29.4.08
Dias da música: Menos por mais
Em 2006 gastavam-se 1.200.000 euros na Festa da Música, sob direcção artística de René Martin, face aos 600.000 dos Dias da Música de agora, sob direcção directa de Mega Ferreira.
Em 2006, último ano da festa da Música, foram realizados 115 concertos, com a particularidade de estes concertos mobilizarem 847 músicos dos quais 357 eram portugueses. O Barroco que, recorde-se, também é um prazer de tocar em conjunto, destaca-se pela utilização de pequenos ensembles: se dividirmos os músicos de 2006 pelos concertos tivemos 7,37 músicos por concerto.
Neste ano devemos ter tido um número de artistas na ordem dos 350 (uma vez que não foi divulgado o número oficial realizei uma estimativa com base no programa, creio que este número pecará por excesso). Note-se que o facto tão propalado de os músicos portugueses terem sido privilegiados nestes "Dias da Música" é errado, basta constatar que em 2008 o total de músicos é inferior ao número de músicos portugueses nos tempos áureos da Festa da Música. A média de músicos por concerto é de 5,7 em 2008, portanto ligeiramente inferior a 2006.
Por outro lado temos uma variedade não comparável de géneros, Roby Lakatos num concerto de temporada encheria certamente o CCB. Mas o seu género não se enquadra nos formatos anteriores das Festas da Música, naquilo que se está a tornar uma espécie de miscelânea programática. Curiosamente esteve longe de encher o grande auditório, uma vez que a maioria do público reunido no CCB não procurava exactamente música de inspiração popular húngara, com recortes ciganos e com uns toques de improvisação e Jazz.
Outro detalhe nesta miscelânea programática é o esquecimento do centenário de Olivier Messiaen, onde está o Quarteto Para o Fim dos Tempos? No CCB deverá ter ficado para o fim dos tempos dos Dias da Música...
Outra coisa surrealista é a programação de uma orquestra barroca, com instrumentos supostamente originais ou cópias de originais, e de estilo, supostamente, barroco com um violoncelista de estilo moderno e com um instrumento de cordas de aço!...
A mistura de John Cage com Bach, que não me choca à partida, faz-me lembrar uma exposição de quadros do Duchamps e do Latour. Há quem ache inteligente, porque força um público, que nunca ouviria Cage, a escutar as performances do americano, eu até acho graça à esperteza mas, depois de uma reflexão mais profunda, acho heterodoxo, por inúmeras razões, onde a mais importante é mesmo a razão crítica da obra de Cage que se ri do próprio público e do acontecimento "concerto". Um público e artistas que servem de modelo à ironia de Cage que ridiculariza o mesmo público e os mesmos artistas que tocaram antes e depois. Interessante mas discutível.
Numa análise puramente comparativa e analítica pode-se dizer:
Gastou-se uma média de 1417 euros por músico em 2006.
Em 2008 não foi anunciado o número de músicos mas com base no orçamento mencionado e na minha estimativa do número de músicos (por excesso) gastou-se uma média de 1714 euros por músico. Como a inflação foi baixa creio que este desnível de custos com uma acentuada descida de qualidade é francamente injustificada.
Ou seja, para uma programação francamente inferior, e não vou comparar agrupamentos e solistas devido à evidência das diferenças (a não ser que me peçam explicitamente e aí serei exaustivo, mas fica a lista no final do post como ilustração), onde dou apenas como exemplo a medíocre Neue Hofkapelle de München anunciada como cabeça de cartaz e senhora de profundas desilusões, bem como do afamado quarteto Prazak que está numa baixa de forma incrível.
