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2.3.09

Concerto normal 

É assim que eu gosto de escutar uma orquestra. Uma temporada regular, um maestro jovem, um programa variado. Um concerto absolutamente normal. Apenas um trompetista célebre mas numa obra contemporânea que eu desconhecia. Foi o concerto do passado Sábado na Casa da Música:

Orquestra Nacional do Porto com Olari Elts direcção musical, Håkan Hardenberger trompete.

Programa

I. Johannes Brahms Abertura Trágica
Rolf Martinsson Concerto para trompete n.º 1, A ponte
II. Dmitri Shostakovitch Sinfonia n.º 6

Devo dizer que o concerto para trompete não me estimulou muito, o extraordinário virtuosismo de Hardenberger e a orquestra Nacional do Porto corresponderam à chamada. Já a composição me pareceu repetitiva, sem grande imaginação, abusando das mesmas figuras rítmicas, piscando o olho ao público e cheia de barulho. Talvez a secção central, lenta e melancólica, escape a este facilitismo. Enfim, impressionou-me o trompetista pelo seu extraordinário virtuosismo.

Foi no resto do concerto, com obras de resistência do repertório, que a Orquestra Nacioal do Porto mais brilhou. Gostaria de ter escutado uma sinfonia posterior de Shostakovitch mas a sexta serviu bem para se apreciar a orquestra. Em formação "pesada" sinfónica, com as cordas completas, deixei de notar a crónica carência de som dos violoncelos e das violas que tenho sentido na sala Suggia. A orquestra demonstrou uma perfeita maturidade, densidade sonora, articulação entre os naipes, qualidade dos solistas. A orquestra prova repetidamente, pelo que eu tenho ouvido, que é a única orquestra sinfónica portuguesa - não incluo aqui a Gulbenkian que se afirma no seu próprio currículo como uma orquestra de formação variável que pode, reforçada, abarcar algum repertório sinfónico.

O maestro Olari Elts, jovem e concentrado, mostrou um enorme entusiasmo e energia, embora algumas vezes me tenha deixado a sensação de ainda estar um pouco preso à leitura da partitura, e tenha dada algumas entradas antecipadamente, o que poderia ter causado estragos que acabaram por não surgir devido à concentração dos músicos. Fez uma leitura interessante em Brahms e Shostakovitch.

Recomendo a ONP como um valor seguro que proporciona concertos de qualidade ao seu público.

Reparei entretanto que na Casa da Música Shostakovitch se escreve com "C" e que o palco é largo mas muito pouco profundo. Isto separa os naipes da orquestra, creio que seria necessária a existência de quatro degraus o que permitiria aproximar as trompas dos trompetes e trombones ficando a percussão acima de toda a orquestra. Mas é impossível colocar quatro degraus por falta de espaço. Assim a orquestra fica espalmada: notei desacertos entre trompas e trombones, por falta de comunicação separadas por clarinetes e fagotes, as trompas do lado esquerdo e os restantes metais do lado direito da percussão. A falta de profundidade do palco é um gravíssimo erro de concepção que ainda não vi discutido na imprensa ou pelos críticos. Fala-se da ausência de um possível fosso, que a existir seria um profundo disparate num auditório para música.

Um concerto normal que mostra uma orquestra de bom nível. Como eu escrevi acima: a Orquestra Nacional do Porto é a única orquestra sinfónica portuguesa.

P.S. (Secção jocosa mas...) Reparei nos sapatos dos músicos, muitos ostentam os apropriados sapatos de polimento, numa percentagem superior à média nacional, as casacas pareceram engomadas e as camisas limpas. Estão ainda longe do ideal mas melhor do que a Gulbenkian e a léguas de outras orquestras que por aí vão actuando. Nos concertos da Gulbenkian reparo também no moda feminina das senhoras de calça preta e top, no último (27 de Fevereiro) havia um grupo de quatro violinistas, as últimas dos primeiros violinos, que se apresentavam nestes preparos de fardamento que começa a ser ridículo. Porquê ceder a este facilitismo e a esta uniformidade acéfala na indumentária? Top preto e calça preta não é compatível com casaca masculina nem é roupa de cerimónia. Nem para as criadas seria aceite...

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