4.5.07
Maio Maduro Maio por Tomás de Oliveira Marques
“MAIO MADURO MAIO”
Mise en scène do mundo a correr
para o abismo, sem a turba cuidar
do Pintor em nós estar a morrer
coerência paradoxal…!
num antro aberto em pecado
o 1º de Maio em flagrante apanhado,
precisamente, no centro comercial………………………
I. “Do Colectivo”
A pulular de galho em galho a piar
Adentro o verde rubro arvoredo
A passarada há-de sem fim dissertar
Para o boneco, bonito a pairar no ar,
O que torna sombrio seu raso enredo.
Sem dúvida que grassa frio de rachar
Na razão das leis que regem o medo
Coberto de penas a fim de poder voar
A salvo dos que atiram sempre a matar
Quem à frente lhes passa a planar ledo.
Mas como é sabido do dito milenar
«Quem tarde acorda, há-de morrer cedo»
De pouco vale o fim cantado a chorar:
O que no fundo conta é de vez acabar
Com a ilusão de se poder voar quedo.
… honi soit… languir me fault……………………………………………………….
II. “Do singular, nas trovas que (se) passam”
Acerca dos trovadores, muito em ruído se disse
E pouco se sabe do cerne dos seus amores.
Uma coisa é certa de Zeca, Ibañez, Ventadorn:
Para bem esconjurar e forte vir a terreiro
É vital pugnar pela tinta do seu tinteiro,
Não basta cantar alto a cinza dos seus ardores.
… piano, pianíssimo………………………………………………………..
III. “Da força dos factos (acerca da luz no ramo de uma oliveira)”
Diz-se do 13, o número do azar
De Maio, o mês do cio nos gatos.
O que me vale da força da superstição
É só guiar-me pela ficção dos factos.
……………………………………………………………………………………………
IV. “Interlúdio”
Um pouco de pudor, por favor
E de razão em busca dos outros
Que remam impotentes a miséria
E à dor pagam duro tributo
A soprar cego as velas içadas
Ao absurdo, que inerte navega
Sem fé e fito o mar dissoluto.
Um pouco de pudor e ardor
Deante de quem demasiado paga
Apartado de uma réstea de retorno
Em bruto que seja dos pés pesados
Que isentos do mar em si levitam
Calejados e sabidos a frio moldar
Informe, o fundo deste raso mundo.
… pela noite adentro, do 28 de Maio, em força e já……………………………………..
V. “Dos ratos”
Da humanidade, pouco ou nada
Mais há por aí além a tratar.
Ela é o que é, etérea matéria
Chã de si mesma esfaimada
Do sabor a carne
Do cheiro a queimado
De incenso enviesado
À altura da sua morada.
Ela é o que é, inventiva
Na razão de tudo querer
E não poder senão o pino fazer,
Acrobacias, ao longo das laudas
Que se arrastam incautas para o alto.
Ela é o que é, selectiva
Nos caninos longos e sedentos
Do vazio que vem do ventre
A pingar compaixão, cruel
O brilho que a moral neles esfrega
Todos os dias ao sair de casa.
Ela é o que é e não ilude
Autofágica e prenhe em similitude
Do que tende a fundo à individualidade,
A marcar passo do ardor outrora perdido
Para sempre o uníssono afogado em nada.
De braços abertos ao cenho cerrado
Ela é o que é e não mais ilude
Mesmo e sobretudo ao ser cantada.
Basta olhar o teu olhar
Conspícuo e negro
O modo de pousares a mão
No meu braço curto e dorido.
Ela é mesmo o que parece
No passo lento do fito de que carece
E disso padece ao sair à rua
Nua e por demais pintada.
Ela é o que é, vil matéria
Inventiva, selectiva, ogre que vai
E vem ao sabor do logro no labor
Cego o saber sórdido todo ao dispor
Do culto da lacuna no empenho
- De nada a valer cerzir o cenho;
E não ilude, é o que parece
Para além da voz de que carece;
Ela é o que é, poço fundo cheio
De anátemas indexados à prece
Pedra, gelo, promessas, nevoeiro
A dar forma à derradeira saída,
Por demais que se tome por leonina,
Exangue na sua condição de sendeiro.
Que a ilusão seja connosco
Tal qual a direcção dos ratos
Ao longo do barco que se afunda.
Dezembro de 2006
............ para acabar em beleza…………….
VI. “Un regalo para usted”
1, 13, 28, os números mágicos
Para em Maio se poder ganhar
Juízo e não fátuos milhões,
Que de resto ao longo dos anos
Na tola e bolsa ir-nos-ão faltar
A par do facto de já não termos …….
