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31.3.06

Depois de conhecer 

Depois de conhecer João Pedro George a minha opinião não mudou um milímetro, é um caçador de trivialidades que dispara sem aviso sobre tudo o que mexe sem aprofundar, um alarmista, um boateiro que espalha mentiras sem ler, sem se informar, um charlatão armado em justiceiro.

George atacou José Mário Silva e Nuno Costa Santos, por o primeiro ter criticado o segundo no DN sendo "amigos". Parece que JPG nem sequer leu a crítica, e não leu o livro de NCS, como o admitiu no debate organizado pela Casa Fernando Pessoa perante uma vasta audiência. Denunciava JPG que afinal o poeta e crítico eram amigos, como se ninguém o soubesse e eles o escondessem, e que eles "trabalhavam na mesma redacção" o que aliás era e é totalmente falso. JPG demonstrou assim um total autismo, uma enorme distância da realidade e má fé. Notou-se até pelo desconforto de George quando confrontado com os factos, de viva voz por vários elementos presentes no debate, onde nós interviemos.

George afirma praticamente que é o único ser honesto no meio literário e jornalístico de Portugal, o que prova que nunca percebeu que está na média, que não passa de um ser também capaz da punhalada nas costas por pura e simples maldade, por egoísmo e por satisfação pessoal, por ganância.

O que me leva para a Margarida Rebelo Pinto. Nunca consegui passar das primeiras páginas dos seus livros, acho que é preciso mais do que estômago para ler Pinto, é preciso fígados, e o que se nota no caso de George são mesmo os maus fígados. JPG leu a obra toda, segundo afirma e espera-se que seja verdade. É, de facto, a grande obra dele e o seu único mérito público, também auto-proclamado aos quatro ventos, bem-haja por isso...

É fácil ganhar dinheiro com o sucesso alheio, basta dizer mal: Pinto é irritante, irrita o povo culto que rosna de inveja. Um livreco fanhoso (se a prosa for igual à do blogue) a atacar Rebelo Pinto vem mesmo a calhar para ganhar uns cobres e notoriedade,... (outros livros virão a seguir?) sempre à custa do sucesso alheio. Mas a nossa opinião é que George escreve é mauzote, vem sobretudo das más entranhas em vez de vir do cérebro.
Em termos literários Rebelo Pinto é superior a George, e demonstra-se facilmente: George escreve sobre Pinto dando-lhe relevância, e apenas ganha notoriedade por dizer mal de Pinto. Logo a sua fama provém de Pinto e não dele próprio. Ao gastar o seu latim com Pinto, em vez de se afirmar como autor independente e original, ou como crítico profundo de obras maiores, George rebaixa-se a um nível que ele próprio sustenta ser mínimo. Quem se plagia a si próprio até pode ser um Bach, quem apenas escreve por negação de um objecto, que ele acha menor, será sempre inferior ao objecto da negação.
Hoje para ser melhor literariamente do que George não é difícil, basta não escrever.

