29.6.07
S. Carlos
É preciso ser claro e curto sobre esta temporada, mais tarde vou escrever com mais detalhe.
O S. Carlos afasta-se da sua verdadeira missão procurando programar concertos de câmara, concertos de coro, concertos disto e daquilo, número de espectáculos a subir 27%. Aquilo que é apresentado pela Opart como um grande ganho de actividade e que é apenas ter quatro ópera encenadas para o grande público, uma ópera em estreia para o pequeno público, uma sessão de ópera em versão de concerto, que já no tempo de Pinamonti era uma falácia para meter na temporada lírica e que continua agora, e uma ópera para as crianças.
O Siegfried vai para Outubro ou Novembro, por razões de agenda de cantores e encenador e sai desta temporada.
É necessário dizer que o aumento de actividade anunciado com pompa e circunstância pela Opart e pelo secretário de Estado resulta da diminuição do número de verdadeiras produções operáticas de qualidade, cinco encenações de peso é um número vergonhoso para qualquer capital europeia, é pobre é miserável, apesar dos agentes infiltrados no jornal "O Público" que contam sete, sete, senhores, encenações! Julgava que para dar a volta aos números bastava o secretário de Estado a dizer na conferência de imprensa que Pinamonti tinha "40 récitas e que agora havia 50 récitas, logo um aumento de 10"! Contando bem Pinamonti tinha 43 e agora há 42, e se contarmos a encenação barata para as crianças com cantores de quinta categoria temos 48, logo ou há uma diminuição de uma ópera ou um aumento de cinco, algo que nada tem a ver com as "cinquenta récitas de agora" e as "dez a mais" anunciadas antes. Parecia ser uma questão de hermenêutica, como assinalei a sua Excia na conferência de Imprensa, o que causou uma surpreendente gargalhada na sala e uma resposta balbuciante de que as estatísticas contavam pouco, quando antes tinham sido invocadas pelo próprio Sr. secretário de Estado. Mais detalhes nos artigos que escreverei nas várias revistas onde colaboro.
Uma encenação, muito por baixo, custa 600.000 euros e dá para fazer uns 500 concertos de câmara com artistas portugueses e de qualidade internacional reduzida, se forem duetos a cinquenta contos cada músico dá para 1200 concertos, que aumento de produtividade! É necessário dizer que há muitos anos que a temporada não contava um número tão baixo de encenações. Mas será que alguém quer no S. Carlos uma Gulbenkian de terceira, uma Metropolina de segunda, um CCB de segunda. Não será que o público quer é um teatro de ópera? Creio que com este número de encenações deveríamos ter uns duzentos concertos de câmara a mais, uns cinquenta concertos de orquestra sinfónica e uns coros. Já que se cortou tanto na produção poder-se-ia ter muitíssimo mais lied, o que está dentro da linha de um teatro operático, mas nem sequer esse vertente foi muito reforçada, com cinco encenações sobraria dinheiro para uns 120 recitais de lied com cantores razoáveis a nível internacional e um ou dois com cantores de altíssimo nível. Além disso acho péssima a ideia de fazer concertos de coro, expor as vergonhas públicas do S. Carlos é mau, se o coro fosse de qualidade a ideia era boa, assim será apenas mais um fracasso, deve-se apostar na qualidade e não na mediocridade. Deixo de barato a ideia de fazer espectáculos com ranchos folclóricos, isso sim, seria um aumento de produtividade notável! Diversificar e fazer tudo menos ópera.
Um pouco mais a sério: quatro óperas encenadas para o grande público, ópera popular, pouco profunda, numa visão esteticamente enviezada, sem ópera alemã, sem opera barroca: de Offenbach os Contos de Hoffmann, de Verdi o Rigoletto com 11 récitas(!!), de Puccini a Tosca (também com 11 récitas) e de Mozart a Clemência de Tito que, francamente, não é sequer uma das melhores produções do grande Mozart, e para o pequeno público de Emanuel Nunes vem Der Märchen, uma carta fechada e, pelo que já se escutou, intragável e, provavelmente, um desastre financeiro.
Cantores de segunda, jovens, e muitos portugueses, é evidente que, com três produções novas se podem ter encenadores razoáveis, mas mesmo assim a aposta é também em alguma juventude e os directores musicais são também de qualidade muito mediana. Entretanto a temporada é apresentada de forma truncadíssima em termos de cantores que ainda nem sequer devem ter sido contratados.
Boas notícias: a Opart permite programação plurianual, o presidente do conselho da Opart parece competente e com os números que tem conseguiu passar uma imagem de grande produtividade e realização que deixou os jornalistas presentes calados, mas só o tempo dirá se este modelo resulta. Esta actividade toda é apenas uma cosmética que resulta da redução da produção operática, podia ser pior.
Infelizmente a parte artística não me parece grande coisa, culpa de Damann em part time entre Colónia e Lisboa até Setembro de 2008, o que no meu entender é mais um escândalo e um desperdício de dinheiros públicos. Talvez Damann consiga com mais tempo fazer melhor, mas a primeira impressão de análise no papel e não na conversa tida com o alemão, é que esta temporada é um triunfo das teses do Sr. Hermenêutica: ópera barata e popular, cantores portugueses, e muitas récitas da Tosca e do Rigoletto que é disso que o povo gosta.
Agora uma nota final: Com a Opart e Vieira de Carvalho a intervir directamente temos a ópera ainda mais cara do mundo! Quinze milhoes e meio de euros a dividir por cinco encenações são: mais de cinco milhões de euros por ópera! Um milhão de contos por produção! Notável, dava para fechar a Opart e mandar vir as produções do Convent Garden em tournée, provavelmente daria para 10 produções e poupava-se uma data de dinheiro em ordenados...
