10.3.11
Crédito a vinte anos
Henrique Silveira – crítico
Sinfonia nº 9, em Ré maior – Gustav Mahler. Orquestra Filarmónica de Los Angeles com direcção de Gustavo Dudamel
22 de Janeiro, Fundação Gulbenkian. Sala esgotada.
Dudamel é um maestro jovem, ainda na casa dos vinte anos, e nesse ponto reside a sua maior força e o seu maior defeito, controlando a partitura de cor, sabendo os pontos chave das entradas, dos tempos e dos lugares, domina a milionária orquestra de Los Angeles, da qual é titular, não se deixando dominar pela mesma. É notável a empatia que os músicos estabelecem com o seu maestro e a forma como respeitam a sua direcção. Tudo gira em torno do seu gesto vigoroso, determinado e perfeito. Dudamel é técnica natural e é arrojo expressivo.
Um fruto do sistema venezuelano, que torna jovens excluídos em músicos, Dudamel acabou por se tornar num produto do “star sistem”, suprema contradição. O excesso, o entusiasmo, a subversão do “clássico tornado rock”, como vem em todas as folhas de programa onde Dudamel aparece, o excesso sonoro e a origem humilde formam uma mistura que deixa os americanos à beira de um ataque de histeria e serve às mil maravilhas a Universal na promoção do seu “produdo”. Felizmente Dudamel é um pouco mais do que isso.
Nesta nona de Mahler, além do virtuosismo técnico e da beleza sonora e qualidade da orquestra, aspectos evidentes, foi óbvia a falta da compreensão profunda do Mahler final, um Mahler sombrio e depressivo que, lido de forma exuberante e linear por Dudamel, foi muitas vezes banal e pouco refinado. Soube por isso a pouco a falta de minúcia no detalhe da metamorfose do belo no horrível, metáfora tão evidente nas trompas que se cruzam do som natural ao som com surdina e atravessam a fronteira do etéreo para o mais horrível sofrimento em poucos segundos. Essa má passagem no primeiro andamento foi o paradigma de Dudamel, superficial, pouco gradual, evidente como um mágico que deixa perceber os truques.
Se somarmos a isto a falta de sentido do sarcasmo e da ironia num Ländler grosseiro, e a falta da sustentação do som nos violinos nas passagens mais expostas nos agudos em pianíssimo, com excesso de stress no som, abusando agressivamente do vibrato em todas as cordas, sobretudo no rondo, acabamos num Mahler técnico superficial. Mahler disse que “a música está para lá das notas” e Dudamel ainda não percebeu bem isso.
Talvez dentro de vinte anos esteja pronto para esta música e isso compreendeu-se no Adagio conclusivo, onde Dudamel tocou a estrela onde Mahler vive. E que belo final onde após o último som morrer a sala esperou um minuto e, milagre único nesta noite até as tosses se calaram, pelo gesto redentor e apaziguador do maestro a fechar o gesto.
***
o - Mau, * - sofrível, ** - interessante, *** - bom, **** - excepcional
Etiquetas: Crítica de Concertos, Dudamel, Gulbenkian
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