Resta acrescentar que em termos humanos Margarida Rebelo Pinto, com todos os seus defeitos, está a anos-luz de George, Margarida Rebelo Pinto vive à custa dos livros e dos leitores. Por muito burros que estes sejam, retiram felicidade do que a escritora lhes oferece a preços módicos, George é apenas um parasita de Rebelo Pinto (e de outros como JMS e NCS) que comete a suprema arte intelectual de "denunciar", e como ele gosta desta palavra, a fraude. E porque não deixá-los ser felizes? É o que vai acontecer, apesar de George, aos leitores de Rebelo Pinto: continuarão a ler alegremente a autora e este será apenas uma espécie de curiosidade façanhuda. Um denunciador de fraudes que não passa de uma fraude, algo que toda a gente já topou de ginjeira excepto o pobre homem que não percebeu que é apenas o chamariz de serviço para eventos como o de ontem na Casa Fernando Pessoa naquilo que Rebelo Pinto classificou como palhaçada. George nada fez de importante para merecer estar na mesa do debate, George não diz nada de interessante e tem conhecimentos nulos, tendo chegado a provocar momentos de hilariedade na sala quando disse que não quer conhecer Céline pessoalmente apesar de gostar da sua obra! Eu também não tenho interesse em conhecer o esqueleto de Céline. Mas um provocador no centro das atenções gera sempre interesse, a hipótese de confronto com os visados pelas atoardas de George, qual circo romano em versão pseudo-intelectual light, é um chamariz para estes debates na Casa Fernando Pessoa e asseguram um sucesso extraordinário de público ao evento, casa cheia, bingo. Como disse José Mário Silva: "eu nem sequer o vou processar, mas poderia". É certo e correcto, não se processa o palhaço-mor da palhaçada. George é útil, a sua notoriedade negativa acabou por despertar o interesse a mais de uma centena de pessoas que teriam ficado em casa e não poderiam escutar Carlos Vaz Marques (moderador), Rodrigo Guedes de Carvalho (escritor), Abel Barros Baptista, Eduardo Pitta (críticos) e Manuel Alberto Valente (editor) numa conversa interessantíssima. Agora chamar crítico ao sociólogo George é ir longe demais! Ninguém presta provas para crítico literário, disse George, o que no seu caso tem sido particularmente verdade...

Acho muito bem que Rebelo Pinto tenha posto a providência cautelar, o Tribunal que decida quem tem razão nesta questão, é para isso que os tribunais existem. Existe o direito à crítica mas não o direito à pulhice, os tribunais dirão onde começa um e acaba o outro.

Entretanto uma nota para Augusto M. Seabra que escreve a propósito deste assunto da Rebelo Pinto no "O Público": não se escreve "intervido", como no artigo de quinta, escreve-se "intervindo". Faço esta referência porque o texto se encontra precisamente... no espaço público.

29.3.06

Um tema requentado 

Um amigo hoje recordou-me que alguém (que não soube precisar, e num remaque dos dichotes Aragon vs. Breton) disse a propósito da morte de Eugénio de Andrade: "A literatura portuguesa está duplamente de luto, por um lado o Eugénio de Andrade morreu, por outro lado o Saramago está vivo".

Eu não diria tanto, mas...


23.3.06

Venexiana - A Essência do bom gosto 

Com um programa dedicado a Gesualdo e à volta do texto poético escutámos na passada Sexta pelas 19h um concerto extraordinário do agrupamento La Venexiana integrado no ciclo de música antiga da Gulbenkian, foi na Academia das Ciências de Lisboa com:
CLAUDIO CAVINA (contratenor, direcção)
ROBERTA MAMELLI (soprano)
GIUSEPPE MALETTO (tenor)
RAFFAELE GIORDANI (tenor)
DANIELE CARNOVICH (baixo)

Programa
Título: Carlo Gesualdo da Venosa: "A essência do sentimento"
Carlo Gesualdo da Venosa
Luci serene e chiare (4º Livro de Madrigais, 1596)
T'amo mia vita (5º Livro, 1611)
Io tacerò/in van dunque (4º Livro)
Mercè grido piangendo (5º Livro)
Moro, lasso (6º Livro)
Tal hor sano desio (4º Livro)
Itene o miei sospiri (5º Livro)
Occhi del mio cor (5º Livro)
Se vi duol il mio duo
Cor mio, deh non piangete (4º Livro)
Sparge la morte (4º Livro)
Ave dulcissima Maria (Sacrae Cantiones, 1603)
Luzzasco Luzzaschi
Itene mie querele (4º Livro de Madrigais, 1596)
Pomponio Nenna
Mercè grido piangendo (5º Livro de Madrigais, 1603)
Luca Marenzio
Crudele, acerba (9º Livro de Madrigais, 1599)
Giovanni de Macque
La mia doglia s’avanza (4º Livro de Madrigais, 1599)

