10.3.11
Esa Pekka Salonen em Lisboa
Henrique Silveira – crítico
Philharmonia Orchestra, Coro Gulbenkian, Attila Fekete, tenor, e Michele Kalmandi, barítono. Direcção de Esa-Pekka Salonen no Coliseu dos Recreios de Lisboa a 13 de Janeiro. Casa a 90%.
Na acústica péssima do Coliseu dos Recreios foram interpretados o Mandarim Maravilhoso e a Cantata Profana de Béla Bartók e a Sagração da Primavera de Igor Stravinsky. Deve-se dizer que este programa é um tremendo tour de force por páginas da maior dificuldade técnica da história da música. Com armadilhas rítmicas em tempos irregulares, entradas sucessivas dos instrumentos em ritmos alucinantes, todo este programa punha à prova a capacidade de resistência à pressão de maestro e músico em duas horas de concerto.
Se o Mandarim Maravilhoso foi um extraordinário jogo de clareza e transparências nos diversos planos sonoros em que todos os instrumentos brilharam, a Cantata Profana teve muito mais difícil apreensão pelo público. A orquestra acotovelava-se no palco onde celesta, piano, órgão, harpa e diversos altifalantes disputavam o espaço. Os altifalantes devem-se ao facto de na acústica do Coliseu nem o coro conseguir ouvir a orquestra nem a orquestra o coro, criando-se dificuldade de coordenação e comunicação insanáveis. O som do coro parecia vindo do fundo de um poço.
Mas quando se tem Salonen nem tudo está perdido e o maestro finlandês conseguiu estar em todos os pontos essenciais da partitura, com uma atenção aos detalhes, às entradas de vozes e instrumentos, com uma capacidade de comunicação através da minúcia não fabricada ou falsa de um gesto ao mesmo tempo essencial e completo. Creio que esta capacidade de comunicação, uma grande musicalidade e uma capacidade de análise e conhecimento das partituras faz deste maestro uma tremenda força que é capaz nas mais adversas circunstâncias transformar o impossível no belo. Um modelo copiado por seguidores mas quase impossível de seguir na sua eficácia.
Os cantores solistas fizeram o possível por se ouvir no inferno acústico do Coliseu, com algumas reservas em alguns agudos do tenor que saíram partidos.
A Sagração da Primavera foi um coroar perfeito do trabalho de Salonen, os aspectos rítmicos foram realizados de forma superlativa, numa direcção que mais uma vez privilegiou o detalhe, a clareza, a elegância e o equilíbrio em detrimento do lado mais selvagem da partitura.
Os pontos altos foram a clareza e a qualidade sonora geral, trabalhados com grande detalhe, a suavidade e ao mesmo tempo a densidade dos metais, a pujança e energia das cordas. Sublimes os pianíssimos quase inaudíveis da orquestra e em particular dos trompetes.
A orquestra dos tempos de Walter Legge continua a sobreviver com mais ou menos dificuldades, os contratos agora são precários e os músicos nem sequer têm ordenado fixo, mas o brio, a qualidade profissional e a entrega são totais.
Brilhante também a bela exposição sobre a orquestra, um projecto da Philharmonia, patente no Museu do Design de Lisboa. A não perder.
****
o - Mau, * - sofrível, ** - interessante, *** - bom, **** - excepcional
Philharmonia Orchestra, Coro Gulbenkian, Attila Fekete, tenor, e Michele Kalmandi, barítono. Direcção de Esa-Pekka Salonen no Coliseu dos Recreios de Lisboa a 13 de Janeiro. Casa a 90%.
Na acústica péssima do Coliseu dos Recreios foram interpretados o Mandarim Maravilhoso e a Cantata Profana de Béla Bartók e a Sagração da Primavera de Igor Stravinsky. Deve-se dizer que este programa é um tremendo tour de force por páginas da maior dificuldade técnica da história da música. Com armadilhas rítmicas em tempos irregulares, entradas sucessivas dos instrumentos em ritmos alucinantes, todo este programa punha à prova a capacidade de resistência à pressão de maestro e músico em duas horas de concerto.
