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10.3.11

Sofia – A Hora da Alma 

Henrique Silveira – crítico

Sofia Gubaidolina, a grande compositora russa nascida em 1931 na cidade tártara de Chistopol, esteve em Lisboa. O programa da sua visita foi preparado por Filipe Pinto Ribeiro, pianista que estudou em Moscovo e profundo conhecedor da música russa fundador do Schostakovich Ensemble, e incluiu quatro concertos, a projecção de um documentário e um encontro com a compositora.
Todos estes eventos tiveram lugar no Centro Cultural de Belém. Em particular assistimos ao “... Para Gubaidulina” um concerto de câmara no dia 9 de Fevereiro no Pequeno Auditório esgotado. Escutámos o Schostakovich Ensemble nas seis bagatelas de Webern, tocadas com precisão e alma.
Já o quinteto de Schostakovich op. 57, teve uma interpretação muito vigorosa, talvez excessivamente pesada, sobretudo no som das cordas, por vezes em desequilíbrio numa tentativa de puxar pelo som, um pouco dentro da escola russa actual de cordas. Penso que teria sido mais interessante uma leitura mais irónica e menos densa.
O prato forte, porque todos esperavamos, era a segunda parte do concerto com abras da compositora russa. Depois do notável exercício sobre a última fuga de Bach, excelente tocada, mais uma vez com precisão e alma, tivemos uma notabilíssima execução do “funânbulo” para piano e violino. Tatiana Samouil esteve notável no violino e Filipe Pinto Ribeiro foi magistral na forma como criou sonoridades sombrias e misteriosas com um copo de água a roçar a cordas do piano e na forma como tocou o final da obra ao teclado. A incisão e o lado obsessivo do violino, estranhamente evocativo, lembraram um quadro de Chagall, simplesmente notável a obra e a execução.
A obra mais exigente veio finalmente com a presença de sete violoncelos em palco, um solista: Nicolas Alstaedt, membro do Schostakovich ensemble e seis convidados: V. Bartikian, R. Reis, J. Lake, T. V. Pereira e M. Kiska. A própria compositora e Filipe Pinto Ribeiro tocaram aquafones, instrumentos com varetas de metal e um ressoador com água accionados por arcos. Faltou precisão aos tutti dos violoncelos mas percebeu-se a notável e etérea construção de Gubaidolina onde o tema do Dies Irae se vai insinuando de forma persistente até à dissolução final. Apesar de algumas pequenas falhas um excelente concerto. Público em delírio. Foi a Hora da Alma.
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o - Mau, * - sofrível, ** - interessante, *** - bom, **** - excepcional

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