Pelo lado positivo pouco há a dizer sobre este concerto, apenas que o agrupamento dirigido por Claudio Cavina atingiu o topo de maturidade artística. A poesia dita, a emoção posta em música a partir de textos literários notáveis, a dicção estraordinária com o privilégio da prosódia, a beleza dos timbres vocais em jogos de fusão e de dissociação, a maravilhosa beleza de uma calma eterna posta no jogo infinito dos sentimentos são evidenciados de tal forma pelo agrupamento italiano que ao crítico apenas resta pedir aos leitores que ouçam La Venexiana que as palavras faltam.
O agrupamento entrou um pouco a frio mas rapidamente superaram algumas dificuldades de conjunto em passagens mais complexas do primeiro madrigal. A afinação quase sempre superlativa algumas vezes oscilou em passagens cromaticamente mais complexas de Gesualdo, onde felizmente a beleza das dissonâncias nos momentos mais tensos não se perdeu.
Finalmente as vozes dos tenores e do contratenor não são, individualmente consideradas, vozes superlativas. Mas o que é curioso é que, no jogo de sombras e luzes dos madrigais, estas vozes acabam por se envolver de forma tão subtil e com um conjunto tão perfeito que o pilar central de Carnovich e o céu estrelado de Mamelli são apenas mais dois elementos de um quinteto ímpar que nãoé a mera soma das partes.

Muito interessante o tratamento do mesmo texto poético de Mercè Grido Plangendo por Pomponio Nenna e por Gesualdo que La Venexiana escolheu como ilustração de duas variantes musicais da mesma poesia, plangente e doloroso no caso de Gesualdo, mais contemplativo e etéreo no caso de Nenna.


21.3.06

Sinais 

É um péssimo sinal um jornal de grande tiragem e grande "prestígio" a nível nacional dedicar mais caracteres à morte de um gato do que à crítica da ópera no S. Carlos. Sobretudo se pensarmos que a última produção do Teatro Nacional de S. Carlos põe Portugal no mapa mundial da produção operática com a estreia de uma ópera com libreto baseado na obra do único prémio Nobel português, libreto onde, aliás, além de ser autor da peça original o próprio Saramago colaborou. Goste-se ou não é uma notícia bem mais importante do que a da morte do gato de Tony Blair...
Note-se ainda que Erwartung de Schönberg é uma peça máxima do repertório e uma grande mezzo soprano, que será sem sombra de dúvida um nome famoso dentro de pouco tempo, estreou-se no papel fazendo uma criação magistral. Falo de Brigitte Pinter. O dito jornal passa por cima do facto com a maior das indiferenças e vai ao extremo de catalogar Erwartung como "Melodrama" numa leitura superficial e desatenta da palavra "Monodrama"...

Entretanto ontem no teatro de S. Carlos a electricidade voltou a faltar na sala logo após o início do intervalo e a cantora entrou no Erwartung sem luz. Palavras para quê? São sinais.


19.3.06

Morreu Fernando Gil 

Morreu Fernando Gil o grande pensador português, é com grande tristeza que dou esta notícia. O epílogo esperado mas não menos doloroso de uma doença prolongada faz Portugal ficar ainda mais pobre.


Três óperas numa noite 

Três óperas no S. Carlos.
Vou ser sucinto:
1- Sancta Susanna de Hindemith, libreto baseado numa peça "chocante" de August Stramm. Uma peça modernista de museu, literariamente datada e sem o menor interesse ou nexo dramático. Musicalmente interessante (mas pouco), bem cantada e razoavelmente tocada. Encenação interessante, dentro das poucas possibilidades oferecidas pelo texto.

