13.1.08
Uma sinfonia, mas não de Mahler
Volto às críticas com a OSP, ontem (12 de Janeiro de 2008, 21h, CCB) na segunda de Mahler em dó menor, a direcção foi de Julia Jones. Um concerto para 11.5 valores.
Gostei, muito relativamente ao que tenho ouvido destes intérpretes, da forma como a orquestra abordou a obra, concentrada, profissional na medida das suas possibilidades, dirigida de forma suave e redonda por Julia Jones.
Infelizmente a grande preocupação foi o "não falhar", o que se justifica pelos recentes descalabros interpretativos desta orquestra, finalmente sob uma batuta relativamente competente. Assim, não existiu uma verdadeira interpretação da obra. A música foi fluindo plana: chata no sentido da ausência de nuance, ausência de sforzandi, ausência do trabalho de som nas cordas na dinâmica e expressão, houve suavidade excessiva nas madeiras sem qualquer relevo dado à expressão, onde dar as notas sem falhanços foi a tónica.
A haver algum brilho foi nos trompetes e nalguns apontamentos excepcionais dos trombones, onde o solista no primeiro trombone, em solos de grande qualidade e trabalho sobre o som, se destacou de forma notável sobre o marasmo global. Escapou também um solo de flauta a imitar os pássaros onde o primeiro flauta se superou, até por um certo descontrolo na emissão, numa interpretação global absolutamente indiferente e sem risco. Sem muita expressividade, em toda a restante actuação, no único ponto onde a flauta arriscou o belo e surpreendente foi atingido, é caso para dizer que "quem não arrisca não petisca"...
Julia Jones limitou-se a marcar bem, a dar entradas, a manter as coisas cosidas, era a sua função perante este tipo de "não interpretação" que privilegiou o manter o tecido coeso e integrado e não o trabalho estético, não a produção do som; faltou expressividade no jogo dos temas suaves contraposto à violência das fanfarras e das marchas fúnebres, que vão marcando esta peça colossal que é a "Ressureição" de Mahler. Elogia-se o belo gesto da maestrina, elogia-se a sua atenção e elegância no pódio. Elogia-se a atenção profissional dos músicos e o facto da sinfonia não ter sido assassinada por um maestro incompetente logo à partida (costume cada vez mais frequente no S. Carlos), mas seria necessário um trabalho muitíssimo mais profundo para um resultado de qualidade. Ouviu-se no CCB uma leitura, uma passagem razoável de ensaio, e não uma interpretação que necessitaria de muitíssimo mais trabalho preparatório. Foi uma sinfonia, mas não a verdadeira segunda sinfonia de Mahler por uma orquestra profissional. Se fosse um concerto de uma orquestra de um conservatório teria sido bom, assim foi apenas sofrível. Um resultado mediano porque a música de Mahler tocada desta forma resiste, ainda assim, e pode-se entrever a ideia da obra através da planura de uma leitura sem plano conceptual que não seja o "não errar", mas o detalhe, essência da construção do compositor, não foi trabalhado, o âmago da obra, com a sua angulosidade, com o risco do abismo sobre o infinito, não foi atingido. Foi uma espécie doce de Mahler, apesar do barulho, este que escutámos. Faltou a emoção, o lado sombrio e o tormento, faltou o sublime da "Ressureição". Este não é o meu Mahler.
Para se perceber o que quero dizer tenho de entrar no detalhe, pois é de detalhe o que faltou e o que Mahler mais pede, a arquitectura global vive de mútiplas visões e camadas cada vez mais reduzidas, eu diria fractais, que na sua completude fazem a obra. Vou assim destacar os pontos mais insuficientes e que mereceriam mais trabalho de preparação e de construção.
Notas específicas sobre o primeiro andamento: Allegro maestoso (peça autónoma e composta com grande antecedência relativamente ao resto da obra), utilizo a edição original de 1897, fixada pelo próprio Mahler:
Achei, logo de entrada, muito trôpega e confusa a entrada dos contrabaixos e violoncelos, sobretudo no acelerando no final do compasso 4, o que retirou muito impacto à enérgica e violenta entrada na sinfonia, mas estes naipes estiveram, no geral, bem acima (foram razoáveis) dos naipes de violas (este muito fraco) e dos violinos (relativamente fraco).
