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30.4.07

"NO DIVà COM SATÔ de Tomás de Oliveira Marques 

"NO DIVà COM SATÔ

Composição ditirâmbica
À vista da Torre de Belém
Com o fito mefistofélico
Dos meninos se portarem bem



I. “Mea Culpa”

Santana, pelo túnel perdoa
Ataquei-te ao mínimo cabelo.
Agora, quando saio de Lisboa,
Sinto que fui já Velho do Restelo.

Tal qual o pudico Centro de Belém
Face à barbárie apodei de Comercial,
Ao deixares o poleiro deixei por bem
O que o Mosteiro ladeia de achar mal.

Pois é, isto de ser a sério intelectual
De esquerda que para o centro corre
Tem que se lhe diga, faz rir, sobretudo
No mundo onde o siso dorme e julga mal
O jugo do qual a banalidade incorre
Em erro para afinal “acertar” em tudo.

Eis-me por fim deitado no divã
Do resto da vida a ouvir Josquin **
Preso ao medo de estar por um fio
Trocar a música que tolhe Satã
Pela de “Passa por mim no Rossio”.

** (É isso mesmo: Josquin, sec. XV, e não Chopin)

27/04/2007
Tomás de Oliveira Marques



II. “Do direito à vida”

Até Quinhentos, a mulher não existia
Não tinha alma, antes de Trento.
Depois, mesmo sem a ecografia,
Talvez por milagre, a Igreja teve tento.

Tento tolhido na estulta tentação
Dos loyolas em “cogito lingus” com o poder.
Vai daí, sopra supra a Inquisição
Foi p’rá queima o direito de viver.

Repete-se agora a triste história
Com bolor, passado meio milénio.
Há textos, ecografias, falta memória
Da treta a tratar-se por quinquénio.

Fica então o direito à vida assente
Por cálculo ou cegueira por quinquénio.
Mas, face à trela da tecnologia, o crente
Tropeça agora tal qual há meio milénio.

30/11/2006
10/02/2007
Tomás de Oliveira Marques


III. “IVG”

Crescei e multiplicai-vos
Em prol de uma prole de trela
A encher o planeta de fedelhos
Apenas para parir conselhos
Sobre isto e aquilo sem parar
De pensar no sexo a solução
Do tempo, d’abjurar e abortar
Tendo em conta na alma os pintelhos
Da subtil arte da proliferação
Perdida à partida a favor dos coelhos.

08/02/2007
10/02/2007
Tomás de Oliveira Marques



IV. “Discernimento I”

Deus existe.
Vi-O há tempos, atrás
De uma moita moído
A esconder-se condoído
Dos seus mais ferozes
Publicita-dores.

2005
Tomás de Oliveira Marques



V. “Discernimento II”

De pés juntos e sonhos
Para a frente esticados.

Na barriga, como os defuntos,
Os dedos para sempre cruzados.

Assim apontamos o futuro
Ao vê-lo de olhos fechados.

Ah, como sabe bem o chão duro
Ao batermos as asas nele deitados.

10/04/2007
Tomás de Oliveira Marques



VI. “NO DIVÃ COM SATÃ - Epílogo”

Satã, até à próxima
Hás-de de novo voltar
Dos vãos trabalhos de parto
Na senda do cerne da Dor
A este divã tuas penas partilhar
Desta vez contigo, angélico leitor.

29/04/2007
Tomás de Oliveira Marques

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