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3.7.07

Universidades- Fundações 

A favor sem dúvida. Apenas os medíocres sem capacidade de gerar receitas próprias, sem capacidade de atrair pela competência, podem objectar a um modelo de excelência que deixa na segunda divisão aqueles que não trabalham, nem querem trabalhar, e têm contribuído para o descrédito do sistema de ensino superior português. Aqueles que não se regem por padrões internacionais, aqueles que mantêm feudos medievais, aqueles que funcionam em circuito fechado terão dificuldades. E muito bem.
O meu Instituto Superior Técnico é o principal candidato a ser Fundação no dia em que a Lei sair. E será uma Fundação capaz de competir no mercado mundial. Talvez a única com dimensão em Portugal, mas é necessário ter mais e outras instituições preparam-se com garra para o fazer, isso é bom. Reagir porque se vai perder o poder, como o senil e inoperante conselho de reitores, é natural, é a reacção de quem ainda não percebeu que já perdeu o comboio e luta para o fazer parar.
A Lei tem sentido, é necessário apurar aspectos de democraticidade, mas deixar os alunos sem poder é um factor de estabilidade e de responsabilização do sistema. Ninguém pensa em deixar os doentes a mandar nos hospitais, por exemplo. Os estudantes não são profissionais pagos para ensinar ou gerir o sistema de ensino. Porque razão deixar amadores muito jovens, impreparados por definição (senão não seriam estudantes) e que passam poucos anos nas universidades, que nunca reflectiram profundamente nas opções estratégicas e cujo único objectivo é fazer um curso sem muitas dificuldades a controlar e a emperrar todo o funcionamento de uma escola que tem como único fim preparar o melhor possível esses mesmos estudantes? O que não passa necessariamente por lhes dar um curso fácil.
Uma Fundação terá órgãos profissionais de direcção, como aliás já acontece no Instituto Superior Técnico, onde todos os aspectos científicos (pela sua natureza) e, em parte, os financeiros (pela organização adoptada) já escapam ao domínio dos estudantes (que presentemente têm sempre voto em paridade com os professores nas aprovações finais de contas e orçamentos). Os aspectos pedagógicos devem ter a participação dos estudantes, mas não em paridade com os professores, como até aqui. As grandes decisões estratégicas, decididas em senados e em Assembleias de Representantes, não podem ser decididas por jovens sem qualquer formação para tomar essas decisões, não faz sentido ter estudantes de licenciatura a aprovar programas de doutoramento, como no senado da Universidade Técnica de Lisboa, é escandaloso. Não acontece assim em nenhum país do mundo, excepto aqui.

Esta Lei é um passo fortemente positivo no sentido de obrigar as instituições a lutar pela qualidade.

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9.4.07

Independente deve fechar imediatamente 

Estive na Alemanha e Áustria, regressado hoje a Lisboa leio atentamente os jornais. Segundo parece Mariano Gago anuncia hoje se a Independente deve ou não fechar.

Acho estranho que seja preciso reflectir nesta decisão e anunciá-la como se se tratasse de um caso nacional. A Independente nunca foi uma universidade de prestígio, tive oportunidade de ver exames da minha área científica, a matemática, e parecem-me anedóticos pela extrema facilidade e pela ausência total de perguntas de raciocínio específico.
Como professor do Instituto Superior Técnico em Lisboa, instituição prestigiada e reconhecida pela ordem dos engenheiros, tenho falado com diversos colegas sobre a Independente, isto nas áreas tecnológicas e científicas. A conclusão é unânime: aquilo é uma espécie de escola da treta, quem não conseguia acabar os cursos em instituições exigentes, onde é necessário trabalhar no duro e aprender as competências essenciais da sua licenciatura, ia para a Independente. Assim se explica que gente com funções dirigentes de altíssimo nível consiga realizar licenciaturas que à partida seriam de grande complexidade e responsabilidade, como engenharia civil, em tempo record e ao mesmo tempo que exerciam funções a tempo inteiro. Até Armando Vara concluiu, segundo me informaram recentemente, um curso qualquer na Independente enquanto era gestor da CGD.
Sobre Sócrates nem se fala, o actual primeiro ministro teria de ser um géno absoluto para conseguir concluir uma licenciatura no meu instituto, o IST, ao mesmo tempo acumulando as funções de secretário de Estado. Imagine-se Sócrates despachando, por exemplo, o Freeport de Alcochete, lendo milhares de páginas de relatórios ao mesmo tempo que preparava o trabalho final de curso sobre hidráulica aplicada ou betão pré-esforçado, tendo de realizar experiências a tempo inteiro, e escrevendo minuciosos relatórios de projecto e investigação.