2- Erwartung de Schönberg. Monodrama para personagem única de Marie Pappenheim. Cantora única Brigitte Pinter no papel de "uma mulher". Peça literária de qualidade literária elevadíssima, intemporal. Encenação lógica, de uma coerência ímpar. Ao ver esta encenação pensa-se: não poderia ser de outra forma! Uma cantora fantástica e uma actriz extraordinária. Não esquecerei os olhos esgazeados de Pinter no final do drama. Música extraordinária de Schönberg; quando se escuta a obra e se contempla o drama de "uma mulher" pensa-se: a música não poderia ser de outra forma. Atonalismo livre ou cromatismo absoluto? Uma questão que ainda atormenta os musicólogos. Eu respondo, pessoalmente, da forma mais simples: um período único da criação humana, uma fase de transformação absolutamente única na história da música que infelizmente foi depois cortada pelo formalismo castrador do dodecafonismo e do serialismo integral. Música sublime, texto notável. Interpretação brilhante da cantora. Do melhor que temos visto no S. Carlos, e esta temporada está a mostrar-se de alto nível, já com algumas produções razoáveis e duas (Iolanta e Erwartung) superlativas, acima da média em qualquer teatro do mundo onde o superlativo é geralmente uma meta muito difícil de alcançar. Veremos se no Ouro do Reno se continua a cumprir o destino desta temporada ou se estraga tudo...

3- Il Dissoluto Assolto de Azio Corghi. Libreto de Corghi e Saramago sobre um texto de Saramago. Música entre o mediano e o medíocre e texto literário desinteressante, uma espécie de ideia escolar trabalhada de forma muito profissional por Saramago (ou não seja ele prémio “Nubél”), mas requentada de ideias (impotência e perdão e regresso à inocência do sedutor seduzido, só faltou uma referência à hipótese da homosexualidade, e etc) e ilógica na subverção/desconstrução do personagem de D. João. A música é repetitiva, cheia de citações, ritmos tirados daqui e dali, uma espécie de neo-neo-neo não se sabe o quê pós não se sabe o quê, uma coisa que nem é carne nem peixe e tenta cheirar a agradável tantos são os compromissos. O Tenório merecia melhor sorte, melhor música e melhor texto, a morte é sempre melhor sorte para um personagem como o Dissoluto. Resultado enfadonho, desinteressante e banal. Encenação também desatenta ao texto original: onde está a estátua desfeita em pó? Em pó fica este projecto do qual daqui a vinte anos ninguém se lembrará, vaticino. Uma estreia mundial para consumo imediato, uma espécie de hamburguer. Louva-se a iniciativa da estreia mas será disto que o nosso tempo é capaz?

Orquestra algo básica mas cumpridora, Letonja demasiado técnico e frio em Schönberg. Diria que foi algo paquidérmico nas duas primeiras obras sendo em geral pouco subtil nos fortíssimos com metais excessivos e desequilíbrio na massa sonora entre cordas e sopros.

Coro cumpridor e correcto mas com sonoridade algo roufenha no Corghi, mas não sei até que ponto esse era o objectivo.

Bola preta: Público do S. Carlos, desinteressado, ruidoso, incapaz de reconhecer a explosão criativa e interpretativa em Erwartung. Incapazes de reconhecer a qualidade quando se apresenta, incapazes de sentido crítico, o público lisboeta continua acéfalo. Hoje como sempre...

Mais detalhes se me apetecer, aqui, um destes dias…



17.3.06

Retorno 

No tormento dos dias o regresso eterno e depurado, sem palavras, sem prolixidade, sem laudas, mágico no seu retorno existencial, planar e denso, subtil e imaculado, sem a loucura da megalomania e do delírio de grandeza, para sempre a Esperança, palavra maior, matriz máxima do crente, redenção do ateu, salvação do agnóstico, resquício final de vida no canto do poeta mergulhado no desespero da dor.
Doces, magníficas, femininas, maternais as águas que nos devolvem numa tarde de sol, depois de um cataclismo cósmico do qual nada resta, uma serena palpitação de felicidade ténue, indizível, apenas pressentida. Uma esperança impalpável renasce sobre as águas do rio que outrora dividiu mas que hoje serve de palco para a Esperança que renasce eterna, bela e admirável, para além de todas as tragédias, para além dos mitos.
Num mundo subliminar, despovoado, visitado por formas vagas apenas a música atinge o não mensurável, vontade indizível, para além do bem e do mal.

