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23.2.07

A pressão da nulidade 

A pressão para a nulidade, ou como quem diz, popularidade, chegou para durar aos jornais ditos de referência, mesmo antes dos formatos copiados uns dos outros e todos do Guardian.

Leio um artigo sobre os perigos de Wagner ao volante! Brilhante tema, editores aos pulos de satisfação, popularização do assunto, mistura de pop com rock e Wagner! O sonho de qualquer editor de cultura, nulo e sem vergonha, dos dias de hoje. Eu até imagino o estado de espírito d@ (temos de meter aqui uma coisa politicamente correcta como esta moda do @ para género que não se sabe bem qual é, independemente de não existir em português) pobre de espírito: "é pá! vagner, kum kamandro pá, sto é chato pá, difícil stás a topar, alta koltura pá, não sei so leitor médio consegue aguentar kom eça coisa meu, eu nãn sei nada diço pá, á coisas que fogem hà minha comprenção de editor de koltura médio pá, i se meteçe-mos umas mer das-se aki pràligeirar a koisa meu? tipo umas coisas pop, meu. trivialisáva-mos a coisa pá, tipu embalagem pop meu, com un embrulho pop o povo que lê este paskim talvez já compreendê-se o tal do vagner mais as gordas das valkundias pá que iço dalta coltura é xata pá..."
Nota: Peço desculpa ao anarca pelo roubo do formato linguístico, aliás não percebo como o anarca ainda não é editor de koltura de um jornal de referência. Fica aqui a sugestão.

Não há grande novidade, quem gosta de Wagner há muitos anos sabe desses perigos, os meus amigos sabem desse perigo, sempre que venho a ouvir Wagner a minha condução torna-se ainda mais perigosa do que o costume e o passeio torna-se uma viagem alucinada pelos labirintos oníricos da loucura. Podiam entrevistar-me e eu dizia: "Sinto isso há uns anos, é horrível, estou a pensar visitar os wagnerófilos anónimos. A coisa está a dar cabo de mim, já dei cabo do MGA e do Aston, acabei com o mini de 73. Até o velho Land Rover de 1955, que não passa dos 60 à hora e que não tem rádio, está perigoso desde que inventaram o iPOD. Tenho vertigens, mas o pior nem é a cavalgada, que eu sou muito erudito e aquilo até é só fogo de vista, ou de ouvido, o pior são as Filhas do Reno, muito mau é também o Beckmesser, todo o Rienzi (pela seca interminável leva a estados de desespero), já o Parsifal tem um efeito calmante que adormece ao volante. É claro que os acidentes que se têm tido dependem das interpretações, pela OSP é costume haver ataques de hilariedade e os acidentes são menores, mas quando é o Kna ou o Böhm até já se partem pernas. Os duetos da Nilsson e do Vickers podem ter consequências muito graves e a morte de Isolda ou o Adeus de Wotan têm causado inúmeros acidentes e engarrafamentos na segunda circular."

Segundo o "O Público", existem umas sugestões da cavalgada das Valquírias no primeiro acto da Valquíria!!! Ena, ena! Está-se sempre a aprender.
Explico, não é um cheirinho da cavalgada, é mesmo o Leitmotif íntegro e pujante da cavalgada, e não é no primeiro acto, é no segundo.
O início do segundo acto da Valquíria inclui com tremenda afirmação o tema da cavalgada, em força e mais violento (e aqui há violência, não há que ter medo das palavras) e mais afirmativo do que no início do terceiro acto.

Quem escreve uma coisa dessas nunca deve ter ouvido a Walküre com ouvidos de ouvir e uma paixão sem limites pela música de Wagner.

O resto do artigo deve ser igual, não vale a pena continuar a ler. Já tenho vergonha de andar com o "O Público" debaixo do braço. Eu, que os meus amigos até acham que sou uma espécie de intelectual (não sei bem qual), acho bem mais digno e instrutivo ler o Correio da Manhã. Pelo menos não engana e é um produto bem feito por bons profissionais.

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