Juntando a isto o inenarrável programa, recheadíssimo de erros, penso que a única conclusão é que estes dias da música foram a prova de que René Martin era capaz de fazer mais com menos e que esta programação do CCB continua a desperdiçar 600.000 euros, uma fatia muito considerável do orçamento num evento de um fim de semana onde não se descortina uma linha de programação que não seja uma miscelânea e, agora sim, um supermeercado onde sabonetes se misturam com sabão azul e branco e lixívias de má qualidade, belos peixes frescos de Peniche e uns charrocos fornecidos pelo Ordalfabetix, onde aparecem algumas latas de Merda d'Artiste (lembro aqui Piero Manzoni) misturadas com algum caviar, algum vinho húngaro e alguns chouriços portugueses. Posso, se me pedirem, associar estes produtos aos agrupamentos que me inspiram estas imagens, mas não creio que seja profícuo e deixo ao leitor a sua imaginação para completar o puzzle.
Entretanto anuncia-se que no próximo ano teremos a herança de Bach, o que dá para tudo e para nada, espera-se que o lado pedagógico seja reforçado, mas como tudo cabe no mesmo saco nunca se sabe. O que é aparente é que os temas se vão aproximando dos temas do René Martin e o decalque parece, cada ano que passa, ser mais evidente; excepto na extrema qualidade dos artistas que aceitam tocar a preços de saldo para o hiperactivo francês.
Nota a atribuir à última Festa da Música: 17, nota destes Dias da Música: 9,5 (numa escala puramente pessoal).
Como memória e registo aqui fica um artigo do DN de 24 de Abril de 2006:
A segunda melhor de sempre", começou por sorrir António Mega Ferreira, no balanço da 7ª edição da Festa da Música do Centro Cultural de Belém (CCB), a sua primeira à frente da instituição. Uma avaliação suportada na certeza dos números: até às 17.00 de ontem foram vendidos 48 850 dos 52 mil bilhetes disponíveis. O que significa que os 115 concertos, que desde sexta-feira à noite se distribuíram por sete salas, tiveram uma ocupação média de 94%.
Contas feitas, só em 2005 houve mais público. "Mas é preciso lembrar que essa teve 158 concertos", ressalvou o presidente. Além disso, "este formato mais curto fica mais próximo do ideal para uma Festa realizada em condições de conforto para todos ". E também mais de acordo com a dieta orçamental cumprida este ano. Foi aliás aí que o criador da Festa, René Martin, assinalou um dos grandes sucessos desta edição, deixando um agradecimento aos músicos. "Porque este foi um ano de novo arranque para a Festa, marcado por constrangimentos orçamentais que todos souberam aceitar."
Inscritos neste balanço ficam também alguns efeitos colaterais. Neste fim-de-semana, a exposição dedicada a Frida Kahlo recebeu perto de cinco mil visitantes. E a livraria Buchholz, que se instalou no átrio do CCB, vendeu três mil CD só de música barroca. O resto da contabilidade faz-se com o fascínio irrecusável de uma logística de exagero. Uma organização com mais de 200 pessoas 847 músicos (357 portugueses), perto de cem jornalistas acreditados; vinte cravos, oito órgãos e 12 afinadores para os manter, mais onze pianos com três afinadores dedicados e outros tantos viradores de páginas. Sessenta mil folhas de sala, 450 quartos distribuídos por cinco hotéis, 4500 refeições servidas e garrafas de água suficientes para dar nível a uma piscina olímpica. Em resumo, o costume.
Festa em família
Para lá dos números, fica o já tradicional quadro de azáfama que, nestes dias de democratização da música erudita, toma conta do CCB. É contínuo o trânsito de gente com bilhetes no bolso, crianças pela mão, instrumentos às costas, cartões ao pescoço. E a vinte minutos de distância, as filas começam a crescer junto às sete portas. São 11.15, e o público alinhado frente à Sala Frederico II dá já uma volta completa ao átrio e segue pelo corredor afora. "Tanto coisa para ouvir o hamburguer tocar baixo", brinca o Tiago, aportuguesando os fonemas e trocando voltas às sílabas inscritas no cartaz que anuncia o francês Jean-Frédéric Neuburguer e a Sonata em Dó M para piano de Bach. Tiago tem oito anos e trazia a piada ensaiada desde ontem, quando decidiu o programa familiar para esta manhã de domingo com os pais e a irmã, que é mais velha quatro anos e mais acanhada. "Foi também por eles que viemos" explica a mãe Teresa. "O ano passado vim sozinha com o meu marido, tivemos medo de os trazer e arrependemo-nos. Porque isto é perfeito para um programa de família."