03/05/2007
Tomás de Oliveira Marques
Mise en scène do mundo a correr
para o abismo, sem a turba cuidar
do Pintor em nós estar a morrer
coerência paradoxal…!
num antro aberto em pecado
o 1º de Maio em flagrante apanhado,
precisamente, no centro comercial………………………
I. “Do Colectivo”
A pulular de galho em galho a piar
Adentro o verde rubro arvoredo
A passarada há-de sem fim dissertar
Para o boneco, bonito a pairar no ar,
O que torna sombrio seu raso enredo.
Sem dúvida que grassa frio de rachar
Na razão das leis que regem o medo
Coberto de penas a fim de poder voar
A salvo dos que atiram sempre a matar
Quem à frente lhes passa a planar ledo.
Mas como é sabido do dito milenar
«Quem tarde acorda, há-de morrer cedo»
De pouco vale o fim cantado a chorar:
O que no fundo conta é de vez acabar
Com a ilusão de se poder voar quedo.
… honi soit… languir me fault……………………………………………………….
II. “Do singular, nas trovas que (se) passam”
Acerca dos trovadores, muito em ruído se disse
E pouco se sabe do cerne dos seus amores.
Uma coisa é certa de Zeca, Ibañez, Ventadorn:
Para bem esconjurar e forte vir a terreiro
É vital pugnar pela tinta do seu tinteiro,
Não basta cantar alto a cinza dos seus ardores.
… piano, pianíssimo………………………………………………………..
III. “Da força dos factos (acerca da luz no ramo de uma oliveira)”
Diz-se do 13, o número do azar
De Maio, o mês do cio nos gatos.
O que me vale da força da superstição
É só guiar-me pela ficção dos factos.
……………………………………………………………………………………………
IV. “Interlúdio”
Um pouco de pudor, por favor
E de razão em busca dos outros
Que remam impotentes a miséria
E à dor pagam duro tributo
A soprar cego as velas içadas
Ao absurdo, que inerte navega
Sem fé e fito o mar dissoluto.
Um pouco de pudor e ardor
Deante de quem demasiado paga
Apartado de uma réstea de retorno
Em bruto que seja dos pés pesados
Que isentos do mar em si levitam
Calejados e sabidos a frio moldar
Informe, o fundo deste raso mundo.
… pela noite adentro, do 28 de Maio, em força e já……………………………………..
V. “Dos ratos”
Da humanidade, pouco ou nada
Mais há por aí além a tratar.
Ela é o que é, etérea matéria
Chã de si mesma esfaimada
Do sabor a carne
Do cheiro a queimado
De incenso enviesado
À altura da sua morada.
Ela é o que é, inventiva
Na razão de tudo querer
E não poder senão o pino fazer,
Acrobacias, ao longo das laudas
Que se arrastam incautas para o alto.
Ela é o que é, selectiva
Nos caninos longos e sedentos
Do vazio que vem do ventre
A pingar compaixão, cruel
O brilho que a moral neles esfrega
Todos os dias ao sair de casa.
Ela é o que é e não ilude
Autofágica e prenhe em similitude
Do que tende a fundo à individualidade,
A marcar passo do ardor outrora perdido
Para sempre o uníssono afogado em nada.
De braços abertos ao cenho cerrado
Ela é o que é e não mais ilude
Mesmo e sobretudo ao ser cantada.
Basta olhar o teu olhar
Conspícuo e negro
O modo de pousares a mão
No meu braço curto e dorido.
Ela é mesmo o que parece
No passo lento do fito de que carece
E disso padece ao sair à rua
Nua e por demais pintada.
Ela é o que é, vil matéria
Inventiva, selectiva, ogre que vai
E vem ao sabor do logro no labor
Cego o saber sórdido todo ao dispor
Do culto da lacuna no empenho
- De nada a valer cerzir o cenho;
E não ilude, é o que parece
Para além da voz de que carece;
Ela é o que é, poço fundo cheio
De anátemas indexados à prece
Pedra, gelo, promessas, nevoeiro
A dar forma à derradeira saída,
Por demais que se tome por leonina,
Exangue na sua condição de sendeiro.
Que a ilusão seja connosco
Tal qual a direcção dos ratos
Ao longo do barco que se afunda.
Dezembro de 2006
............ para acabar em beleza…………….
VI. “Un regalo para usted”
1, 13, 28, os números mágicos
Para em Maio se poder ganhar
Juízo e não fátuos milhões,
Que de resto ao longo dos anos
Na tola e bolsa ir-nos-ão faltar
A par do facto de já não termos …….
03/05/2007
Tomás de Oliveira Marques
Etiquetas: Maio Maduro Maio, Poesia, Tomás de Oliveira Marques
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