Não admira que a Ordem dos Engenheiros nunca tenha reconhecido os cursos da Independente. Espanta-me também o que vai alguém com ambições políticas fazer para a Independente. O que será mesmo: ambição do canudo? Canudo pelo canudo? É que um curso na Independente ou numa qualquer privada de uma república das bananas é a mesma coisa. Um licenciado da Independente não vale à priori como engenheiro e não tem grande currículo académico ou científico. Não está preparado para assinar projectos uma vez que não domina à priori as competências básicas da especialidade.
O que a Ordem dos Engenheiros faz nestes casos: para salvaguardar a sociedade das espécies de licenciados que saem deste tipo de escolas não concede a acreditação automática às licenciaturas. Isto uma vez que o Ministério da Educação não ia fazendo nada, e até lhe parecia convir esta situação, concedendo autorização à universidade para continuar. Parece que, ao mesmo tempo, este status quo convinha a muita gente de forma a obter cursos expresso e credibilidade canular em tempo relâmpago. Tolerava-se a Independente (e outras do mesmo género) e a espécie de licenciaturas que providenciava. Comercialmente era sucesso assegurado e repare-se que nem sequer era ilegal ou fraudulento em termos legais.

Entretanto os tempos mudaram, estamos em tempo de exigência e qualificação. Qualidade é o mote. Vem aí o MIT senhores engenheiros e "engenheiros". O que fará Mariano Gago neste contexto?

Será que Gago, professor catedrático do Instituto Superior Técnico, pesará que o novo reitor da Independente é doutorado há seis meses! Este último deve ser também um génio, um doutoramento pela prestidigitadíssima universidade de Badajoz (Deus meu). Será que não havia mais ninguém depois de, sobre os outros, pesarem acusações gravíssimas com detenções à mistura. E o pai do Satélite? Carvalho Rodrigues, que com a sua figura imponente emprestou fama mediática àquela que era a "sua universidade"... onde pára o Senhor Pai do Satélite? Em Bruxelas... e não fala. "Agora não fala", os alunos que se desenrasquem.

Feche-se o que nunca se deveria ter aberto. E depressa.

Sócrates e o canudo

Sobre José Sócrates: não há livros de termos, não há validação por conselho científico, não há comissão de equivalências, não há registos oficiais, não há cadeiras, não há licenciados nesse ano (de 1996), não há nada, perdão, ... há um certificado passado a um domingo! Há uns telefonemas aos jornalistas. Afinal por que se preocupa o PM com um curso da treta tirado numa universidade que todo a gente sabe ser da treta? Quem elegeu José Sócrates perguntou-lhe onde tinha tirado o canudo? Será que o único a achar importância ao assunto foi Sócrates? Será que só ele não percebeu que o canudo da Independente ou um curso da catequese dos escuteiros do Fundão são quase a mesma coisa? Será que não percebeu que o problema da credibilidade entre o meio académico das suas prrogativas lectivas estava resolvido há muito tempo? Mas o meio académico é o meio académico e o resto do país está-se nas tintas. Salazar era Doutor, Sócrates tem o curso da Independente. Agora os telefonemas, esses sim, cheiram que tresandam a doutoramento em intriga política escola PS, algures na Beira Baixa.

Não há volta a dar-lhe. Creio até que teria demonstrado muito mais engenho se o Sócrates tivesse mesmo tirado o curso sem por lá os pés, como o Einstein. Agora andar a enganar-se a ele próprio, ir de motorista oficial a altas horas da noite aturar uns manhosos duns professores como o Arouca e os outros (ao menos o Santana andava a beber uns bons copos) para ter o certificado passado a um domingo e sem livro de termos? Sem poder inscrever-se na Ordem? Mas que falta de profissionalismo. Ao menos que arranjasse um doutoramento honoris causa, como o outro, isso é que era engenho. Um homem cujo sonho era ser engenheiro, como o Guterres que tirou o curso no Técnico e teve vinte a análise para depois não saber qual era o PIB. Pobre Sócrates que andou a ser enganado este tempo todo, é de meter dó: encontou-se a autêntica vítima de uma cabala.

Aditamento

Depois de escrever este post, Mariano Gago anunciou o encerramento compulsivo (mas provisório) da Independente. Aplaude-se a decisão corajosa (mas provisória), a única a tomar por alguém que tem, além de inteligência, um currículo académico e científico exemplar. Não havia volta a dar (provisoriamente).

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