Um piso abaixo, noutra fila interminável que começa a escoar ordeiramente para a Sala La Pouplinière, um outro apreciador de Bach escolhido aleatoriamente para um depoimento: "assistimos a quatro concertos ontem e hoje temos mais dois", explica Augusto Santos Silva, ministro dos Assuntos Parlamentares e militante assumido da Festa. "Vimos todos os anos", garante, enquanto avança com a mulher para ouvir Roel Dieltiens na Suite n.º 1 para Violoncelo Solo em Mi Bemol Maior.
João Pedro Oliveira e Sandra Carvalho Gonçalo Santos
LISTA DE INTÉRPRETES EM 2006 (Dados do CCB)
orquestras e ensembles
• Akademie für Alte Musik Berlin
Daniel Reuss, direcção
• Collegium Cartusianum
Peter Neumann, direcção
• Concerto Campestre
Pedro Castro, direcção
• Concerto Köln
• Divino Sospiro
Enriço Onofri, direcção
• Ensemble 415
Chiara Banchini, direcção
• Ensemble Matheus
Jean-Christophe Spinosi, direcção
• Ensemble Pierre Robert
Frédéric Desenclos, direcção
• Flores de Música
João Paulo Janeiro, direcção
• La Fenice
Jean Tubéry, direcção
• Les Siècles
François-Xavier Roth, direcção
• Ludovice Ensemble
Fernando Miguel Jalôto, direcção
• Orquestra Académica Metropolitana de Lisboa
Jean-Marc Burfin, direcção
• Orquestra da E.S.M.A.E.
Ana Mafalda Castro, direcção
• Quarteto do Conservatório
• Ricercar Consort
Philippe Pierlot, direcção
• Sinfonia Varsovia
Michel Corboz, direcção
• Solistes do Ensemble Barroco de Limoges
Christophe Coin, direcção
coros
• Capela Joanina
João Paulo Janeiro, direcção
• Coro de Câmara de Namur
Jean Tubéry, direcção
• Collegium Vocale Gent
Philippe Pierlot, direcção
• Coro Ricercare
Michel Corboz, direcção
• Ensemble Vocal de Lausanne
Michel Corboz, direcção
• Kölner Kammerchor
Peter Neumann, direcção
• La Venexiana
Cláudio Cavina, direcção
• Officium – Grupo Vocal
Pedro Teixeira, direcção
• RIAS-Kammerchor
Daniel Reuss, direcção
• The Tallis Scholars
Peter Phillips, direcção
direcção
• Ana Mafalda Castro
• Chiara Banchini
• Christophe Coin
• Claudio Cavina
• Daniel Reuss
• Enrico Onofri
• Fernando Miguel Jalôto
• François-Xavier Roth
• Frédéric Desenclos
• Jean Tubéry
• Jean-Christophe Spinosi
• Jean-Marc Burfin
• João Paulo Janeiro
• Michel Corboz
• Pedro Castro
• Pedro Teixeira
• Peter Csaba
• Peter Neumann
• Peter Phillips
• Philippe Pierlot
cravo, órgão
• Ana Mafalda Castro
• Benjamin Alard
• Frédéric Desenclos (órgão)
• Fernando Miguel Jalôto
• João Paulo Janeiro (órgão)
• Jan-Willem Jansen
• Marcos Magalhães
• Maude Gratton
• Mayako Sone
• Nicolau de Figueiredo
• Pierre Hantaï
• Rui Paiva (órgão)
• Skip Sempé
piano
• Alexandre Tharaud
• Anne Queffélec
• Carla Seixas
• Edna Stern
• Iddo Bar-Shaï
• Filipe Pinto-Ribeiro
• Jean-Frédéric Neuburger
• Miguel Henriques
marimba
• Pedro Carneiro
harpa
• Giovanna Pessi
violino
• Álvaro Pinto
• Andres Gabetta
• Chiara Banchini
• Gilles Colliard
• Jean-Christophe Spinosi
• Jörg Buschhaus
• Laurence Paugam
• Luís Santos
• Markus Hoffmann
• Raphaël Oleg
• Régis Pasquier
• Stefano Montanari
violoncelo
• Ana Raquel Pinheiro
• Christophe Coin
• Miguel Ivo Cruz
• Paulo Gaio Lima