15.3.06

Um disco com música notável 


Escutar

12.3.06

Protocolo de Estado e o estado deste Estado 

Regressado de viagem ponho a escrita em dia: segundo li no "O Público", no "Expresso" e no "Diário de Notícias" e ouvi a Marcelo Rebelo de Sousa hoje na RTP, a tomada de posse do presidente foi algo caótica em termos de protocolo.
Parece que Mário Soares foi massacrado por toda a imprensa por "ter mau perder" e "estar enfastiado", e está ainda situado no "Sobe e Desce" do Expresso na posição mais inferior pela sua atitude de não cumprimentar Cavaco...
Não gosto de Soares, não simpatizo com o homem e com a sua figura de burguesão de esquerda, sempre armado em grande intelectual que não é nem nunca foi, também armado em pai da Pátria e de avô desta "democracia". Soares para mim é um homem medíocre, balofo e oco em termos políticos, verdadeiramente Só Ares como na Contra Informação. A sua derrota foi-me pouco desagradável e teria sido saborosa se Alegre tivesse passado à segunda volta, o que no meu entender era plenamente merecido. Embora Alegre não seja nenhuma luminária pelo menos é poeta. Cavaco sairia sempre vencedor mas ao menos haveria alguma poesia.
Mas regressemos ao Soares, ao contrário do habitual, neste caso admirei a posição do ex-presidente, e sabe-se também que não nutro particular simpatia pela figura de presidente da república (com minúsculas) nem pelos homens, com minúscula e sem excepções, que ocuparam o lugar. Soares seria provavelmente a figura nº 400 para cumprimentar Cavaco, depois de todos os deputados passarem à frente de tudo e todos na bicha para o bacalhau ao Cavaco, Alegre foi dos primeiros e até deu o golpe na bicha, segundo o Público de sexta, muito à frente de Eanes que, democrata e cidadão, ficou no seu lugar. Soares achou que devia ir embora. Embora prefira a atitude de Eanes pela lição de civilidade e de verdadeira humildade democrática não posso condenar Soares. Um antigo chefe de Estado não deve passar pela situação de ser metido numa bicha onde figuravam Santana Lopes e outros do mesmo género e com 230 deputados oficialmente à frente.
Soares e Eanes deveriam ter tido lugar de destaque, provavelmente nos primeiros lugares do protocolo, reduzir a sua posição à de ficar atrás de gente anónima numa bicha de colegiais mal comportados é desconsiderar a figura de presidente da república, quer presente quer passada, Sampaio está agora nessa posição e Cavaco virá a estar. Não é que o lugar de presidente mereça grande consideração, mas ao menos que passe oficialmente à frente dos deputados na bicha do bacalhau.
Entretanto uma palavra para os figurões que se portam como chicos espertos em cerimónias do género, são o Valentim Loureiro ou o Isaltino Morais que aparecem com a lata habitual para a cerimónia no palácio da Ajuda ou os rapazes e raparigas mal comportados que se achando superiores a tudo e todos e desconhecendo o seu lugar nas listas oficiais acham que podem dar o golpe na bicha para o cumprimento. "Sou fulano tal", tenho aqui o cartão e por isso posso passar à frente na bicha do autocarro, já houve apanhados assim, mas o povo não se deixou enganar na altura, agora os apanhados fomos nós que pagamos este circo...

Estas longas bichas são mais uma razão para reduzir o número de deputados para uns cem, ao menos não cansavam tanto o presidente e não havia tanto golpe nas bichas para o bacalhau oficial. Já agora acabavam-se com 200 Câmaras e mais umas 2000 Juntas e poupavam-se uns milhões de contos largos em chicos espertos que nada fazem e só servem para passar à frente na bicha do passou-bem e receber uns milhões do orçamento.