Os inúmeros sfp, ffp, os sffp dos violinos (e restantes cordas) sairam sem a menor ênfase, aliás a própria entrada ao compasso 21 e seguintes saiu extremamente magra em termos sonoros e continuou magra até ao fim culminando com a ausência de som do ff ao compasso nº418 onde o ff saiu magro e pífio nos violinos (sol agudo a medo) onde o diminuendo seguinte não teve qualquer efeito por ausência de contraste. Verdadeiramente confrangedores aos compassos 95 e 96, onde o sf com glissando e diminuendo não foi feito.
As flautas fizeram a passagem ao compasso 103 e seguintes sem respeitar as indicaçãoes escritas nomeadamente no crescendo-diminuendo do compasso 104 e em legato excessivo, não escrito, facto que se manteve até ao final (comp. 211 até à marca de ensaio 14 - onde até o violino solo foi bastante mais expressivo, etc, etc, etc), o que retirou energia às passagens que deveriam ser mais agrestes. As madeiras foram, aliás, sempre indistintas e sem acentuação, facto notável nos compassos 176 e seguintes em que nem sequer se conseguiram ouvir, enquanto por essa zona os crescendos diminuendos dos primeiros e segundos violinos foram absolutamente indistintos (compassos 169 e seguintes) tocando sempre em f e sem respeitar as indicações dinâmicas que vão variando sistematicamente entre o piano e o forte, facto que se repetiu ad nauseam, comp. 186 e seguintes por exemplo - a excepção foram os compassos 375 (4 compassos depois do nº de ensaio 23) onde os glissandos sairam bonitos mas sem respeitar as indicações dinâmicas (e de expressividade) da primeira semínima de cada compasso.
O corne inglês aos compassos 258 e seguintes não realizou os diminuendos, facto que repetiu mais algumas vezes.
Completamente decepcionante foi, ainda no primeiro andamento, a saída ao violentíssimo "Tempo I", compasso 329, em que o naipe das violas fica a descoberto com o bombo, parecia que não existia uma única viola a fazer o trémolo de tal modo se instalou um buraco sonoro depois do tremendo clímax do início deste compasso, o próprio bombo não conseguiu reagir e criar o efeito desejado que vai do fff ao pp, com as violas com um ffp completamente insatisfatório e denotando má sonoridade e incapacidade de reacção como naipe: uma vez instalado o buraco em vez de um diminuendo entre o p e o pp tivemos um crescendo para "tapar o buraco" neste naipe.
Aos compassos 346 e seguintes o som das madeiras resultou horrível, entre o desafinado e o descontrolado, até a banda de Quadrazais faria melhor!
O naipe das trompas esteve particularmente inseguro nas entradas de conjunto, o que foi notório ao compasso 335 logo antes do número de ensaio 21, na última nota deste compasso, mas este fenómeno repetiu-se inúmeras vezes, ao contrário do usual neste naipe, creio que seria fastidioso dar mas exemplos.
Notas específicas sobre o segundo andamento: Andante moderato:
Queixo-me neste andamento da falta de expressividade, notória logo de entrada, mas que começou a ser demasiado evidente aos compassos 44 (na entrada flauta marcada espress.) e 46 (clarinete), onde se calhar estava escrito nas partes monot como abreviatura de "monótono"... entretanto os três ppp e a indicação sempre ppp escritos na partitura eram inacessíveis aos violinos, violas, violoncelos e contrabaixos que, olimpicamente, e apesar da redução de efectivos, continuavam em mp ou mesmo mf, isto tornou-se muito marcado aos compassos 48 e seguintes com a líndissima passagem das cordas a soar tudo menos ppp, (indicação que se prolonga até à marca de ensaio 4 no compasso 64) e que depois continua até às entradas das flautas, trompas e tímbales no compasso 68, devendo permanecer ppp até ao compasso 74 onde começa (começaria) uma evolução dinâmica de dimimuendo e crescendo (depois do compasso 75), onde se dá uma sequência de sf, dim, ppp, sfmf, e sempre em diminuendo passando por sfp, sfpp e terminando em ppp nas cordas; esta sequência termina logo antes da marca 5 (compasso 85). O que é certo é nada disto se ouviu, faltou aqui um trabalho sério de produção sonora, de refinamento, de qualidade no detalhe que enriquece sobremaneira a interpretação desta sinfonia e que se pode escutar em TODAS as gravações de referência. Isto não é apenas uma questão de estilo ou de gosto do director, é uma questão de respeito pelo que está escrito na partitura.
