela sua presença constante em palco quase sem cantar, Andreas Macco foi um bom Primeiro Trabalhador e Luís Rodrigues foi também um óptimo Segundo Trabalhador, finalmente o Marco Alves dos Santos foi um belíssimo "O Idiota", representando com sentido histriónico um papel como todos os outros bem difícil. Não há facilidades nesta partitura.
Os meninos do coro da Academia dos Amadores de Música foram também perfeitos com destaque para o que fez de filho de Marie.
Direcção precisa, trabalhada, sem agressividade (tão vista nesta ópera em tantas direcções e tão desnecessária) de Eliahu Inbal. Orquestra quase perfeita, apenas o interlúdio orquestral (falta de coesão nas entradas) antes do final e um solo de trompete com uma nota errada mancharam o belíssimo trabalho da orquestra na récita de sexta feira. No domingo voltou a notar-se falta de coesão na entrada da orquestra depois do harpejo da harpa no início do interlúdio orquestral, de resto esteve perfeita e ainda melhor do que na récita anterior.
Sem excessos sonoros, com subtileza, a Orquestra Sinfónica Portuguesa não parecia a formação que tem aparecido ultimamente. Solos da viola cheios de poesia e tensão, metais magníficos em geral, os trombones foram superlativos, trompas perfeitas, tubas (contando com a de palco) muitíssimo bem. De resto: violoncelo solista muito bom, oboés precisos, fagotes e contrafagote em belo plano, clarinetes incisivos, harpa, celesta, xilofone, percussão, tudo exacto e de qualidade elevadíssima. Cordas em bom plano de conjunto.
Coro fracote como sempre, mas sem destruir...
Será que sem Pinamonti no S. Carlos teremos o prazer de ouvir esta música por estes intérpretes nestas produções e a estes custos? Será que Mário Vieira de Carvalho e os mangas de alpaca do governo socialista vão ter o desplante de despedir um director desta craveira para meter um aparatchnik no lugar de Director do Teatro Nacional de Ópera?
Será que o Teatro La Fenice de Veneza vai ter como próximo director um homem despedido por políticos portugueses?
Espero que, se isso acontecer, Pinamonti tenha os maiores sucessos num palco internacional de grande categoria, como não tenho a menor dúvida que terá. Ele merece mais do que andar a mendigar esmolas a um governo que não lhe dá valor para conseguir produzir obra de qualidade a custos baixíssimos. Para felicidade dos que tiverem o prazer de ter na sua cidade, e país, um homem da estatura de Pinamonti à frente de uma Casa de Ópera.
Como sempre parece que desdenhamos do melhor para satisfazer mesquinhos caprichos de poder. Espero que me engane...
Em brevíssimas palavras:
Encenação perfeita, inteligente e sóbria de Stéphane Braunschweig.
Naipe de cantores/actores excelente, sem excepção, um pequeno erro de casting com Lefebvre, o tenor francês que fez de capitão, mas o que faltou em voz sobrou em caracterização e representação.
A Marie de Brigitte Pinter foi simplemente notável, cada vez mais a aproximar-se do registo de soprano dramático e a afastar-se do mezzo. Notável a dicção, notável o pensamento e a arte do sprechstimme, notável a facilidade de articulação de um papel que vai do mib grave ao dó# agudo, com frases que se articulam em duas oitavas e meia, caso da frase em que contempla o pedaço de espelho, escrito "molto legero" e foi realmente molto legero, a facilidade de articulação e representação de Pinter demonstram um profissionalismo e entrega seríssima ao trabalho.
Também o excelente Wozzeck de Dietrich Henschel foi notável: foi um Wozzeck frágil, atormentado, psicogicamente debilitado, com uma voz seca e áspera, no limite da voz e no limite da representação, sem exceder a fronteira da contenção necessária à verosimilhança do papel. Interpretação musical notável, encarnou Wozzeck no topo do imaginável.
Todo o elenco foi de alto nível, a representação foi muito boa. Uma nota para o texto: foi sempre dito e cantado de forma claríssima, mesmo os portugueses a italiana o checo e o francês, estiveram todos excelentes.
Sobre o elenco pouco mais há a dizer: Margita foi imperioso no tambor-Mor, Johann Werner Prein foi um excepcional Médico, um papel pequeno servido por um enorme cantor, Carlos Guilherme em Andres esteve muitíssimo bom, qualidade a que nos tem habituado desde há muito tempo e que nos deu tão bem no Nariz, Claudia Nicole Bandera foi uma Margret convincente num papel ingrato pela sua presença constante em palco quase sem cantar, Andreas Macco foi um bom Primeiro Trabalhador e Luís Rodrigues foi também um óptimo Segundo Trabalhador, finalmente o Marco Alves dos Santos foi um belíssimo "O Idiota", representando com sentido histriónico um papel como todos os outros bem difícil. Não há facilidades nesta partitura.
Os meninos do coro da Academia dos Amadores de Música foram também perfeitos com destaque para o que fez de filho de Marie.
Direcção precisa, trabalhada, sem agressividade (tão vista nesta ópera em tantas direcções e tão desnecessária) de Eliahu Inbal. Orquestra quase perfeita, apenas o interlúdio orquestral (falta de coesão nas entradas) antes do final e um solo de trompete com uma nota errada mancharam o belíssimo trabalho da orquestra na récita de sexta feira. No domingo voltou a notar-se falta de coesão na entrada da orquestra depois do harpejo da harpa no início do interlúdio orquestral, de resto esteve perfeita e ainda melhor do que na récita anterior.
Sem excessos sonoros, com subtileza, a Orquestra Sinfónica Portuguesa não parecia a formação que tem aparecido ultimamente. Solos da viola cheios de poesia e tensão, metais magníficos em geral, os trombones foram superlativos, trompas perfeitas, tubas (contando com a de palco) muitíssimo bem. De resto: violoncelo solista muito bom, oboés precisos, fagotes e contrafagote em belo plano, clarinetes incisivos, harpa, celesta, xilofone, percussão, tudo exacto e de qualidade elevadíssima. Cordas em bom plano de conjunto.
Coro fracote como sempre, mas sem destruir...
Será que sem Pinamonti no S. Carlos teremos o prazer de ouvir esta música por estes intérpretes nestas produções e a estes custos? Será que Mário Vieira de Carvalho e os mangas de alpaca do governo socialista vão ter o desplante de despedir um director desta craveira para meter um aparatchnik no lugar de Director do Teatro Nacional de Ópera?
Será que o Teatro La Fenice de Veneza vai ter como próximo director um homem despedido por políticos portugueses?
Espero que, se isso acontecer, Pinamonti tenha os maiores sucessos num palco internacional de grande categoria, como não tenho a menor dúvida que terá. Ele merece mais do que andar a mendigar esmolas a um governo que não lhe dá valor para conseguir produzir obra de qualidade a custos baixíssimos. Para felicidade dos que tiverem o prazer de ter na sua cidade, e país, um homem da estatura de Pinamonti à frente de uma Casa de Ópera.
Como sempre parece que desdenhamos do melhor para satisfazer mesquinhos caprichos de poder. Espero que me engane...
Etiquetas: Alban Berg, Brigitte Pinter, CCB, Crítica de Ópera, Dietrich Henschel, Eliahu Inbal, Pinamonti, S. Carlos, Stéphane Braunschweig, Vieira de Carvalho
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