Nota final - Espero também que Marcelo tenha podido aproveitar a cerimónia, pelo menos, para tirar a limpo com os seus olhos que o Giscard ainda está vivo, é que o azougado professor tinha morto o aristocrata francês dizendo numa destas sessões dominicais que não restava nenhum ex-presidente de França vivo. Na sua ânsia criativa de factos políticos as razias de Marcelo não poupam vivos nem mortos e continuam a fazer vítimas políticas e mortais.




11.3.06

Viagens 

Uma viagem a uma Alemanha gélida, tempestuosa e cheia de neve, acompanhada de uma gripe tratada in situ, fizeram com que não me tivesse apetecido escrever aqui apesar do portátil com teclado português e acesso à internet por wireless em quase todo o lado...

Novidades: conheci o director da Alte Oper de Frankfurt Michael Hocks, um tipo extraordinário com quem jantei na terça feira, assisti a um concerto interessante mas muito mediano do programa regular da sala de concertos de Frankfurt. Estive na ópera de Mannheim para uma Salomé muito boa vocalmente, com uma orquestra extraordinária mas com uma encenação tortuosa que deve reflectir os fantasma interiores do encenador... uma estreia mundial de uma obra altamente interessante foi um dos pontos fortes a par de mais outra estreia mundial de Arvo Pärt (mas onde é que eu já ouvi aquilo?)...
Viagem ao Luxemburgo para tomar café, e já está, chuva e mais chuva nestes dois últimos dias e a temperatura a saltar de seis abaixo de zero de domingo e sábado pela noite para uns confortáveis cinco celsius ontem e finalmente o mergulho em Lisboa para um taxista resmungão e mal educado e o calor de Lisboa, mais um salto de dez graus.

Críticas e relatos mais detalhados na revista e na rádio e, quem sabe, talvez aqui...


3.3.06

Concerto 


Recebido por email:

CONCERTO de Homenagem pelo Tricentenário da morte de Johann PACHELBEL.

O concerto terá lugar na Igreja Evangélica Alemã de Lisboa
no Sábado, dia 4 de Março de 2006 às 21h00.

Johann PACHELBEL, nasceu em 1653 em Nuremberga, onde faleceu a 3 de Março de 1706 famoso como organista e compositor.

Viveu em várias cidades da Alemanha e Áustria, nomeadamente Viena, Eisenach, Erfurt e Nuremberga, tendo trabalhado como músico de igreja e de corte.

Foi conhecido pelo seu virtuosismo perfeito, e deixou uma obra numerosa para órgão, música de câmara e coro, que poucas vezes chega a ser apresentado ao público.

Pachelbel funde na sua música o estilo da Alemanha do Sul (de influência italiana) com os estilo da Alemanha Central, brilhando com originalidade e simples elegância.

Programa:

Motetos para Coro Duplo
"Exsurgat Deus"
"Tröste, tröste uns Gott"
"Der Herr ist König"
"Gott ist unser Zuversicht und Stärke"

Obras para órgão
Prelúdio e fuga em mi menor
Fantasia em ré menor
Prelúdio de coral Wir gläuben all' an einem Gott
Aria quarta (de Hexachordum Apollinis)
Prelúdio de coral Durch Adams Fall ist ganz verderbt
Chaconne em fá menor
Fuga em ré menor

JOÃO VAZ Órgão
Sara A. Marques Soprano I
Carina Lasch Soprano II
Andrea Lupi Contralto I
Michelle Rollin Contralto II
Pedro Rodrigues Tenor I
Armando Lourenço Tenor II
João Paixão Baixo I
Sérgio Silva Baixo II


ENTRADA LIVRE.