• Roel Dieltiens
• Xavier Phillips
viola
• François Fernandez (viola de amor)
• Raquel Massadas (viola)
viola da gamba
• Christophe Coin
• Florence Bolton
• Josh Cheatham
• Philippe Pierlot
instrumentos de sopro
• Christian Moreaux (oboé de amor)
• Cordula Breuer (flauta bisel e flauta travessa)
• Jean-Marc Goujon (flauta)
• Julien Martin (flauta de bisel)
• Maria-Tecla Andreotti (flauta)
• Martin Sandhoff (flauta de bisel e flauta travessa)
• Patrick Beaugiraud (oboé de amor)
• Pedro Couto Soares (flauta de bisel e flauta travessa)
• Renée Allen (trompa)
• Thomas Müller (trompa)
canto
• Alex Potter (contalto)
• Carlos Mena (contratenor)
• Céline Scheen (soprano)
• Christophe Einhorn (tenor)
• Damien Guillon (contralto)
• David Wilson-Johnson (baixo)
• Emma Bell (soprano)
• Frabrice Hayoz (barítono)
• Franz Vitzthum (contralto)
• Furio Zanasi (barítono)
• Gyslaine Waelchli (soprano)
• Harry van der Kamp (baixo)
• James Oxley (tenor)
• Jean-François Novelli (contratenor alto)
• Malcolm Bennett (tenor)
• Marcel Beekman (contratenor alto)
• Markus Brutscher (tenor)
• Marianne Beate Kielland (meio-soprano)
• Myung-Hee Hyun (soprano)
• Núria Rial (soprano)
• Orlanda Velez Isidro (soprano)
• Peter Harvey (baixo)
• Philippe Jaroussky (contratenor)
• Romina Basso (meio-soprano)
• Simone Kermes (soprano)
• Stephan Imboden (baixo)
• Susan Gritton (soprano)
• Thomas Walker (tenor)
• Torben Jürgens (baixo)
• Valerie Bonnard (contralto)
Em 2006, último ano da festa da Música, foram realizados 115 concertos, com a particularidade de estes concertos mobilizarem 847 músicos dos quais 357 eram portugueses. O Barroco que, recorde-se, também é um prazer de tocar em conjunto, destaca-se pela utilização de pequenos ensembles: se dividirmos os músicos de 2006 pelos concertos tivemos 7,37 músicos por concerto.
Neste ano devemos ter tido um número de artistas na ordem dos 350 (uma vez que não foi divulgado o número oficial realizei uma estimativa com base no programa, creio que este número pecará por excesso). Note-se que o facto tão propalado de os músicos portugueses terem sido privilegiados nestes "Dias da Música" é errado, basta constatar que em 2008 o total de músicos é inferior ao número de músicos portugueses nos tempos áureos da Festa da Música. A média de músicos por concerto é de 5,7 em 2008, portanto ligeiramente inferior a 2006.
Por outro lado temos uma variedade não comparável de géneros, Roby Lakatos num concerto de temporada encheria certamente o CCB. Mas o seu género não se enquadra nos formatos anteriores das Festas da Música, naquilo que se está a tornar uma espécie de miscelânea programática. Curiosamente esteve longe de encher o grande auditório, uma vez que a maioria do público reunido no CCB não procurava exactamente música de inspiração popular húngara, com recortes ciganos e com uns toques de improvisação e Jazz.
Outro detalhe nesta miscelânea programática é o esquecimento do centenário de Olivier Messiaen, onde está o Quarteto Para o Fim dos Tempos? No CCB deverá ter ficado para o fim dos tempos dos Dias da Música...
