17.4.11
Entre a concisão e a entropia
Publicado originalmente no Jornal "O Diabo"
Henrique Silveira – crítico
Orquestra Gulbenkian com Sequeira Costa em piano e direcção de Joana Carneiro.
Helix de Esa-Pekka Salonen, concerto para piano e orquestra nº1 de Sergei Rachmaninov e Concerto para orquestra de Béla Bartók. Sala a três quintos.
Quando assisti à estreia de Helix, nos proms de 2005 em Londres, achei a mesma um exercício sobre aceleração do tempo, com alguma técnica mas sem grande arte. Uma obra, sobrecarregada orquestralmente onde nem Gergiev lhe conseguiu dar alguma cor. Na Gulbenkian a interpretação foi tão trapalhona do ponto de vista rítmico que a princípio nem reconhecia a música. Uma obra tratada de forma displicente e... está tudo dito.
Seguiu-se a obra dos dezasseis anos de Rachmaninov. Sendo certo que revista mais tarde, mostra claramente uma invenção natural e juvenil com uma riqueza que às vezes, embrenhado nos seus problemas psicológicos, o compositor não conseguiu obter em obras posteriores. Aqui brilhou Sequeira Costa que, retirado dos afazeres profissionais e de uma agenda pesada de recitais e concertos tem agora uma espécie de segunda juventude: mais de oitenta anos dão-lhe uma segurança artística, uma confiança na sua arte e uma profundidade insuperáveis. A orquestra acompanhou relativamente bem com alguns atrasos de marcação sobre o piano no primeiro andamento e um grosseiro solo de fagote: som roufenho a tapar o piano e sem sentido da linha musical, o solista tem grandes qualidades e apenas precisava de ter tido mais trabalho e atenção; faltou também maestrina para moderar a fúria fagotística.
A lição de Sequeira Costa foi notável, senhor de um toucher denso e cheio obtendo fortíssimos sem martelar, senhor de um fraseado de uma elegância e de uma concisão absolutas, sem recurso a efeitos espúrios e rodriguinhos pseudo românticos, consegue segurar a linha da música de uma forma perfeita sem nunca a quebrar. O andante cantabile foi de uma enorme poesia e o Allegro Scherzando final demonstrou uma técnica invejável. Descendente em linha recta de Lizst e Hans von Bullow, através do seu professor Vianna da Motta, escutar Sequeira Costa é um privilégio raro em tempo de coqueluches superficiais.
Seguiu-se o concerto para orquestra de Bartók. É uma obra de uma grande densidade musical, requintada e brilhante na orquestração e tecnicamente muito difícil.
As minhas referências para esta obra são Karajan em disco e Boulez e Rattle ao vivo, sempre com a Filarmónica de Berlim. A Gulbenkian sai prejudicada na comparação logo no início, pois não tem o mesmo efectivo nas cordas, o que prejudica claramente o mel que deveria sair dos violinos e violas em grave e mesmo dos violoncelos ou o peso dos contrabaixos, tanto mais que alguns naipes surgem em divisi.
No meu entender a maestrina deveria ser menos exuberante na géstica, o que gera problemas de comunicação e entropia musical. Seria necessário mais eficácia e menos desenfreamento gesticular, mais atenção aos detalhes, mais direcção das entradas e controle dos equilíbrios e planos sonoros e menos transe frenético e menos direcção dos solos e das linhas óbvias. No entanto o resultado final, muito por mérito da orquestra, foi razoável.
*** (Pelo Sequeira Costa)
o - Mau, * - sofrível, ** - interessante, *** - bom, **** - muito bom, ***** - excepcional.
Nota - Escutámos a versão de 7 de Abril, Quinta-feira.
Henrique Silveira – crítico
Orquestra Gulbenkian com Sequeira Costa em piano e direcção de Joana Carneiro.
Helix de Esa-Pekka Salonen, concerto para piano e orquestra nº1 de Sergei Rachmaninov e Concerto para orquestra de Béla Bartók. Sala a três quintos.
Quando assisti à estreia de Helix, nos proms de 2005 em Londres, achei a mesma um exercício sobre aceleração do tempo, com alguma técnica mas sem grande arte. Uma obra, sobrecarregada orquestralmente onde nem Gergiev lhe conseguiu dar alguma cor. Na Gulbenkian a interpretação foi tão trapalhona do ponto de vista rítmico que a princípio nem reconhecia a música. Uma obra tratada de forma displicente e... está tudo dito.
Seguiu-se a obra dos dezasseis anos de Rachmaninov. Sendo certo que revista mais tarde, mostra claramente uma invenção natural e juvenil com uma riqueza que às vezes, embrenhado nos seus problemas psicológicos, o compositor não conseguiu obter em obras posteriores. Aqui brilhou Sequeira Costa que, retirado dos afazeres profissionais e de uma agenda pesada de recitais e concertos tem agora uma espécie de segunda juventude: mais de oitenta anos dão-lhe uma segurança artística, uma confiança na sua arte e uma profundidade insuperáveis. A orquestra acompanhou relativamente bem com alguns atrasos de marcação sobre o piano no primeiro andamento e um grosseiro solo de fagote: som roufenho a tapar o piano e sem sentido da linha musical, o solista tem grandes qualidades e apenas precisava de ter tido mais trabalho e atenção; faltou também maestrina para moderar a fúria fagotística.
A lição de Sequeira Costa foi notável, senhor de um toucher denso e cheio obtendo fortíssimos sem martelar, senhor de um fraseado de uma elegância e de uma concisão absolutas, sem recurso a efeitos espúrios e rodriguinhos pseudo românticos, consegue segurar a linha da música de uma forma perfeita sem nunca a quebrar. O andante cantabile foi de uma enorme poesia e o Allegro Scherzando final demonstrou uma técnica invejável. Descendente em linha recta de Lizst e Hans von Bullow, através do seu professor Vianna da Motta, escutar Sequeira Costa é um privilégio raro em tempo de coqueluches superficiais.
Seguiu-se o concerto para orquestra de Bartók. É uma obra de uma grande densidade musical, requintada e brilhante na orquestração e tecnicamente muito difícil.
As minhas referências para esta obra são Karajan em disco e Boulez e Rattle ao vivo, sempre com a Filarmónica de Berlim. A Gulbenkian sai prejudicada na comparação logo no início, pois não tem o mesmo efectivo nas cordas, o que prejudica claramente o mel que deveria sair dos violinos e violas em grave e mesmo dos violoncelos ou o peso dos contrabaixos, tanto mais que alguns naipes surgem em divisi.
No meu entender a maestrina deveria ser menos exuberante na géstica, o que gera problemas de comunicação e entropia musical. Seria necessário mais eficácia e menos desenfreamento gesticular, mais atenção aos detalhes, mais direcção das entradas e controle dos equilíbrios e planos sonoros e menos transe frenético e menos direcção dos solos e das linhas óbvias. No entanto o resultado final, muito por mérito da orquestra, foi razoável.
*** (Pelo Sequeira Costa)
o - Mau, * - sofrível, ** - interessante, *** - bom, **** - muito bom, ***** - excepcional.
Nota - Escutámos a versão de 7 de Abril, Quinta-feira.
Etiquetas: Crítica de Concertos, Gulbenkian, Orquestra Gulbenkian, Sequeira Costa
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