Ler desta forma plana e sem ênfase, sem acentuação, uma obra destas é tremendamente pobre. A falha no meu entender é claramente do concertino, será que os músicos não fazem ensaios de naipe para preparar os detalhes de uma obra desta envergadura e com este nível de exigência? Considero esta passagem como um desastre. O público em grande medida talvez não se apercebe, porque as notas até foram dadas, porque não tem a partitura ao alcance da mão. Mas nota-se que falta algo e o que se perde é um mundo.
As indicações molto espress. nos violoncelos foram respeitadas, mas com demasiado poder sonoro, exagerando as muito moderadas indicações dinâmicas de Mahler. Pianos súbitos, pp súbitos, crescendos de p que terminam em pp súbito, os três fff que nunca se ouvem (exemplo: compasso 132), a dinâmica sempre entre mp e f mostram uma falta de qualidade intrínseca das cordas que só se resolve ou com despedimentos ou com muito trabalho de naipes. Enérgico e agitado, onde?
Marca de ensaio 7: que confusão, onde está o ffp, o fp nos primeiros violinos e violas, onde estão as nuances dinâmicas, diferenciadas para toda a orquestra??? Ficaram na partitura. Bonita a respiração na marca 8 (escrita por Mahler), mas que depois não sai contrastada suficientemente pelo demasiado forte, no que deveria ser o pp, das cordas ao compasso 164. Inexactos os divisi aos compassos 187 sem respeitar a dinâmica pedida, imprecisão nos compassos 202 e seguintes nas perguntas e respostas entre cordas agudas e graves. Falta de contraste e de trabalho de conjunto nos decrescendos dos seis compassos anteriores. Desafinação no compasso 254, começando no ré bemol e acabando no sol nos primeiros violinos. E etc. etc. etc. de tal forma que se torna fastidioso exemplificar tudo.
Julia Jones para respeitar o que Mahler pediu na partitura deveria esperar cinco minutos entre o primeiro e o segundo andamentos. Esperou um minuto e quarenta! Até neste ponto o detalhe não foi respeitado. Este não é o meu Mahler.
Este post será completado com a análise dos restantes andamentos (coro e solistas incluídos) e uma análise do programa de sala, tradução (muito fraca) e da estrutura da obra.
Gostei, muito relativamente ao que tenho ouvido destes intérpretes, da forma como a orquestra abordou a obra, concentrada, profissional na medida das suas possibilidades, dirigida de forma suave e redonda por Julia Jones.
Infelizmente a grande preocupação foi o "não falhar", o que se justifica pelos recentes descalabros interpretativos desta orquestra, finalmente sob uma batuta relativamente competente. Assim, não existiu uma verdadeira interpretação da obra. A música foi fluindo plana: chata no sentido da ausência de nuance, ausência de sforzandi, ausência do trabalho de som nas cordas na dinâmica e expressão, houve suavidade excessiva nas madeiras sem qualquer relevo dado à expressão, onde dar as notas sem falhanços foi a tónica.
A haver algum brilho foi nos trompetes e nalguns apontamentos excepcionais dos trombones, onde o solista no primeiro trombone, em solos de grande qualidade e trabalho sobre o som, se destacou de forma notável sobre o marasmo global. Escapou também um solo de flauta a imitar os pássaros onde o primeiro flauta se superou, até por um certo descontrolo na emissão, numa interpretação global absolutamente indiferente e sem risco. Sem muita expressividade, em toda a restante actuação, no único ponto onde a flauta arriscou o belo e surpreendente foi atingido, é caso para dizer que "quem não arrisca não petisca"...
