16.3.11
O substituto
Henrique Silveira - crítico
Abertura da Flauta Mágica de Mozart, Canções de um Viandante de Gustav Mahler e Sinfonia nº 15 de Chostakovich. Orquestra Gulbenkian com direcção de Ainars Rubikis e o barítono Georg Nigl. 24 de Fevereiro, Fundação Gulbenkian. Sala a quatro quintos.
Yakov Kreizberg por motivo de “força maior” não veio dirigir a Orquestra Gulbenkian nesta semana de Fevereiro, foi subtituído pelo jovem Rubikis, nascido em Riga em 1978, terra de grandes músicos e de grande tradição. O concerto iniciou-se por uma esquecível abertura de Mozart, onde a falta de domínio da linguagem mozarteana por parte de maestro e orquestra, e a total trapalhada e desacerto nas entradas constituiram uma entrada displicente. Salvou-se o clarinete, com sonoridade clássica, de Esther Georgie.
Seguiu-se um barítono a cantar Mahler que, apesar de atacar os agudos quase impossíveis da partitura e de uma boa forma de dizer a poesia em alemão, foi atraiçoado por uma má técnica vocal, um stress vocal excessivo nos fortíssimos, em que abusou da gritaria, e um mau domínio do diafragma e da respiração. Foram frequentes as frases acabadas em perda e desafinação quando lhe faltou o fôlego, tudo fruto de má coordenação do diafragma e dos pontos de respiração. Foram demasiados defeitos graves e, apesar de ter começado nos pequenos cantores de Viena, uma má escolha da direcção artística da Gulbenkian.
A segunda parte teve a última sinfonia de Chostakovich com Allegretto, Adagio, Allegretto e Adagio - Allegretto. Apesar de falta de coordenação nas entradas dos metais e da falta de comunicação entre trompas (bem) e trombones (menos bem) sobretudo nos Adagios, apesar de alguns pizzcati descoordenados nas cordas, apesar de entradas fraquinhas nas madeiras agudas e apesar de uma resposta lenta ao gesto do maestro por parte da orquestra, foi uma leitura interessante, embora mais pelo lado doce e subtil do que pelos momentos mais duros e agrestes do ácido humor de Chostakovich. Divertidas citações de Rossini e negras as citações de Wagner que o compositor vai amenizando ao longo do último andamento acabando de forma mágica nas belas e etéreas percussões finais. Muito empenhados todos os solistas com destaque para o violoncelo. O maestro esteve empenhado e atento mas o seu gesto nem sempre foi eficaz na comunicação com os músicos.
O final da obra foi belíssimo, Estaline já estava morto e Chostakovich pode despedir-se deste mundo sem peias estéticas, caminhando para as estrelas.
Orquestra: a melhorar a atenção e coesão nas entradas em andamentos lentos e o aprumo patente na falta de verniz nos sapatos que já mereciam uma visita ao sapateiro.
**
o - Mau, * - sofrível, ** - interessante, *** - bom, **** - excepcional
Abertura da Flauta Mágica de Mozart, Canções de um Viandante de Gustav Mahler e Sinfonia nº 15 de Chostakovich. Orquestra Gulbenkian com direcção de Ainars Rubikis e o barítono Georg Nigl. 24 de Fevereiro, Fundação Gulbenkian. Sala a quatro quintos.
Yakov Kreizberg por motivo de “força maior” não veio dirigir a Orquestra Gulbenkian nesta semana de Fevereiro, foi subtituído pelo jovem Rubikis, nascido em Riga em 1978, terra de grandes músicos e de grande tradição. O concerto iniciou-se por uma esquecível abertura de Mozart, onde a falta de domínio da linguagem mozarteana por parte de maestro e orquestra, e a total trapalhada e desacerto nas entradas constituiram uma entrada displicente. Salvou-se o clarinete, com sonoridade clássica, de Esther Georgie.
Seguiu-se um barítono a cantar Mahler que, apesar de atacar os agudos quase impossíveis da partitura e de uma boa forma de dizer a poesia em alemão, foi atraiçoado por uma má técnica vocal, um stress vocal excessivo nos fortíssimos, em que abusou da gritaria, e um mau domínio do diafragma e da respiração. Foram frequentes as frases acabadas em perda e desafinação quando lhe faltou o fôlego, tudo fruto de má coordenação do diafragma e dos pontos de respiração. Foram demasiados defeitos graves e, apesar de ter começado nos pequenos cantores de Viena, uma má escolha da direcção artística da Gulbenkian.
A segunda parte teve a última sinfonia de Chostakovich com Allegretto, Adagio, Allegretto e Adagio - Allegretto. Apesar de falta de coordenação nas entradas dos metais e da falta de comunicação entre trompas (bem) e trombones (menos bem) sobretudo nos Adagios, apesar de alguns pizzcati descoordenados nas cordas, apesar de entradas fraquinhas nas madeiras agudas e apesar de uma resposta lenta ao gesto do maestro por parte da orquestra, foi uma leitura interessante, embora mais pelo lado doce e subtil do que pelos momentos mais duros e agrestes do ácido humor de Chostakovich. Divertidas citações de Rossini e negras as citações de Wagner que o compositor vai amenizando ao longo do último andamento acabando de forma mágica nas belas e etéreas percussões finais. Muito empenhados todos os solistas com destaque para o violoncelo. O maestro esteve empenhado e atento mas o seu gesto nem sempre foi eficaz na comunicação com os músicos.
O final da obra foi belíssimo, Estaline já estava morto e Chostakovich pode despedir-se deste mundo sem peias estéticas, caminhando para as estrelas.
Orquestra: a melhorar a atenção e coesão nas entradas em andamentos lentos e o aprumo patente na falta de verniz nos sapatos que já mereciam uma visita ao sapateiro.
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o - Mau, * - sofrível, ** - interessante, *** - bom, **** - excepcional
Etiquetas: Crítica de Concertos, Gulbenkian, Orquestra Gulbenkian
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