24.4.07
"O Ouro do Tejo" de Tomás de Oliveira Marques
O OURO DO TEJO
TETRALOGIA sob o triste e trôpego mote
“Lá vamos cantando e rindo”
Três nocturnos para despertar
I. “Portugal 2007-2009”
José Sócrates querem-te imolar
Por medo talvez ao que aí vem.
Do teu carácter a fundo nada sei
Mas por alto a solidez não custa imaginar.
O que eu sei destas “miudezas” são as razões
Dos talhantes não serem lá muito de fiar.
II. “Portugal 2005-2009”
José Sócrates querem-te imolar
No altar do medo ao que aí vem.
Do teu carácter a fundo pouco sei
Mas por alto a mal não fica bem julgar;
Ou melhor: por alto o que é baixo
Não habita em ti de modo larvar;
Ou melhor, ainda: por alto aposto em ti
A virtude em surdina com baton a bailar.
Pecados da juventude? Quem os não tem.
Estigma da portugalidade? Isso passa com a idade.
Seja o que for, para nós, nunca um santo a governar.
Enfim, tenho dúvidas e espreito o sexo
Das insinuações lançadas para te tramar.
O que eu sei destas “miudezas” é a razão
Do talhante não ser lá muito de fiar.
III. “Portugal 1143-2009”
Desconfio do homem sem um vício sequer
Da moral que sai à rua toda tapada.
E haja cuidado com o diabo nos que rezam
Em prol de um santinho a governar.
P.S.: Um santo a governar! Dado toda a regra parir uma excepção, já agora a RTP podia confirmar junto dos contribuintes (chamadas mais IVA, não esquecer) se, em matéria de santidade na governação ao longo dos nossos oito séculos desgovernados, a excepção foi, de facto, o santinho do Salazar:
Lisboa 12/04/2007
Tomás de Oliveira Marques
MAS OUTROS MAIS ALTOS VALORES SE LEVANTAM…
“Três Nocturnos em memória de Carlos Paredes”
I.
Pintar a fundo
O fundo que bordeja
As dores do seu país…
Foi o que fizeste, mestre
Sempre, só e sem medrar
Ao esgar no rosto latente
Dos que muito dão e nada
Hão-de cobrar às vidas servis.
Das tuas penas, quantos os “pátrios”
De lado as olharam e agora que te foste,
A eito já se prestam a bífidas loas.
De vergonha emudeço e a avalancha
Desses teus imensos dedos contraponho
Ao sonho cavo das línguas vis.
II.
Pintar a fundo o fundo
Da distância do âmago de si
Ao alheio que gera e cerca e bordeja
A dor de quem a sério ao espelho
Dos outros, dele mesmo por fim ri.
III.
Caminhar lesto para longe
Muito longe do ruído de fundo
No rosto estampado dos tempos que correm…
E levar connosco um punhado de notas
Raras, a dar voz ao Silêncio do Mundo
Algures na humanidade agachada
A música dos que O vivem e sofrem.
Lisboa 2005
Tomás de Oliveira Marques
… E VALORES MAIS ALTOS AINDA, ATÉ AO INFINITO…
“Das Sete Palavras na Cruz”
Nas Tuas Mãos os dados
Estão lançados, o grifo
Dos danos e a dolência
A fulgir do abismo,
Onde a Sede de Si
Por si consumar-se-á.
(Dedicado ao Quarteto Divino Sospiro, aquando da execução do sublime quarteto de Haydn, no CCB, em 03/04/2007)
Lisboa 03/04/2007
Tomás de Oliveira Marques
… MAS, HUMANO, DEMASIADO HUMANO,
LÁ TENHO QUE RETROCEDER AO QUOTIDIANO …
“From América with love”
Deixará um dia de ser permitido
O porte d’arma nas mentes embebido
Da fé – olaré – de poder à vontade matar.
Mas nem tudo está ainda perdido
Continuará a ser, por sorte, proibido
Nos “campus”, salões, na hora da morte fumar.
Ai Portugal, Portugal que bates às portas
Dos ricos e, andrajoso, não te importas
Desse filão o veio estar já inquinado;
Se daqui não te pões a pau e cuidado
Não tomas com o que às cegas importas
Aí sim, irás passar um mau bocado.
Lisboa, num Domingo
de Abril de 2007
Tomás de Oliveira Marques
Etiquetas: Carlos Paredes, Haydn, José Sócrates, Poesia, Sete Palavras de Cristo, Tomás de Oliveira Marques
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