Outra coisa surrealista é a programação de uma orquestra barroca, com instrumentos supostamente originais ou cópias de originais, e de estilo, supostamente, barroco com um violoncelista de estilo moderno e com um instrumento de cordas de aço!...
A mistura de John Cage com Bach, que não me choca à partida, faz-me lembrar uma exposição de quadros do Duchamps e do Latour. Há quem ache inteligente, porque força um público, que nunca ouviria Cage, a escutar as performances do americano, eu até acho graça à esperteza mas, depois de uma reflexão mais profunda, acho heterodoxo, por inúmeras razões, onde a mais importante é mesmo a razão crítica da obra de Cage que se ri do próprio público e do acontecimento "concerto". Um público e artistas que servem de modelo à ironia de Cage que ridiculariza o mesmo público e os mesmos artistas que tocaram antes e depois. Interessante mas discutível.
Numa análise puramente comparativa e analítica pode-se dizer:
Gastou-se uma média de 1417 euros por músico em 2006.
Em 2008 não foi anunciado o número de músicos mas com base no orçamento mencionado e na minha estimativa do número de músicos (por excesso) gastou-se uma média de 1714 euros por músico. Como a inflação foi baixa creio que este desnível de custos com uma acentuada descida de qualidade é francamente injustificada.
Ou seja, para uma programação francamente inferior, e não vou comparar agrupamentos e solistas devido à evidência das diferenças (a não ser que me peçam explicitamente e aí serei exaustivo, mas fica a lista no final do post como ilustração), onde dou apenas como exemplo a medíocre Neue Hofkapelle de München anunciada como cabeça de cartaz e senhora de profundas desilusões, bem como do afamado quarteto Prazak que está numa baixa de forma incrível.
Juntando a isto o inenarrável programa, recheadíssimo de erros, penso que a única conclusão é que estes dias da música foram a prova de que René Martin era capaz de fazer mais com menos e que esta programação do CCB continua a desperdiçar 600.000 euros, uma fatia muito considerável do orçamento num evento de um fim de semana onde não se descortina uma linha de programação que não seja uma miscelânea e, agora sim, um supermeercado onde sabonetes se misturam com sabão azul e branco e lixívias de má qualidade, belos peixes frescos de Peniche e uns charrocos fornecidos pelo Ordalfabetix, onde aparecem algumas latas de Merda d'Artiste (lembro aqui Piero Manzoni) misturadas com algum caviar, algum vinho húngaro e alguns chouriços portugueses. Posso, se me pedirem, associar estes produtos aos agrupamentos que me inspiram estas imagens, mas não creio que seja profícuo e deixo ao leitor a sua imaginação para completar o puzzle.
Entretanto anuncia-se que no próximo ano teremos a herança de Bach, o que dá para tudo e para nada, espera-se que o lado pedagógico seja reforçado, mas como tudo cabe no mesmo saco nunca se sabe. O que é aparente é que os temas se vão aproximando dos temas do René Martin e o decalque parece, cada ano que passa, ser mais evidente; excepto na extrema qualidade dos artistas que aceitam tocar a preços de saldo para o hiperactivo francês.
Nota a atribuir à última Festa da Música: 17, nota destes Dias da Música: 9,5 (numa escala puramente pessoal).
Como memória e registo aqui fica um artigo do DN de 24 de Abril de 2006:
A segunda melhor de sempre", começou por sorrir António Mega Ferreira, no balanço da 7ª edição da Festa da Música do Centro Cultural de Belém (CCB), a sua primeira à frente da instituição. Uma avaliação suportada na certeza dos números: até às 17.00 de ontem foram vendidos 48 850 dos 52 mil bilhetes disponíveis. O que significa que os 115 concertos, que desde sexta-feira à noite se distribuíram por sete salas, tiveram uma ocupação média de 94%.
Contas feitas, só em 2005 houve mais público. "Mas é preciso lembrar que essa teve 158 concertos", ressalvou o presidente. Além disso, "este formato mais curto fica mais próximo do ideal para uma Festa realizada em condições de conforto para todos ". E também mais de acordo com a dieta orçamental cumprida este ano. Foi aliás aí que o criador da Festa, René Martin, assinalou um dos grandes sucessos desta edição, deixando um agradecimento aos músicos. "Porque este foi um ano de novo arranque para a Festa, marcado por constrangimentos orçamentais que todos souberam aceitar."