O S. Carlos afasta-se da sua verdadeira missão procurando programar concertos de câmara, concertos de coro, concertos disto e daquilo, número de espectáculos a subir 27%. Aquilo que é apresentado pela Opart como um grande ganho de actividade e que é apenas ter quatro ópera encenadas para o grande público, uma ópera em estreia para o pequeno público, uma sessão de ópera em versão de concerto, que já no tempo de Pinamonti era uma falácia para meter na temporada lírica e que continua agora, e uma ópera para as crianças.
O Siegfried vai para Outubro ou Novembro, por razões de agenda de cantores e encenador e sai desta temporada.
É necessário dizer que o aumento de actividade anunciado com pompa e circunstância pela Opart e pelo secretário de Estado resulta da diminuição do número de verdadeiras produções operáticas de qualidade, cinco encenações de peso é um número vergonhoso para qualquer capital europeia, é pobre é miserável, apesar dos agentes infiltrados no jornal "O Público" que contam sete, sete, senhores, encenações! Julgava que para dar a volta aos números bastava o secretário de Estado a dizer na conferência de imprensa que Pinamonti tinha "40 récitas e que agora havia 50 récitas, logo um aumento de 10"! Contando bem Pinamonti tinha 43 e agora há 42, e se contarmos a encenação barata para as crianças com cantores de quinta categoria temos 48, logo ou há uma diminuição de uma ópera ou um aumento de cinco, algo que nada tem a ver com as "cinquenta récitas de agora" e as "dez a mais" anunciadas antes. Parecia ser uma questão de hermenêutica, como assinalei a sua Excia na conferência de Imprensa, o que causou uma surpreendente gargalhada na sala e uma resposta balbuciante de que as estatísticas contavam pouco, quando antes tinham sido invocadas pelo próprio Sr. secretário de Estado. Mais detalhes nos artigos que escreverei nas várias revistas onde colaboro.
Uma encenação, muito por baixo, custa 600.000 euros e dá para fazer uns 500 concertos de câmara com artistas portugueses e de qualidade internacional reduzida, se forem duetos a cinquenta contos cada músico dá para 1200 concertos, que aumento de produtividade! É necessário dizer que há muitos anos que a temporada não contava um número tão baixo de encenações. Mas será que alguém quer no S. Carlos uma Gulbenkian de terceira, uma Metropolina de segunda, um CCB de segunda. Não será que o público quer é um teatro de ópera? Creio que com este número de encenações deveríamos ter uns duzentos concertos de câmara a mais, uns cinquenta concertos de orquestra sinfónica e uns coros. Já que se cortou tanto na produção poder-se-ia ter muitíssimo mais lied, o que está dentro da linha de um teatro operático, mas nem sequer esse vertente foi muito reforçada, com cinco encenações sobraria dinheiro para uns 120 recitais de lied com cantores razoáveis a nível internacional e um ou dois com cantores de altíssimo nível. Além disso acho péssima a ideia de fazer concertos de coro, expor as vergonhas públicas do S. Carlos é mau, se o coro fosse de qualidade a ideia era boa, assim será apenas mais um fracasso, deve-se apostar na qualidade e não na mediocridade. Deixo de barato a ideia de fazer espectáculos com ranchos folclóricos, isso sim, seria um aumento de produtividade notável! Diversificar e fazer tudo menos ópera.
Um pouco mais a sério: quatro óperas encenadas para o grande público, ópera popular, pouco profunda, numa visão esteticamente enviezada, sem ópera alemã, sem opera barroca: de Offenbach os Contos de Hoffmann, de Verdi o Rigoletto com 11 récitas(!!), de Puccini a Tosca (também com 11 récitas) e de Mozart a Clemência de Tito que, francamente, não é sequer uma das melhores produções do grande Mozart, e para o pequeno público de Emanuel Nunes vem Der Märchen, uma carta fechada e, pelo que já se escutou, intragável e, provavelmente, um desastre financeiro.
Cantores de segunda, jovens, e muitos portugueses, é evidente que, com três produções novas se podem ter encenadores razoáveis, mas mesmo assim a aposta é também em alguma juventude e os directores musicais são também de qualidade muito mediana. Entretanto a temporada é apresentada de forma truncadíssima em termos de cantores que ainda nem sequer devem ter sido contratados.
Boas notícias: a Opart permite programação plurianual, o presidente do conselho da Opart parece competente e com os números que tem conseguiu passar uma imagem de grande produtividade e realização que deixou os jornalistas presentes calados, mas só o tempo dirá se este modelo resulta. Esta actividade toda é apenas uma cosmética que resulta da redução da produção operática, podia ser pior.
Infelizmente a parte artística não me parece grande coisa, culpa de Damann em part time entre Colónia e Lisboa até Setembro de 2008, o que no meu entender é mais um escândalo e um desperdício de dinheiros públicos. Talvez Damann consiga com mais tempo fazer melhor, mas a primeira impressão de análise no papel e não na conversa tida com o alemão, é que esta temporada é um triunfo das teses do Sr. Hermenêutica: ópera barata e popular, cantores portugueses, e muitas récitas da Tosca e do Rigoletto que é disso que o povo gosta.
Agora uma nota final: Com a Opart e Vieira de Carvalho a intervir directamente temos a ópera ainda mais cara do mundo! Quinze milhoes e meio de euros a dividir por cinco encenações são: mais de cinco milhões de euros por ópera! Um milhão de contos por produção! Notável, dava para fechar a Opart e mandar vir as produções do Convent Garden em tournée, provavelmente daria para 10 produções e poupava-se uma data de dinheiro em ordenados...
Etiquetas: Christoph Dammann, OPART, S. Carlos, Sr. Hermenêutica
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