Melhores cumprimentos,
Carina Lasch
organista titular
Igreja Evangélica Alemã de Lisboa
Av. Columbano Bordalo Pinheiro, 48
P 1070-064 Lisboa


2.3.06

Dezoito Bigornas e Sete Harpas 

Isto de estar com uma gripalhada das antigas faz-nos retornar às coisas boas da vida. Neste caso mergulhar numa ópera que virá a Lisboa na temporada do S. Carlos, que poderei ainda ver e ouvir em Aix-en-Provence com a Filarmónica de Berlim e ainda, bem o espero, em Bayreuth. Estou a escutar uma versãozita com Karajan na batuta à frente da Filarmónica de Berlim e com Dieskau (!?) no papel de Wotan. Toda a gente conhece o assunto, e a maior parte das pessoas conhece a gravação em causa, de modo que não me alongo nesse assunto.
Comecei a meditar no orgânico da instrumentação da obra e realmente é espantosa...
Esta obra comporta: 16 primeiros violinos, 16 segundos violinos, 12 violas, 12 violoncelos e 8 contrabaixos. Aré aqui nada de especial. Bem normal é o número de 3 flautas (a terceira às vezes também faz o piccolo) e um piccolo, 3 oboés e um corne inglês (que fará de quarto oboé em certos casos), 3 clarinetes e um clarinete baixo (em lá e em si bemos) e 3 fagotes um dos quais deve dar o lá grave. Junte a isto 8 trompas das quais 4 devem também tocar tuba wagneriana, de acordo com instruções do próprio compositor, duas são tubas tenor em si bemol, que devem ser tocadas pelos primeiros músicos das 3ª e 4ª estante e 2 são tubas baixo em fá que devem ser tocadas pelos segundos músicos das mesmas estantes. Uma tuba (normal) contrabaixo, três trompetes e um trompete baixo, três trombones tenor-baixo e um trombone contrabaixo que pode também tocar o trombone tenor-baixo, isto segundo Wagner...
Quando chegamos à percussão a coisa começa a ficar megalómana: 2 pares de tímbales, 1 triângulo, pratos, bombo e gongo. Juntam-se mais 18 bigornas e está completo o cenário.
Cuidado: 9 das bigornas são pequenas e devem afinar em fá, 6 são maiores e devem dar um fá na oitava abaixo, finalmente há 3 bigornas, provavelmente monstruosas que darão outro fá na oitava abaixo do fá anterior! Possível? Na gravação do Karajan as bigornas de baixo soam-me a bombos e não me parece ouvir uma nota harmónica capaz de se perceber. Há quem diga que as notas escritas são meramente convencionais para a bigorna, como o serão para os pratos, notados com mi. Como se irão ouvir estas 18 bigornas em S. Carlos? Uma pergunta para ser feita e respondida na altura.
Em Bayreuth espera-se um efeito estrondoso na transformação dos céus para o submundo de Nibelheim.
Entretanto a orquestração não acabou, lá estão alinhadas na partitura as seis harpas no fosso e uma harpa em palco! Total: sete. Haverá sete harpistas disponíveis em Portugal ou mesmo sete harpas para as récitas do S. Carlos.
Será que iremos escutar algo do género: "bem, no tempo do Wagner as harpas tinham menos som é que a harpa com armação de ferro ainda não tinha sido inventadas" (Taram taram! bum bum! Ah! Ah! Ah!) "perdão, perdão, ..., eeeh... enfim, a harpa com armação de ferro ainda não tinha sido difundida e as orquestras ainda não as tinham comprado" (cinquenta anos depois da invenção, em Bayreuth ainda não havia nenhuma?????) ou "na partitura apenas há duas linhas, uma para as harpas de cima e outra para as de baixo, bastam duas" ou então e já no limiar do indizível "bem, sabe, no palco do CCB seria difícil colocar seis harpas" neste caso caem por terra. Wagner nesta obra escreveu as seis linhas bem diferentes para cada uma das suas seis harpinhas.
Um argumento giro a favor das seis harpas seria: "no tempo de Wagner eram homens logo tinham mais força nos dedos e calos maiores, hoje as harpistas são apenas mulheres, logo hoje precisamos de dez harpas" ou "hoje precisamos de menos harpas porque as raparigas que as costumam tocar vão ao ginásio exercitar os dedos e conseguem tocar mais forte", ridículo? Claro que sim se pensarmos que a única razão de ter seis harpas a tocar é porque o compositor assim o pediu...
Wagner dá-se, no caso desta obra, ao trabalho de escrever música em divisi para 8 estantes diferentes de primeiros violinos, oito estantes diferentes de segundos violinos e seis estantes de violas, mesmo a pedir que não lhe diminuam a orquestra... No que respeita às seias harpas lá estão no "Mässig bewegt", construção do maravilhoso "Regenbogen" (arco-íris) que serve de ponte para a entrada dos Deuses: a duas mãos, doze pautas magníficas de sextinas de semicolcheias para seis harpas, num contraponto intrincado mas deslumbrante, cada harpa entregue ao seu trabalho de fiadeira de sons, sobre oito linhas de violinos em divisi em blocos de quatro, num total de 32 instrumentistas nos violinos.
Um total de 66 compassos em que as seis harpas tocam música diferente, cada qual a sua, mais uma secção deslumbrante de doze compasso em que entram em sucessão (de dois em dois compassos) construindo uma harmonia notável, impossível de criar com as duas anémicas harpas que temos escutado em Portugal para música deste mesmo ciclo de Wagner. Que haja respeito e se cumpra o que Wagner escreveu é o meu desejo para uma audição tranquila da obra. Nem que venham instrumentistas de fora e harpas de Espanha, para nossa suprema vergonha...
As minhas dúvidas sobre a capacidade de um teatro como o de S. Carlos possa albergar uma das maiores orquestras de ópera (mais de 120 elementos com bigornistas) dentro do seu limitado espaço físico (e ...) levam-me a obter respostas apenas no campo da trangressão, será que Graham Vick consegue a obra de génio que foi capaz no Werther? Trompas nos camarotes? Bigornas por detrás do palco e em cima deste (esta ideia nem sequer é transgressora, está indicada por Wagner), harpas na plateia, violinos no galinheiro, clarinetes nas torrinhas? Que a transgressão seja no plano da inovação superior em termos de conceitos e nunca no plano inferior, básico, da simples amputação...