Julia Jones limitou-se a marcar bem, a dar entradas, a manter as coisas cosidas, era a sua função perante este tipo de "não interpretação" que privilegiou o manter o tecido coeso e integrado e não o trabalho estético, não a produção do som; faltou expressividade no jogo dos temas suaves contraposto à violência das fanfarras e das marchas fúnebres, que vão marcando esta peça colossal que é a "Ressureição" de Mahler. Elogia-se o belo gesto da maestrina, elogia-se a sua atenção e elegância no pódio. Elogia-se a atenção profissional dos músicos e o facto da sinfonia não ter sido assassinada por um maestro incompetente logo à partida (costume cada vez mais frequente no S. Carlos), mas seria necessário um trabalho muitíssimo mais profundo para um resultado de qualidade. Ouviu-se no CCB uma leitura, uma passagem razoável de ensaio, e não uma interpretação que necessitaria de muitíssimo mais trabalho preparatório. Foi uma sinfonia, mas não a verdadeira segunda sinfonia de Mahler por uma orquestra profissional. Se fosse um concerto de uma orquestra de um conservatório teria sido bom, assim foi apenas sofrível. Um resultado mediano porque a música de Mahler tocada desta forma resiste, ainda assim, e pode-se entrever a ideia da obra através da planura de uma leitura sem plano conceptual que não seja o "não errar", mas o detalhe, essência da construção do compositor, não foi trabalhado, o âmago da obra, com a sua angulosidade, com o risco do abismo sobre o infinito, não foi atingido. Foi uma espécie doce de Mahler, apesar do barulho, este que escutámos. Faltou a emoção, o lado sombrio e o tormento, faltou o sublime da "Ressureição". Este não é o meu Mahler.
Para se perceber o que quero dizer tenho de entrar no detalhe, pois é de detalhe o que faltou e o que Mahler mais pede, a arquitectura global vive de mútiplas visões e camadas cada vez mais reduzidas, eu diria fractais, que na sua completude fazem a obra. Vou assim destacar os pontos mais insuficientes e que mereceriam mais trabalho de preparação e de construção.
Notas específicas sobre o primeiro andamento: Allegro maestoso (peça autónoma e composta com grande antecedência relativamente ao resto da obra), utilizo a edição original de 1897, fixada pelo próprio Mahler:
Achei, logo de entrada, muito trôpega e confusa a entrada dos contrabaixos e violoncelos, sobretudo no acelerando no final do compasso 4, o que retirou muito impacto à enérgica e violenta entrada na sinfonia, mas estes naipes estiveram, no geral, bem acima (foram razoáveis) dos naipes de violas (este muito fraco) e dos violinos (relativamente fraco).
Os inúmeros sfp, ffp, os sffp dos violinos (e restantes cordas) sairam sem a menor ênfase, aliás a própria entrada ao compasso 21 e seguintes saiu extremamente magra em termos sonoros e continuou magra até ao fim culminando com a ausência de som do ff ao compasso nº418 onde o ff saiu magro e pífio nos violinos (sol agudo a medo) onde o diminuendo seguinte não teve qualquer efeito por ausência de contraste. Verdadeiramente confrangedores aos compassos 95 e 96, onde o sf com glissando e diminuendo não foi feito.
As flautas fizeram a passagem ao compasso 103 e seguintes sem respeitar as indicaçãoes escritas nomeadamente no crescendo-diminuendo do compasso 104 e em legato excessivo, não escrito, facto que se manteve até ao final (comp. 211 até à marca de ensaio 14 - onde até o violino solo foi bastante mais expressivo, etc, etc, etc), o que retirou energia às passagens que deveriam ser mais agrestes. As madeiras foram, aliás, sempre indistintas e sem acentuação, facto notável nos compassos 176 e seguintes em que nem sequer se conseguiram ouvir, enquanto por essa zona os crescendos diminuendos dos primeiros e segundos violinos foram absolutamente indistintos (compassos 169 e seguintes) tocando sempre em f e sem respeitar as indicações dinâmicas que vão variando sistematicamente entre o piano e o forte, facto que se repetiu ad nauseam, comp. 186 e seguintes por exemplo - a excepção foram os compassos 375 (4 compassos depois do nº de ensaio 23) onde os glissandos sairam bonitos mas sem respeitar as indicações dinâmicas (e de expressividade) da primeira semínima de cada compasso.
O corne inglês aos compassos 258 e seguintes não realizou os diminuendos, facto que repetiu mais algumas vezes.
Completamente decepcionante foi, ainda no primeiro andamento, a saída ao violentíssimo "Tempo I", compasso 329, em que o naipe das violas fica a descoberto com o bombo, parecia que não existia uma única viola a fazer o trémolo de tal modo se instalou um buraco sonoro depois do tremendo clímax do início deste compasso, o próprio bombo não conseguiu reagir e criar o efeito desejado que vai do fff ao pp, com as violas com um ffp completamente insatisfatório e denotando má sonoridade e incapacidade de reacção como naipe: uma vez instalado o buraco em vez de um diminuendo entre o p e o pp tivemos um crescendo para "tapar o buraco" neste naipe.
