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7.1.07

Sopranos Dramáticos & Beleza 

Estive a ler um blog que muito prezo; isto apesar de uma filosofia totalmente distinta da minha em termos de apreciação e posição face à música: eu estou-me nas tintas para as divas e os divos, as tricas e os mexericos do Alagna e da Callas, aquele e mais aquele intérprete, mais um disco com compilações e umas coisas que se passaram no Met e na Bastilha; privilegio a música pela música, a concepção global, a estrutura, a emoção do conceito e da criação operática enquanto obra de arte total, música, teatro, movimento, arte plástica, sempre e numa perspectiva global, sempre pondo a representação viva acima do produto congelado... por mais belo que este seja.

Assim não posso de deixar passar sem uma "bengalada amiga" o post Sopranos Dramáticos & Beleza desse blog, um excerto:

O soprano dramático - Isolda, Brunnhilde, Elektra, Turandot - tem como principal atributo o volume vocal.
A voz tem de ser grande e ampla, penetrante e densa. Requer-se robustez e envergadura físicas.
Raramente encontramos um timbre sedutor num soprano dramático - Flagstad é uma excepção!

O mor das vezes, dada a natureza das exigências descritas, esta categoria de sopranos peca pela bestialidade
[sublinhado meu] da compleição física...

Não é verdade que um soprano dramático tenha como atributo vocal maior o "volume vocal", é evidente que o registo de peito deve ser muito escuro no timbre e capaz de grande pujança sem deixar de ser capaz de matizes e cores, devendo ser aveludado mesmo (ou sobretudo) no pianíssimo. Os agudos devem ser rutilantes, dignos, consistentes e metálicos, mas de um metal ourífero quase cúprico revelando uma grande riqueza de harmónicos, muito equilibrados em toda a extensão, sobretudo na fundamental e nas duas seguintes componentes da decomposição espectral, revelando ainda uma grande linearidade da resposta (harmonicidade) mesmo nos pontos de maior tensão das cordas vocais e de maior esforço do peito e diafragma. Todos os registos são utilizados pelos compositores, todos os cambiantes são enunciados pelas paletas de Wagner ou de Strauss, todas as suas heroínas dramáticas vão da exaltação ao âmago do sofrimento, do despojamento à fúria mais sublime. Geralmente a agilidade não se coaduna com este tipo de vozes, mas houve grandes sopranos dramáticos capazes também de alguma coloratura. É verdade que a envergadura física pode ajudar, mas é preciso não esquecer que os grandes sopranos dramáticos se revelam na sua maioria depois dos quarenta anos.
Por outro lado a beleza física dos grandes sopranos não é para aqui chamada, são mulheres completas, actrizes, mães, mulheres maduras, que atravessaram na sua maioria das vezes o curso dos anos antes da afirmação como grandes sopranos dramáticos.
O uso do termo "bestialidade física" para caracterizar Martha Mödl, Régine Crespin, Kirsten Flagstad (que ao menos escapa pelo timbre), ou até Birgit Nilsson é no mínimo excessivo e deselegante, uma afirmação machista e misógena e sem a menor relevância para a arte que foram capazes de nos transmitir e, apesar do João Galamba de Almeida dizer que o timbre é geralmente pouco sedutor, gosto do timbre de todas. Opinião pessoal e altamente subjectiva, como todas as opiniões.
Deixo um magnífico retrato de Flagstad quando jovem, uma mulher lindíssima, quer se imagine a sua figura quer se escute a sua voz, e não apenas no timbre. E mais não digo que não vale a pena.

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