Inscritos neste balanço ficam também alguns efeitos colaterais. Neste fim-de-semana, a exposição dedicada a Frida Kahlo recebeu perto de cinco mil visitantes. E a livraria Buchholz, que se instalou no átrio do CCB, vendeu três mil CD só de música barroca. O resto da contabilidade faz-se com o fascínio irrecusável de uma logística de exagero. Uma organização com mais de 200 pessoas 847 músicos (357 portugueses), perto de cem jornalistas acreditados; vinte cravos, oito órgãos e 12 afinadores para os manter, mais onze pianos com três afinadores dedicados e outros tantos viradores de páginas. Sessenta mil folhas de sala, 450 quartos distribuídos por cinco hotéis, 4500 refeições servidas e garrafas de água suficientes para dar nível a uma piscina olímpica. Em resumo, o costume.
Festa em família
Para lá dos números, fica o já tradicional quadro de azáfama que, nestes dias de democratização da música erudita, toma conta do CCB. É contínuo o trânsito de gente com bilhetes no bolso, crianças pela mão, instrumentos às costas, cartões ao pescoço. E a vinte minutos de distância, as filas começam a crescer junto às sete portas. São 11.15, e o público alinhado frente à Sala Frederico II dá já uma volta completa ao átrio e segue pelo corredor afora. "Tanto coisa para ouvir o hamburguer tocar baixo", brinca o Tiago, aportuguesando os fonemas e trocando voltas às sílabas inscritas no cartaz que anuncia o francês Jean-Frédéric Neuburguer e a Sonata em Dó M para piano de Bach. Tiago tem oito anos e trazia a piada ensaiada desde ontem, quando decidiu o programa familiar para esta manhã de domingo com os pais e a irmã, que é mais velha quatro anos e mais acanhada. "Foi também por eles que viemos" explica a mãe Teresa. "O ano passado vim sozinha com o meu marido, tivemos medo de os trazer e arrependemo-nos. Porque isto é perfeito para um programa de família."
Um piso abaixo, noutra fila interminável que começa a escoar ordeiramente para a Sala La Pouplinière, um outro apreciador de Bach escolhido aleatoriamente para um depoimento: "assistimos a quatro concertos ontem e hoje temos mais dois", explica Augusto Santos Silva, ministro dos Assuntos Parlamentares e militante assumido da Festa. "Vimos todos os anos", garante, enquanto avança com a mulher para ouvir Roel Dieltiens na Suite n.º 1 para Violoncelo Solo em Mi Bemol Maior.
João Pedro Oliveira e Sandra Carvalho Gonçalo Santos
LISTA DE INTÉRPRETES EM 2006 (Dados do CCB)
orquestras e ensembles
• Akademie für Alte Musik Berlin
Daniel Reuss, direcção
• Collegium Cartusianum
Peter Neumann, direcção
• Concerto Campestre
Pedro Castro, direcção
• Concerto Köln
• Divino Sospiro
Enriço Onofri, direcção
• Ensemble 415
Chiara Banchini, direcção
• Ensemble Matheus
Jean-Christophe Spinosi, direcção
• Ensemble Pierre Robert
Frédéric Desenclos, direcção
• Flores de Música
João Paulo Janeiro, direcção
• La Fenice
Jean Tubéry, direcção
• Les Siècles
François-Xavier Roth, direcção
• Ludovice Ensemble
Fernando Miguel Jalôto, direcção
• Orquestra Académica Metropolitana de Lisboa
Jean-Marc Burfin, direcção
• Orquestra da E.S.M.A.E.