Aos compassos 346 e seguintes o som das madeiras resultou horrível, entre o desafinado e o descontrolado, até a banda de Quadrazais faria melhor!
O naipe das trompas esteve particularmente inseguro nas entradas de conjunto, o que foi notório ao compasso 335 logo antes do número de ensaio 21, na última nota deste compasso, mas este fenómeno repetiu-se inúmeras vezes, ao contrário do usual neste naipe, creio que seria fastidioso dar mas exemplos.
Notas específicas sobre o segundo andamento: Andante moderato:
Queixo-me neste andamento da falta de expressividade, notória logo de entrada, mas que começou a ser demasiado evidente aos compassos 44 (na entrada flauta marcada espress.) e 46 (clarinete), onde se calhar estava escrito nas partes monot como abreviatura de "monótono"... entretanto os três ppp e a indicação sempre ppp escritos na partitura eram inacessíveis aos violinos, violas, violoncelos e contrabaixos que, olimpicamente, e apesar da redução de efectivos, continuavam em mp ou mesmo mf, isto tornou-se muito marcado aos compassos 48 e seguintes com a líndissima passagem das cordas a soar tudo menos ppp, (indicação que se prolonga até à marca de ensaio 4 no compasso 64) e que depois continua até às entradas das flautas, trompas e tímbales no compasso 68, devendo permanecer ppp até ao compasso 74 onde começa (começaria) uma evolução dinâmica de dimimuendo e crescendo (depois do compasso 75), onde se dá uma sequência de sf, dim, ppp, sfmf, e sempre em diminuendo passando por sfp, sfpp e terminando em ppp nas cordas; esta sequência termina logo antes da marca 5 (compasso 85). O que é certo é nada disto se ouviu, faltou aqui um trabalho sério de produção sonora, de refinamento, de qualidade no detalhe que enriquece sobremaneira a interpretação desta sinfonia e que se pode escutar em TODAS as gravações de referência. Isto não é apenas uma questão de estilo ou de gosto do director, é uma questão de respeito pelo que está escrito na partitura.
Ler desta forma plana e sem ênfase, sem acentuação, uma obra destas é tremendamente pobre. A falha no meu entender é claramente do concertino, será que os músicos não fazem ensaios de naipe para preparar os detalhes de uma obra desta envergadura e com este nível de exigência? Considero esta passagem como um desastre. O público em grande medida talvez não se apercebe, porque as notas até foram dadas, porque não tem a partitura ao alcance da mão. Mas nota-se que falta algo e o que se perde é um mundo.
As indicações molto espress. nos violoncelos foram respeitadas, mas com demasiado poder sonoro, exagerando as muito moderadas indicações dinâmicas de Mahler. Pianos súbitos, pp súbitos, crescendos de p que terminam em pp súbito, os três fff que nunca se ouvem (exemplo: compasso 132), a dinâmica sempre entre mp e f mostram uma falta de qualidade intrínseca das cordas que só se resolve ou com despedimentos ou com muito trabalho de naipes. Enérgico e agitado, onde?
Marca de ensaio 7: que confusão, onde está o ffp, o fp nos primeiros violinos e violas, onde estão as nuances dinâmicas, diferenciadas para toda a orquestra??? Ficaram na partitura. Bonita a respiração na marca 8 (escrita por Mahler), mas que depois não sai contrastada suficientemente pelo demasiado forte, no que deveria ser o pp, das cordas ao compasso 164. Inexactos os divisi aos compassos 187 sem respeitar a dinâmica pedida, imprecisão nos compassos 202 e seguintes nas perguntas e respostas entre cordas agudas e graves. Falta de contraste e de trabalho de conjunto nos decrescendos dos seis compassos anteriores. Desafinação no compasso 254, começando no ré bemol e acabando no sol nos primeiros violinos. E etc. etc. etc. de tal forma que se torna fastidioso exemplificar tudo.
Julia Jones para respeitar o que Mahler pediu na partitura deveria esperar cinco minutos entre o primeiro e o segundo andamentos. Esperou um minuto e quarenta! Até neste ponto o detalhe não foi respeitado. Este não é o meu Mahler.
Este post será completado com a análise dos restantes andamentos (coro e solistas incluídos) e uma análise do programa de sala, tradução (muito fraca) e da estrutura da obra.
Etiquetas: Julia Jones, Orquestra Sinfónica Portuguesa, S. Carlos
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