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28.3.09

Poesia de Tomás de Oliveira Marques 


“Por tua culpa” (in ostinato)



Por tua culpa
Tomo a música
No espírito em sangue
E voo prostrado.
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Por tua culpa
Dói a valer
O que é secreto
Na voz do Silêncio
Ao ser cantado.

Por tua culpa
A noite é mais funda
No tormento que faz
Perder o cuidado.

Por tua culpa
Olho para trás
Em busca das chaves
Do tempo perdido
(E não as encontro),
Sei-me cercado.

Por tua culpa
Não abro a boca
Com medo de calar
O Silêncio clamado.

Por tua culpa,
Se fundo cantas
As dores do mundo,
Da turba surda
Sinto-me culpado.

Por tua culpa
O facies doloroso
Da música profunda
É obnubilado.

Por tua culpa
Pela voz primordial
Como o pão e o vinho
E Sede de Infinito
Arfo acossado.

Por tua culpa
A Terra agora
Já não é redonda
Nem roda constante,
Dilui-se densa
Do coração humano
Ao firmamento,
Onde canta o indizível
Crucificado.


07/03/2009
Tomás de Oliveira Marques



Nota: Dedicado a Maria Cristina Kiehr, pelo seu admirável e dionisíaco percurso no mundo da Música Antiga e, em particular, pela poderosa abordagem à ária “Scherza infida”, de Handel, lado a lado com o Divino Sospiro, dirigido por Chiara Banchini, no CCB/Lisboa, em 07/03/2009.

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