Nota - Boulez não usa bigornas na sua gravação de Bayreuth, usa em seu lugar placas metálicas recangulares cortadas à medida para produzirem o efeito desejado, o que no meu humilde entender é uma fraude absoluta, se Wagner queria bigornas e exactamente 18, porque razão usar uns instrumentos ridículos e com um som infame semi-electrónico? Nas actuações ao vivo em vez de estarem no fosso e por detrás do palco estavam noutra sala e o som era transmitido por colunas. Boulez diz "as bigornas nunca caberiam no fosso". Claro que o efeito sonoro da sua gravação para a Philips é muito menos impressivo do que na gravação de Karajan para a DG (não imagino qual o instrumento usado por Karajan). Entretanto Furtwängler é demasiado arcaico nas suas gravações para se perceber o real efeito de tais bigornas... Já a Decca arranjou (1958) mesmo 18 bigornas oriundas da prática - numa escola de ferreiros(?) - exactamente dos tamanhos exigidos por Wagner para realizar a célebre gravação com Solti a segurar a batuta à frente da Wiener Philharmoniker, onde Gustav Neidlinger faz um Alberich histórico, parece que se usaram percussionistas mas também outros instrumentistas e, já agora, martelos para percutir as malditas bigornas.
Um link a ter em conta, na Tailândia usaram 7 harpas e 18 bigornas!

Ler: John Culshaw, Ring Resounding. Lond., Secker and Warburg, 1967.

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