Se o Mandarim Maravilhoso foi um extraordinário jogo de clareza e transparências nos diversos planos sonoros em que todos os instrumentos brilharam, a Cantata Profana teve muito mais difícil apreensão pelo público. A orquestra acotovelava-se no palco onde celesta, piano, órgão, harpa e diversos altifalantes disputavam o espaço. Os altifalantes devem-se ao facto de na acústica do Coliseu nem o coro conseguir ouvir a orquestra nem a orquestra o coro, criando-se dificuldade de coordenação e comunicação insanáveis. O som do coro parecia vindo do fundo de um poço.
Mas quando se tem Salonen nem tudo está perdido e o maestro finlandês conseguiu estar em todos os pontos essenciais da partitura, com uma atenção aos detalhes, às entradas de vozes e instrumentos, com uma capacidade de comunicação através da minúcia não fabricada ou falsa de um gesto ao mesmo tempo essencial e completo. Creio que esta capacidade de comunicação, uma grande musicalidade e uma capacidade de análise e conhecimento das partituras faz deste maestro uma tremenda força que é capaz nas mais adversas circunstâncias transformar o impossível no belo. Um modelo copiado por seguidores mas quase impossível de seguir na sua eficácia.
Os cantores solistas fizeram o possível por se ouvir no inferno acústico do Coliseu, com algumas reservas em alguns agudos do tenor que saíram partidos.
A Sagração da Primavera foi um coroar perfeito do trabalho de Salonen, os aspectos rítmicos foram realizados de forma superlativa, numa direcção que mais uma vez privilegiou o detalhe, a clareza, a elegância e o equilíbrio em detrimento do lado mais selvagem da partitura.
Os pontos altos foram a clareza e a qualidade sonora geral, trabalhados com grande detalhe, a suavidade e ao mesmo tempo a densidade dos metais, a pujança e energia das cordas. Sublimes os pianíssimos quase inaudíveis da orquestra e em particular dos trompetes.
A orquestra dos tempos de Walter Legge continua a sobreviver com mais ou menos dificuldades, os contratos agora são precários e os músicos nem sequer têm ordenado fixo, mas o brio, a qualidade profissional e a entrega são totais.
Brilhante também a bela exposição sobre a orquestra, um projecto da Philharmonia, patente no Museu do Design de Lisboa. A não perder.
****
o - Mau, * - sofrível, ** - interessante, *** - bom, **** - excepcional
Etiquetas: Crítica de Concertos, Esa-Pekka Salonen, Gulbenkian
Arquivos
- 11/03
- 03/04
- 04/04
- 05/04
- 06/04
- 07/04
- 08/04
- 09/04
- 10/04
- 11/04
- 12/04
- 01/05
- 02/05
- 03/05
- 04/05
- 05/05
- 06/05
- 07/05
- 08/05
- 09/05
- 10/05
- 11/05
- 12/05
- 01/06
- 02/06
- 03/06
- 04/06
- 05/06
- 06/06
- 07/06
- 08/06
- 09/06
- 10/06
- 11/06
- 12/06
- 01/07
- 02/07
- 03/07
- 04/07
- 05/07
- 06/07
- 07/07
- 09/07
- 10/07
- 11/07
- 12/07
- 01/08
- 02/08
- 03/08
- 04/08
- 05/08
- 06/08
- 07/08
- 09/08
- 10/08
- 12/08
- 01/09
- 02/09
- 03/09
- 04/09
- 07/09
- 11/09
- 02/10
- 03/10
- 03/11
- 04/11
- 05/11
- 06/11
- 09/12
- 05/13
- 06/13
- 07/13
- 08/13
- 09/13
- 10/13
- 11/13
- 12/13
- 01/14
- 02/14
- 03/14
- 04/14
- 05/14
- 06/14
- 07/14
- 09/14
- 01/15
- 05/15
- 09/15
- 10/15
- 03/16