Ana Mafalda Castro, direcção
• Quarteto do Conservatório
• Ricercar Consort
Philippe Pierlot, direcção
• Sinfonia Varsovia
Michel Corboz, direcção
• Solistes do Ensemble Barroco de Limoges
Christophe Coin, direcção
coros
• Capela Joanina
João Paulo Janeiro, direcção
• Coro de Câmara de Namur
Jean Tubéry, direcção
• Collegium Vocale Gent
Philippe Pierlot, direcção
• Coro Ricercare
Michel Corboz, direcção
• Ensemble Vocal de Lausanne
Michel Corboz, direcção
• Kölner Kammerchor
Peter Neumann, direcção
• La Venexiana
Cláudio Cavina, direcção
• Officium – Grupo Vocal
Pedro Teixeira, direcção
• RIAS-Kammerchor
Daniel Reuss, direcção
• The Tallis Scholars
Peter Phillips, direcção
direcção
• Ana Mafalda Castro
• Chiara Banchini
• Christophe Coin
• Claudio Cavina
• Daniel Reuss
• Enrico Onofri
• Fernando Miguel Jalôto
• François-Xavier Roth
• Frédéric Desenclos
• Jean Tubéry
• Jean-Christophe Spinosi
• Jean-Marc Burfin
• João Paulo Janeiro
• Michel Corboz
• Pedro Castro
• Pedro Teixeira
• Peter Csaba
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cravo, órgão
• Ana Mafalda Castro
• Benjamin Alard
• Frédéric Desenclos (órgão)
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• Jan-Willem Jansen
• Marcos Magalhães
• Maude Gratton
• Mayako Sone
• Nicolau de Figueiredo
• Pierre Hantaï
• Rui Paiva (órgão)
• Skip Sempé
piano
• Alexandre Tharaud
• Anne Queffélec
• Carla Seixas
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• Iddo Bar-Shaï
• Filipe Pinto-Ribeiro
• Jean-Frédéric Neuburger
• Miguel Henriques
marimba
• Pedro Carneiro
harpa
• Giovanna Pessi
violino
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• Jean-Christophe Spinosi
• Jörg Buschhaus
• Laurence Paugam
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violoncelo
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• Christophe Coin
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• Roel Dieltiens
• Xavier Phillips
viola
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• Raquel Massadas (viola)
viola da gamba
• Christophe Coin
• Florence Bolton
• Josh Cheatham
• Philippe Pierlot
instrumentos de sopro
• Christian Moreaux (oboé de amor)
• Cordula Breuer (flauta bisel e flauta travessa)
• Jean-Marc Goujon (flauta)
• Julien Martin (flauta de bisel)
• Maria-Tecla Andreotti (flauta)
• Martin Sandhoff (flauta de bisel e flauta travessa)
• Patrick Beaugiraud (oboé de amor)
• Pedro Couto Soares (flauta de bisel e flauta travessa)
• Renée Allen (trompa)
• Thomas Müller (trompa)
canto
• Alex Potter (contalto)
• Carlos Mena (contratenor)
• Céline Scheen (soprano)
• Christophe Einhorn (tenor)
• Damien Guillon (contralto)
• David Wilson-Johnson (baixo)
• Emma Bell (soprano)
• Frabrice Hayoz (barítono)
• Franz Vitzthum (contralto)
• Furio Zanasi (barítono)
• Gyslaine Waelchli (soprano)
• Harry van der Kamp (baixo)
• James Oxley (tenor)
• Jean-François Novelli (contratenor alto)
• Malcolm Bennett (tenor)
• Marcel Beekman (contratenor alto)
• Markus Brutscher (tenor)
• Marianne Beate Kielland (meio-soprano)
• Myung-Hee Hyun (soprano)
• Núria Rial (soprano)
• Orlanda Velez Isidro (soprano)
• Peter Harvey (baixo)
• Philippe Jaroussky (contratenor)
• Romina Basso (meio-soprano)
• Simone Kermes (soprano)
• Stephan Imboden (baixo)
• Susan Gritton (soprano)
• Thomas Walker (tenor)
• Torben Jürgens (baixo)
• Valerie Bonnard (contralto)
Etiquetas: Crítica de Concertos, Dias da Música, Festa da Música, Mega Ferreira, René Martin
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